“Safados”, “vagabundos” e “pedófilos” foram os adjetivos utilizados pelo parlamentar
por Liliane Machado em 17/10/21 17:03
Em favor do Papa Francisco e demais membros católicos, a presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou neste domingo (17), um documento em que pede medidas internas “eficazes, legais e regimentais” contra o deputado bolsonarista Frederico D’Avila (PSL-SP).
Na carta aberta publicada no site e nas redes sociais, a entidade religiosa rejeita “fortemente as abomináveis agressões” proferidas na última quinta-feira, 14 de outubro, pelo deputado estadual Frederico D’Avila, da Tribuna da ALESP. O parlamentar chamou o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, e o Papa Francisco de “safados”, “vagabundos” e “pedófilos” durante a sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Veja aqui um trecho do discurso em vídeo.
A CNBB repudiou os ataques do parlamentar e acusou o deputado de fazer comentários com “ódio descontrolado” e, assim, “feriu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes”.
No documento, a instituição religiosa destaca que o Congresso deve tomar medidas eficazes em relação ao caso. “Defensora e comprometida com o Estado Democrático de Direito, a CNBB, respeitosamente, espera dessa egrégia casa legislativa, confiando na sua credibilidade, medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade”, indica o documento. A Conferência diz ainda em seu documento: “A CNBB, prontamente, comprometida com a verdade e o bem do povo de Deus, a quem serve, tratará esse assunto grave nos parâmetros judiciais cabíveis”. A presidência do órgão busca agora uma agenda para entregar pessoalmente o documento ao presidente da ALESP, deputado Carlão Pignatari.
Papa Francisco manda recado
No mesmo dia em que a CNBB escreveu a carta aberta o papa se pronunciou em sua conta oficial no Twitter com a seguinte mensagem: “Aos governos e a todos os políticos, que trabalhem pelo bem comum. Não ouçam somente as elites econômicas e estejam a serviço dos povos que pedem terra, casa, trabalho e uma vida digna em harmonia com toda a humanidade e com a criação.”
Entenda o caso
No dia 12 de outubro, feriado nacional e dia da padroeira católica do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, o arcebispo de Aparecida do Norte, Orlando Brandes se pronunciou em defesa de um Brasil sem ódio e sem armas. Dois dias depois, durante a 47ª Sessão Ordinária, na quinta-feira, dia 14, o deputado bolsonarista usou a bancada para ofender os líderes religiosos.
Confira, abaixo, a íntegra da carta aberta divulgada pela CNBB e assinada pelo presidente Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG), entre outras autoridades religiosas que compõem a presidência da instituição:
Exmo. Sr.
Deputado Estadual Carlão Pignatari
Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
Cidadãos e cidadãs brasileiros
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, nesta casa legislativa e diante do Povo Brasileiro, rejeita fortemente as abomináveis agressões proferidas pelo deputado estadual Frederico D’Avila, no último dia 14 de outubro, da Tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Com ódio descontrolado, o parlamentar atacou o Santo Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. Feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes.
Ao longo de toda a sua história de 69 anos, celebrada no dia em que ocorreu este deplorável fato, a CNBB jamais se acovardou diante das mais difíceis situações, sempre cumpriu sua missão merecedora de respeito pela relevância religiosa, moral e social na sociedade brasileira. Também jamais compactuou com atitudes violentas de quem quer que seja. Nunca se deixou intimidar. Agora, diante de um discurso medíocre e odioso, carente de lucidez, modelo de postura política abominável que precisa ser extirpada e judicialmente corrigida pelo bem da democracia brasileira, a CNBB, mais uma vez, levanta sua voz.
A CNBB se ancora, profeticamente, sem medo de perseguições, no seguinte princípio: a Igreja reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76).
Defensora e comprometida com o Estado Democrático de Direito, a CNBB, respeitosamente, espera dessa egrégia casa legislativa, confiando na sua credibilidade, medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade – sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada.
A CNBB, prontamente, comprometida com a verdade e o bem do povo de Deus, a quem serve, tratará esse assunto grave nos parâmetros judiciais cabíveis. As ofensas e acusações, proferidas pelo parlamentar – protagonista desse lastimável espetáculo – serão objeto de sua interpelação para que sejam esclarecidas e provadas nas instâncias que salvaguardam a verdade e o bem – de modo exigente nos termos da Lei.
Nesta oportunidade, registramos e reafirmamos o nosso incondicional respeito e o nosso afeto ao Santo Padre, o Papa Francisco, bem como a solidariedade a todos os bispos do Brasil. A CNBB aguarda uma resposta rápida de Vossa Excelência – postura exemplar e inspiradora para todas as casas legislativas, instâncias judiciárias e demais segmentos para que a sociedade brasileira não seja sacrificada e nem prisioneira de mentes medíocres.
Em Cristo Jesus, “Caminho, Verdade e Vida”.
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