Para jornalista Jamil Chade, comunidade internacional já tem uma posição em relação a Bolsonaro e discurso não vai ser suficiente para reverter essa imagem destruída que Brasil tem hoje no mundo
por Juliana Cavalcanti em 20/09/21 22:16
O discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta terça-feira (21) na abertura da Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU) tem gerado alguma expectativa, especialmente em relação ao que o presidente do Brasil dirá a respeito da crise climática e ambiental e sobre a vacinação contra o Covid-19. Único presidente do G-20 – os países mais ricos do mundo – que não se vacinou contra o novo coronavírus, Bolsonaro tem dito abertamente que não pretende se vacinar, mas que a população brasileira está avançando na imunização. Para o jornalista Jamil Chade, não importa o que Bolsonaro disser amanhã, seu discurso será visto com desconfiança e a imagem do Brasil está bastante abalada para o restante do mundo.
“A comunidade internacional já tem uma posição em relação a Bolsonaro e o discurso não vai ser suficiente para reverter essa imagem absolutamente destruída que o Brasil tem hoje no mundo. Aqui na ONU, em Genebra, ou em Nova York, a situação é extremamente frágil. Em dois anos e meio, a ONU e não só as ONGs, não apenas os ativistas de direitos humanos, mas a própria ONU e os seus relatores fizeram 32 queixas contra o governo brasileiro por diversas violações de direitos humanos. Racismo, indígenas, pandemia, questão da ditadura, basicamente a queixa que você quiser em relação aos direitos humanos. Isso de um lado. Do outro lado, todas as promessas feitas por Bolsonaro em relação ao desmatamento, por exemplo, nos últimos meses, eu diria até nos últimos dois anos, não foram cumpridas. E, portanto, a desconfiança é muito grande”, analisou Chade, em participação no programa Segunda Chamada, do Canal MyNews.
O jornalista completou que o resultado da pandemia é extremamente problemático para o Brasil. O país está próximo da marca de 600 mil mortes provocadas pelo Covid-19 – numa gestão da pandemia que incluiu falas negacionistas do próprio Bolsonaro sobre uso de máscaras e sobre tratamentos com medicações não comprovadas pela ciência (o chamado kit Covid-19). Na última semana, também veio à tona o apoio do governo brasileiro a um estudo clandestino da operadora de saúde Prevent Senior – que teria aplicado medicações sem comprovação científica e sem conhecimento dos pacientes e familiares, escondendo do relatório mortes relacionadas ao estudo.
“Resultado: nós temos um presidente que vai falar amanhã (21). Vai fazer discurso, certamente vai jogar algum tipo de corda. Criar algum tipo de ponte, como criou na semana passada, na Cúpula dos Brics. Passou a elogiar o líder chinês – que ele tinha sérios problemas até muito pouco tempo. Mas ele está acuado no cenário internacional e precisa fazer esse gesto. Esse gesto, porém, fica no discurso. E a grande pergunta de todos os embaixadores, todos os negociadores aqui na ONU, é muito simples: até que ponto isso é um discurso, ou se de fato o Brasil mudou de posição? Por isso que, por enquanto, em todas as conversas e reuniões informais na ONU, a palavra usada para Bolsonaro é aquela jocosa, aquela de dúvida e até mesmo de questionar as suas capacidades intelectuais”, pontuou Jamil Chade.
Para o jornalista Pedro Dória, o Brasil está virando pária internacional. “Um país que queima a mata, num momento em que o mundo já se convenceu, inclusive a direita no mundo já se convenceu, que temos um problema de mudanças climáticas sérias. Temos um presidente que no meio de uma pandemia é antivacina. Temos um presidente que decidiu fazer corrupção com compra de vacina. A gente tem um país que tem um presidente que fica falando em golpe de estado. Não tem muito como escapar disso. Um país atrasado, um país velho, que elegeu um Trump muito piorado”, analisou Dória.
Para Pedro Dória, Jair Bolsonaro não governa. “Isso é um dos pontos que muitas vezes não são muito claros para as pessoas. Temos um presidente que é um homem preguiçoso. Não só ele não gosta de trabalhar, ele não governa. Ele não faz o trabalho de administrar o Poder Executivo. E ele, possivelmente, sequer saberia como governar. O trabalho de gestão, de você acompanhar cada um dos ministérios, os principais setores da economia, ter algum tipo de compreensão de onde estão os problemas sociais mais graves e a partir daí desenvolver políticas públicas para atacar esses problemas, nada disso existe. A gente não tem uma política de educação, a gente não tem uma política de emprego, a gente não tem uma política de saúde, a gente não tem política ambiental, a gente não tem políticas públicas. A coisa que esse presidente sabe fazer é se manter em evidência para aqueles 15% a 25% dos eleitores que vivem dentro de uma bolha, que é uma bolha na qual o presidente Jair Bolsonaro também vive, uma realidade paralela”, afirmou Pedro Dória.
Nesta terça (21), além do discurso de abertura na Assembleia Geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro deve se reunir com o líder polonês de extrema direita Andrzej Duda – que realiza um governo reconhecido por ataques à comunidade LGBTQIA+ e ao Judiciário. Entre as medidas do governante está a aprovação punições para juízes que questionem propostas do governo. As medidas têm levado os organismos internacionais a pensarem em sanções ao governo polonês.
Para o doutor em Direito e advogado do Educafro Brasil, Irapuã Santana, se Bolsonaro tentar fazer o mesmo contra o Poder Judiciário do Brasil existem mecanismos na Constituição e organismos internacionais que podem ser usados para combater essa prática. “De fato a gente tem a Corte Interamericana de Direitos Humanos, tem a própria ONU e temos também o Artigo 85 da Constituição Federal, que trata do livre exercício do Poder Judiciário. Se Bolsonaro fizer algo neste sentido, estará cometendo mais um crime de responsabilidade. Existem mecanismos internos e internacionais para combater esse tipo de abuso. Precisa saber como essas instituições responderiam a isso na prática”, ponderou.
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