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Fala de Bolsonaro é nova tentativa de desviar foco do que importa, aponta cientista político

Falas recentes do presidente refletem diversionismo, tática usada com recorrência pelo presidente

por Rodrigo Borges Delfim em 28/01/21 15:27

O presidente Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro.
(Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) novamente virou destaque na mídia pelo tom polêmico de seu discurso. Durante conversa em uma churrascaria de Brasília, na última quarta-feira (27), ele insinuou que a pandemia de Covid-19 “pode ter sido fabricada” e usou palavras de baixo calão usadas para se referir à imprensa e opositores.

Para o cientista político Creomar de Souza, essa postura do presidente segue uma lógica recorrente em seu governo, que é a do diversionismo. Ela consiste em criar fatos para desviar o foco de questões que são mais relevantes – e no caso, mais incômodas para o presidente.

“Como todo mundo ficou o dia todo falando dos palavrões e outras expressões pouco republicanas, durante todo dia não falamos daquilo que realmente importa, que é socorrer os brasileiros que estão sendo vítimas da pandemia”, exemplificou o cientista, que é também colunista do MyNews, em entrevista durante o Almoço do MyNews.

A fala do presidente ocorre em um momento no qual a pandemia de Covid-19 amplia sua gravidade em todo o mundo, inclusive no Brasil. No entanto, o país foi apontado por um estudo australiano divulgado nesta quinta-feira (28) como o de pior desempenho no combate à Covid-19.

De acordo com consórcio de veículos de imprensa, o Brasil contabiliza nesta quinta-feira 9.011.822 casos e 220.435 óbitos por Covid-19 desde o início da pandemia. Esses números deixam o país como o segundo no mundo mais afetado em ambos os quesitos, atrás somente dos Estados Unidos.

Tentativa de blindagem

Creomar também aponta uma lógica nos comentários do presidente quando questionado sobre os 64 processos de impeachment já protocolados contra ele no Congresso Nacional.

“Diferentemente de outros presidentes da história democrática do Brasil, que ao assumirem o cargo tentam um discurso que abranja um maior número possível de eleitores, Bolsonaro fez uma aposta clara de conversar sempre com os mesmos grupos políticos, que são sua base de apoio. Nesse aspecto, a lógica do discurso bolsonarista é de vender uma ideia de muita segurança e certeza, e de desafio contra aqueles que se colocam em seu caminho”.

O cientista político lembrou ainda que o governo aposta muitas de suas fichas nas eleições para presidência da Câmara e do Senado, no qual apoia respectivamente as candidaturas de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Para Bolsonaro, a presença dos dois aliados no comando do Congresso ao menos minimiza a chance de um processo de impeachment vingar.

No entanto, ele lembra que há outros fatores que podem fazer essa blindagem não funcionar como o presidente deseja, como o fracasso quanto à economia e no combate à pandemia.

“Todo esse caldo de cultura pode fazer com quem mesmo tendo lideranças na Câmara e no Senado que sejam de inicio favoráveis a Bolsonaro assumam uma posição contrária a ele se o governo federal não conseguir dar respostas à crise”.

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