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“Tem gente lucrando com as nossas mortes”, diz Vladimir Safatle

Filósofo e professor da USP diz que “ninguém faz genocídio sozinho” e questiona “lucros obscenos” de bancos durante a pandemia

por Luciana Tortorello em 26/05/21 14:28

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) segue no poder porque é sustentado por um “consórcio” de empresários que lucram mesmo com as centenas de milhares de mortes durante a pandemia de covid-19. Essa é a avaliação do professor da Universidade de São Paulo (USP) e psicanalista Vladimir Safatle.

“O consórcio é composto por um setor muito específico do empresariado, pelo setor financeiro nacional que tem lucros absolutamente obscenos em uma situação de crise, de decomposição completa do país, é inimaginável você ter bancos como o Itaú, Bradesco, que tem lucros dessa natureza, isso significa que eles vão sustentar o governo até o fim, isso é absolutamente inegável, eles estão ganhando com isso”, afirma o intelectual. “Eles estão fazendo lucros com as nossas mortes, eles estão ganhando dinheiro dinheiro em cima de uma irresponsabilidade que tem como consequência fundamental as nossas mortes. Tem gente lucrando com as nossas mortes”.

Nesta terça-feira (25), na CPI da Pandemia, o relator Renan Calheiros (MDB-AL) comparou os trabalhos do colegiado com o Tribunal de Nurenberg, que julgou oficiais nazistas após o fim da Segunda Guerra Mundial. Safatle destaca que não é preciso ir até a Europa para encontrar exemplos de autoritarismo e que o Brasil tem seu próprio fascismo com a Ação Integralista Brasileira, um dos mais importantes grupos políticos do século XX. Esse culto à violência do fascismo, avalia Safatle, está presente nas manifestações públicas de Bolsonaro.

(Maceió – AL, 13/05/2021) Presidente da República, Jair Bolsonaro, na cerimônia de entrega de 500 Unidades Habitacionais do Residencial Oiticica I. Foto: Alan Santos/PR.
Jair Bolsonaro na cerimônia de entrega de 500 Unidades Habitacionais do Residencial Oiticica I, em Maceió, Alagoas. Foto: Alan Santos/PR.

“Nós vimos no Brasil apoiadores desse governo que iam para as ruas como se fosse uma questão de coragem, se colocar diante de uma situação de risco, sendo que em qualquer condição mais ou menos racional, você tenta evitar, tenta minimizar, ou seja, uma questão de preservação. Ninguém esperava nesse país que você teria não só 450 mil pessoas mortas por negligência, irresponsabilidade absoluta do governo, mas nenhum luto em relação a isso, nenhum luto oficial, nenhuma internalização da própria população brasileira, o Brasil se transformou num país de mortos sem lágrimas”, analisa o filósofo.

O professor continua e vê desresponsabilização absoluta do governo, que acreditava na indiferença da população brasileira. Para ele, o governo agiu dessa forma, usando a defesa da liberdade como fundamento. Assim, há um desengajamento completo em relação a qualquer forma de solidariedade social.

“Porque com um conjunto de mortes desse tamanho que nós, sem nenhuma responsabilização dos Estados, em que o Estado seja sequer visto como uma questão fundamental da situação, seja responsável pelo desenvolvimento e implementação de uma política de larga escala de combate, isso não tem outro nome, isso é um genocídio”, argumenta o escritor.

Safatle não tem uma visão otimista do futuro do país, levando em conta o presente que estamos vivendo. Ele diz que qualquer perspectiva para o futuro passa por uma compreensão clara do presente e essa compreensão não está acontecendo.

“Existe um fascismo brasileiro que é a marca da nossa história. A Ação Integralista Brasileira dos anos 30 tinha um milhão e duzentos mil membros. Para onde foram depois? Sumiram? Desapareceram? A Nova República fez acreditar que esse setor da sociedade brasileira já não se organizava, só que estamos vendo que não é verdade, porque todos os elementos fundamentais desse tipo de forma de fascismo, com seu culto à violência, da atuação e estrutura miliciana, a indiferença radical em relação aos grupos vulneráveis, com um tipo de transferência do poder para uma figura que está para além do bem e do mal, trata-se de uma conservação e de uma preservação tudo isso, é a nossa história, esse é o nosso real. Enquanto a gente não tiver uma clareza em relação a profundidade disso, não vai ter futuro”, argumenta o filósofo.

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