Ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Luís Roberto Barroso classificou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de 'reprodução mambembe' de Donald Trump.
por Paulo Totti em 18/02/22 17:46
Presidente Jair Bolsonaro (PL) ao lado do ex-presidente americano Donald Trump, em foto publicada em 2019. Foto: Reprodução (Twitter)
Ao despedir-se na quinta-feira (17) da presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso classificou, sem citar-lhe o nome, o presidente Jair Bolsonaro (PL) de “reprodução mambembe” de Donald Trump. O apropriado perfil político e mental do ex-capitão seria perfeito se viesse acompanhado de mais um adjetivo: “perigoso”. Mambembe, segundo os dicionários, aplica-se a circos e indivíduos ruins, medíocres, inferiores, insignificantes, ordinários, reles. Atribuída a Bolsonaro, a qualificação chega a aproximar-se do atenuante, pois mais do que a ausência de caráter, o mambembe no caso poderia ter desculpável origem no ambiente familiar. Bolsonaro influencia seus filhos ou são os filhos que influenciam Bolsonaro?
“Perigoso”, que embute o “mentiroso” em seu significado, define o medíocre que é cópia fajuta do ídolo, mas adiciona a intenção de segui-lo e, por incrível que pareça, tem aparentemente mais poder para concretizar os malfeitos que ao mestre não foram permitidos. Bolsonaro se considera mais poderoso do que Trump. O perigoso é que isto pode ser sua única verdade.
Vejamos as coincidências. Bolsonaro e Trump (e também o execrável Viktor Orbán, da Hungria, como o Brasil soube esta semana) comungam de um deus raivoso, que odeia costumes modernos e condenaria ao inferno o papa Francisco; chamam de pátria amada a pátria que desconsidera como patrícios os cidadãos de seu próprio país, se forem pobres, gente que pensa e age diferente na política, na orientação sexual, na atividade cultural; ambos não se comovem com o sofrimento da família que não tem o que comer a não ser a migalha da mendicância e que não tem onde morar a não ser na encosta de um morro frágil, e, enfim, exaltam a liberdade revelada nas estatísticas do sistema que livra os brancos ricos da prisão e superlota os presídios de negros e brancos pobres.
Trump e Bolsonaro mentem compulsivamente. Trump foi o presidente que mais mentiu durante o mandato. Fez “pelo menos uma afirmação falsa ou tendenciosa em 91 dos seus primeiros 99 dias de governo”, segundo The New York Times. The Washington Post contou 1.318 mentiras nos primeiros 263 dias na Casa Branca. O mesmo jornal publicou que, até novembro de 2020, três meses antes de encerrar o mandato, Trump “fez pelo menos 29.508 alegações enganosas ou falsas”.
No Brasil, os jornais não chegaram a detalhes da falácia presidencial, mas – exemplo recente – meia dúzia de mentiras foram ditas em dois dias de visita oficial a Moscou e a Budapest. Bolsonaro mente no exterior e no Brasil, nas lives transmitidas pelas TVs amigas e no cercadinho, ou curral, do Alvorada. Em Moscou foi além: considerou “coincidência ou não” a fake news divulgada pelos bolsonaristas de que a retirada de alguns soldados russos da fronteira com a Ucrânia se deveu à intermediação do presidente brasileiro. Na campanha eleitoral se dirá que Bolsonaro salvou o planeta da terceira guerra mundial.
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Como Trump a insistir sem provas que a vitória de Joe Biden foi uma fraude, Bolsonaro vem numa escalada de acusações ao processo eleitoral brasileiro, tachando-o de manipulado por seus inimigos – “o TSE já tem candidato”. A diferença é que, se Trump fracassou ao tentar o golpe na invasão do Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, Bolsonaro pode tentar o mesmo após uma provável derrota a 2 de outubro – ou antes, se medrar antecipadamente a esperança de ganhar. Um de seus filhos já disse que bastam um jipe, um cabo e três soldados para fechar o STF. E o pai acrescentou que a democracia brasileira sobrevive porque as Forças Armadas fazem-nos essa concessão. Como concessão, pode ser suspensa ou cassada a qualquer momento.
A Marinha já demonstrou como se pode ocupar militarmente Brasília ao desfilar com tanques e blindados pela esplanada dos ministérios. A Força Aérea Brasileira (FAB), por enquanto, só ameaçou as janelas do STF com voos rasantes de seus caças. E o Exército, sob comando de um general picado pela mosca azul da vice-presidência, exigiu explicações sobre o processo eleitoral, como se a Constituição lhe desse direito a tal intromissão. Com isso, ensejou mais uma mentira televisa do presidente.
Os ministros Barroso e Edson Fachin, do alto de seus poderes morais, asseguraram que haverá eleições e que o resultado será respeitado. Que assim seja, pelo bem de nossa democracia. Mas permitam-me depositar cautela nesse otimismo.
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