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POLÍTICA

Um varejo de baixo-clero

O jogo paroquial reduz institucionalidade do Legislativo e dobra investigações sobe emenda

Em 26/06/23 15:15
por Política com Bosco

João Bosco Rabello traz uma bagagem acumulada em mais de 45 anos de profissão, em grandes veículos nacionais como O Globo e O Estado de S.Paulo. Sua coluna, agora no MyNews, traz insights valiosos e análises aprofundadas do cenário político direto de Brasília para os leitores.

Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara, Arthur Lira, opera com duas realidades objetivas – impor-se como líder nacional no contexto do chamado semipresidencialismo e vencer sua disputa regional com o rival Renan Calheiros, que tem ministério, governo estadual, apoio do governo e assento no Senado onde o presidente Lula tem o contraponto a uma Câmara hostil.

Para a primeira causa, Lira precisou investir contra o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que funciona como um muro de contenção contra seu estilo trator.

Perde essa batalha por ter escolhido o caminho inconstitucional de estender a tramitação direta das medidas provisórias em plenário, adotado durante a pandemia. Ceder a isso significaria Pacheco renunciar à prerrogativa do Senado de casa revisora.

Na paróquia, Alagoas, Lira perde terreno para Renan na pré-campanha das eleições municipais, o que tende a piorar com as investigações sobre desvios de recursos para levar tecnologia às escolas, que recai sobre seu entorno. O que o prejudica também no plano nacional.

O senador Davi Alcolumbre, do Amapá, é a eminência parda no Senado, uma sombra a Pacheco, que lhe deve a reeleição. Pragmático e determinado, e também dono de um estilo trator, Alcolumbre é o Lira do Senado, empenhado em voltar ao cargo.

Para essa meta, Alcolumbre não mede esforços em prestar serviços ao governo, como na remoção de obstáculos à aprovação do advogado Cristiano Zanin para o Supremo Tribunal Federal.

O preço desse e de outros serviços é fazer de Rodrigo Pacheco o próximo ministro da Suprema Corte, de forma a abrir caminho para seu retorno ao cargo. Curioso é que esse movimento entusiasma a oposição, certa de que de volta à cadeira, Alcolumbre será mais Lira do que nunca.

A Bahia está dentro do governo, na figura do ministro-chefe da Casa Civil, acusado, fora e dentro do Planalto, de exercer o cargo prioritariamente em favor dos seus interesses no Estado, na contramão do governo que tenta escapar desse varejo.

A Costa é atribuída parte das dificuldades na articulação política com a Câmara, embora seja grande a contribuição de Alcolumbre nesse campo, com as escolhas feitas em nome do União Brasil, não absorvidas pelo partido.

Nesse contexto em que lideranças de ponta utilizam o poder excepcional do Legislativo, o orçamento é peça-chave para a capacidade impositiva junto ao governo.

O problema é que emenda parlamentar é recurso federal e, portanto, sujeita como qualquer outra despesa a monitoramento para que cumpra sua finalidade. É dizer o óbvio, mas uma parcela de parlamentares parece considerar como um dinheiro corporativo de uso indiscutível.

O orçamento impositivo agravou essa situação levando à ilusão de que seu destino final, de livre escolha do patrocinador político, a torna isenta de investigações, um recurso público de gestão privatizada por uma rede de intermediários.

No entanto, desde o orçamento secreto, que abduziu os patrocinadores das emendas, esses recursos federais experimentaram uma espécie de upgrade na pauta da Polícia Federal e de outros núcleos de investigação. E as investigações chegaram a Lira, cada vez mais enredado no esquema de desvios de emendas destinadas às escolas alagoanas

Nessa toada, os personagens desse triângulo das Bermudas emprestam ao Legislativo e governo a imagem de um “baixo clero” no comando, como na época em que a Câmara foi presidida pelo inesquecível Severino Cavalcanti, cujo legado foi o de cobrar do governo um poço de petróleo e de explorar a lanchonete da Casa.

O comportamento provinciano, que caracteriza o baixo-clero está nas almas de Lira, Costa e Alcolumbre. E representa o maior obstáculo a um eventual parlamentarismo, cuja implantação dependerá essencialmente de um Legislativo respeitado.

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