O prepotente e autoritário Bolsonaro decidiu mandar sozinho no Itamaraty
por Paulo Totti em 26/02/22 12:44
Escrevo ao anoitecer de quinta-feira, 24, e até agora não sei como o Brasil se posiciona ante a guerra no Leste Europeu. O presidente Jair Bolsonaro, em Moscou na semana passada, disse que se solidarizava com o “irmão” Vladimir Putin. E, agora, diante do mundo que se levanta em protesto contra a escandalosa invasão – flagrante desacato ao estabelecido na Carta das Nações Unidas – o mambembe tzar brasileiro não sabe o que dizer. Esteve duas vezes em público, no cercadinho do Alvorada e na inauguração de um arremedo de obra pública no interior de São Paulo. Falou até de futebol (a camiseta vermelha que ostentava era do América, time da cidade) mas nada sobre a guerra.
“Putin escolheu a guerra”, disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, 16 horas depois de a Rússia invadir a Ucrânia por terra, mar e ar. “Bolsonaro escolheu seu irmão”, diria o mesmo Biden se, em meio às atribulações causadas por Putin, tivesse tempo de preocupar-se com o Brasil e com o ex-capitão. Este, aliás, ocupado com a difícil reeleição, também não se preocupou em providenciar previamente a proteção dos cidadãos brasileiros esquecidos em Kiev e outras cidades, especialmente jovens jogadores de futebol. Na semana anterior à invasão, o embaixador brasileiro, Nestor Rapesta, declarou diversas vezes à Globonews que a situação era tranquila e seus compatriotas não corriam perigo.
O mutismo de Bolsonaro, até agora, não é surpresa. Ele nada entende de política internacional (política nacional também não, como tem demonstrado nos três anos e dois meses de governo. Afinal, de que entende sua excelência?). Em Moscou falou por falar, por estar sem assunto ou inebriado por sentar-se meio metro ao lado de Putin, sem ter de respeitar a distância destinada a Emmanuel Macron e Olaf Scholz, políticos europeus que certamente considera de menor expressão.
Outros brasileiros exerceram a presidência ou o ministério de Relações Exteriores sem dominar a prática da diplomacia, entre eles, Itamar Franco e Olavo Setúbal. Mas se socorriam da competência de profissionais da casa de Rio Branco.
O prepotente e autoritário Bolsonaro decidiu mandar sozinho no Itamaraty e estreou na chefia de governo querendo fazer de seu filho o embaixador do Brasil em Washington. “Eduardo morou nos Estados Unidos e aprendeu a fritar hambúrguer”. Com tais atributos reunia méritos para a função. Felizmente, a ideia foi abortada pela oposição no Senado. Mas sobreviveram um dinossauro na chancelaria e Filipe Martins na assessoria especial. Este último continua assessor com o único mérito explícito de ter intimidade com o cumprimento secreto dos supremacistas brancos americanos.
Ainda não está muito claro o que Bolsonaro foi fazer em Moscou. E também, no dia seguinte, o que foi fazer em Budapeste, a não ser para um abraço afetuoso em seu companheiro de extremismo Viktor Orbán, ou acompanhar o filho Carluxo em visita ao grupo neonazista, o ucraniano Right Sector (denominação em inglês), que desfilou nas avenidas de Brasília durante as manifestações de bolsonaristas com uma faixa que revelava suas pretensões: “Ucranizar o Brasil”.
Quase às 20 horas desta quinta, o presidente apareceu ao lado do ministro do Exterior, Carlos Alberto França, não para condenar a invasão ou mais uma vez confirmar a solidariedade a Putin (ou, ainda, lamentar que a Ucrânia tenha sido largada sozinha nesta guerra, apesar de muito discurso e ameaças com sanções cujas consequências só se conhecerão daqui a um ano). Bolsonaro veio a público para desautorizar o vice, general Hamilton Mourão, que, pela manhã, declarara que “o Brasil não concorda com a invasão do território ucraniano”. Bolsonaro foi categórico: “Quero deixar bem claro que quem fala sobre esse assunto é o presidente. E o presidente chama-se Jair Messias Bolsonaro. E ponto final”. Em outro momento, o presidente disse que, autorizados por ele, só o ministro França ou o ministro Braga Neto, da Defesa, poderiam falar ”sobre esse assunto”.
Como se percebe, o Brasil está à deriva, perdido num mar de incompetências. Sem governo para enfrentar as crises internas e sem chanceler para impedir o presidente de dizer bobagens comprometedoras. O chanceler, por sinal, é outro paspalhão. Melhor do que o antecessor, é verdade. Mas qual é a vantagem de ser um pouco melhor do que Ernesto Araújo?
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