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Política

SEGUNDA CHAMADA

Apoio de policiais militares a manifestações contra a democracia gera preocupação

Para ex-ministro Gilberto Kassab, afastamento de coronel da PM de São Paulo por usar redes sociais para convocar para atos públicos foi atitude correta

por Juliana Cavalcanti em 23/08/21 23:15

Com a proximidade do 7 de setembro e o chamamento para manifestações a favor e contra o governo Jair Bolsonaro, cresce o clima de tensão sobre a possibilidade de insurgência de forças militares contra as instituições democráticas do país. Nesta segunda (23), o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), afastou o coronel da Polícia Militar Aleksander Lacerda, chefe do Comando de Policiamento do Interior-7 (CPI-7), por utilizar as redes sociais para convocar para as manifestações do próximo dia 7.

A iniciativa do coronel fere o regimento da corporação, mas junta-se a outros fatos recentes que demonstraram aderência das polícias militares às ideias do presidente Jair Bolsonaro, como os tiros disparados contra o senador Cid Gomes (PDT) em Fortaleza, durante greve da PM-CE em fevereiro de 2020, e a ação da PM de Pernambuco ao atirar com balas de borracha e lançar bombas de gás lacrimogênio em manifestação contra Bolsonaro no Recife, em maio deste ano.

Para o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), a situação atual do Brasil é preocupante, sendo necessária uma reação contundente dos governadores contra insubordinações das polícias militares. “O regimento impede qualquer participação em movimentos políticos. Foi correto o afastamento do coronel. No Brasil inteiro tivemos manifestações de redes sociais [de militares], que eu espero que sejam convencidas através do diálogo ou de medidas disciplinares. Precisamos de serenidade e paz para continuar nossa rota de consolidação da democracia”, considerou Kassab, durante participação no programa Segunda Chamada.

Segunda Chamada aborda posição de policiais militares sobre 7 de setembro
Programa Segunda Chamada aborda posicionamento de parte dos policiais militares sobre manifestações do 7 de setembro e em apoio a medidas contra a democracia/Imagem: Reprodução da Internet

O ex-ministro considera importante não “entrar na frequência” de instabilidade que tem sido estimulada pelo presidente Jair Bolsonaro. “A vida dele é esticar a corda. Ele foi expulso do Exército esticando a corda e tem sido assim como deputado federal e presidente da República. Não podemos entrar na frequência. (…) Todo militar sabe que o maior patrimônio é a vitaliciedade. Não conheço o regimento, mas é preciso aplicar as punições possíveis. Nesse caso específico, fugir à disciplina, fugir à hierarquia, é prejudicar o Brasil. Se não pune, o movimento espalha. Não é possível que um policial militar, independente de sua patente, faça um chamamento para uma mobilização que vai pregar exatamente o confronto, a não realização das eleições, e até um golpe. É inadmissível”, continuou Kassab.

O cientista político e major reformado Luiz Alexandre de Souza Costa pontuou que o bolsonarismo tem bastante influência entre os policiais militares do Brasil e que este governo alterou as formas de punição, enfraquecendo, por exemplo, possibilidade de cerceamento da “liberdade de expressão” dos militares. “Já tem alguns anos que os PMs apoiam o Bolsonaro e os filhos. São vistos como defensores dos policiais; muitas vezes não tão policiais, mais envolvidos com o crime do que qualquer outra coisa. (…). Só por Tribunal de Justiça Militar pode julgar e punir a conduta dele. A única coisa que o governador pode fazer é afastar o coronel”, explicou.

Reunião de governadores com Bolsonaro pode não ser suficiente para esfriar ânimos de parte dos policiais militares

A jornalista Juliana Braga pontuou que esta tensão já está posta há bastante tempo e que a reunião solicitada pelos governadores de 24 estados e o Distrito Federal com o presidente Jair Bolsonaro para abrandar o discurso pode não ter o resultado esperado. “O presidente não tem dado sinais de que está sensível a este tipo de mobilização. Os governadores têm, eles próprios, que tomarem o comando de suas tropas e evitarem que o problema aumente”, considerou Braga.

O jornalista Pedro Dória defendeu uma punição rígida ao coronel Aleksander Lacerda, pois a atitude do policial militar pode estimular outras ações de insubordinação. “Eu tendo a acreditar no que os generais falam de que não haverá golpe. Mas isso foi o que Salvador Allende ouviu e o que João Goulart ouviu. Esse coronel afastado por Dória hoje de manhã comanda 5 mil homens. É muita gente. Por ter assumido de forma tão escancarada atividade política em público, precisa ser expulso da corporação. Se em São Paulo uma ação dessas não acontece, o risco de levantes não é pequeno”, considerou.

Para Kassab, o fato de cinco ex-presidentes da República (Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, José Sarney e Fernando Collor) terem consultado comandantes de alta patente das Forças Armadas sobre a possibilidade de golpe não deve ser menosprezado. “Quando a gente passa a supor que o governo federal, a pessoa do presidente, ou pessoas importantes na hierarquia do país, possam estar envolvidos na articulação, ou no simples pensamento de um golpe, já é um risco de instabilidade. Não menosprezo as ameaças porque é um presidente da República que tem vindo a público com ilações. Espero que as Forças Armadas continuem com essa posição de distanciamento do que eles pensam e do que pensa o presidente da República”, disse.


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