Segundo Roberto Freire, essas conversas não existiam em 2018, e a pandemia contribuiu para a união de partidos contra Bolsonaro
por Sara Goldschmidt em 14/06/21 13:57
Em entrevista ao programa Café do MyNews desta segunda-feira (14), o presidente do Cidadania, Roberto Freire, falou em uma “escalada golpista no governo federal” e em “golpe moderno, da destruição da democracia” ao se referir à gestão do presidente Jair Bolsonaro. Para Freire, a união entre partidos para se articular uma terceira via para as eleições de 2022 surgiu pela “dupla infelicidade” de termos um “genocida” no poder, aliado ao fato de estarmos no meio de uma pandemia.
O presidente do Cidadania afirmou que em 2018 não se tinha “uma clareza naquela oportunidade do desastre de Bolsonaro, embora soubéssemos que haveria, mas nunca imaginamos – até porque não tínhamos pandemia”. Segundo ele, naquele ano, se sabia “que era a extrema direita que voltou ao poder, mas isso foi por uma eleição, não tínhamos porque reclamar, perdemos a eleição. Mas o fato concreto é que agora a sociedade que não apoia Bolsonaro está toda ela voltada para como derrota-lo”.
Sobre a candidatura de Lula em oposição à Bolsonaro em 2022, Freire avalia não ser a melhor opção, e acredita em “algo mais amplo, incorporando e representando forças mais democráticas e menos veiculadas ao antagonismo”. Para esta quarta-feira (16), está previsto um almoço com representantes dos partidos Cidadania, MDB, PSDB, Novo, PV, Solidariedade e PSL, para tentar eleger um nome que represente esta terceira via. “Nós estamos fazendo exatamente o que devemos fazer: conversando, buscando essa unidade, e vamos aguardar que no processo surja essa unidade – até porque, a tarefa fundamental de todos nós é derrotar este governo genocida que aí está” – ressalta Roberto Freire.
O presidente do Cidadania também foi questionado sobre a decisão de remover a ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o orçamento paralelo do governo de Jair Bolsonaro, por pedido da bancada do partido na Câmara. Segundo Roberto Freire, a primeira coisa que se deve observar é que esse “orçamento não é secreto”. “A bancada da Cidadania, tanto na Câmara quanto no Senado, votou no orçamento” – lembrou ele.
Os únicos partidos que entraram com a ação no STF foram o PSB e o Cidadania: “até porque todos eles [os demais partidos] julgam que esse tipo de convênio com verbas orçamentárias são recursos que sempre foram utilizados – isso desde o governo Lula e até mesmo anteriormente”, disse Freire. “Nós entramos [com a ação] em função da inconstitucionalidade que foi levantada, não foi do processo de execução” – explica, se referindo à autonomia dos deputados na indicação de empresas que deveriam receber os repasses do governo. Para o presidente do Cidadania, não há problema no orçamento paralelo em si, mas na forma como ele vem sendo aplicado. E “não é um problema pro Supremo Tribunal Federal resolver. É para caso do Ministério Público e da Polícia Federal”, avalia.
Roberto Freire afirma ainda que durante todos esses anos, a execução das verbas orçamentárias ficava a critério do presidente da República, e que atualmente fica a critério do Congresso Nacional. “Nesse sentido fizeram [deputados] a argumentação e pediram pra retirar. Houve alguns desencontros, alguns equívocos, de não ter sido feito um grande debate sobre isso pra evitar alguns problemas. E isso gerou um problema que foi sentido por todos nós.”
O problema a que Roberto Freire se refere é o anúncio do senador Alessandro Vieira de deixar o partido nos próximos dias. Em nota à imprensa divulgada na última semana (09), ele comunica a sua desfiliação do Cidadania, alegando falta de coerência do partido após desistência do processo junto ao STF sobre o orçamento secreto.
Para o presidente do Cidadania, a atitude do senador “não foi apenas por esse episódio”, mas que isso “talvez tenha sido o estopim”. “Foi muito súbito o pedido de desfiliação, sem que esse assunto tivesse pelo menos sido colocado em pauta na direção, na bancada, ele pegou de surpresa todo mundo”, avalia. E conclui: “até porque essas tratativas todos nós sabíamos que estava ocorrendo já há algum tempo”.
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