Arquivos Maria Aparecida de Aquino - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/maria-aparecida-de-aquino/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Tue, 23 Jul 2024 22:28:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 1947: ESTADO PALESTINO E ESTADO ISRAELENSE https://canalmynews.com.br/opiniao/1947-estado-palestino-e-estado-israelense/ Wed, 25 Oct 2023 09:34:33 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=40845 Eventos que se desencadearam a partir de 07/10/2023, surpreendendo o mundo, têm provocado inúmeras discussões

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Acredito que, se há solução para a sobrevivência da humanidade, ela virá pela conquista da igualdade social. Do mesmo modo, entendo que, se há solução para os problemas entre israelenses e palestinos, ela estará na concretização de dois Estados independentes na região: o Estado Palestino e o Estado de Israel.

Os eventos que se desencadearam a partir de 07/10/2023, surpreendendo o mundo, têm provocado inúmeras discussões, principalmente nos meios de comunicação e, também, nos meios acadêmicos.

Temos sido bombardeados por uma avalanche de informações das mais variadas que apontam para um inédito despertar da chamada “opinião pública”, nem sempre interessada em assuntos áridos e complexos. Ao lado disso, desenvolve-se a possibilidade de, com o passar do tempo, o tema cair no desinteresse e cansaço como está acontecendo com outro grave problema mundial contemporâneo: a invasão da Ucrânia pela Rússia e a guerra dali decorrente.

Acompanhamos uma quantidade enorme de análises dos meios de comunicação que, desde o primeiro instante, caracterizaram o Hamas como grupo terrorista. O governo brasileiro tem sido muito criticado por não utilizar o termo (“terrorista”) para o Hamas e, de nada adiantou observar que, nesse quesito o Brasil seguia as orientações da Organização das Nações Unidas (ONU) que não colocava o grupo como organização terrorista. Ao mesmo tempo, os meios de comunicação que se desdobraram em analisar os eventos, não se preocuparam em definir terrorismo e ação terrorista o que é importante que façamos.

Segundo Norberto Bobbio (BOBBIO, Norberto et alii. Dicionário de Política. Brasília, Ed. Universidade de Brasília, 2010. p. 1242-1244) terrorismo pode ser entendido “como a prática política de quem recorre sistematicamente à violência contra as pessoas ou às coisas provocando o terror”. No plano internacional, o terrorismo se revela “a única forma de ação possível quando os grupos terroristas não possam ser reconduzidos a nenhuma unidade territorial, ou melhor, a nenhum Estado.” Este é o caso do Hamas e do Hezbollah que não tem um Estado para chamar de seu.

É importante que nos debrucemos sobre aspectos-chave para que possamos expressar uma concepção abalizada a respeito desse tema que, tal como a Guerra Rússia/Ucrânia, veio para ficar e, com o qual, conviveremos durante bastante tempo.

É necessário que se reflita sobre o porquê desse ataque do Hamas ao Estado de Israel 2 que, em tese, pegou a todos, especialmente, os israelenses de surpresa.

Para tanto é necessário um recuo à Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1947, que decidiu pela criação de dois Estados independentes: o Estado Palestino e o Estado de Israel na região da Palestina, ou seja, no território localizado na região do conhecido Oriente Médio ou Oriente Próximo. Seu nome se origina de Filistina ou Terra dos Filisteus. Além disso, como Jerusalém é uma cidade considerada sagrada para judeus, muçulmanos e cristãos, a ONU decidiu que seu território deveria ser livre e administrado internacionalmente. Essa sessão da Assembleia Geral da ONU foi presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha que defendeu a questão da partilha e da criação do Estado de Israel, a famosa Resolução 181. Porém, por que foi realizada essa Conferência para decidir essa temática?

Desde o final do século XIX, judeus entusiasmados pelo pensamento de Theodor Herzl (1860-1904), começaram a se dirigir em direção ao território da Palestina. Theodor Herzl foi um jornalista judeu austro-húngaro que havia sofrido pessoalmente perseguições por ser judeu. Posteriormente, influenciado pelo famoso Caso Dreyfus (1894-1906) 3 , escreveu um livro O Estado Judeu onde defendia a criação de um Estado para os judeus.

No início do século XX, amplia-se a migração de judeus em direção à Terra que consideram como sua: a Palestina, cuja antiga denominação é Canaã. Começaram a comprar terras na região que se encontrava ocupada por árabes que lá se instalaram a partir do século VII d.C. O clima de tensão no território já é claro, pois, os árabes não aceitam partilhar sua terra com esse povo que chega comprando territórios com ambições de domínio.

Há um mito religioso, segundo o qual, Deus teria prometido essa terra aos judeus que seriam o seu “povo escolhido”. Deus teria dito a Abraão, um dos patriarcas hebraicos 4 que deveria sair de sua terra e se dirigir ao território que ele iria lhe mostrar e essa terra seria sua e de seus descendentes.

Segundo a tradição bíblica, os hebreus, por volta de 1.700 a.C., levados por uma fase de escassez de alimentos, migraram para o Egito, buscando se estabelecer em suas terras férteis. Inicialmente aceitos, com o passar do tempo, teriam sido escravizados, o que se manteve até aproximadamente 1.300 a.C. Aí, segundo, novamente, a tradição bíblica, teriam sido libertos por Moisés que os conduziu de volta à sua terra prometida por Deus: Canaã. Canaã, em termos atuais, corresponde aos territórios de: Israel, Faixa de Gaza, Cisjordânia, parte da Jordânia, Líbano e parte da Síria.

Porém, como era de se esperar, essa terra não estava à sua espera. Estava ocupada por cananeus e filisteus. Para se estabelecerem precisaram conquistar militarmente essa terra contra os povos que ali viviam. Segue-se um período de prosperidade em que todos conhecemos os importantes reis hebreus: Saul, Davi e Salomão, momento em que foi construído o Templo de Jerusalém, templo este que foi destruído durante o domínio romano.

Ou seja, após essa fase de prosperidade veio a decadência. Com a morte de Salomão, seu filho Roboão passou a governar. Mas seu reinado desagradou à população. Isto acabou levando à divisão do território em dois reinos: Israel Setentrional, o reino das 10 tribos e Israel Meridional, com capital em Jerusalém.

Nesse momento de fragilidade foram alvo de diversas conquistas até o domínio romano em 63 a.C. Foi sob este domínio que se deu sua diáspora (dispersão). Após uma rebelião foram expulsos pelos romanos (70 d.C.) e condenados a se espalhar por diversas regiões, excetuando-se o território do Império Romano. Assim permaneceram até voltar a se agrupar, a partir do início do século XX embalados pelas crenças de Theodore Herzl e do sionismo 5 .

As barbaridades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial e, particularmente, o terror do Holocausto com a morte de, aproximadamente, 6 milhões de judeus criaram um sentimento generalizado de culpa. Afinal, como a Europa poderia não saber dos horrores dos campos de concentração e do genocídio de povos? Boa parte dos países agiram como se o tivessem descoberto somente com a libertação dos campos de concentração, ao término do conflito.

Em meio à hipocrisia do pretenso desconhecimento, os vencedores da guerra se viram obrigados a criar uma solução para a região da Palestina, mesmo porque a pressão judaica populacional na região era explosiva. Essa região estivera sob o domínio do Império Otomano que, entretanto, com a Primeira Guerra Mundial (1914- 1918) foi destroçado. Mesmo antes do término da guerra, um documento conhecido como a Declaração Balfour (1917) se referia ao desejo do governo britânico de facilitar o estabelecimento do Lar Nacional Judeu na Palestina, se os ingleses conseguissem derrotar o Império Otomano. Após o fim do Império Otomano, a região da Palestina ficou sob o
controle de um Mandato Britânico (1920-1948).

Deve-se observar que, após a Conferência da ONU de 1947, não foram tomadas medidas concretas para a criação dos Estados. Assim, os judeus apressaram-se, em 1948, a criar unilateralmente o seu Estado. O mesmo não ocorreu com a Palestina e seu Estado ainda por se realizar.

Novamente se vivenciava o drama da chegada dos judeus a um território que consideram a sua “terra prometida por Deus” que não estava à sua espera, estava ocupada por uma população beligerante em relação ao novo Estado. Entre a sua crença religiosa como “povo escolhido por Deus” e a realidade vivenciada a distância foi abissal. Para os habitantes da região, os Palestinos, nada significava ser o “povo escolhido por Deus”. Que Deus? Eles acreditam em outras divindades. Esse povo foi visto por eles simplesmente como invasor, usurpador.

É preciso explicar que, quando da partilha, os judeus detinham apenas 7% do território e passaram a possuir 55%, enquanto os palestinos, em maioria, ficaram com 45%. Outra questão importante: na concepção de um Estado Palestino, os territórios destinados a eles foram divididos e distanciados: uma parte na estreita e diminuta Faixa de Gaza e outra parte na Cisjordânia. O tratamento desigual dado para a questão é, portanto, gritante!

Entre 1948 e 1949 os exércitos da Liga Árabe (Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Iraque e a população árabe palestina), invadem Israel tentando evitar a consolidação do novo Estado. Mas, apesar de mais numerosos, em 1949, a Liga Árabe foi derrotada. Durante o conflito, os judeus aproveitaram para expulsar mais da metade da população palestina da região. Os palestinos consideram essa a sua diáspora: Al Nakba (a catástrofe). Popularmente é narrado que a maior parte dos palestinos expulsos guardaram as chaves de suas casas que conservam até hoje, preparando o seu retorno.

Durante essa diáspora, entretanto, os territórios destinados ao futuro Estado Palestino, foram dominados por outros povos: o Egito ocupou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia passou a ser controlada pela Jordânia. Aos palestinos restou se espalharem pela Jordânia e pelo Líbano.

Os hebreus são os antepassados dos atuais judeus. Segundo narrativas bíblicas Abraão é considerado o pai do povo hebreu. Ele
teria sido escolhido por Deus para chefiar uma nação. Sion é o nome de uma das colinas da “Terra Santa” que, durante o reinado de Davi, se tornou sinônimo de Jerusalém.

Em 1956, uma grave crise expõe novamente a brutalidade da questão. Em 29/10/1956, forças armadas israelitas avançaram em direção ao Egito e ao Canal de Suez 6 cuja passagem controlava 2/3 do petróleo utilizado pela Europa.

Isso se deveu ao fato de que o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou o Canal. Nasser desejava que as taxas cobradas por franceses e ingleses passassem aos egípcios e ajudassem a financiar a represa de Assuã que almejava construir. Na investida israelense houve o apoio da França e da Inglaterra na invasão que se desencadeou.

A URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) apoiava Nasser auxiliando-o na construção da barragem de Assuã. Além disso, o líder soviético Nikita Khrushchev ameaçou com uma guerra nuclear caso a tríplice aliança (Israel, França e Inglaterra) não se retirasse. Os EUA resolvem intervir ameaçando com sanções econômicas.

Resultado: França e Inglaterra se retiraram e Israel acabou cedendo ao devolver o canal ao Egito. Este evento é excepcional pois, de um lado, revela um momento em que os EUA não apoiam Israel e, de outro, mostra uma derrota dos judeus. Em 1964, uma importante alteração no quadro: todos os grupos que lutavam pelos direitos dos palestinos se unificaram, criando a Organização pela Libertação da Palestina (OLP). Yasser Arafat, o criador do maior desses grupos, o Fatah, assume a presidência da OLP.

Porém, a situação iria se alterar brutalmente em 1967. Pretextando uma ameaça de invasão árabe, Israel conduz um ataque surpresa contra Egito, Jordânia e Síria, a breve e conhecida Guerra dos Seis Dias que terminou com a ocupação de novos territórios por Israel – provavelmente seu objetivo real. Conquistas e ocupação de áreas da Península do Sinai, da Faixa de Gaza, as Colinas de Golã, a Cisjordânia e toda a cidade de Jerusalém.

Com a guerra, a OLP precisou se exilar na Jordânia. Mas, em 1970, tentam derrubar o rei da Jordânia para assumir o controle do país. Entretanto, fracassam e são expulsos da Jordânia e obrigados a ir para o sul do Líbano onde permanecem.

Em 1972, temos a tentativa do grupo da OLP, chamado Setembro Negro, nas Olimpíadas de Munique, de sequestrar 11 atletas israelenses. No conflito, sequestradores e atletas são mortos. Em 1973, numa data sagrada para os judeus, o Yom Kippur, o “Dia do Perdão”, Egito e Síria atacam Israel.

Durante o confronto os israelitas perdem o controle da Península do Sinai e das Colinas de Golã. A intervenção dos EUA
promove a reconquista desses territórios para Israel. Como consequência desse conflito a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) resolve elevar de forma inédita os preços do produto do qual boa parte do mundo dependia. É a conhecida “Crise do Petróleo” que
afetou a economia de muitos países.

Em 1974, a Liga Árabe reconhece a OLP como a representante legítima do povo palestino e a Assembleia Geral da ONU admite a OLP como a entidade para representar (como membro observador) a Palestina em qualquer assunto que a ela dissesse respeito.

Entre 1987 e 1993 tivemos a Primeira Intifada que é o levante palestino contra a ocupação de Israel. Nessa ocasião o levante se caracterizou pelo ataque com paus e pedras pelos palestinos – sua forma de resistência – contra o todo poderoso Estado de Israel. O pretexto para o início do conflito foi a morte de trabalhadores palestinos quando duas vans israelenses colidiram com o seu transporte para o trabalho. A revolta palestina chegou até a Cisjordânia. O número de mortos, presos e desaparecidos foi avassalador.

Em 1988, a Liga Árabe reconhece a OLP e Yasser Arafat como representante dos palestinos. Na mesma data, a OLP declara a independência da Palestina o que é reconhecido pela maioria dos países. Entretanto, os territórios ocupados por Israel continuam sob seu jugo. Em 1993, Yasser Arafat do grupo Fatah, numa carta ao primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, reconheceu o Estado de Israel. Israel aceitou a OLP como representante legítima do povo palestino.

Claramente houve um distensionamento na região. É o momento para, talvez, o mais ousado e alvissareiro acordo de paz entre Palestinos e Israelenses. São os Acordos de Oslo (1993). Gostaria de dizer que, naquele momento, fui chamada diversas vezes pelos meios de comunicação para analisar esse conflito.

Reputo que esses acordos foram a mais importante tentativa de estabelecimento de paz na região. Observo ainda que, em visita ao Egito e a Israel, em 1995, pude constatar que se podia atravessar territórios que, anteriormente, seriam fechados. Tive então a possibilidade de uma ampla visita à região.

Foram um conjunto de acordos estabelecidos na cidade de Oslo na Noruega: o governo israelense foi representado pela figura de Yitzhak Rabin e a OLP representada por Yasser Arafat. A mediação coube ao então presidente dos EUA Bill Clinton. O plano deveria ter a duração de 6 anos (1993-1999) e compreendia a retirada de Israel da Faixa de Gaza e de regiões da Cisjordânia, com a transferência de poderes à OLP.

Previa também a transferência de outras aldeias da 6 Inaugurado em 1869 idealizado por Ferdinand de Lesseps e administrado em conjunto pela França e Inglaterra que angariava as taxas cobradas pelo transporte de navios pelo Canal. Cisjordânia, realização de eleições em breve, com a permissão da movimentação entre os territórios transferidos.

O mais importante: a discussão sobre os assentamentos judeus nos territórios palestinos e em Jerusalém. Apesar de, num primeiro momento, as resoluções terem sido levadas adiante, logo as desconfianças de ambas as partes predominaram e o plano fracassou. Importante assinalar que, em 1995, Yitzhak Rabin foi assassinado por um seu compatriota judeu
fanático que não aceitava os acordos de Oslo.

Uma consequência positiva desses acordos foi a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP), em 1994. A ANP passou a controlar os territórios de Gaza e Cisjordânia e Yasser Arafat foi seu primeiro presidente, exercendo o
cargo até sua morte em 2004.

Um pequeno parêntese, em minha viagem de 1995 à região, nosso guia falava de forma muito satisfatória que Binyamin Netanyahu, a quem chamava carinhosamente de “Bibi”, estava de volta, colocando-o como a solução para todos os conflitos. Dito e feito! Em 1996, “Bibi” é eleito pelo Partido Likud, extremamente conservador. Interrompe o processo de desocupação dos territórios palestinos e amplia os assentamentos de colonos judeus em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

Porém, em 1999, Ehud Barak, é eleito Primeiro-Ministro de Israel. Barak pertencia ao Partido Trabalhista (o mesmo de Yitzhak Rabin), de tendência social-democrata. Sob sua administração, Israel retira-se do sul do Líbano. Porém, sofrendo muitas represálias dos israelenses, Barak acaba renunciando. Novas eleições são convocadas com a vitória do general Ariel Sharon, do Likud, declarado inimigo dos palestinos.

Apesar de admoestado Sharon, contrariando os palestinos faz uma visita à Esplanada das Mesquitas em Jerusalém. O local é considerado sagrado pelos israelenses, mas também o é para os palestinos que o reivindicam como capital de seu futuro Estado. Entendendo a atitude de Sharon como provocação, tem início nova Intifada.

Em 2004, Yasser Arafat morreu e, em 2005, terminou a segunda Intifada. Os israelenses deixaram a Faixa de Gaza que, pela primeira vez, viveu um processo de eleições. Entretanto, a vitória pertenceu ao Hamas que não é um
consenso entre os palestinos e estabeleceu um governo na região. O Fatah de Yasser Arafat tem muitas divergências com o Hamas. Só para ficarmos em uma delas, o objetivo do Hamas é destruir o Estado de Israel que não aceita. O Fatah, desde 1988 reconhece o Estado de Israel.

Ao se retirar de Gaza, Israel impôs um bloqueio à região e lançou vários ataques militares: 2008, 2012, 2014, 2021. É importante frisar que Netanyahu que governou Israel no final do século XX, ao longo do século XXI, esteve no poder entre 2009 e 2021 e, após um pequeno interregno, voltou ao poder em 2022 apoiado por uma coalizão de
extrema-direita.

Peço desculpas pelo longo histórico perseguido por este artigo. Entretanto, se não tivermos conhecimento dos fatos, seremos apenas repetidores das notícias que nos bombardeiam e que nos levam a crer numa imparcialidade. Não há imparcialidade! Quando nos expressamos estamos exprimindo nosso ponto de vista, do lugar social de onde falamos. Como diz Gilberto Gil: “que a paz invada nossos corações!”

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Finalmente! https://canalmynews.com.br/brasil/finalmente-revelacoes-militares/ Mon, 21 Aug 2023 21:11:50 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38990 Sou uma estudiosa do período que acredita que, enquanto não julgarmos os militares por seus crimes não poderemos virar a página da Ditadura

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Comecei a estudar, academicamente, a Ditadura Militar brasileira, há alguns anos, quando teve início o meu Mestrado. Ao longo deste período muitas questões me assombraram. Destaco duas delas como essenciais.

A primeira é a convicção de que a atitude dos militares sempre foi a de procurar agir de acordo com o provérbio popular: “uma no cravo, outra na ferradura”. Apesar de protagonizarem um regime ditatorial brutal, fizeram com que parecesse que atuavam sempre em nome da Democracia, buscando preservá-la. Segundo eles, foi em nome da Democracia que perpetraram o golpe de Estado de 1964, pois, na sua concepção, naquele momento, ela se encontrava em risco. Uma grande inverdade.

A segunda e a mais incômoda é a que, graças a diversas questões travadas no percurso dos 21 (vinte e um) anos de Ditadura, acabaram por deixar uma memória positiva do período. Isso explica as “viúvas” da Ditadura que pedem a “volta dos militares” sob o argumento de que: “aqueles é que eram bons tempos”.

Isso não acontece em países que vivenciaram realidades semelhantes como a Argentina, o Chile e o Uruguai, onde os governos militares são vistos com a sua real face, cruel e antidemocrática.
A Ditadura Militar brasileira se escudou em feitos teoricamente positivos para o país. Assim foi com o conhecido “milagre econômico” que, após a crise do Petróleo, desencadeada em 1973, demonstrou-se uma farsa. As estratégias econômicas dos ministros da época só serviram ao seu propósito real. Sob o pretexto de derrubar a inflação e “sanear” economicamente o país eliminaram empregos e baixaram salários.

Entretanto, apesar do desejo expresso nas ruas pela população brasileira de retorno democrático, a transição para a Democracia, acabou capitaneada pelos militares ainda no poder. Foram eles que conduziram a seu bel-prazer o processo do fim da censura aos meios de comunicação, a devolução das liberdades democráticas, incluindo o retorno ao pluripartidarismo e, o mais terrível, a Lei de Anistia de 1979, com a anistia a torturados e torturadores.

Nós que ingenuamente ostentávamos as faixas pedindo uma anistia ampla, geral e irrestrita, temendo que nem todos os condenados por crimes contra a Ditadura fossem anistiados, acabamos conseguindo uma anistia tão ampla que incluiu os torturadores que, desse modo, não foram julgados por seus crimes.

Sou uma estudiosa do período que acredita que, enquanto não julgarmos os militares por seus crimes não poderemos virar a página da Ditadura que, assim, continuará a nos atormentar. Surgem problemas como o desgoverno de Jair Bolsonaro, o capitão, eleito pela população, desejosa do retorno dos militares ao poder.

As revelações sobre a atuação dos militares durante o último maldito quadriênio que agora vem à tona parecem, entretanto, botar um fim nesse namoro do povo brasileiro com as Forças Armadas.
É um vício de origem. Afinal somos uma República da Espada, República que foi fruto de um golpe em 1889. E, de golpe em golpe, fomos prosseguindo: adiante, através de passos tortos.
Finalmente, chegou a hora de nos livrarmos desse passado obscuro que nos impede de alçarmos voo rumo à definitiva consolidação democrática.

Não há como disfarçar, esconder, tentar escamotear. A verdade gritante é que, durante o último governo, militares empoderados, foram venais e compactuaram com todos os crimes cometidos. Sua imagem está definitivamente marcada e, agora, creio que, finalmente, podemos virar a página e nos prepararmos para construir um país livre e justo sem sua presença onipotente.
Militares servem para proteger o país em caso de ameaças externas e devem amparar a população conforme consta na Constituição Brasileira. Qualquer outro papel que almejarem vivenciar deve ser contestado por todos nós que, temos sim, como assumir os rumos da Nação e como oferecer a melhor condição política para o nosso povo.


Maria Aparecida de Aquino é professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Possui Mestrado e Doutorado pela FFLCH/USP e Pós-doutorado pela UFSCar. Autora de, entre outros: Censura, Imprensa, Estado Autoritário (1968-1978). Bauru, Edusc, 1999 e Bons Tempos, Hein? SP, Todas as Musas, 2022. Especialista em estudos sobre a Ditadura Militar brasileira (1964-1985).

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Querida Rita Lee! https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/querida-rita-lee/ Wed, 10 May 2023 13:41:16 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=37569 Rita Lee, estava à frente de seu tempo, daí a incompreensão que suscita em espíritos mais conservadores, não
habilitados para a modernidade de sua produção e vivência

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“Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João (…)

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João”
Caetano Veloso – Sampa: 1978

Esta é a versão poética mais conhecida de Rita Lee traduzida pelo gênio Caetano Veloso que, baiano, se arvora a conhecer São Paulo e a “deselegância discreta” das meninas paulistanas. Para ele, Rita Lee era a mais completa tradução dessa cidade que recebe com sua “dura poesia” os migrantes, como ele, que vem para esta terra diferente da sua (como não poderia ser?) e por não enxergarem o seu rosto, acabam por considerá-la de “mau gosto, mau gosto”.

Enquanto não se transformam pelo contato, quando ainda não se tornaram “mutantes”, a tendência é “afastar o que não conhece”. Mas, o brilhante Caetano, em sua imensa sabedoria que lhe permitiu construir o mais belo hino à esta cidade que passou a se chamar “Sampa” até pelos paulistanos, sabe que ela “depressa” se torna “realidade”. Mesmo que seja “o avesso do avesso do avesso”.

Quando alguém como Rita Lee Jones de Carvalho (1947-2023) nos deixa, a sensação que fica, mais do que em outras perdas, é a de que estamos envelhecendo. Sim, porque, para quem a seguia, uma das imagens que dela permanecem é a de Os Mutantes, acompanhando, em 1967, Gilberto Gil em Domingo no Parque. Ali, o trio Rita, Arnaldo e Sérgio tornaram-se conhecidos do grande público. Ela, muito jovem, graciosa e bela.

Aquele momento foi, também, uma revolução: não era comum para a tradicional Música Popular Brasileira o acompanhamento com instrumentos como a guitarra elétrica que Os Mutantes utilizavam. A revolução veio para ficar.

Rita seguiu amadurecendo em sua profícua carreira
De seu cancioneiro impõe-se destacar outro momento brilhante: o álbum Rita Lee também conhecido como Lança Perfume, de 1980, com as músicas de sua autoria e do marido Roberto de Carvalho. Com ele, todos puderam dançar ao som de Baila Comigo. Foi possível lembrar do tempo em que o cheiroso lança-perfume era liberado no Brasil para depois ser considerado uma droga proibida. Vinha num lindo frasco dourado com agradável cheiro adocicado. Quem não cantarolou Caso Sério ou se indignou com um Ôrra Meu!?

A transgressora, expulsa de Os Mutantes, foi para a Inglaterra e se reencontrou com Gilberto Gil que, ao lado de Caetano Veloso, estava exilado por obra e graça da Ditadura Militar Brasileira.

Rita Lee, estava à frente de seu tempo, daí a incompreensão que suscita em espíritos mais conservadores, não habilitados para a modernidade de sua produção e vivência.

Acredito que é isso que permanece de sua rica história. Rita seguirá para sempre a nos lembrar que o pecado que não se pode cometer é permitir que ocorra o envelhecimento das ideias. Ela vai prosseguir, jovem, graciosa e bela, em sua caminhada na qual o futuro já chegou.

Rita Lee presente!

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Viva Chico Buarque! https://canalmynews.com.br/mais/viva-chico-buarque/ Fri, 28 Apr 2023 22:26:08 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=37362 O artista recebeu, das mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o mais importante prêmio da Literatura em Língua Portuguesa, o Prêmio Camões

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Chico Buarque recebeu (24/04/2023), das mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o mais
importante prêmio da Literatura em Língua Portuguesa, o Prêmio Camões. A cerimônia toda foi muito tocante
e Chico encontrava-se visivelmente emocionado.

Observou que o ex-presidente brasileiro teve a “fineza” de não sujar, com sua assinatura, o prêmio
Camões ao se recusar a concedê-lo. A referência de Chico nesse momento é à sua música Apesar de você
onde o autor assim se expressa: Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de desinventar…. Esta
música originalmente foi composta e lançada em 1970, durante o governo de Emílio Garrastazu Médici.

Inicialmente, os censores da Ditadura Militar acreditaram que seria uma canção sobre as desventuras de um
casal e deixaram a música liberada. Porém, depois perceberam a ácida crítica ao governo e ela foi proibida
para ser liberada somente em 1978. Acabou se tornando praticamente um hino contra a Ditadura Militar e
sempre cantada em manifestações e protestos.

Digno de nota também foi sua longa referência ao seu pai e à convivência com ele, dentre outros
aspectos para “corrigir seus escritos juvenis”. Seu pai, o grande historiador Sérgio Buarque de Holanda
(1902/SP-1982/SP), foi autor de muitas obras, com destaque ao clássico Raízes do Brasil (1936).

No início dos anos de 1970, estudante do curso de História da FFLCH/USP, um belo dia propagou-se
nos corredores a notícia de que o Professor Sérgio Buarque de Holanda estava no prédio. Todos corremos
para ver. Eu só pude vê-lo de relance, ao longe: estava participando de uma Banca Acadêmica. Foi a única
vez que o vi. Mas ele era uma lenda. Não só por sua brilhante produção, mas também, pela forma como se
aposentara em 1969.

A aposentadoria, apesar de já ter o tempo necessário de magistério, não era sua intenção naquele
momento. Porém, ficou indignado com a aposentadoria compulsória, prisão e perseguição de seus colegas
da USP, dentre eles, a grande historiadora Emília Viotti da Costa que inclusive fora presa por não concordar
com os rumos da Reforma Universitária de 1968. Assim, em solidariedade aos seus colegas, Sérgio Buarque
se aposentou. Isto diz praticamente tudo sobre o ser humano que ele foi.

Continuou sendo um severo crítico da Ditadura Militar Brasileira e, em 1980, foi um dos fundadores do
Partido dos Trabalhadores (PT). Coube a Lula, o maior nome do PT e Presidente do Brasil, conceder essa
honraria a seu filho Chico Buarque de Hollanda, o grande artista nacional. Completo em tudo e por tudo.

Embora Chico Buarque seja nacional e internacionalmente conhecido como compositor musical, atua
em outras áreas onde também se distingue, como por exemplo, na dramaturgia e na literatura. De toda sua
vasta obra eu me permito amar particularmente seu trabalho como compositor e, sendo ainda mais
específica, sua produção musical de protesto contra a Ditadura Militar.

Um dia, tendo participado de um debate acadêmico, juntamente com Chico Diaz, esposo de sua filha
Silvia Buarque, em dado momento fiquei ao seu lado e falei a ela o que gostaria de dizer a ele. Observei que
durante os recentes “anos de chumbo” nossa sobrevivência foi atenuada graças às suas canções contra o
regime repressivo. Pura verdade!

Durante muitos anos os presentes de Natal de minha mãe para mim eram os discos de Chico
Buarque. Conheço de cor todas as suas músicas que continuo achando perfeitas, maravilhosas! Assisto seus
shows desde os anos de 1970, incluindo o último: Que tal um samba?

Segunda-feira foi um dia muito especial. Poder ver Chico tão alegre e natural e acompanhar seu belo
discurso: um presente dos deuses. Viva Chico Buarque, artista brasileiro!

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O dia que durou 21 anos https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/o-dia-que-durou-21-anos/ Thu, 20 Apr 2023 22:29:06 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=37200 Este é o título do fantástico longa-metragem/documentário 2012, dirigido pelo cineasta Camilo Tavares (1971- ), nascido na Cidade do México, vivenciando sua infância na Argentina e chegando ao Brasil somente em 1979

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Este é o título do fantástico longa-metragem/documentário (2012- à disposição no YouTube) dirigido pelo cineasta Camilo Tavares (1971- ), nascido na Cidade do México, vivenciando sua infância na Argentina e chegando ao Brasil somente em 1979, onde foi morar, no Rio de Janeiro. Hoje, encontra-se radicado em São Paulo. Essa trajetória em diferentes países se deve ao exílio de seu pai, o magnífico jornalista Flávio Tavares (1934- ) que faz a narração do filme.

Flávio Tavares trabalhou no importante jornal Última Hora de Samuel Wainer que promoveu uma verdadeira revolução na imprensa brasileira. Depois, já no exílio, colaborou com o jornal mexicano Excelsior e, em Buenos Aires, escreveu para O Estado de S. Paulo. Seu exílio se deveu à sua participação em grupos de luta armada como o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) e o Movimento Armado Revolucionário (MAR). Foi preso e, em 1969, um dos prisioneiros políticos soltos em troca do embaixador estadunidense Charles Burke Elbrick que havia sido sequestrado. Aí tem início seu exílio e de sua família.

Camilo Tavares realizou um filme que se diferencia muito de outras obras sobre a Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). Graças a uma pesquisa em arquivos da CIA e em áudios da Casa Branca dos EUA, documenta claramente o interesse estadunidense e a participação no golpe ilegal e ilegítimo que nos vitimou em 1964, dando início ao pesadelo de 21 anos.

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A se registrar as falas do presidente John Fitzgerald Kennedy (1917-1963), de seu sucessor Lyndon B. Johnson (1908-1973), do embaixador dos EUA no Brasil à época Lincoln Gordon (1913-2009), de seu assistente Robert Bentley e não se pode esquecer da figura de Vernon Walters, adido militar dos EUA no Brasil e amigo do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Ele influenciou na escolha do militar para ser o primeiro presidente da ditadura instaurada em 1964. Todos eles conspiradores contra o governo legítimo de João Goulart e articuladores do golpe que o derrubou.

Cada qual a seu modo contribuiu para a paranoia de que João Goulart estaria disposto a transformar o Brasil em uma nova Cuba comunista, através do lançamento de uma “República Sindicalista”. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência. Ao se pensar na atuação da mídia na época e seu papel golpista, basta traçar uma comparação com a mídia atual em relação ao governo do presidente legitimamente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Houve um certo namoro dos meios de comunicação em relação ao governo atual do presidente Lula, namoro este acentuado quando da tentativa criminosa de golpe de Estado contra a democracia em 08/01/2023, através da turba ignara destruidora no Congresso Nacional, no Supremo Tribunal Federal, no Palácio do Planalto. O dia seguinte mostrou algo absolutamente inédito. Independentemente das tendências e do apoio ou oposição ao atual governo, parlamentares, governadores, congressistas todos se uniram na mais bela imagem que o Brasil produziu depois da caminhada até a posse de Lula.

Porém, o namoro durou pouco. Ninguém se incomodou com a ida de Lula à Argentina e aos EUA. Mas…ir à China? Convenhamos. Isto foi demais!

Novamente precisamos recorrer à comparação. Quando o malfadado senhor Jânio Quadros renunciou onde estava João Goulart, seu vice? Na China. Os que tem memória sabem da dificuldade e da negociação que foi preciso fazer com militares e conservadores de plantão para que ele pudesse retornar e assumir o posto que lhe era de direito, o de Presidente da República. Mesmo assim, só aceitando a fórmula do Parlamentarismo para diminuir seus poderes.
No filme aparece claramente delineado o peso hercúleo que os EUA tiveram naqueles tenebrosos momentos de articulação e efetivação do golpe de 1964, inclusive em um de seus mais desonrosos episódios: a declaração de vacância da presidência da República na presença no país do presidente legitimo, João Goulart.

Agora, até mesmo os comentaristas que parecem minimamente esclarecidos (com honrosas exceções) ficam debulhando as falas do presidente Lula para criticá-las duramente. Afinal, ele foi à China! Pecado mortal!
O filme O dia que durou 21 anos deve ser visto por todos: os de direita, de esquerda, de centro e os que não sabem o que são, mas no fundo são alguma coisa. Visto para que não se repitam, tanto influências estrangeiras mal- intencionadas, como conspirações contra a democracia que foi um bem duramente conquistado e ainda se encontra em fase de consolidação no Brasil.

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A farsa e a tragédia da guerra https://canalmynews.com.br/colunistas-convidados/a-farsa-e-a-tragedia-da-guerra/ Tue, 21 Mar 2023 14:07:06 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=36484 A farsa, hoje totalmente admitida, foi construída para que parecesse que a guerra era inevitável, mais do que isso, necessária

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O título deste artigo é óbvio. Qual das guerras travadas pela humanidade não foi construída sobre uma farsa? Afinal, trata-se de um evento essencialmente elaborado para que homens matem outros homens, seus semelhantes. Qual das guerras não ajudou a instaurar tragédias? Homens são mortos, às vezes em números inimagináveis. Depois delas o processo de tentativa de reconstrução é, quase sempre, tão doloroso quanto o seu desenrolar.

Entretanto, quero me concentrar na conhecida frase do filósofo alemão Karl Marx (1818-1893): “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Esta frase figura em uma de suas mais importantes obras: O 18 de Brumário de Luís Bonaparte (São Paulo, Boitempo, 2011).
Há 20 anos, no dia 20/03/2003, estava em uma entrevista para o excelente jornalista Roberto Cabrini em uma emissora de TV, discutindo exatamente a possibilidade de uma guerra contra o Iraque. Já era noite avançada.

Quando estava saindo Cabrini me perguntou se acontecesse alguma coisa ele poderia me chamar, mesmo que fosse de madrugada. Eu concordei e me retirei. Quando cheguei em casa fui chamada para retornar: a Guerra do Iraque, com a invasão de seu território começara, mesmo sem o apoio da ONU. Assim, principalmente os EUA e a Inglaterra, através de seus próceres, respectivamente George Walker Bush e Tony Blair, deram início à farsa e à tragédia.

A farsa, hoje totalmente admitida, foi construída para que parecesse que a guerra era inevitável, mais do que isso, necessária. O Iraque, através de Saddam Hussein, possuiria armas de destruição em massa e seria, portanto, um perigo que precisava ser contido.

Os que viveram aqueles tempos hão de se lembrar do Secretário de Estado dos EUA, o respeitado – até aquela data – general reformado Colin Powell, em fevereiro de 2003, em um discurso na ONU, segurando um pequeno frasco em suas mãos – seria do tamanho usado para conter antraz – afirmando que o Iraque enganara os inspetores nucleares e as armas de destruição em massa existiriam. Farsa armada, construção do pretexto para a guerra. A guerra se desenrolou e as tais armas nunca foram encontradas. Não existiam, como cansara de afirmar o governo iraquiano.

O general teve tempo para se arrepender. Abandonou o partido republicano de Bush e, depois, apoiou Barak Obama. De nada adiantou, a tragédia já havia se instaurado.

As tropas estadunidenses só se retiraram do país em 2011 deixando um saldo de aproximadamente 200.000 mortos (cerca de 120.000 civis iraquianos) e muitas denúncias de atrocidades. São bastante conhecidas as denúncias de torturas de prisioneiros. As mais notórias foram as do presídio de Abu Ghraib, envolvendo abuso físico e sexual, tortura, estupro e assassinato.

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Tudo isso em nome da defesa da democracia. Além de proteger o mundo contra as armas de destruição em massa, os invasores também estariam livrando o povo do Iraque de um governo sanguinário e devolvendo o país à liberdade, detendo a opressão.

Depois de uma acirrada procura Saddam Hussein foi encontrado, preso, julgado e morto. Em frente às câmeras. A população mundial pode acompanhar sua morte, enforcado do mesmo modo como acompanhara as imagens de soldados americanos, quando da invasão, derrubando sua estátua em Bagdá.

Para acrescentar mais dramas a essa tragédia o país vivenciou, entre 2006 e 2008 uma guerra civil que opôs os três principais grupos do país: muçulmanos xiitas, muçulmanos sunitas e curdos. Além disso, entre 2014 e 2017, uma parte do território iraquiano foi ocupado pelo grupo do Estado Islâmico, com o corolário de violências conhecidas.
Eleições têm acontecido, mas sem que isso represente pacificação, desenvolvimento e, muito menos, melhoria das condições da população.

O riquíssimo país, um dos maiores produtores de petróleo, convive com a miséria e com o caos diário dos cortes de energia e das falhas no abastecimento.

20 anos depois é necessário que o mundo se debruce sobre essa tragédia sem fim. Ao lembrar essa data que nos afastemos, de uma vez por todas, das interferências externas em problemas internos. Se há uma solução para esses problemas somente a população local pode encontrá-la.

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Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és https://canalmynews.com.br/colunistas-convidados/diz-me-com-quem-andas-e-dir-te-ei-quem-es/ Thu, 02 Mar 2023 12:08:38 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=36196 O “moço bem preparado” que, segundo seus aliados, não deveria ter sido criticado por Lula, não é ingênuo e, muito menos, inocente, diz historiadora sobre Campos Neto

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O dito popular acima é extremamente conhecido e repetido por quase todos nós na linguagem cotidiana. Como muitos outros provérbios populares não se sabe sua origem, mas alguns o atribuem ao escritor e poeta do romantismo alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) que teria dito: “Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Saiba com que te ocupas e saberei também no que te poderás tornar.”

Recorro ao dito popular para me referir a uma realidade bastante contemporânea. O Presidente Lula fez um comentário dirigido ao Presidente do Banco Central Roberto de Campos Neto criticando a política de juros extremamente elevados praticada pela instituição. Não demorou muito para que as vivandeiras de plantão saíssem na defesa de Campos Neto, apelando, entre outras coisas, para o fato de que ele seria “muito preparado”. Na leitura desses defensores a crítica de Lula seria quase uma afronta, um ultraje.

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Embora não tenha sido muito propalado na defesa de Campos Neto pesava seu pedigree, ou seja, sua ancestralidade notória. É neto do Ministro do Planejamento (1964-1967) do governo do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, o primeiro da Ditadura Militar brasileira (1964-1985), Roberto Campos maldosamente chamado de “Bob Fields” (Bob por seu nome Roberto e Fields pelo sobrenome Campos), por seu pendor entreguista em relação à economia nacional.

Quando Bob Fields assumiu o cargo de Ministro do Planejamento, em 1964, considerava a inflação o principal problema de nossa economia. Para ele, entretanto, ela se devia, entre outros fatores, aos “excessivos aumentos salariais”. Decretou assim um Programa de grandes cortes orçamentários que passavam pelo controle dos salários. Começou, sob sua batuta, a política salarial característica da Ditadura Militar, a do arrocho salarial.

Ao lado de seu partner, o Ministro da Fazenda, Octávio Gouvêa de Bulhões, fecharam um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) pelo qual seria concedido um crédito ao Brasil em troca de um programa econômico que incluía, entre outras benesses ao exterior, o arrocho salarial e a liberação de remessas de lucros ao estrangeiro.

Tem início o longo pesadelo com a imposição de um reajuste salarial – inicialmente ao funcionalismo público e depois, também, ao setor privado – tomando por base a média dos salários dos dois anos anteriores.

Proibiram-se negociações entre sindicatos e empresas, bem como, a intervenção da Justiça do Trabalho. Isto fez com que patrões reduzissem os salários em até 25% sob o pretexto de dificuldades econômicas. Este fato é reconhecido inclusive por um discípulo de Bulhões e Campos, o também economista da Ditadura Mário Henrique Simonsen, o que torna a constatação insuspeita.

Portanto, ao se conhecer o pedigree de Campos Neto, se torna mais compreensível o mau humor de Lula com o neto do Bob Fields. Realmente “o passado o condena”.

Porém, se o passado o condena, o presente não é diferente. Trabalhou durante duas décadas no setor bancário. Inicialmente no Banco Bozano que depois foi comprado pelo Banco Santander onde permaneceu. Aliado de primeira hora do governo de Jair Messias Bolsonaro, em 2019, foi convidado pelo Ministro Paulo Guedes para assumir o Banco Central onde se encontra. Foi, também, bastante noticiada sua ida às eleições, para exercer o direito de voto, vestido com a camisa da Seleção Brasileira que, naquele momento, estava associada ao bolsonarismo.

Portanto, o “moço bem preparado” que, segundo seus aliados, não deveria ter sido criticado por Lula, não é ingênuo e, muito menos, inocente. Tem um lado, uma opinião, uma posição em relação à economia e à sociedade brasileiras que não se coadunam com os posicionamentos a favor do social que caracterizam os governos petistas e, especificamente, às plataformas defendidas por Lula, tanto na campanha, como no seu início de governo.

Antes de sair na defesa de sua permanência no Banco Central e na crítica às opiniões do governo Lula em relação a Roberto Campos Neto é preciso conhecer a história, o passado e o presente, para se entender qual o lugar social de onde falam seus defensores. Mais do que nunca, quanto mais não fosse, é válido o dito popular: “Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”.

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O holocausto é aqui! https://canalmynews.com.br/colunistas-convidados/o-holocausto-e-aqui/ Mon, 06 Feb 2023 19:47:26 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=35791 Nosso 'turning point' como brasileiros acontece agora ao encararmos a tragédia dos Yanomami

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O transcorrer do tempo e a repetição das imagens faz com que se naturalizem fatos que nunca poderiam ser naturalizados. Recentemente, vimos tantas vezes as cenas criminosas de destruição do malfadado dia 08/01/2023, atingindo o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, que elas quase já se naturalizaram para nós. Não causam tanto estupor e indignação como nos primeiros momentos. Precisamos lutar contra isso e manter forte a indignação, pois, só ela impedirá que estes fatos se repitam. Pelo contrário, a cada vez que as enxergarmos, devemos descobrir novos elementos para ativar nosso repúdio.

Assim é com as cenas que mantém vivo nosso horror ao contemplar as imagens da liberação dos campos de concentração nazistas ao término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Imagino o estupor do mundo ao dizer que contemplava essas cenas pela primeira vez. Afinal, o mundo todo se fechou numa negação conveniente afirmando o desconhecimento do que acontecia no intramuros do nazismo.

Gérard Vincent em memorável artigo para a magnífica coleção História da Vida Privada: Guerras ditas, guerras silenciadas e o enigma do identitário (vol. 5: Da Primeira Guerra a nossos dias. SP, Cia. das Letras, 1992. p. 201-247) observa que os franceses gostam de enfatizar seu desconhecimento sobre o que acontecia com os judeus no período.

Em 1940 parte da França foi conquistada pelos nazistas e o país viveu seu turning point, seu momento de inflexão, onde foram colocadas à prova todas suas mais profundas concepções enquanto povo e país. A França ocupada pelos nazistas viveu um pesadelo de colaboracionismo – os franceses (muitos) que colaboravam com o nazismo – e, como em todo território dominado pelos alemães, o horror da perseguição implacável aos judeus mandados para campos de concentração e para a morte.

Moravam na França cerca de 300.000 judeus. Estatísticas baseadas nos arquivos alemães calculam que cerca de 75.721 judeus franceses foram deportados para a “solução final”, o extermínio, e os mesmos dados apontam para 2.500 sobreviventes, ou seja, apenas 3% ao término do conflito.

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Vincent pergunta: os franceses sabiam? Sua resposta é que: eles sabiam da deportação ao vê-los desaparecer. Não poderiam imaginar o que era a “solução final”.

Até que ponto isso pode eximi-los de culpa?
Nosso turning point como brasileiros acontece agora ao encararmos a tragédia dos Yanomamis. A maioria dos povos indígenas que povoam as Américas migraram da Ásia em direção ao Continente Americano, através do Estreito de Bering, cerca de 15.000 anos atrás. Os Yanomami estabeleceram-se na região que ocupam atualmente há aproximadamente um milênio.

Depois de uma longa luta e muitas denúncias sobre a sua condição e devastação pelo contato, particularmente, com o garimpo, em 1992, finalmente, houve a demarcação do território Yanomami. Seu território no Brasil é de mais de 9,6 milhões de hectares. Para se ter uma ideia, é o dobro do tamanho da Suíça. Se reunirmos suas terras no Brasil com as da Venezuela, onde também habitam, chegaríamos ao maior território indígena coberto pela floresta em todo o mundo.

Segundo reportagem da Revista Carta Capital – edição número 1245, de 08/02/2023, p. 16 -, o território Yanomami possui “a tabela periódica inteira”, tal a riqueza e a diversidade mineral contida em suas terras. Se isto poderia representar sinal de prosperidade para o povo, transformou-se na razão de sua desgraça, dada a ganância dos exploradores que para lá se dirigem para roubar as riquezas de seu solo e conduzir uma verdadeira operação de extermínio do povo.

Até final do século XIX, os Yanomami mantinham contato apenas com outros grupos indígenas vizinhos. Seus primeiros encontros diretos com caçadores e soldados da Comissão de Limites ou viajantes estrangeiros deu-se entre 1910 e 1940. Entre 1940 e 1960, o contato se sofistica com a presença das missões católicas e evangélicas que lá se estabeleceram. O encontro sempre foi danoso aos Yanomami, trazendo surtos epidêmicos de doenças que não existiam na região e dizimaram parte do povo.

Porém, foi durante a Ditadura Militar que se desenvolveu o Plano de Integração Nacional, com a abertura da estrada Perimetral Norte invadindo o território Yanomami. Desenvolveu-se o RADAM, um Projeto de Levantamento de Recursos Amazônicos, que alertou para a existência de importantes jazidas minerais na região. Estava dado o mote para a invasão do território e para o desencadear da corrida do ouro. Em 1993, garimpeiros invadiram uma aldeia e assassinaram 16 indígenas, o que ficou conhecido como “Massacre de Haximu”. Houve julgamento e condenação por genocídio do episódio.

Estimativas calculam que, entre Venezuela e Brasil, existiriam aproximadamente 35.000 Yanomamis, sendo que, só no Brasil, teríamos cerca de 15.000 pessoas distribuídas em 250 aldeias.

No mês de janeiro de 2023, o Ministério da Saúde decretou emergência para combater o descaso com a população Yanomami depois da denúncia do Ministério dos Povos Indígenas de que cerca de 570 crianças morreram nos últimos 4 anos devido ao avanço descontrolado do garimpo ilegal.

A visão desoladora da situação dos Yanomamis só encontra semelhança com a dos campos de concentração no momento de sua liberação em 1945. Sabemos que o aval dado pelo último governo para o garimpo na região tem profunda responsabilidade com este novo genocídio.

Porém, da mesma forma como não adianta aos franceses apelar para o desconhecimento da situação de holocausto judaico em seu território, não adianta a nós brasileiros alegarmos o mesmo desconhecimento em relação à situação de genocídio dos Yanomamis. Nada vai nos eximir da culpa enquanto povo.

Foi muito bom para os franceses encarar seu colaboracionismo com o nazismo. A nós brasileiros será salutar compreender que a tragédia Yanomami é responsabilidade de todos nós.

Só assim poderemos crescer como população digna e soberana!

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Selvageria https://canalmynews.com.br/voce-colunista/selvageria/ Fri, 13 Jan 2023 14:07:53 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=35398 Quem são essas pessoas, os bárbaros invasores? Teoricamente são descontentes com o resultado das eleições e, em nome de seu descontentamento, partiram para esse ataque insensato

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Os atos transcorridos no dia 08/01/2023, em Brasília, com a invasão, por uma turba ensandecida, dos prédios dos três poderes: o Executivo (Palácio do Planalto), o Legislativo (Congresso Nacional) e o Judiciário (Supremo Tribunal Federal), só podem ser descritos como barbárie. Barbárie é um substantivo feminino que designa atos de selvageria.

Esta constatação nos leva a uma indagação: quem são essas pessoas, os bárbaros invasores? Teoricamente são descontentes com o resultado das eleições e, em nome de seu descontentamento, partiram para esse ataque insensato.

Escudados no ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro que, aqui, e agora, da Flórida (EUA) apregoa uma cantilena infeliz de que as eleições brasileiras são fraudáveis. Bolsonaro, o cidadão que, enquanto no cargo da Presidência da República, debochou de tudo que representasse a cultura e a educação brasileiras.

Apoiam-se, também, em parcela das Forças Armadas – nada a se espantar, afinal, foram elas as autoras do infame golpe de Estado de 1964 que nos jogou no horror de 21 anos de Ditadura Militar. Outro de seus esteios é representado por parte do capital nacional, assustado com a possibilidade de um governo que contemple a parcela da população não aquinhoada, como já fez anteriormente em seus governos pretéritos.

É simples assim! Você, caro leitor, quando acessar os meios de comunicação tradicionais que passaram, da defesa das eleições para, 3 dias apenas após a posse, a críticas ao governo que acaba de assumir, particularmente, na política econômica que ainda vai se desenhar, compreenda que estão na defesa simplesmente do “capital” pouco ilustrado. É isto! A velha luta: capital X trabalho.

Como a plebe pode ousar querer sentar à mesa, mesmo que seja para comer farelos? Segundo o retrógrado pensamento da parte menos ilustrada do velho capital, compete a plebe contentar-se com a fome! Afinal, está viva. Isto deveria bastar.

Mas, o que me faz indagar sobre quem são essas pessoas invasoras e bárbaras foi o desenrolar dos atos de selvageria. Não se contentaram em simplesmente invadir/ocupar os prédios representativos dos três poderes. Destruíram tudo por onde passaram: desde as poltronas e móveis até às obras de arte que compunham esses espaços.

Uma resposta à minha indagação se encontra em considerá-los, antes de tudo, como dotados de suprema ignorância, ou seja, ausência total de conhecimento/sabedoria. Só um ser imensamente ignorante poderia destruir um quadro de Di Cavalcanti e um relógio, da França, do século XVII. O relógio foi doado a D. João VI pela Corte francesa e este o trouxe ao Brasil, em 1808, no episódio conhecido como “A Vinda da Família Real”.

O relógio foi feito por Balthazar Martinot, o relojoeiro de Luís XIV (1638-1715). No mundo só existem dois relógios Martinot, o do Brasil, destruído pelos vândalos de Brasília e o que fica em exposição no Palácio de Versalhes, na França. Porém, o de Versalhes é bem menor do que o nosso exemplar. Os especialistas consideram praticamente impossível recuperar essa obra.

Esses seres desprezíveis, acreditando afetar o governo legítimo de Luiz Inácio Lula da Silva, na realidade, usurparam toda a população brasileira. Os bens por eles destruídos pertencem, efetivamente, ao povo do Brasil. Portanto, é a nós que eles roubaram. Estão em dívida com o Brasil ao se apossar e destruir uma parte importante da sua memória. Esses objetos compõem a memória do Brasil. Desse modo, é impossível aquilatar o significado total dessa destruição.

É necessário refletir sobre a importância da educação, tão desvalorizada no governo anterior. Um ser humano educado (no sentido do conhecimento), independentemente de suas crenças políticas de ocasião, jamais poderia participar desses atos de destruição.

Embora entenda e pactue com o pensamento de que esses vândalos precisam ser julgados e presos, não há prisão que pague o que foi destruído, em alguns casos, para sempre.

Viva o povo brasileiro! Viva a cultura do Brasil! Abaixo a ignorância e o vandalismo perpetrados contra todos nós! Como Fênix que ressurge das cinzas saberemos passar por este vendaval de barbárie para ressurgirmos mais fortes enquanto Nação soberana!

Profa. Dra. do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Mestrado e Doutorado pela FFLCH/USP. Pós-doutorado pela UFSCar. Autora de Censura, Imprensa e Estado Autoritário (1968-1978). Bauru, Edusc, 1999 e Bons tempos, hein? São Paulo, Ed. Todas as Musas, 2022.

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54 anos esta noite https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/54-anos-esta-noite/ Mon, 19 Dec 2022 21:06:00 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=34975 "Ditadura foi terrível e negativo para o Brasil sob todos os aspectos"

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O título deste artigo é uma referência ao livro do brilhante jornalista Paulo Francis: 30 anos esta noite – o que vi e vivi (SP, Cia. das Letras, 1994) – relançado em 2004 – e não ao filme de 1963, de mesmo nome, de Louis Malle. Nele, Francis rememora suas impressões e vivências do Golpe de Estado de 1964 que mergulhou o Brasil na escuridão, da qual ainda tentamos nos livrar e com a qual ainda temos contas a acertar.

Mas, a referência estanca aí. A noite a que me refiro não é a de 30 para 31 de março de 1964, antessala do Golpe de Estado e, sim, a noite de 12 para 13 de dezembro de 1968 que completou, há poucos dias, longos 54 anos. No dia 12 de dezembro de 1968, em votação histórica, a Câmara dos Deputados Federais, negou o pedido de licença para processar o Deputado Federal Márcio Moreira Alves, incluindo nesses votos 94 de parlamentares da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), o partido do governo. Este foi estrepitosamente derrotado: 216 votos contrários, 141 favoráveis e 12 abstenções.

No dia 2 de setembro de 1968, Márcio Moreira Alves discursou na Câmara dos Deputados, fazendo referência ao 7 de setembro que se aproximava. Pediu aos pais dos estudantes que não deixassem seus filhos participarem dos desfiles convocados para a comemoração da data e que as moças não dançassem com cadetes e não namorassem os jovens oficiais. Poucas pessoas presentes e pequena repercussão. Mas, os militares consideraram o discurso uma afronta. Em 12 de setembro começou o processo de cassação de Márcio Moreira Alves no STF e, dias depois, os ministros militares pediram que fosse processado com base na Lei de Segurança Nacional. Como Márcio era deputado e tinha imunidade parlamentar houve a necessidade de licença da Câmara para processá-lo o que foi negado na histórica votação de 12 de dezembro de 1968.

Mas, a vingança não tardaria. No dia seguinte, 13 de dezembro de 1968, o governo lança novo Ato Institucional 2 , o AI-5. Elaborado por Luís Antônio da Gama e Silva, Ministro da Justiça – vejam só!, o antigo reitor da Universidade de São Paulo/USP – do governo do General Artur da Costa e Silva, o segundo dos ditadores militares, pós-1964. O Ministro Gama e Silva anunciou o AI-5 pelo rádio lendo seus 12 artigos que consolidavam definitivamente a Ditadura com: fechamento do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas Estaduais e das Câmaras Municipais; intervenção federal nos Estados e Municípios; cassação de deputados, senadores e vereadores; suspensão dos direitos políticos dos cidadãos; decretação do Estado de Sítio sem consulta ao Legislativo; proibição do habeas corpus para os considerados crimes políticos.

Como se pode ver, a noite de 12 para 13 de dezembro de 1968 foi tenebrosa e precursora de tragédias anunciadas.

Eis que, transcorridos 54 anos, temos uma também tenebrosa noite de 12 para 13 de dezembro de 2022. Criminosos, em Brasília, incendiaram carros e ônibus, tentaram invadir a sede da Polícia Federal na Capital do país, depredaram prédios, almejaram invadir o Hotel onde se hospeda o presidente legitimamente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, dentre outras barbaridades. E isto, sem que houvesse qualquer reação policial contra os atos criminosos de vandalismo. O Governador do Distrito Federal, bem como o Ministro da Justiça – aquele que foi convocado pelo Presidente em exercício para dialogar com o, não menos criminoso, ex-deputado federal, Roberto Jefferson – nada fizeram. Nenhuma prisão contra os criminosos foi sequer anunciada. E eles prosseguiram, livremente, barbarizando a cidade. São os mesmos que se encontram acampados no Palácio da Alvorada; em frente ao Quartel General do Exército e, também, em frente aos quartéis.

Qualquer cidadão comum sabe que os quartéis e, obviamente, o Quartel General do Exército, constituem áreas militares das quais não se pode aproximar. Deve-se, por segurança, manter um distanciamento desses prédios. Como explicar os “acampamentos” e as invasões? A única resposta possível é a conivência policial de todas as escalas. E, também, governamental. Quem já participou de movimentos sociais conhece muito bem a rígida repressão policial, muitas vezes expressa com violência a manifestações de cunho pacífico, em luta por direitos.

O futuro Ministro, Flávio Dino, foi taxativo – e é necessário que o seja – observando que, se os criminosos não forem penalizados nestes poucos dias finais do governo atual, o serão no próximo governo. Só assim, romperemos com uma tradição nociva e tipicamente brasileira, a da conciliação, em nome do “ordeiro e cordial” povo brasileiro. Se não se julgam crimes, não se pode virar a página. E a história continuará sendo escrita e vivida com violência política tratada como banalidade.

Assim foi em relação à Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). A Anistia foi feita para torturados e torturadores. Os torturados haviam sido penalizados de todas as formas, incluindo prisões, mortes e desaparecimentos. E os torturadores continuaram impunes. Isto é responsável pela construção de uma “memória positiva” da Ditadura Militar. O que faz com que muitos bradem: queremos a volta dos militares! No tempo dos militares é que era bom! Vade retro! Foi terrível e negativo para o Brasil sob todos os aspectos. Como se não bastasse, quando houve a oportunidade de rever essa excrescência, na Comissão Nacional da Verdade (CNV), nada foi feito e prevaleceu a anistia de ambas as partes.

Se não fizermos a necessária revisão da Lei da Anistia de 1979 o Brasil não poderá virar a página e continuaremos sob a égide dos militares. O atual governo é o melhor exemplo disso com a ocupação inédita de cargos e funções por militares de carreira. O lugar de militares é na caserna e na defesa dos interesses e da salvaguarda da população brasileira, o que não se tem visto.

Começa um novo período que, espero, tenha a coragem de virar aquela página nefasta da História brasileira: a Ditadura Militar.

*Profa. Dra. do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Mestrado e Doutorado pela FFLCH/USP e Pós-doutorado pela UFSCar. Autora de Censura, Imprensa, Estado Autoritário (1968-1978). Bauru, EDUSC, 1999 e Bons Tempos, Hein? SP, Todas as Musas, 2022. Especialista em estudos sobre a Ditadura Militar Brasileira (1964-1985).

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Saiba quem foi Giordano Bruno https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/giordano-bruno/ Mon, 14 Nov 2022 22:14:43 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=34648 "Nossa indignação deve ser a mesma que a de Giordano Bruno frente à traição de que foi vítima"

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Giordano Bruno (1548-1600), frade dominicano italiano, foi um filósofo, teólogo, matemático, poeta e escritor. Nasceu em Nola (Nápoles) e morreu em Roma, na fogueira, condenado pela Inquisição do Santo Ofício, julgado por heresia. Acreditava que as estrelas eram sóis que possuiriam seus próprios planetas, nos quais também poderia haver vida. Para ele, o universo era infinito, portanto, não se justificava a ideia da existência de um centro.

Pensando em Giordano Bruno recordo um belíssimo filme que leva seu nome, datado de 1973, dirigido pelo laureado cineasta Giuliano Montaldo (1930 – …). Foi assistente de direção de Gillo
Pontecorvo em A Batalha de Argel (1961) e dirigiu, dentre outros, Os Intocáveis (1968) e Sacco e Vanzetti (1971), ambos de Montaldo. Giordano Bruno faz parte da fase brilhante do cinema italiano entre os anos de 1960 e 1970.

O filme foi estrelado pelo magnífico ator Gian Maria Volonté, que vive o frade Giordano Bruno. Volonté (1933-1994) participou de grandes filmes como: Investigação sobre um cidadão acima de
qualquer suspeita (Elio Petri – 1970), A classe operária vai ao paraíso (Elio Petri – 1971) e o já citado Sacco e Vanzetti. Além de ator foi um ativista político pró-comunismo e, durante muitos anos, foi casado com a conhecida atriz italiana Carla Gravina. Dentre muitos prêmios, em 1987, ganhou o Urso de Prata pela atuação no filme O caso Moro, também conhecido no Brasil. Morreu de ataque cardíaco, filmando na Grécia, sob a direção de Theo Angelopoulos (Alexandre, o Grande – 1980; Paisagem na Neblina -1988).

Na época assisti a muitos desses filmes, hoje clássicos, embora em 1973, tenha ocorrido a retirada de cartaz de muitos filmes pela censura férrea da Ditadura Militar brasileira, como A classe
operária vai ao paraíso e Sacco e Vanzetti.

Quando assisti Giordano Bruno me impactou, particularmente, uma frase do filósofo: Que ingenuidade, pedir a quem tem poder para mudar o poder. Como Bruno constava da lista de
procurados pela Inquisição havia se refugiado em Frankfurt. Entretanto, atende ao pedido de Giovanni Mocenigo de uma ilustre família veneziana para acompanhá-lo a pretexto de lhe ensinar a arte de desenvolver a memória. Veneza era conhecida por proteger foragidos e Bruno acede ao convite. Logo percebe que Mocenigo tinha péssimas intenções de utilizar as artes de Giordano para obter mais poder.

Assim, o filósofo se nega a ensiná-lo. Manifesta o desejo de retornar a Frankfurt e o nobre o denunciou à Inquisição. Foi preso e acusado de heresia. Teve a oportunidade de negar – abjurar – mas não o fez sendo condenado à morte, pronunciando a célebre frase aos seus algozes: Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu a ouvi-la.

Esta longa introdução leva às nossas preocupações atuais. Parafraseando Bruno, não podemos ser ingênuos em relação ao presente. Por alguns momentos acreditou-se que o presidente de plantão, escondido no seu silêncio, após a derrota nas urnas, fosse, finalmente, reconhecê-la. Não só não o fez como seus comandados espalharam a sublevação pelo país, buscando concretizar um golpe longamente acalentado.

Nossa indignação deve ser a mesma que a de Giordano Bruno frente à traição de que foi vítima: Que ingenuidade, pedir a quem tem poder para mudar o poder. Como imaginar grandeza em quem
não a tem? O presidente e seu entorno são seres humanos – se é que se pode denominá-los assim – diminutos, em termos de caráter. Portanto, deles só se pode acreditar na promoção da iniquidade de que são dotados.

Entretanto, sua derrota foi inequívoca. A nós compete garantir a consagração da democracia da vitória nas urnas e a posse do governo, legitimamente, eleito pela vontade popular.

*Maria Aparecida de Aquino é Profa. Dra. do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Tem mestrado e doutorado pela FFLCH/USP; Pós-doutorado pela UFSCar. É especialista em estudos sobre a Ditadura Militar brasileira (1964-1985).

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Meu nome é Gal https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/meu-nome-e-gal/ Mon, 14 Nov 2022 21:32:16 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=34644 "Ouvindo Gal Costa tenho a sensação de escutar um pássaro"

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Capa do disco Índia, de Gal Costa, foi censurada pela ditadura

Capa do disco Índia, de Gal Costa, foi censurada pela ditadura

O título deste artigo faz referência a uma das músicas mais conhecidas de Gal Costa (1945-2022), cujo nome completo era Maria da Graça Costa Penna Burgos. Nascida em Salvador (BA) e morta em São Paulo (SP). Para nosso orgulho, como paulistanos, Gal Costa resolveu morar em São Paulo nos últimos anos – sim, uma baiana em São Paulo que já foi chamado, preconceituosamente, de “túmulo do samba” – e aqui criar seu filho que adotou aos 2 (dois) anos de idade.

A canção a que se refere o título é de 1969, de autoria de Roberto e Erasmo Carlos que, nela, lhe fazem uma homenagem bastante carinhosa:

Meu nome é Gal
E desejo me corresponder
Com um rapaz que seja o tal
Meu nome é Gal…

Como música quero falar de sua voz. O que mais ouvi a respeito foi “cristalina”. Mas, é mais que isso. Ouvindo Gal Costa tenho a sensação de escutar um pássaro. É tão precisa e preciosa como uma ave rara cantando. E era rara mesmo.

Felizmente, nos incontáveis necrológios que assisti após sua morte, todos ressaltaram seu papel, além da intérprete genial. Quero destacar dois aspectos que a mim falam muito.

O primeiro deles, a coragem. Durante os anos da Ditadura Militar Brasileira (1964-1985), juntamente, com tantos outros, Caetano Veloso e Gilberto Gil, seus amigos de sempre, precisaram se exilar e foram para Londres. Gal Costa permaneceu aqui e, corajosamente, se posicionou contra o regime ditatorial que vivenciávamos. No período cantou a música, Divino maravilhoso, composta por Caetano Veloso e arranjada por Gilberto Gil para o festival de Música Popular Brasileira (MPB) de 1968. A música alertava para os perigos de se viver sob um regime repressivo e para a necessidade de resistir:

É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte (…)
Atenção. Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte…

 

O segundo aspecto a ser destacado é seu papel como mulher. Era bissexual e, desde 1998, vivia com a empresária Wilma Petrillo. Algumas vezes expos o seu corpo naturalmente, o que chocou muitos. Em 1973, ao lançar o disco Índia, a capa apresentava Gal com uma tanga bem pequena e, na contracapa, a cantora com os seios de fora.

Isso motivou – que novidade! – a censura da Ditadura Militar e o disco precisou ser acondicionado em um plástico preto. Em 1994, no show, dirigido por Gerald Thomas, O sorriso do gato de Alice, apareceu com uma camisa semiaberta e, novamente, com os seios nus, já prestes a completar 50 anos. Ela cantava a poderosa e agressiva canção de Cazuza, Brasil:

Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer (…)
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio
O nome do teu sócio
Confia em mim…

Poderia lembrar de muitas canções magníficas interpretadas por Gal Costa. Mas, quando lembro dela, sempre me vem à cabeça a doçura de Chuva de Prata (1984) de autoria de Ed Wilson e Ronaldo Bastos:

Chuva de prata que cai sem parar
Quase me mata de tanto esperar
Um beijo molhado de luz
Sela o nosso amor…

E foi assim. Na “terra da garoa”, na São Paulo que ela escolheu viver, sob uma suave chuva que Gal Costa foi enterrada. Prefiro acreditar que se tratava de uma chuva de prata que ela merecia. Símbolo da cultura brasileira, sempre engajada, nos últimos tempos, se posicionou contra as sandices do governo atual. Estrela de magnífica grandeza, o Brasil “mostra tua cara” empobrecida pela sua ausência.

*Maria Aparecida de Aquino é Profa. Dra. do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Tem mestrado e doutorado pela FFLCH/USP; Pós-doutorado pela UFSCar. É especialista em estudos sobre a Ditadura Militar brasileira (1964-1985).

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Golpe: Vade Retro! https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/golpe-vade-retro/ Tue, 25 Oct 2022 20:43:59 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=34407 Vamos, finalmente, fazer as pazes com a democracia e devolver nosso país ao Estado Democrático de Direito que a ele faz jus

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Ao longo de todos esses anos estudando e tendo vivenciado a Ditadura Militar brasileira (1964-1985) sempre me perguntei qual seria a sensação das pessoas na proximidade do Golpe de Estado de 1964 que nos vitimou, condenando-nos a um regime sanguinário durante inesgotáveis 21 (vinte e um) anos. Uma vez, numa de minhas muitas entrevistas com jornalistas do período, tive a honra de falar com o admirável Paulo Francis. Perguntei a ele se as pessoas tinham a noção do Golpe que se aproximava, antes do fatídico 31 de março. Ele deu uma gargalhada e foi enfático. Observou que o Golpe estava no ar e que as pessoas, de modo geral, tinham consciência dele. Não lhe fiz a pergunta imediatamente subsequente, pois, ele poderia se zangar, mas a questão é pertinente: se sabiam, por que não evitaram?

Acredito que não há resposta fácil a essa questão, mas persiste o problema de que não houve, no momento, reações contra o Golpe que, pelo menos, tentassem evitar a sua efetivação. Todos, no período, elogiam a articulação da sociedade que estava mobilizada. Mas, aparentemente, de nada serviu essa organização social. O Golpe não só se configurou sem resistência – a resistência armada viria posteriormente, ao final da década de 1960 e no início dos anos de 1970 – como se estabeleceu, sem aparentes problemas e foi, aos poucos, tornando-se mais forte e repressivo. Se a sociedade organizada teria condições de impedir a sua perpetuação é uma questão em aberto. Só podemos tecer considerações a respeito.

Agora, tantos anos transcorridos – na realidade, uma vida, ou mais – vemo-nos frente a uma situação semelhante de possibilidade de um Golpe contra o chamado Estado Democrático de Direito. Se formos pensar – aqueles que, como eu, tem uma visão negativa em relação ao furor anticorrupção que se abateu sobre nós, nos últimos anos – tudo o que aconteceu com a malfadada “Operação Lava Jato”, já prenunciava várias tentativas de Golpe. Quando você desrespeita a ordem democrática, pouco se sustenta do arcabouço que convencionamos chamar de Democracia. E, em nome da “luta contra a corrupção”, várias vezes a Constituição foi conspurcada.

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Lembro só um caso – não canso de narrar – a condução coercitiva do ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva. Várias vezes já expliquei – mas, nunca é demais -, que, para que se tomasse tal atitude seria necessário ter intimado diversas vezes Lula e ele, repetidamente, ter se negado a comparecer. Nesse caso, e só nesse, poder-se-ia conduzi-lo coercitivamente. Nada disso foi feito. Um desrespeito flagrante às regras do jogo democrático. Reafirmo: este é apenas um exemplo. A Lava Jato o ultrapassou diversas vezes rompendo as regras constitucionais.

Não se podia esperar outro resultado. Conhecem o dito popular: “aquilo deu nisso”? A continuidade da História vocês já conhecem. Jair Messias Bolsonaro foi eleito e o horror se instaurou. De lá para cá, outras regras democráticas foram interrompidas sob o aparente beneplácito da população ensandecida.

Ao longo do pleito eleitoral de 2022 tivemos oportunidade de acompanhar as tentativas do presidente de plantão, Jair Messias Bolsonaro, de colocar em risco o processo legítimo de ida às urnas da população brasileira. Reiteradas vezes colocou em dúvida – diga-se, de passagem, desde o início de seu malfadado mandato – a lisura do processo, afirmando uma pretensa – e inverídica – fraude eleitoral latente. Segundo seus delírios, ele, “se o processo fosse legítimo”, teria vencido no primeiro turno em 2018! As urnas brasileiras – elogiadas em todo o mundo pelos mais insuspeitos institutos – seriam fraudáveis e efetivamente fraudadas.

Como se não bastasse essa torpe tentativa, Bolsonaro deixa entrever todo o tempo sua disposição de não aceitar o resultado das urnas caso este lhe seja desfavorável. Ora, se isto não é uma clara alusão a um Golpe de Estado em andamento, não sabemos que nome atribuir a estas criminosas alusões.

Chegamos à tosca tentativa do nada tolo aliado de Jair Messias Bolsonaro: Roberto Jefferson. Armado de granadas – como? – fuzis, em suma, de um arsenal bélico inacreditável, recebeu a Polícia Federal em sua residência quando estes foram aprisioná-lo para cumprir a ordem do Ministro Alexandre de Moraes para conduzi-lo à prisão, uma vez que desrespeitara as regras que o mantinham, por concessão, em prisão domiciliar.

Cenas inacreditáveis mobilizaram o país durante longas 8 (oito) horas de “negociação” para, finalmente, levá-lo ao presídio. É justo fazer indagações – como seria a prisão de um cidadão comum perante qualquer delito, ou mesmo sem delito algum, somente a “suspeita” dos “agentes da lei”? Teria a “compreensão” da Polícia Federal que afirmou para Jefferson à frente das câmeras: “tudo o que o senhor precisar…”?

Fica o nosso alívio frente ao fato de que esta tentativa de Golpe de Estado não logrou êxito. Desta vez, a sociedade e os meios de comunicação em geral estavam atentos e impediram. Tivesse o mesmo acontecido em 1964 e não teríamos mergulhado no horror que talhou nossas vidas e definiu o futuro do país por duas longas décadas. Ainda temos contas a acertar com o período e minha crença é que, em breve, o faremos.

Vade retro este Golpe que não foi bem-sucedido. Aliás, esta consideração vale para todas as tentativas de Golpe que são sempre ilegais e ilegítimas. Dele saímos fortalecidos para, nas urnas, vencer o atraso que nos vitimou por incríveis 4 (quatro) anos. Vamos, finalmente, fazer as pazes com a democracia e devolver nosso país ao Estado Democrático de Direito que a ele faz jus.

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Narciso acha feio o que não é espelho https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/narciso-acha-feio-o-que-nao-e-espelho/ Tue, 04 Oct 2022 20:24:41 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=34081 Como lidar com essa onda de conservadorismo que tem varrido este país desde 2013?

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O título desta coluna possui uma dupla referência. De um lado remete ao mito grego de Narciso e, de outro, à canção, por muitos considerada como o Hino de São Paulo, de Caetano Veloso: Sampa.

Narciso, filho do deus Cefiso e da ninfa Liríope, representa a vaidade. O oráculo Tirésias preconizou sua extrema beleza e sua vida longa. Porém, advertiu – como é comum nos mitos gregos – que se ele admirasse seu rosto, isso poderia amaldiçoar sua vida. Narciso, muito autocentrado, flerta com a sua própria imagem ao vê-la refletida. Sua arrogância teve um preço e, sobre ele, foi lançado um feitiço que acaba por levá-lo à morte, condenado a definhar até perecer.

Em 1978, Caetano Veloso compôs de encomenda a um programa de TV, na comemoração do aniversário de São Paulo, uma de suas mais belas músicas: Sampa. Ele disse que se inspirou na magnífica canção Ronda de autoria de Paulo Vanzolini: biólogo, professor universitário e brilhante compositor. Assim, surgiram os versos, hoje consagrados:

“Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho…”

O último verso é, também, o título desta coluna e remete ao mito de Narciso ao qual a música de Caetano faz referência.

Esta longa introdução serve para pensar o momento presente vivido por nós brasileiros. Passada a ressaca do resultado que nos conduziu a um segundo turno eleitoral, muitas análises foram feitas buscando interpretar as razões do que ocorreu no dia 02/10/2022 e, particularmente, refletir sobre o porquê de termos “errado” tanto nas previsões, juntamente com as pesquisas eleitorais que, até o fechamento das urnas, apontavam um resultado diverso.

As mais variadas interpretações têm sido apresentadas. Desde o primeiro resultado comecei a especular sobre as razões de tamanho engano nas previsões.

Apenas a título de reflexão inicial. Há muitos anos, eu estava na cabeleireira e comentava com ela sobre o governo Lula fazendo elogios ao programa Minha Casa, Minha Vida. Enquanto eu falava a manicure reagiu indignada, observando que o referido programa só servia para dar casas a favelados que não trabalhavam! Essa é a voz do povo. Precisamos pensar seriamente sobre essas palavras.

O que me parece mais coerente leva a uma análise que pode servir também para os institutos de pesquisas – ressalvadas suas metodologias científicas: erramos redondamente na presunção do conhecimento do povo brasileiro.

Parafraseando Caetano: Narciso acha feio o que não é espelho. Assim, construímos uma fotografia do povo brasileiro que acreditávamos ser real, mas era apenas “à nossa imagem e semelhança”. Como Narciso, acreditamos que aquela imagem projetada correspondia à realidade, ou seja, representava definitivamente o “povo brasileiro”.

As urnas demonstraram que estávamos errados e, mais grave, que não sabíamos fazer uma leitura, mesmo que aproximada, dos anseios de nossa população. E elas nos retiraram a escada.

Não considero o resultado totalmente negativo. Apenas, como a maioria dos que esperavam outra resposta das urnas, fiquei, num primeiro momento aturdida, indagando: como explicar derrotas de candidatos nos Estados, bem como vitórias de Senadores e Deputados que representaram, ao longo dos últimos anos, o que de mais reacionário e, por vezes, desprezível, poderia ser produzido pelo exercício governamental atual?

Como confio plenamente no pensamento popular de que o pessimismo é reacionário e o otimismo revolucionário, sou otimista para o momento presente e creio numa vitória no segundo turno das forças progressistas. Lula virá e, para tanto, conseguirá alianças que ampliarão sua frente eleitoral. Uma vez no poder poderá ter maiores dificuldades de governabilidade, tendo em vista o Congresso com uma composição muito mais conservadora. Nada que o impeça de negociar e ele tem reiteradamente provado por sua biografia pregressa, uma imensa capacidade de composição de alianças.

O que deixamos para uma reflexão mais aprofundada é a análise que se faz cada vez mais necessária. Como lidar com essa onda de conservadorismo que tem varrido este país desde 2013? Como atuar para efetivamente entender esta população em seus anseios e caminhar, a médio e a longo prazo, para modificá-la, no sentido em que ela perceba seus reais interesses e lute para alcançá-los?

Esta é a pergunta de um milhão de dólares!

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Enquanto Lula não vem https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/enquanto-lula-nao-vem/ Mon, 26 Sep 2022 20:09:21 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=33936 É necessário que saudemos o momento de exercício democrático que vivemos. Isso será realizado pela vontade do povo brasileiro.

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Há muito tempo o Brasil não presenciava um espetáculo tão grandioso quanto o das eleições de 2022. Muitos destacam os aspectos negativos como a violência por parte dos que professam o discurso do ódio que já causou mortes. São aspectos a serem enfatizados, pois, devemos a todo custo evitá-los. Porém, precisamos apontar para os aspectos positivos deste fenômeno. Ele atinge boa parte dos brasileiros, incluindo aqueles que costumam dizer: “Política, não é comigo! Isso é coisa suja. Não tenho nada a ver com isso”. Como se fosse possível e como se a política não governasse todas as nossas vidas independentemente de nossas vontades explícitas. Pois é. Até esses que parecem “não estar nem aí” foram tocados e se encontram atingidos em suas torres onde pretenderam se refugiar para não serem conspurcados.

Essa “onda” veio para substituir outra contrária que separou familiares que não mais se conversavam, amigos que evitavam se encontrar. Por medo do debate, da discussão que cindiu a todos. Estou me referindo ao terrível fenômeno – vade retro! – da Operação Lava Jato. Todos, mesmo aqueles que tradicionalmente não tinham opinião sobre nada, passaram a se pronunciar. Eram contra a corrupção que parecia ter sido inventada no mundo, naquele momento, no Brasil. Alçaram como Deus o Juiz que não é mais Juiz e o colocaram no altar de onde ele mesmo, quando a farsa foi sendo revelada, se encarregou de cair. Os incautos e ignorantes políticos acreditavam que estava sendo inventado um novo tempo do qual eles seriam os arautos. O fato é que durou pouco. O Juiz que não é mais Juiz tem dificuldades de emplacar qualquer candidatura. Suas conversas reveladas com o Procurador ávido pelo
vil metal, se tornaram públicas e naufragaram seus objetivos políticos.

É digno de destaque o interesse que essas eleições despertaram indiscriminadamente. Procurando na memória, a lembrança me traz as eleições de 1960 quando me recordo, bem criança, observando no chão os inúmeros “santinhos” dos candidatos e acompanhando as conversas entre os adultos discutindo sobre o pleito.

Outro momento do qual me recordo, de entusiasmo com o processo eleitoral, comemora 40 (quarenta) anos. Em 1982 recuperamos o direito de votar para governadores que havia sido retirado pela ditadura militar. Foi uma festa. A população se interessou e se mobilizou. Elegeram-se, dentre outros, Franco Montoro em São Paulo, Leonel Brizola no Rio de Janeiro e Tancredo Neves em Minas Gerais.

É necessário que saudemos o momento de exercício democrático que vivemos. Nossa população vai votar e, de modo muito interessado. Age corretamente, entendendo que o debate lhe diz respeito e ela o acompanha apaixonadamente.

Foram 4 (quatro) anos de desmandos: o desmate descontrolado da Amazônia; uma “política de saúde” que desconsiderou a pandemia da Covid chamando-a de “gripezinha”; um Secretário da Cultura exonerado por utilizar em discurso frases semelhantes às de Joseph Goebbels, ministro de Hitler; um ministro da Educação ao lado de pastores que pediam propina para liberar verbas federais.

Agora, finalmente, os ventos sopram na direção de um candidato que assume o compromisso com o interesse da maioria da população que tem fome, está desempregada, mas, felizmente, vai sair de seu desalento e escolher alguém que defenda seus reais interesses. Lula virá e poderemos lutar conjuntamente para reconstruir este país que parece ter sido destroçado por um terremoto de grande magnitude. Isso será realizado pela vontade do povo brasileiro.

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Monarquia e Arcaísmo https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/monarquia-e-arcaismo/ Mon, 12 Sep 2022 16:53:22 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=33660 Elizabeth II soube se manter como símbolo e distante de todas as transformações que ocorreram durante o reinado mais longevo da Inglaterra

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Era esperado, mas, mesmo assim, ainda causa espécie a comoção internacional e, particularmente, entre os ingleses, pela morte da Rainha Elizabeth II. Nascida em 21/04/1926, Londres, Inglaterra; faleceu em 08/09/2022, aos 96 anos, no Castelo de Balmoral, Escócia. A Escócia é parte do Reino Unido, juntamente com a Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte. Existem movimentos de luta pela independência, atualmente, na Escócia e Irlanda do Norte.

A Inglaterra que já foi conhecida como “o Império onde o sol nunca se põe” – explica-se: tão grande era o poderio inglês que em algum de seus domínios o sol estaria brilhando – perdeu, durante o reinado de Elizabeth II a maior parte de seus territórios pelos processos de Independência após a II Guerra Mundial (1939-1945). A luta pela democracia contra o nazismo e o fascismo não poderia combinar com o colonialismo. Impunha-se a conquista da liberdade.

Assim, um a um, quase todos os domínios ingleses se libertaram, da Ásia à África. Desses processos de descolonização, talvez o mais rumoroso e complexo tenha sido o da Índia. Desenrolado entre 1947 e 1948 sob a liderança de Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru, teve como um dos negociadores ingleses, Lord Mountbatten que foi o último vice-rei da Índia e o primeiro governador-geral do país independente. Era tio do Principe Philip Mountbatten, marido de Elizabeth II. O final da descolonização levou à separação entre a Índia e o Paquistão por razões que envolvem, principalmente, temas religiosos, ou seja, a opção muçulmana por parte dos paquistaneses.

Digno de nota é o processo de Independência da Irlanda. Parte do território se torna independente em 1919, mas só oficialmente liberto em 1922. Outra parte, a Irlanda do Norte, permanece sob controle inglês. Porém, muitos conflitos ocorreram envolvendo o Exército Republicano Irlandês (IRA) que queria a unificação e praticava a luta armada. Causou particular estupefação mundial a ausência de atitude do governo inglês – Margaret Thatcher no comando – quando do processo de greve de fome e morte do ativista do IRA, Bobby Sands, em 1981.

Hoje, a outrora, todo poderosa Inglaterra, está reduzida aos países que compõem o Reino Unido e possui uma ligação, por associação voluntária e não de dependência política, com 53 (cinquenta e três) estados soberanos que formam a Commonwealth (Comunidade das Nações).

A título de explicação necessária, o domínio inglês sobre as colônias foi brutal politicamente e de extrema rapinagem econômica. Por onde passaram subjugaram com crueldade os povos conquistados e roubaram (o termo é esse) tudo que puderam. Só para exemplificarmos, apesar de não termos sido colônia inglesa, a Inglaterra dominou economicamente Portugal durante séculos. Assim, se passarmos pelas Igrejas inglesas encontraremos o ouro brasileiro que as adorna além, obviamente, de ornamentar as Igrejas portuguesas.

Não é uma história bonita ou edificante! É parte da nossa tragédia de nações que foram colonizadas e, mesmo livres, lutam para se libertar da dependência social e econômica.

Entretanto, após sua morte, Elizabeth II tem sido enaltecida por todos. Seu passado representando a nação que subjugava suas colônias é pouco lembrado. Isso, porém, não deve obscurecer a importância da monarca no comando de seus domínios. Sua atitude foi exemplar dentro da cartilha regida pelo papel que cabe à monarquia. E é um papel pequeno que se deve a questões históricas.

Em 1215, o rei da Inglaterra que ficou conhecido como João sem-terra por haver perdido territórios ingleses em batalhas malsucedidas, foi obrigado a aceitar a Magna Carta, limitando seu poder. Posteriormente, no século XIV, foram criadas a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns, o Parlamento inglês que governa até hoje. E, durante a Revolução Gloriosa – assim chamada, pois, não houve derramamento de sangue -, em 1688, definitivamente, os poderes reais foram diminuídos, gerando o dito popular “O Rei reina, mas não governa”.

Elizabeth II soube se manter como símbolo que representa a monarquia inglesa apesar de sua atitude ao não querer se pronunciar quando da morte da “princesa do povo”, Lady Diana Spencer. A forte reação popular a fez rever sua posição saindo na defesa da princesa morta em acidente fatal.

Talvez uma memória convenientemente curta faça com que os ingleses e o mundo esqueçam os aspectos negativos e exaltem a rainha que se manteve no poder durante 70 (setenta) anos. Elizabeth II foi também digna de admiração, talvez mais por permanecer distante de todas as enormes transformações que ocorreram durante seu reinado, o mais longevo da Inglaterra.

Em termos de longevidade, Elizabeth II perde para outro rei que governou durante 72 (setenta e dois) anos, Luís XIV que reinou entre 1643 e 1715. Ao fim de sua vida, dele se dizia: “Il n´en finissait pas de mourir” – numa tradução livre: “Ele não acabava nunca de morrer”. Começou a governar muito jovem, sob a regência de sua mãe Ana da Áustria. Aos poucos, foi construindo em torno de si um enorme arcabouço de poder, pois, retirou a nobreza de suas terras e a concentrou ao seu redor, tornando-a sua corte. Sob seu governo começou a ser construído um dos maiores símbolos da França até hoje, o Palácio de Versailles. A frase pela qualsempre será lembrado, considerado o exemplo mais claro do absolutismo monárquico é: “L´Etat c´est moi”, ou seja, “O Estado sou eu”.

Desse modo, entre os dois soberanos longevos, uma distância abissal os separa. Ela, cuja maior virtude foi saber se manter distante do poder que efetivamente não tinha, destacando seu papel de símbolo de uma monarquia que seu povo venera. Ele que será sempre lembrado pelo poder absoluto que exercia.

Voltando aos ingleses, um exercício fascinante será o de buscar explicar as razões que justificam, apesar do arcaísmo démodé, esse amor exacerbado de uma população moderna e avançada em muitos aspectos, pela monarquia e seus monarcas.

Mas, essa é uma história que fica para uma outra vez!

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Debates: o passado condena https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/debates-o-passado-condena/ Tue, 06 Sep 2022 20:17:39 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=33564 Momentos presidenciais televisivos são sempre icônicos e podem revelar a complexidade de períodos históricos de um país

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O título deste texto remete ao filme de 1971, dirigido pelo cineasta Alan J. Pakula: Klute – O passado condena, com Jane Fonda e Donald Sutherland nos papeis centrais. Donald Sutherland é o Private Investigator (P.I. – detetive particular), John Klute, contratado pela família de um empresário desaparecido, da pequena cidade de Tuscarora, na Pensilvânia. Sua única pista era uma carta que ele havia escrito para uma prostituta novaiorquina, Bree Daniels, protagonizada por Jane Fonda. O filme é reconhecido pelo duelo de grandes atores e por apresentar um retrato cruel e pujante dos anos de 1970.

Mas, focando na realidade nacional, vivemos um momento particularmente especial para a nossa conjuntura política. Depois de muito tempo não se assistia a debates presidenciais televisivos tão acalorados entre os concorrentes ao cargo. E, ao mesmo tempo, que despertassem tanto interesse na população.

Entende-se: o Brasil vive uma crise social, política e econômica raras vezes sentida, de forma tão aguda, em nossa História republicana. A miséria atinge largas parcelas da população que não consegue sequer fazer as refeições diárias minimamente indispensáveis à sobrevivência.

Constantemente, dirijo por uma região privilegiada da cidade de São Paulo: a zona Oeste. Passo, quase sempre, pelo alto da Avenida Sumaré. É uma bela avenida arborizada que conduz, se prosseguirmos, à região próxima à Cidade Universitária, onde se localiza o campus da mais importante Universidade da América Latina, a USP. Pois bem, não me lembro, até em tempos bem recentes, de ter visto pessoas sem teto ali estacionadas. Agora isto é visível e as barracas dos menos favorecidos estão espalhadas no alto da Avenida.

Nada mais esperado, portanto, que a classe média que por ali circula, sentindo apertar-se o cerco, demonstrasse um interesse que não teria, em outros tempos, pelos debates presidenciais. Senta-se, durante três horas, em sua poltrona e assiste ao espetáculo dos questionamentos entre candidatos conduzidos pelos jornalistas.

E, como era, também, esperado, o primeiro debate presidencial, de 28/08/2022, transmitido pela Rede Bandeirantes de TV, não decepcionou, com direito até a contendas entre apoiadores nos bastidores. O Presidente da República, fiel ao seu “estilo”, ofendeu uma jornalista porque esta fez uma pergunta que envolvia o comportamento do seu governo durante a pandemia da Covid. Foi o que bastou para que o senhor Presidente dissesse que a jornalista era uma “vergonha para o jornalismo brasileiro”. Um ponto alto residiu em uma resposta do ex-presidente Lula quando questionado por uma das candidatas sobre as realizações de seu governo, afirmou: A senhora diz que não viu o País que eu falei acontecer. O seu motorista viu, o seu jardineiro viu, a sua empregada doméstica viu. A sua empregada doméstica viu este País melhorar.

Nosso passado condena. Debates presidenciais televisivos são sempre icônicos e podem revelar a complexidade de momentos históricos de um país. Para ficarmos apenas em um exemplo, relembremos nossos debates presidenciais de 1989, os primeiros debates eleitorais televisivos do Brasil e, também, os que inauguraram o retorno às eleições diretas presidenciais desde 1960.

Houve dois grandes embates (a melhor palavra é essa) naquela ocasião. No primeiro turno, a Band promoveu um debate mediado por Marília Gabriela que contou com a presença de 9 (nove) dos 11 (onze) convidados dentre os 22 (vinte e dois) concorrentes ao pleito. Não compareceram Fernando Collor de Mello que venceria as eleições e Ulysses Guimarães, o “senhor Diretas” e arquiteto da Constituição de 1988, a “Constituição cidadã”, que rege o país. O candidato Leonel Brizola estava particularmente afiado e, quase adentrando a madrugada, dirigindo-se à população, proferiu uma frase lapidar: Tire este não rotundo que tu tens dentro do peito, referindo-se a Paulo Maluf, candidato da Ditadura Militar que, segundo ele, não deveria ser votado.

No segundo turno de 1989, foram realizados dois debates entre os contendores: Collor e Lula. Um, nos estúdios da extinta TV Manchete e outro na TV Bandeirantes. Este último debate teve direito a uma apresentação dos “melhores momentos” realizada pela TV Globo, no Jornal Nacional. Porém, esses “momentos” acabaram privilegiando Fernando Collor de Mello que teve reproduzidos seus “melhores momentos” realmente, com direito a um minuto e meio a mais. Já Luiz Inácio Lula da Silva teria sido agraciado com seus “piores momentos”. O PT moveu uma ação contra a emissora. Artistas da própria TV, além de intelectuais, protestaram nas suas portas contra a criminosa edição. Mas, o mal já estava feito. Como resultado da edição da TV Globo ou não a vitória de Collor foi garantida com as consequências que todos conhecemos. Dois anos mais tarde, em um rumoroso processo, o primeiro mandatário chancelado por eleições diretas foi afastado do poder.

Aquilo deu nisso, parafraseando o dito popular! O presente nos reserva, certamente, uma realidade mais profícua com a necessária reconstrução deste país, depois de tanto descalabro!

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Minha participação no Programa do Jô https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/minha-participacao-no-programa-do-jo/ Mon, 08 Aug 2022 14:41:15 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=32623 Dias mais tarde, novo telefonema da produção do Jô me convidando para fazer parte de um grupo que ele chamava carinhosamente de “As meninas do Jô”.

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No ano de 2006 recebi um telefonema de Anne Porlan (produtora do Programa do Jô) para participar de uma entrevista com Jô Soares. O Programa do Jô foi ao ar na TV Globo de 2000 a 2016. A simpática e extremamente competente Anne Porlan me fez muitas perguntas que serviriam para nortear a entrevista. Durante a nossa conversa falei sobre minha mãe que havia, quando solteira, trabalhado na Fábrica de Brinquedos Estrela e, nos levara, a mim e a minha irmã, ainda crianças, para conhecer seus antigos amigos. Na ocasião nos comprou uma “Boneca Amiguinha” que era assim chamada por possuir o tamanho de uma criança e, portanto, talhada para ser sua companheira. Observei que, em uma de minhas mudanças, acabara perdendo a boneca o que muito me entristecera.

Disse, também, de minha grande paixão por meu avô que nos acompanhava à missa todos os domingos e, na volta, quando passávamos por uma “bombonière”, fazia questão de parar e comprar barras de chocolate para nós. Quando chegava em casa, para brincar, dizia à minha avó: “Veja Ermelinda, eu não queria parar, mas as meninas insistiram”! Essa foi uma das razões de me ter transformado em incontrolável “chocólatra”.

Quando fui entrevistada, Jô conduziu uma conversa agradabilíssima, fazendo ainda referências a meu esposo que me acompanhara e a uma aluna querida que nos fizera companhia. No meio da entrevista fui brindada com uma “Boneca Amiguinha” que a produção havia procurado e conseguido num Hospital de Bonecas antigas e com chocolates que estavam ali à nossa disposição. Os chocolates foram consumidos rapidamente, mas, a “Amiguinha” se encontra até hoje, em minha sala, na cadeira especial em que só eu tenho assento.

Na saída cruzei com a atriz Luana Piovani que, gentilmente, disse haver gostado muito da entrevista e curtido minhas histórias e a quem cumprimentei pela extraordinária beleza.

Dias mais tarde, novo telefonema da produção do Jô me convidando para fazer parte de um grupo que ele chamava carinhosamente de “As meninas do Jô”. Fomos, inicialmente, para um bate-papo informal em que conheci as “meninas”. Na ocasião, se encontrava, deixando o programa, a jornalista Sonia Racy, com quem tive breve conversa. Tive oportunidade de conhecer aquelas que seriam minhas colegas no quadro: Ana Maria Tahan, Cristiana Lôbo e Lucia Hyppolito.

O quadro era gravado ao vivo, todas as quartas-feiras. Um luxo só! Um carro maravilhoso passava para me pegar em casa com um motorista extremamente gentil. Uma vez chegando, cada uma de nós tinha o próprio camarim com seu nome na porta e com todas as guloseimas que se possa imaginar.

Minutos antes de começar o programa, éramos chamadas ao palco e apresentadas ao público. Começava o debate, conduzido brilhantemente pelo Jô, versando sobre política nacional. Era um ano particularmente “quente”, pois iriam, brevemente, ocorrer eleições gerais. Eu acabava fazendo o contraponto no programa, pois, todas as colegas situavam-se mais ao centro enquanto eu era a nota dissonante, mais “à esquerda”. Tenho maravilhosas recordações desses debates, sempre muito bem-humorados e, apesar das divergências, extremamente cordatos. Em determinado momento precisei me ausentar do programa pois fui participar de um Seminário sobre Exílio na Sorbonne onde apresentei minha pesquisa sobre a Ditadura Militar. Como Jô sempre utilizava suspensórios, trouxe da França um suspensório para ele que, gentil como era, utilizou no programa seguinte.

Esta fase maravilhosa foi interrompida quando, devido à proximidade das eleições, ficavam impedidos programas de caráter político nos meios de comunicação.

Duas outras lembranças fantásticas. O grupo das “meninas” resolveu oferecer ao Jô um almoço, no local que ele frequentava, o badalado e incrível Restaurante Gero, pertencente ao grupo Fasano. Foi maravilhoso, desde a comida até à companhia!

Anne Porlan nos ofereceu sua casa para um jantar em que fomos todas e foi adorável. Todos estavam presentes, desde a equipe de direção até os participantes do Programa. Conversei bastante com o diretor Willem van Weerelt que se mostrou extremamente inteligente e agradável.

Desse período fica o contato com Myrian Clark que fazia parte da produção do Programa do Jô e que me convidou para colaborar como colunista do MyNews o que muito me orgulha.

Esta é a minha história: descanse em paz querido amigo!

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Estado Democrático de Direito, hoje e sempre https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/estado-democratico-de-direito-hoje-e-sempre/ Mon, 01 Aug 2022 18:35:28 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=32393 Ao longo dos últimos 3 anos e meio de governo, temos observado uma regressão do Brasil, em todos os níveis, em grau inimaginável. A sociedade brasileira resolveu dar um basta nesses desmandos.

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Eis que a sociedade brasileira parecia encontrar-se como gigante adormecido, “deitada em berço esplêndido” e alheia a todos os desmandos que contra ela se cometiam. Porém, era somente impressão. Seu “despertar” foi magnífico, instado por acontecimentos preocupantes, num crescendo, de imposição de riscos ao chamado Estado Democrático de Direito.

Pode-se compreender o Estado Democrático de Direito como aquele em que impera a soberania popular, garante-se a separação entre os poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e respeitam-se as liberdades da população.

Quando (18/07/2022), entre outras “barbáries”, o Presidente da República convocou os embaixadores e se reuniu com, aproximadamente, 70 (setenta) deles, para desfazer de nosso sistema eleitoral, colocando a sua legitimidade em dúvida, acenderam-se todas as luzes de advertência e a sociedade civil organizada se manifestou.

A articulação começou com alunos e professores da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo que lançaram a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito. Assim, no dia 26/07/2022, abriu-se o manifesto com cerca de 3.000 (três mil) assinaturas. Em menos de 24 horas chegou aos 100.000 (cem mil) e três dias depois ultrapassou a marca de 500.000 (quinhentos mil). Brasileiros de todas as origens e filiações ideológicas aderiram em massa ao chamado em defesa de nossas instituições democráticas.

O documento faz menção a outra Carta aos Brasileiros lida, em 08/08/1977, pelo jurista Goffredo da Silva Telles Júnior no Largo de São Francisco. Em meio às comemorações do sesquicentenário da fundação dos cursos jurídicos no Brasil, fora designado para articular os festejos da data um egresso da Faculdade de Direito da USP, o ex-ministro da Justiça do governo do General Emílio Garrastazu Médici, Alfredo Buzaid. Isso, foi considerado um acinte que afetou, entre outros, os ex-alunos José Carlos Dias, Flávio Bierrenbach e Almino Affonso. Foi o mote para a elaboração da carta, encomendada a Goffredo da Silva Telles Júnior, onde se denunciava a situação vivenciada pelo Brasil e se pedia o retorno à democracia.

Considera-se esse evento um divisor de águas na ditadura militar brasileira. Apesar de não haver consequências práticas é consenso que é “um antes e um depois” da Carta aos Brasileiros para o regime militar. A sociedade civil se fortaleceu na sua luta pela recuperação das liberdades democráticas perdidas quando do golpe de Estado ilegal e ilegítimo de 1964.

O mesmo se espera – e já está ocorrendo – em relação à Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito a ser lida no mesmo espaço livre da Faculdade de Direito da USP, debaixo das famosas arcadas, no dia 11/08/2022.

Ao longo dos últimos 3 anos e meio de governo, temos observado uma regressão do Brasil, em todos os níveis, em grau inimaginável. A sociedade brasileira resolveu dar um basta nesses desmandos. Que seja, também, “um antes e um depois” da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito!

Temos um país a reconstruir!

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Civilização x Barbárie https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/civilizacao-x-barbarie/ Tue, 14 Jun 2022 11:06:52 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=29879 Bolsonaro pode ser acusado de muitas coisas, mas não de esconder suas reais intenções. E foi neste cidadão que a população brasileira votou para conduzir os destinos do país.

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O brilhante jornalista Chico Pinheiro em recente entrevista a Juca Kfouri observou que, nas próximas eleições de outubro de 2022, estaria em jogo a “civilização X barbárie”, sendo que a segunda hipótese seria representada pelo atual presidente brasileiro Jair Messias Bolsonaro. Afirmou ainda sua consternação e incredulidade quanto à atual situação em que o Brasil se encontra depois de um longo processo de luta pela recuperação das liberdades democráticas após o sofrimento de partilhar de 21 (vinte e um) anos de Ditatura militar brasileira (1964-1985).

Aliás sua incredulidade é a de todos nós. Como chegamos a esse ponto? Uma coisa é vivenciarmos um processo ditatorial no qual fomos jogados contra nossa vontade após um ilegal e ilegítimo (nunca canso de afirmar) golpe de Estado pela articulação de militares e civis, forças nacionais e internacionais, que derrotou nosso Estado Democrático de Direito, instituído a duras penas após o processo ditatorial de Getúlio Vargas, em 1946. Outra, muito diferente, é a situação em que nos encontramos, por obra e graça de eleições livres e democráticas que levaram ao poder um ser humano que, antes de assumir, dizia, em entrevista, ser preciso matar 30.000 pessoas no Brasil e já se posicionava favorável à tortura.

Pois é, Bolsonaro pode ser acusado de muitas coisas, mas não de esconder suas reais intenções. Depois dessa memorável entrevista de 1999 quase teve seu mandato cassado, pois, se posicionou favoravelmente ao fechamento do Congresso Nacional do qual fazia parte. E foi neste cidadão que a população brasileira votou para conduzir os destinos do país. O Brasil ficou literalmente dividido. Não conheço família e amigos que não tiveram suas relações estremecidas entre os que se posicionaram a favor da barbárie e os que teimaram e teimam ainda em defender a civilização.

Entretanto, o lado mais brutal do status quo atual se manifestou – e é apenas um dos exemplos – quando, no dia 06/06/2022, uma senhora de 47 anos, de origem paraguaia, ao fazer compras no Brás, em São Paulo – para quem não sabe é uma região de comércio popular para onde se dirigem pessoas de baixa renda ou comerciantes interessados em revenda – foi brutalmente agredida, sob acusação, não comprovada, de roubo em uma loja de uma galeria. Teve sua roupa rasgada ficando seminua e desprotegida. Além disso, sua cabeça foi raspada e apanhou bastante. Uma pessoa se compadeceu e lhe arrumou uma roupa para que se protegesse minimamente. Foi quase um linchamento. Se deixassem, a turba enfurecida e enlouquecida teria matado a senhora que ficou sem compreender o que de fato acontecia.

Esse é o resultado desses anos terríveis que temos vivido com a exaltação da Ditadura Militar – alguns incautos e ignorantes bolsonaristas pedem o seu retorno –, do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra e da própria tortura. Não só votaram em Bolsonaro, também compraram suas ideias (se é que se pode chamar assim). O resultado está aí para que todos vejamos. O que os incautos e ignorantes não sabem é que o “feitiço se vira contra o feiticeiro” como nos contos infantis.

Como são incautos e ignorantes não conhecem as frases do pastor Martin Niemoller a respeito dos nazistas: “Primeiro vieram buscar os comunistas, mas, como eu não era comunista, me calei. Depois, vieram buscar os judeus, mas, como eu não era judeu, não protestei… Então, quando vieram me buscar…Já não restava ninguém para protestar.”

Saiba mais no canal MyNews:

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Apesar de você, amanhã há de ser outro dia https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/apesar-de-voce-amanha-ha-de-ser-outro-dia/ Wed, 18 May 2022 13:30:09 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=28506 Canção de Chico Buarque foi premonitória em relação a fim da ditadura militar brasileira. E ainda hoje diz muito sobre nós.

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Aqueles que têm memória/idade ou apenas conhecimento hão de lembrar dessa composição de nosso artista maior, orgulho brasileiro: Chico Buarque de Hollanda. Talvez se recordem de toda controvérsia em torno dela e de suas dificuldades de liberação com a Ditadura Militar brasileira (1964-1985).

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Composta em 1970, em pleno governo do General Emílio Garrastazu Médici, foi lançada em compacto simples e logo alcançou enorme sucesso. A cantora Clara Nunes também gravou a composição em 1971. O entendimento da maior parte das pessoas, inclusive de Clara, é que se tratava de uma rusga entre namorados:

​​​​Apesar de você
A
manhã há de ser
O
utro dia…

Quando o regime finalmente percebeu o significado da canção, ainda em 1971, proibiu sua execução, invadiu a sede da gravadora e destruiu as cópias do compacto, puniu o censor que havia “deixado passar” tal ofensa aos militares. Chico Buarque foi chamado em interrogatório e daí para frente sua relação com a censura seria muito difícil para dizer o mínimo. Suas letras seriam constantemente rejeitadas, chegando ao ponto de precisar recorrer a pseudônimo (Julinho da Adelaide de Acorda Amor) para lançar suas canções.

Quanto a Apesar de Você, somente foi relançada por Chico Buarque em 1978, já no final do governo do General Ernesto Geisel, com sua distensão política. E, assim, pudemos entoar livremente seus belos versos:

​​​​Apesar de você
​​​Amanhã há de ser
​​​​Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal

Parafraseando a ótima peça teatral Greta Garbo quem diria acabou no Irajá, escrita nos anos de 1970, por Fernando Melo, gente de minha geração acreditava que só haveria espaço em sua existência para um regime autoritário. Mas, quem diria? Estamos nós de novo às voltas com o autoritarismo, só que dessa vez, por obra e graça de um processo eleitoral legítimo, ou seja, por desejo de parcela significativa da população brasileira.

As expressões de autoritarismo explícito do governo de Jair Messias Bolsonaro (2019-2022) são variadas e, o mais grave, sobem constantemente de tom. São preocupantes seus ataques a instituições como o Supremo Tribunal Federal e ao processo eleitoral, alegando uma pretensa e inexistente possibilidade de fraude eleitoral. Neste último aspecto, é caso confesso de quem tem clareza que vai perder as eleições e, portanto, se prepara para lançar mão do descrédito sobre as urnas eletrônicas para tentar melar um processo que é, internacionalmente, reconhecido como um grande avanço e cuja licitude não deixa sombra de dúvidas.

A canção de Chico Buarque foi premonitória e ao fim, a Ditadura Militar “se deu mal”, não como deveria, pois, os criminosos não foram para o banco dos réus e se preservou, malfadadamente, uma memória positiva do regime militar que é a razão de nossos males e das “viúvas saudosistas” pedirem a “volta dos militares”. Mas, foram retirados do poder “pela porta dos fundos” – vide o último presidente General João Baptista de Oliveira Figueiredo que se recusou a passar a faixa para seu sucessor civil – e, por qualquer ângulo que se analise seriamente, seu resultado é negativo para o país.

Lembrando de Apesar de Você, são válidos como nunca, para a atualidade, seus versos:

​​​​Apesar de você
Amanhã há de ser
​​​​Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal

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Enfrentar é preciso: concessão de ‘graça’ é tentativa de golpe travestida de decreto presidencial https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/enfrentar-e-preciso-concessao-de-graca-e-tentativa-de-golpe-travestida-de-decreto-presidencial/ Mon, 02 May 2022 21:03:45 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=28111 O espírito da frase famosa pode ser trazido ao Brasil contemporâneo, onde a “graça” é concedida pelo Presidente da República ao Deputado Federal Daniel Lúcio da Silveira (PTB), buscando eliminar sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

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A expressão acima é referência a uma frase popularizada entre nós pelo fado de Caetano Veloso Os Argonautas, mas que tem origens na Antiguidade romana. O general Pompeu, no século I a.C., por volta do ano 70, proferiu, aos seus marinheiros, para estimulá-los a cruzar os perigosos mares em busca de trigo para abastecer os romanos, a frase “Navigare necesse; vivere non est necesse”, o que consta dos registros do historiador Plutarco.

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No século XIV, o poeta Petrarca cunhou a sua tradução: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Posteriormente, Fernando Pessoa, em seu poema Navegar é Preciso, imortalizou a frase em língua portuguesa.

Tomamos esta maravilhosa herança para trazer o espírito da frase famosa para o Brasil contemporâneo. Nossa alusão é à “graça” concedida pelo Presidente da República ao Deputado Federal Daniel Lúcio da Silveira (PTB), buscando eliminar sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A concessão foi feita no dia 21/04/2022, um dia após o julgamento pelo STF. Embora todos admitam que compete ao Presidente da República a concessão da graça e do indulto, não há consenso em relação a sua constitucionalidade, na medida em que tal ato foi feito com o processo em andamento, ainda em trânsito que, portanto, não poderia ser anulado. Tais concessões (indulto e graça) serviriam para anular pena que o referido deputado ainda não está cumprindo.

Diversos parlamentares já se posicionaram para extinguir a graça concedida. Nem bem essas medidas estavam sendo tomadas pelos parlamentares e já se pronunciava o Sr. Rodrigo Pacheco, Presidente do Senado e do Congresso Nacional, afirmando peremptoriamente que o Decreto Presidencial não poderia ser contestado.

Em tempo, que triste papel desempenham determinados seres humanos quando assumem cargos! Ainda, a guisa de comentário, o mesmo não sucedeu com o ministro “tremendamente evangélico”, André Luiz de Almeida Mendonça que, de acordo com seus princípios e não com a indicação presidencial, votou pela condenação, embora a pena menor, de Daniel Silveira. Felizmente, há homens e homens!

Nossa questão, entretanto, antecede esse debate e, assim, chegamos ao título dessas considerações: “Enfrentar é preciso!” Acreditamos que é disso que se trata. Um rápido olhar na História pregressa recente de nosso país nos leva a 1964.

Uma vez em entrevista ao saudoso jornalista Paulo Francis questionei se, no período que antecedeu ao golpe, tinha-se uma noção do que estava por vir. Foi taxativo afirmando que era comentário geral que uma ruptura institucional se avizinhava. O que não lhe perguntei foi porque, portanto, não se impediu o ato ilegal e ilegítimo.

Esta questão e a ausência de resistência ao golpe imediatamente, sempre me assombraram e, até hoje, não encontro respostas satisfatórias. Mas, resta a constatação que não se reagiu e mergulhamos no terror de 21 (vinte e um) anos de arbítrio e profunda vergonha nacional, ao contrário do que os defensores deste governo tentam nos impor com as suas “saudades” da Ditadura!

Se não reagimos naquele momento não podemos repetir tal atitude! É preciso que enfrentemos os desmandos quando eles aparecem e a concessão da “graça” por Jair Messias Bolsonaro, nada mais é que tentativa de golpe travestida de decreto presidencial. É preciso “cortar o mal pela raiz”!

As reiteradas manifestações do Presidente em relação ao processo eleitoral confirmam suas péssimas intenções. Uma vez derrotado pretende apelar para uma pretensa irregularidade do processo tentando burlá-lo o que justificaria uma medida de força e a implantação de fato de uma Ditadura por ele presidida.

Compete a nós o enfrentamento por todos os meios legais (e nós os possuímos!) dessa intencionalidade ilegítima. Tais medidas precisam ser detidas. Este é o procedimento patriótico dos cidadãos de bem que amam este país e almejam vê-lo de volta à normalidade democrática.


Quem é Maria Aparecia de Aquino?

Professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Especialista em estudos sobre a ditadura militar brasileira (1964-1985).

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Sem açúcar, sem afeto: música de Chico Buarque pode influenciar reflexões feministas https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/sem-acucar-sem-afeto/ Mon, 28 Mar 2022 20:11:02 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=26964 Música de Chico Buarque Com açúcar, com afeto, inspira reflexões sobre como age o machismo em nossa sociedade.

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A belíssima música de Chico Buarque de Hollanda: “Com açúcar, com afeto”, foi evocada, recentemente, pelo documentário em cinco episódios: “O Canto Livre de Nara Leão”, dirigido por Renato Terra e produzido pelo Conversa.doc, da Globoplay. O documentário é imperdível, magnífico. Quem não o viu procure assistir esse documento sobre a História Cultural do Brasil, a partir das décadas de 1950 e chegando até a contemporaneidade.

No documentário, Chico Buarque faz uma observação, afirmando que não cantaria mais essa música hoje e que, Nara, se fosse viva, também, não o faria. Uma ressalva: foi Nara que pediu a música para Chico que a fez para ela. O motivo da observação de Chico se relaciona com a temática de “Com açúcar, com afeto”: a história de uma mulher, bastante submissa ao seu homem que, literalmente, faz “gato e sapato” dela. Sai de casa muito bem-vestido, dizendo que vai “em busca do salário” para sustentá-la, mas, no caminho, se perde nos bares onde fica conversando e cantando, até que a “noite lhe canse”. Finalmente, volta para casa, “para chorar o seu perdão”. E, ela, “ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado” argumenta que não pode se aborrecer. Final da história: lhe dá um beijo e “abre os braços” para ele.

Compreendo a observação atual de Chico Buarque: como cantar hoje, depois da “revolução sexual”, do advento do feminismo, das mulheres emancipadas do “Me Too”, uma música com todos os componentes do machismo imperante que, contemporaneamente, tem sido muito atenuado, mas não exorcizado completamente. Depois do documentário Chico fez outro comentário, dizendo que não cantava “Com açúcar, com afeto”, como não cantava muitas outras músicas, não especificamente por seu conteúdo antifeminista.

Chico Buarque e Nara Leão. Foto: Arquivo, Reprodução (Instagram)

Desde que assisti ao documentário veio à tona uma história que envolve uma situação análoga – talvez, mais grave – à da mulher narrada por Chico Buarque na canção. Pois bem, vou contar um “causo”.

Décadas atrás, uma bela jovem, vai apresentar à família o seu noivo que, em breve, se tornaria seu esposo. A família fica muito bem impressionada. Falante, simpático, jeito de muito bom moço: em suma, o pretendente ideal. Pois bem, o casamento acontece, com a presença da família, e tudo segue muito bem. A jovem, como era esperado, fica logo esperando sua primeira filha que nasce bem e com saúde. Mas, a tragédia estava a espreita. Um belo dia, o marido atencioso desaparece sem que ninguém saiba para onde foi. E não dá sinal de vida. A jovem fica numa situação desesperadora, com uma filha para criar e sem ter como se sustentar. A família ajuda como pode.

Transcorrido bastante tempo o marido, finalmente, retorna. Depois, a família ficou sabendo que, na sua ausência, tinha ido ao casamento de seu filho, em outro Estado. Tinha outra família estabelecida. À semelhança da heroína de “Com açúcar, com afeto”, ela o recebeu e continuou vivendo com ele. Diversas vezes ele se ausentou como da primeira vez, sempre deixando-a desamparada e sem sustento. Entre idas e vindas tiveram sete filhos.

Numa das visitas da família que, todos os meses, levava para ela e seus filhos, uma cesta básica para ajudar no mínimo indispensável; sem saber que ele havia retornado novamente, ela foi surpreendida lavando os pés – é verdade e não frase de efeito – do “adorado” marido.

“Decifra-me ou te devoro”, como o mito grego da esfinge de Tebas. Como explicar – pior ainda –, entender, as razões do comportamento dessas mulheres? Somente através do machismo que educa as mulheres – ou, pelo menos, educava – para serem submissas, admitindo que o “homem é a cabeça”, portanto, tem o direito ao domínio? Acredito, como na frase atribuída a Shakespeare, que: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar a nossa vã filosofia”. Ou seja, no popular: “o buraco é mais embaixo”. O machismo e a criação feminina podem apenas responder em parte a esses comportamentos. Afinal, depois de toda emancipação, o feminicídio ainda persiste e a violência doméstica é um fato inconteste. Como nos livrarmos desses males? Afinal, não há, nem açúcar, nem afeto, no comportamento desses homens.


Quem é Maria Aparecia de Aquino?

Professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Especialista em estudos sobre a ditadura militar brasileira (1964-1985).

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Admirável Mundo Novo https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/admiravel-mundo-novo/ Thu, 10 Mar 2022 13:31:42 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=26333 Em seu novo artigo, professora da USP Maria Aparecida de Aquino escreve sobre obras literárias e cinematográfica que falam sobre exercício de controle do homem sobre o outro.

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Foi a recente Guerra na Ucrânia que galvaniza “corações e mentes” – para usar o título do lancinante e mais importante documentário sobre a Guerra do Vietnã (numa cronologia liberal, 1964-1975) de Peter Davis (Corações e Mentes, EUA, 1974) – que me fez relacionar três obras, duas delas de fácil associação e a última com ligação mais sutil.

Refiro-me à obra que dá título a este artigo; ao muito famoso e laureado 1984 (George Orwell. SP, Cia. das Letras, 2009) e a um filme de sucesso considerável, tendo em vista sua temática densa e seu desenvolvimento sem concessões: A Vida dos Outros (Florian Henckel Von Donnersmarck, Alemanha, 2006).

Admirável Mundo Novo foi publicado, na Inglaterra, em 1932 e se refere a um futuro distante, 2.450, ou 632 DF (depois de Ford) e traz uma visão de como seria essa sociedade e como viveriam seus habitantes. É um mundo absolutamente estruturado que almeja a felicidade para todos os seus membros, independentemente de sua posição social.

O ato de ter filhos é condenado, bem como, crenças religiosas. Os costumes do passado são considerados selvagens e renegados. Entretanto, o personagem central Bernard Marx está insatisfeito com o seu mundo, pois, vive em um reduto que é como se fosse uma reserva do passado. Bernard encontra uma mulher que vive na civilização “passada” e seu filho, Linda e John. O enredo passa a girar em torno do mundo estruturado e das impressões dos dois personagens em contato com Bernard.

Câmeras de segurança em prédio. Foto: ElasticComputeFarm (Pixabay)

1984 foi lançado na Inglaterra, em 1949 e, também, naquele momento, nos remetia a um futuro que parecia distante, o ano de 1984. Esse mundo era formado por três potências: Oceania, Eurásia e Lestásia. A ação do livro se desenrola na Oceania que possui um partido dominante, comandado por uma figura central – ninguém nunca o vê – denominado de Big Brother que vigia todos e tudo sabe.

O personagem central é Winston Smith que trabalha no “Ministério da Verdade” e cuja função é ler jornais antigos para alterá-los fazendo com que o passado esteja de acordo com o que propugna o governo do Big Brother. Winston tem como colega de trabalho, por quem é apaixonado, Júlia que detesta o governo sob o qual vivem.

O controle governamental é feito por “teletelas” instaladas em todas as casas, por microfones colocados nas ruas e “drones” que filmam tudo. O contato dos dois personagens faz com que se revoltem e sejam presos e torturados. Tem início sua epopeia que trará consequências funestas. 1984 foi um retumbante sucesso literário e de outras mídias sendo do conhecimento até de pessoas que não se interessam pelos desígnios da sociedade.

Imagem do filme A Vida Dos Outros. Foto: Reprodução (Wiedemann & Berg Film Production)

A Vida dos Outros foi lançado na Alemanha em 2006. Fez grande sucesso em muitos países, colecionando muitos prêmios, obtendo o Oscar de melhor filme estrangeiro, o César da França e o David di Donatello da Itália. Passa-se em 1984 – coincidência? – em Berlim Oriental, antes da queda do muro – 1989 – e ainda sob o rígido controle da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental. O personagem central Hauptmann Gerd Wiesler é capitão da Stasi e realiza interrogatórios com eventuais suspeitos do regime, além de dar aulas em que narra aos alunos suas técnicas de interrogatório.

Wiesler é convidado por um antigo companheiro de Stasi, Grubitz, para assistir a uma peça de teatro, onde entra em contato com o autor da mesma e com a atriz principal. Grubitz pede a Wiesler que vigie o autor da peça que é amante da atriz. O objetivo é afastá-lo da vida da atriz, vasculhando sua vida e incriminando-o. Nesse meio tempo, cai o muro e as pessoas passam a ter acesso aos arquivos guardados sobre elas. O contato com o casal e o acesso aos arquivos muda Wiesler que passa a ver com olhar crítico o mundo em que viveu e, de certo modo, ajudou a construir.

Estas três magníficas obras nos falam, fundamentalmente, do exercício de controle do homem sobre o outro homem e da impossibilidade – nesses mundos delineados – de liberdade para se fazer o que se quer, para ser o que quiser.

Esta é a realidade da Ucrânia atual. Lançada numa guerra cruel – tem sido usado o termo “sem sentido” que questiono. Que guerra tem sentido? Todas poderiam e deveriam ser evitadas –, massacrada por uma força enormemente superior e, inexplicavelmente, resistindo, atrasando, na medida de suas possibilidades, o inimigo que quer avançar com maior rapidez. Assim, tem galvanizado “corações e mentes” mundo afora que, apesar de compreender a quase impossibilidade de uma vitória, vibram e torcem a qualquer conquista sobre os agressores. É disso que se trata: de uma agressão.

A Ucrânia, desde 1991, é um país livre e independente, com direito de exercer sua autodeterminação, o que implica até em se associar livremente à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) se assim o seu povo o desejar. Repete a passagem bíblica da luta do nosso admirado “Davi” frente ao gigante “Golias” que só tem a força – em todas as suas dimensões – a seu favor.

Viva a Liberdade! Por uma Ucrânia livre e independente, dona de seu destino!


Quem é Maria Aparecia de Aquino?

Professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Especialista em estudos sobre a ditadura militar brasileira (1964-1985).

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Mães paralelas, um filme de Almodóvar https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/mae-paralelas-um-filme-de-almodovar/ Wed, 23 Feb 2022 21:58:13 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=24469 No novo longa de Pedro Almodóvar, indicado ao Oscar de melhor atriz com Penélope Cruz, a história gira em torno da maternidade. Mais uma vez com maestria, o cineasta espanhol traz a figura feminina ao protagonismo.

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Mães Paralelas: Sou cinéfila de “carteirinha” e, como tal, gosto e assisto aos filmes de Almodóvar. O mínimo que se poderia dizer dele é que é muito diferente de tudo que você já viu. Como muitos cineastas, ele sempre busca suas histórias na sua bagagem pessoal de vida. Mas, e aí a diferença se instaura, seus personagens centrais são mulheres que, obviamente, se relacionam com as mulheres que fizeram parte de sua vida. É sempre um pouco autobiográfico. É claro que essas mulheres se relacionam com outras mulheres e homens. Porém, sem deixar o protagonismo que a elas pertence. Só isso valeria uma visita a sua prolífica filmografia.

Por vezes seu registro resvala em questões inusitadas como no difícil “A pele que habito” (2011, com os gigantes Marisa Paredes e Antonio Banderas). Mas, talvez, ao que o público tenha mais se acostumado, seja com um de seus primeiros filmes “Mulheres à beira de um ataque de nervos” (1988, com a magnífica Carmen Maura). No novo filme de Almodóvar, “Mães Paralelas” (2021. com a excelente atriz Penelope Cruz) e em “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, temos como pontos em comum, além do protagonismo feminino, a questão da gravidez das personagens, não muito assimiladas por seus parceiros.

Este problema que não é menor, aponta para uma temática que nos coloca brutalmente frente à diversidade contemporânea entre o mundo feminino e o masculino. A educação ocidental nos faz crer que o “homem é a cabeça” da relação.

A maior influência dessa crença vem das palavras do Apóstolo Paulo (5 d.C – 67 d.C). Dele são as frases: “…Cristo é a cabeça de todo homem; e o homem é a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo”. Foi uma das maiores bases para a divulgação entre nós dessa crença.

Assim, os homens – até pouco tempo – pensavam poder dominar tudo o mais na vida das mulheres. Eles (homens) acreditavam piamente poder dar as cartas em tudo que dizia respeito às suas companheiras, inclusive na questão da maternidade que é um atributo muito mais feminino do que masculino.

Protagonistas do filme, Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit). Foto: El Deseo/Iglesias Mas (Divulgação)

Os homens não estão preparados – salvo honrosas exceções – para a nova mulher que tem espaço no mundo do trabalho e é independente, inclusive para dispor de seu próprio corpo e experimentar as chamadas “produções independentes” em que assumem a gravidez, o parto, a criação da prole, sozinhas, quase sempre, sem o concurso dos “príncipes consortes”.

E assim se dá em “Mães Paralelas” onde Penélope Cruz, uma bem-sucedida fotógrafa independente, leva sozinha sua gravidez, o parto e a criação de sua bebê.

Acabei selecionando somente as partes que gostaria de destacar, mas o incrível filme de Almodóvar, ainda reserva muitas reviravoltas de tirar o fôlego, o que é o convite renovado para assistir ao filme desse cineasta genial e que sempre nos coloca frente ao inesperado.

Longa e produtiva vida a um de nossos mais originais cineastas! Viva Almodóvar!


Quem é Maria Aparecia de Aquino?

Professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Especialista em estudos sobre a ditadura militar brasileira (1964-1985).

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Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça https://canalmynews.com.br/politica/para-que-nao-se-esqueca-para-que-nunca-mais-aconteca/ Fri, 11 Feb 2022 13:07:01 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=23658 Juiz determinou retirada de trechos do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), disponibilizado no Arquivo Nacional, e provocou reação de coletivos voltados para a defesa da Justiça e dos Direitos Humanos.

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Essas frases, bastante fortes, encerram a nota conjunta de diversos coletivos voltados para a defesa da Justiça e dos Direitos Humanos, narrando algo absolutamente inaceitável e cuja ação só podemos compreender à luz dos terríveis tempos em que vivemos, onde prolifera a ignorância e a ignomínia e a premiação da mediocridade absoluta e do mau-caratismo.

O Juiz Hélio Silvio Ourém Campos (6ª. Vara da Justiça Federal de Pernambuco) determinou a retirada de trechos do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), disponibilizado no Arquivo Nacional. Foram censuradas as menções ao nome de Olinto de Souza Ferraz, coronel da Polícia Militar de Pernambuco que foi diretor da Casa de Detenção do Recife quando o militante Amaro Luiz de Carvalho foi morto no local. Olinto foi responsabilizado no relatório da CNV pela gestão e pela prática de graves violações de direitos humanos.

A CNV, instituída no governo da presidente Dilma Rousseff, foi fundada em 2011 e extinta em 2014, embora seus trabalhos efetivos tenham se desenvolvido entre 2012 e 2014. Sua função era a de investigar as violações aos direitos humanos entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988, respectivamente, as datas da promulgação das duas Constituições democráticas da República brasileira. Ao final de seus trabalhos, em 10 de dezembro de 2014, a CNV entregou seu relatório final à presidente Dilma Rousseff.

Relatório confidencial da ditadura. Foto: Reprodução (Acervo da Biblioteca Nacional)

Amaro Luiz de Carvalho, oriundo de Joaquim Nabuco em Pernambuco, nasceu em 1931 e foi assassinado em 1971. Foi um camponês militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR), tendo passado, anteriormente, pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Foi preso em 1969 e condenado a dois anos de detenção. Morreu em 22 de agosto de 1971 quando faltavam 3 meses para sua soltura.

Embora tenham tentado obscurecer as circunstâncias de sua morte divulgando que teria sido envenenado por seus companheiros, a CNV concluiu que foi assassinado tendo seu peito esmagado por objeto contundente. O coronel, diretor da Casa de Detenção onde Amaro se encontrava preso, Olinto de Souza Ferraz foi responsabilizado por sua morte.

São estes os terríveis fatos que novamente se busca ocultar com a retirada dos trechos que lhes fazem referência no relatório da CNV determinada pelo Juiz Hélio Silvio Ourém Campos.

Os coletivos de Justiça e Direitos Humanos que assinam a nota conjunta responsabilizam o governo Jair Bolsonaro (PL), observando seu negacionismo notório da ditadura militar brasileira, por esse descalabro e desserviço inaceitável.

Nosso compromisso é com a construção da memória e da verdade! Portanto, só podemos nos posicionar veementemente contrários a tais desmandos!


Quem é Maria Aparecia de Aquino?

Professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Especialista em estudos sobre a ditadura militar brasileira (1964-1985).

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Auschwitz, 77 anos depois https://canalmynews.com.br/mais/auschwitz-77-anos-depois/ Mon, 31 Jan 2022 21:20:34 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=23334 Relembrar as grandes atrocidades cometidas pelo ser humano contra a própria humanidade pode nos ajudar a nunca mais repeti-las

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A libertação pelos soviéticos do maior e mais terrível – se é que é possível mensurar nesse nível de atrocidades cometidas – dos campos de concentração nazistas, Auschwitz, ocorreu há 77 anos, em 27 de janeiro de 1945.

Quem já visitou algum campo de concentração nazista se assusta com alguns aspectos: a preservação magnífica e sua semelhança com tudo o que vemos nos filmes que se dedicam à temática da II Guerra Mundial (1939-1945).

Auschwitz funcionou entre 1940, quando foi construído e, 1945, quando os soviéticos libertaram os últimos prisioneiros (aproximadamente 7.000). Durante sua vigência, cerca de 1,3 milhão de pessoas foram deportadas para seus campos e, destas, foram exterminadas 1,1 milhão. Desses, por volta de 960.000 eram judeus.

Localiza-se ao sul da Polônia, na região da Cracóvia. É formado por três grandes unidades (Auschwitz I, II e III), além de outros subcampos, sendo que Auschwitz-Birkenau (Auschwitz II) era voltado principalmente para o extermínio.

A maioria dos prisioneiros de Auschwitz era composta de judeus, mas, havia, também, ciganos, alemães que haviam cometido infrações recorrentes e prisioneiros políticos poloneses, originários de outros campos.

O primeiro de seus comandantes (1940 a 1943) foi Rudolf Hess. Foi condenado à prisão perpétua nos famosos julgamentos de Nuremberg. Havia ajudado a redigir as execráveis “Leis de Nuremberg”, em 1935, que retiravam direitos dos judeus e são consideradas um dos marcos iniciais das atrocidades nazistas. Morreu, aos 93 anos, na prisão de Spandau, para onde foi transferido após o julgamento.

O escritor Primo Levi foi prisioneiro de Auschwitz. Escreveu: É isto um homem? (RJ, Rocco, 1988), narrando suas desventuras, mas, principalmente, refletindo sobre as dificuldades de adaptação à vida após a experiência limítrofe dos campos nazistas. Suas palavras nos forçam a pensar – além dos campos – sobre o que resta aos sobreviventes. Sua reflexão, extremamente dolorosa, ultrapassa o senso comum estabelecido historicamente acerca dos campos de concentração e demais experiências nefastas vivenciadas pelo homem, ao longo do tempo.

A mim, fica a indagação, muito debatida, mas ainda válida: como o ser humano é capaz de tais atrocidades?  Senão, vejamos: quando os soviéticos se aproximavam (e os nazistas sabiam antecipadamente de sua chegada) as guardas especiais alemãs, as SS, tentando uma evacuação do campo, fizeram dezenas de milhares de prisioneiros caminhar (o que ficou conhecido como “Marcha da Morte”) por muitos quilômetros. Atiravam nos que não conseguiam prosseguir. Aproximadamente 15.000 morreram na “Marcha”.

Outro questionamento que fica diz respeito à alegada ignorância dos referidos campos de concentração no transcorrer da II Guerra. Quando os campos, ao final da guerra, foram definitivamente desnudados para o mundo, boa parte dos povos protestaram ignorância sobre sua existência e, obviamente, sobre as condições vivenciadas pelos prisioneiros dentro deles.

Um exemplo chocante é o da França. Parcialmente ocupada por nazistas a partir de 1940, teve cerca de 75.000 judeus enviados para campos de concentração. Deles, somente cerca de 2.500 retornaram. E os franceses persistiram na constatação de ignorância acerca do que havia acontecido. Como você pode ignorar as pessoas ao seu redor desaparecendo? A escolha da conveniência assume muitas facetas. Essa, cruel, é uma delas.

Aos que presenciaram atrocidades cometidas pelo homem sempre resta a memória (às vezes é só o que resta). Os nazistas sabiam da sua importância, por isso, tentaram destruir o produto de sua ignomínia. Auschwitz, também, foi alvo de incêndio de documentação do ocorrido nos campos.

Aliás, é de se questionar: por que a maior parte dos regimes autoritários faz questão de preservar a documentação de seus horrores? Acreditam que durarão para a eternidade e que nunca serão derrubados? A mim parece que lhes falta o básico conhecimento da história da humanidade.

Sua ignorância histórica é nosso passaporte para o conhecimento e uma de nossas garantias da luta contra o esquecimento e, consequente aprendizado com o passado. Nunca mais! Para não esquecer e não repetir!


Quem é Maria Aparecida de Aquino?

Maria Aparecida de Aquino é professora de História Contemporânea, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Especialista nos estudos do regime militar brasileiro (1964-1985).

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Autoritarismo em continuidade https://canalmynews.com.br/maria-aparecida-de-aquino/autoritarismo-continuidade/ Wed, 15 Dec 2021 22:36:37 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/autoritarismo-continuidade/ O autoritarismo aparece sempre presente da história do Brasil

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Causa espécie e é motivo de incontáveis discussões a manutenção do Autoritarismo no Brasil, apesar do longo processo de Abertura Política e de um bem-sucedido retorno às liberdades democráticas e ao chamado Estado Democrático de Direito no Brasil, pós regime militar (1964-1985). Sim, o Autoritarismo disseminado na sociedade brasileira é inconteste. Como explicaríamos de outra forma o que vivenciamos no momento político atual em que uma experiência autoritária é levada a cabo por um governo legitimamente eleito?

Muitas são as explicações para essa continuidade. Vou me referir somente a uma delas que pode parecer insignificante para alguns, mas que, na minha opinião, tem um papel que não é desprezível nesse contexto.

Refiro-me à Lei da Anistia (Lei 6683) de 28 de agosto de 1979. A emergência dessa legislação sucedeu a uma enorme batalha da sociedade brasileira com a bandeira de “Anistia ampla, geral e irrestrita”. Pois é. Esqueceram-se de avisar: “Cuidado com o que você pede”. A anistia veio sim, ampla, de tal modo que incluiu os praticantes de “crimes conexos (…) de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política” (§ 1º). Estava dada a largada para a inclusão, não só de todos os torturados, mas também, de seus detratores, os torturadores. Estes, por obra e graça da Lei ficaram (e assim permanecem) livres de quaisquer julgamentos e eventuais condenações por seus atos vis, ilegais, imorais, em uma palavra, criminosos.

É mais uma contribuição a já temerária memória positiva do regime militar brasileiro que permite considerações absurdas como: “…que saudades dos militares. Naquele tempo isso não aconteceria”. Enquanto em países como Argentina e Uruguai que também vivenciaram experiências autoritárias de regimes militares no mesmo período em que sofremos, os militares saíram expurgados do poder e com uma memória negativa acerca de seus feitos, no Brasil, os militares comandaram a agenda da transição democrática e deixaram o poder com uma memória preservada.

Se, ao lado disto, acrescermos a famigerada Lei da Anistia e o impedimento de julgamento de seus atos, temos o caldeirão completo do aprendiz de feiticeiro, em que, a cada momento, se aumenta a receita para o insucesso da democratização do Brasil. Enquanto não nos livrarmos dessas amarras não estaremos preparados para novos rumos e para uma reconstrução democrática legítima e total.

Por mais que nos acusem de tentativa de “revanchismo” postulo e necessidade de revisão da Lei da Anistia com a possibilidade de julgamento dos que transgrediram todas as leis ao torturar, matar, fazer desaparecer os que tiveram coragem de se insurgir contra o status quo antidemocrático da Ditadura Militar.


Quem é Maria Aparecida de Aquino?

Maria Aparecida de Aquino é Professora Doutora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP).

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Será que sou só eu? https://canalmynews.com.br/mais/sera-que-sou-so-eu/ Tue, 18 May 2021 01:02:44 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/sera-que-sou-so-eu/ Eis, nós, novamente às voltas com um regime autoritário que, cada vez mais, mostra suas garras e busca se distanciar dos parâmetros de um Estado Democrático de Direito

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Quem vivenciou os 21 (vinte e um) longuíssimos anos da Ditadura Militar que assolou o Brasil (1964-1985) com um imenso potencial destrutivo não poderia crer que passaríamos por processo semelhante. Até hoje, passados 36 (trinta e seis) anos de seu encerramento, nos debatemos com seus resquícios autoritários.

Entretanto, estávamos profundamente enganados. Eis, nós, novamente às voltas com um regime autoritário que, cada vez mais, mostra suas garras e busca se distanciar dos parâmetros de um Estado Democrático de Direito. Com uma diferença em relação à Ditadura Militar, antes foi dado um Golpe de Estado e este governo chegou ao poder (para nosso horror) por via direta, pelas eleições.

Ou seja, parcela significativa da população, abraçou suas ideias (verdade seja dita: ele não escondeu quem era e o que professava) e uma parte (menor) ainda, depois de tantos desmandos, segue ao seu lado, acompanhando-o.

Vejam só o absurdo: um ministro do Meio Ambiente que se alia aos madeireiros e destruidores da Floresta que deveria proteger. Uma ministra que diz que a “terra é plana” e acredita que “menino veste azul e menina veste rosa”. Um ministro da Educação (já defenestrado) que divulgava propaganda nazista como pano de fundo para seus pronunciamentos. Isso só para ficar em alguns exemplos…

E, não nos esqueçamos, um Presidente que nega peremptoriamente, em meio à maior crise sanitária que o Brasil vivencia, a existência da pandemia.

Quantas mortes mais serão necessárias? Já ultrapassamos a inacreditável marca de 400.000. E a negativa de compra de vacinas? A sociedade brasileira anseia por vacinação e estamos paralisados por falta de vacinas. Por quê? Porque não foram adquiridas. Por quem? Pelo governo federal que não negociou, nem quando obteve convite da Pfizer. Isto para não nos determos no imbróglio envolvendo a ANVISA e a liberação da vacina utilizada por mais de 60 (sessenta) países a Sputnik V. É por que é de origem russa? Existe o medo de que o comunismo seja inoculado via vacinas?

E isso me faz pensar: será que sou só eu que estou vendo a sandice generalizada e a urgência de se tomar providências? Este é o papel da sociedade civil organizada. Ou se faz algo ou todos sucumbiremos. Caminhamos a passos largos para a destruição definitiva de tudo que construímos a duras penas ao longo da República. Mas, mantenhamos a fé na população e nas instituições que tem o condão de salvar toda a população brasileira.


Quem é Maria Aparecida de Aquino?

Maria Aparecida de Aquino é professora Doutora Sênior do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP).

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