Ex-presidente diz que o general “não conseguiu o sucesso que se espera” na condução da pandemia
por Thales Schmidt em 15/03/21 20:11
O ex-presidente Michel Temer (MDB) acredita que o agora ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, não deveria ter aceitado o cargo e que não é o momento do impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido). Em entrevista ao Segunda Chamada, o emedebista avaliou que um novo impedimento seria “traumático” para o país.
“Eu tenho muita preocupação com essa história de impedimento. Vocês sabem que foi um impedimento que me levou, constitucionalmente, à presidência da República. Mas eu reconheço sempre que todo e qualquer impeachment é sempre muito traumático para o país, traumático para a classe política, traumático para o povo. Então, se puder evitar o impedimento, tanto melhor, logo mais nós vamos ter eleições. É preciso que haja uma conjunção de forças agora, como eu disse há pouco, da presidência da República, governadores e Congresso Nacional”, diz Temer.
Bolsonaro, que defendeu publicamente medicamentos sem eficácia comprovada e participou de aglomerações, “perdeu uma grande oportunidade”, diz o ex-presidente. Para Temer, Bolsonaro deveria percorrer estados e municípios e centralizar a discussão sobre a vacinação. Se tivesse feito isso, acredita Temer, o presidente poderia ter se tornado uma “espécie de herói nacional” e até mesmo uma liderança para toda a América Latina. “Entre a opinião pessoal e a ciência, para dizer o óbvio, você tem que ficar com a ciência”, diz Temer.
O ex-presidente acredita que Pazuello cometeu um erro ao aceitar o cargo na Esplanada dos Ministérios e que o militar “não conseguiu o sucesso que se espera de alguém que deveria conduzir com muita tranquilidade, muita significação, muita segurança essa questão da pandemia”.
Nesta segunda-feira (15), o médico Marcelo Quiroga foi escolhido como novo ministro da Saúde. Ele será o quarto ministro da pasta desde o início da pandemia.
Com mais de 270 mil vidas perdidas para a pandemia de covid-19, o Brasil é hoje o segundo país em que o novo coronavírus foi mais letal. Apenas nos Estados Unidos o número de óbitos foi maior, apontam dados da Universidade John Hopkins.
Temer afirma que o histórico PIB negativo de 4,1% em 2020 pode ser explicado pela pandemia, mas ressalta que as vidas perdidas não voltam. “A economia é recuperável, o que não é recuperável é a vida. Você vê, a vida de milhares de brasileiros que foram e não voltaram. A economia, ela vai e volta.”
Temer criticou a condução da política externa de Bolsonaro. O ex-presidente afirma que o Ministério de Relações Exteriores de Ernesto Araújo apostou muitas fichas em sua aliança com Washington.
Temer lembrou um episódio do início da gestão de Bolsonaro, quando o Itamaraty cogitou transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, seguindo os passos de Donald Trump, então presidente dos Estados Unidos. Países árabes que são grandes clientes do agronegócio brasileiro ameaçaram, então, retaliar comercialmente o Brasil pela medida. Diante da pressão econômica, o plano de mudança está suspenso. Para o ex-presidente, este episódio demonstra como o Itamaraty não priorizou o multilateralismo e criou um “clima negativo” para o país na arena internacional.
“Os nossos principais parceiros comerciais são a China, primeiro, e segundo os Estados Unidos. Só isso já revela a necessidade do multilateralismo”, disse.
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