Arquivos Sylvia Colombo - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/sylvia-colombo/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Tue, 23 Jul 2024 22:59:29 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Equador dá salto para virar El Salvador https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/equador-da-salto-para-virar-el-salvador/ Mon, 22 Apr 2024 20:27:23 +0000 https://localhost:8000/?p=42947 No último domingo, o presidente Daniel Noboa saiu vitorioso em um plebiscito que lhe permitirá avançar com agenda agressiva em segurança pública

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O projeto do salvadorenho Nayib Bukele para a segurança em seu país _usando arbitrariamente o estado de exceção e prendendo 2% da população, sem julgamentos apropriados_ está já fazendo escola na América do Sul.

Se, até hoje, Bukele “apenas” havia transformado-se num símbolo de política pública de segurança que influenciou a campanha de vários candidatos de direita na região, agora já há um país que caminha em direção a ser o primeiro a aplicar políticas muito parecidas, e com amplo respaldo popular, aqui no Sul.

Trata-se de Daniel Noboa, o mais jovem presidente das Américas (tem 36 anos), e que hoje governa, num mandato-tampão, o Equador. Ele foi eleito numa votação emergencial, para terminar os 15 meses que faltavam do mandato de Guillermo Lasso, que vinha se desgastando, justamente, por conta de sua falência em combater rebeliões nas prisões e a intensa atividade de cartéis de narcotráfico, locais e estrangeiros, no país.

No último domingo, os equatorianos saíram a votar num plebiscito, proposto por Noboa, no qual estava em questão apertar ainda mais a pressão no combate à violência. Os equatorianos aprovaram 9 das 11 mudanças constitucionais que constavam da cédula.

As medidas aprovadas incluem: autorização para que militares atuem nas ruas, extradição de equatorianos que cometem delitos relacionados ao narcotráfico, sentenças maiores para crimes de terrorismo e assassinatos, fim das prisões domiciliares e permissão para que militares confisquem armas de civis, ainda que obtidas legalmente.

As duas medidas que foram reprovadas não tinham a ver com a questão da segurança, uma delas definia que seria possível para empregadores fazer contratos por hora, e outra reconheceria a arbitragem internacional em temas do país. 

Feliz, e com 67% de popularidade _uma das mais altas da região_ Noboa celebrou a vitória em declarações e em postagens nas redes sociais. Do mesmo modo como havia condecorado um ato que o mundo todo reprovou: a invasão da embaixada mexicana em Quito para resgatar o ex-vice de Rafael Correa, Jorge Glas, condenado por corrupção. Mesmo com a rejeição da comunidade internacional, Noboa declarou: “Se eu deixasse que ele pedisse asilo ao México, me veriam como um líder fraco, pois se trata de um criminoso sentenciado pela Justiça equatoriana. Como eu não deixei acontecer e o devolvi para a cadeia, estou mais forte”, disse o iludido e temerário Noboa.

Na verdade, tudo o que ele tem feito tem um só objetivo: que possa disputar e vencer com folga a reeleição, na nova votação presidencial, que terá lugar em fevereiro próximo, aí sim para um mandato completo. Jogando apenas para o eleitorado interno, está pouco se importando com o que dizem as organizações de direitos humanos, que veem como abusivas algumas dessas medidas.

A onda de violência no Equador é real. Antes um país considerado pacífico e sem se envolver no narcotráfico, sendo no máximo um território de passagem da droga dos países ao Sul para a Colômbia e, a partir daí, para os EUA ou, por barco, para a Europa, agora o Equador é centro de atuação de várias facções criminosas. A saber: os cartéis mexicanos de Sinaloa e de Jalisco, do Trem de Arágua (da Venezuela), do Clã do Golfo (Colômbia) e vários grupos menores, inclusive um da Albânia, e vários locais.

O aumento da violência no Equador é algo urgente e notório. No ano passado, o número de mortos de modo violento atingiu um recorde de 43 em cada 100 mil habitantes, mais do que países da América Central considerados muito violentos.

O salto nessas cifras se fez ver no mundo inteiro por meio de dois episódios: a invasão de uma TV equatoriana que estava transmitindo notícias ao vivo, e o assassinato do candidato eleitoral Fernando Villavicencio. Além disso, na mesma campanha eleitoral, pelo menos 12 políticos foram mortos, enquanto a violência nas prisões causou 460 vítimas fatais em três anos.

Obviamente, não é fácil lidar com um problema desse tamanho. Mas a solução mais fácil e mais eleitoreira, que são justamente as medidas tomadas por Noboa, não podem ser a única saída, até porque fechar o cerco e aprisionar ou matar mais criminosos são soluções paliativas de efeitos a curto prazo.

O mais indicado seria colocar o foco nas falências sociais do país, que saiu muito golpeado da pandemia, com desemprego e informalidades recorde, fazendo engrossar as filas dos cartéis e facções criminosas.

Tampouco é aceitável que, com a desculpa de lutar contra a violência, se avance tanto sobre o Estado de Direito e se cometam abusos notórios dos direitos humanos.

 

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Crise entre México e Equador impacta em toda a região https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/crise-entre-mexico-e-equador-impacta-em-toda-a-regiao/ Thu, 11 Apr 2024 00:34:36 +0000 https://localhost:8000/?p=42884 A polícia equatoriana, a mando do presidente Daniel Noboa, invadiu a embaixada mexicana para prender o ex-vice equatoriano Jorge Glas, violando tratados internacionais

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Uma crise diplomática de grande envergadura abre um terrível precedente na América Latina. No último dia 5 de abril, a polícia equatoriana invadiu a embaixada mexicana em Quito e retirou, literalmente carregado, pelos braços e pelas pernas, o ex-vice-presidente do país, Jorge Glas, que está condenado por atos de corrupção. O episódio levantou uma corrente de repúdio da comunidade internacional, mas o governo do presidente Daniel Noboa não se importou, pois crê que Glas é um “delinquente comum”, e que portanto não merece as benesses de ser um asilado político.

Vamos aos fatos e porque isso se trata de um verdadeiro escândalo.

Jorge Glas, é certo, não é nenhum santo. Durante seu período como vice-presidente de Rafael Correa, cometeu vários crimes de corrupção, entre eles o desvio de verbas da petrolífera nacional. A gestão Correa, aliás, não foi um modelo neste sentido. O próprio ex-mandatário hoje vive entre Bélgica e México e não pode retornar a seu país-natal, uma vez que está também condenado por delitos de corrupção. Ambos falam em perseguição política e “lawfare”, e algum elemento disso de fato existiu nesses julgamentos. Mas que ambos têm explicações a dar à Justiça e à sociedade equatoriana é um fato.

Hoje quem governa o Equador é o empresário de direita Daniel Noboa. Com uma peculiaridade, seu mandato é de apenas 15 meses, se trata de um “mandatário tampão”, eleito para completar o ex-presidente Guillermo Lasso, que saiu depois de fricções intensas com o Congresso.

Por conta disso e por conta de a violência estar batendo recordes no Equador, Noboa carrega a bandeira do presidente linha-dura com a criminalidade, em certos momentos imitando o salvadorenho Nayib Bukele e sua política de tolerância zero. O que Noboa tem em mente é passar a imagem de alguém que está resolvendo o tema de segurança dos equatorianos. E sua intenção é reeleger-se, desta vez para um mandato completo, quando este se termine. Daí fazer de todas suas ações um espetáculo midiático.

Pois Noboa resolveu posicionar-se como um anti-correísta engajado em demonstrá-lo publicamente. Ordenou a invasão da embaixada sem tentar esconder que estava cometendo esse ato que vai contra todos os tratados internacionais de diplomacia que garantem a inviolabilidade das embaixadas. 

A tropa que invadiu o local era numerosa, desproporcional à tarefa, e levou Glas para uma prisão local agredindo o ex-vice e também representantes do corpo diplomático mexicano. O país do norte, historicamente conhecido por dar asilo a perseguidos políticos, chiou alto, e as relações entre os dois países estão cortadas.

Por que a atitude de Noboa está tão errada? Porque só é possível entrar numa embaixada estrangeira com uma decisão judicial e com aviso prévio, além disso, jamais durante a noite.

A comunidade internacional rejeitou com veemência o ocorrido, e tanto governos de direita e de esquerda emitiram notas de protesto, como o Brasil de Lula e a Argentina de Javier Milei. Também os EUA e a Organização dos Estados Americanos.

Por que a rejeição? Porque embaixadas estrangeiras são, entre outras coisas, uma garantia para que nacionais de determinado Estado que sintam que seus direitos estão sendo violados peçam refúgio. É absolutamente inadmissível que uma embaixada seja violada para interferir num pedido de asilo político iniciado por outro país. 

Embora o mundo ficasse boquiaberto, muitos equatorianos elogiaram a atitude de Noboa e ele ganhou ainda mais apoio, principalmente entre anti-correístas. Em seu julgamento, um “delinquente” não poderia ter direito de pedir asilo. 

O caso foi o grande assunto do ambiente diplomático da região. É bastante saudável que a rejeição tenha sido praticamente unânime. Por outro lado, o rompimento de relações entre México e Equador terá reflexo nas relações entre os países e prejudicará os cidadãos de ambos.

Do ponto de vista regional, não é nada positivo que justamente esses dois países estejam de costas um para o outro, num momento em que o crime internacional cruza fronteiras. No Equador, tem atuado cartéis mexicanos, enquanto o México é país de passagem dos imigrantes equatorianos que fogem da violência em seu país e buscam refúgio nos EUA, tendo de passar por seu território.

Ambos os problemas, a imigração e o crime organizado transnacional, podem se agravar em toda a região se esses dois países deixam de ter uma boa relação.

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Guerra das Malvinas aproxima militares e Milei https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/guerra-das-malvinas-aproxima-militares-e-milei/ Thu, 04 Apr 2024 13:02:24 +0000 https://localhost:8000/?p=42828 Presidente argentino pede "reconciliação com militares" em comemoração dos 42 anos do conflito

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Na semana em que os argentinos rememoram o início da Guerra das Malvinas, em 2 de abril de 1982, o presidente Javier Milei chamou as Forças Armadas a uma “nova era de reconciliação”, que faria parte de um de seus projetos algo utópicos de declarar um Pacto de Maio, no mês da independência argentina, do qual participariam todos os governadores, todos os partidos e, agora, também o Exército.

A relação de Milei com os direitos humanos significa uma guinada numa área em que a Argentina é vanguardista. O país já condenou a mais de mil repressores, e, ainda nos anos 1980, elaborou as primeiras listas de desaparecidos e colocou os líderes do regime militar (1976-1983) no banco dos réus, durante o Julgamento das Juntas, retratados no filme “Argentina, 1985”.

A opinião sobre o período ditatorial do mandatário é explicada parafraseando as palavras do comandante da Marinha, Emilio Massera, que liderou a tortura e as desaparições dos anos de chumbo. Milei defende a ideia de que o golpe militar foi produto de uma guerra, equiparando a violência do Estado com a dos guerrilheiros, o que não é aceito pelos principais organismos de defesa dos direitos humanos.

O próprio Estatuto de Roma estabelece que os crimes cometidos por civis prescrevem, mas os cometidos pelo Estado, não. Por isso, na Argentina, eles vêm sendo julgados até hoje.

Ao relativizar esse consenso, Milei abre as portas para que, em primeiro lugar, seja iniciado um processo de julgamento dos ex-guerrilheiros (como Montoneros e o ERP), em segundo, que se inicie o corte dos aportes que o governo faz a instituições como as Mães e as Avós da Praça de Maio, e, em terceiro, para uma ação muito mais polêmica, porém defendida por sua vice, Victoria Villarruel, de começar a anistiar os repressores militares presos. Villaruel é filha de um militar que batalhou na Guerra das Malvinas.

Neste sentido, reivindicar os militares e pedir uma conciliação está em sintonia com esse movimento de reaproximação dos mesmos à política.

Depois da Guerra e do fim da ditadura, os militares saíram de campo desmoralizados. Haviam perdido o conflito de forma vergonhosa, mandando 648 rapazes argentinos a morrer nas ilhas, e entregavam ao primeiro presidente democraticamente eleito, Raúl Alfonsín (1983-1989), um país quebrado economicamente. 

Desde então, os militares nunca mais opinaram nem participaram das decisões políticas. Pelo menos até agora. 

Sobre as Malvinas, de modo mais específico, há muito que pode ser feito para melhorar a vida tanto dos argentinos como dos islenhos. 

É certo que há um artigo importante da atual Constituição argentina que afirma que é dever de todo mandatário nunca deixar de lutar pela soberania das ilhas. Todos os ex-presidentes e o atual jamais deixaram de reafirmar que defenderiam essa bandeira, a única que une a todos os argentinos, da esquerda à direita.

O caso é que a discussão pela soberania está travada num dilema difícil de romper. Se por um lado existe de fato uma resolução das Nações Unidas, dos anos 1960, de que ambos os países, Argentina e Reino Unido, deveriam negociar a questão da soberania das ilhas; ,de outro, o Reino Unido considera que essa decisão não tem mais vigência depois que, de fato, a Argentina invadiu as ilhas. Afinal, houve uma guerra, e a Argentina saiu derrotada. 

De lá para cá, houve diferentes posições dos governos argentinos com relação a como atuar diante das Malvinas. Por exemplo, na gestão de Carlos Saúl Menem (1989-1999), houve gestos de aproximação com o governo e a população da ilha, como a promoção de eventos entre os dois países, e os voos especiais para levar familiares de vítimas a finalmente visitarem a sepultura de seus filhos. Durante a ditadura, foi proibido tentar trazer os corpos dos argentinos mortos para serem enterrados no país. Eles estão, até hoje, num cemitério inóspito onde o vento não para de soprar. Nos anos 1990, foram realizados voos para levar esses familiares a conhecer as tumbas de seus seres queridos. 

Já no período kirchnerista, a coisa ficou mais difícil, pois Cristina Kirchner foi mais hostil aos islenhos e reivindicou as Malvinas de modo aberto em diversos fóruns. Os islenhos não ficaram quietos e fizeram um referendo apenas para provar ao governo argentino que queriam continuar a ser parte do Reino Unido. A proposta saiu vencedora com mais de 90% dos votos. 

Nos últimos anos, uma iniciativa ainda mais interessante foi levada adiante, o trabalho de identificação dos corpos no cemitério de Darwin, que antes não existia. Cada soldado morto e enterrado na ilha aparecia identificado apenas como “Soldado argentino, apenas conhecido por Deus”. Os argentinos, vanguardistas também no que diz respeito à antropologia forense, fizeram um trabalho de exumação e análise de DNA, e hoje a maioria das sepulturas leva o nome do soldado que lá está. As famílias foram levadas até as ilhas, e pela primeira vez puderam chorar nos túmulos de seus filhos e irmãos. 

Enquanto a questão do debate da soberania parece impossível de resolver _os islenhos se consideram originais das Falklands (como chamam as ilhas) e muitas famílias estão lá há mais de nove gerações_ gestos como esses são muito mais eficientes. 

Por exemplo, seria possível incrementar o acesso às ilhas, hoje apenas feito pelo Chile ou por um raro voo que sai de Río Gallegos. Todos os insumos e medicamentos que os islenhos precisam, ou vêm de Santiago ou de Londres.

Se viessem de Buenos Aires ou mesmo de São Paulo, custariam bem menos. Também nada impede que garotos das Malvinas possam estudar na Argentina, em vez de serem enviados ao interior da Inglaterra aos 17 anos para completar a faculdade, barateando os custos para o governo local, que hoje custeia toda a educação universitária dos nascidos nas Malvinas/Falklands. E os argentinos poderiam se beneficiar também em termos de ciência, pesca e eventos culturais e esportivos _tanto as ilhas como o continente adoram o futebol e o rugby.

Mais que de grandes decisões e negociações políticas para destravar a questão da soberania, ambas as sociedades, a Argentina e a dos habitantes das Falklands/Malvinas, poderiam trabalhar por um intercâmbio cotidiano, como ocorria antes da invasão das ilhas, beneficiando a ambas populações.

Usar a narrativa da Guerra para ganhar apoio político e, no caso de Milei, chamar os militares para ter um papel mais protagonista no governo, não parece ser o melhor caminho.

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Mais uma eleição de mentirinha na Venezuela https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/mais-uma-eleicao-de-mentirinha-na-venezuela/ Fri, 29 Mar 2024 23:13:52 +0000 https://localhost:8000/?p=42808 Regime impede opositores de participar do pleito presidencial marcado para o próximo dia 28 de julho

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A novela já se repetiu tantas vezes, que acabou cansando a paciência de muita gente e de muitos meios de comunicação internacionais. Tanto que, nos últimos anos, deixou-se de falar desse país vizinho ao Brasil, e se impôs a narrativa de que o país tinha se “normalizado”.

Nada mais equivocado, quando olhamos os dados da macroeconomia, cada vez piores, a crise humanitária, que segue expulsando venezuelanos – segundo dados da ONU, já são 7 milhões os refugiados – prendendo ativistas e opositores, e mantendo milhares de presos políticos. 

Agora, o país volta ao cenário principal por conta das fajutas eleições que devem ocorrer no próximo dia 28 de julho.

Digo “fajutas” por que? 

Primeiro porque Nicolás Maduro está seguindo com sua estratégia de manter-se no poder, igualzinho, usando os mesmos artifícios, desde 2013.

Como é sua tática? Os abusos contra direitos humanos, a pobreza e a perseguição aumentam, as pessoas saem às ruas para protestar, há repressão violenta, o mundo se preocupa, Maduro aceita dialogar com a oposição (já houve 14 encontros, todos falidos), mente, afirma que haverá eleições livres. Depois, não faz nada do que prometeu e ganha fácil uma votação fraudulenta, que motiva novas manifestações, e assim a história se repete.

Desta vez, porém, o cenário parece um pouco mais desesperador. A crise econômica está mais grave, o país, mais isolado e, nos últimos meses, Maduro acirrou a repressão, inabilitando vários políticos de oposição e mandando prender líderes de organismos de direitos humanos, como Rocío San Miguel que, desde fevereiro deste ano, está encerrada no Helicóide – a maior prisão para presos políticos na Venezuela. 

O último acordo com a oposição, com a chancela dos EUA, foi assinado em Barbados, em outubro do ano passado. Hoje, resta pouco dele. Afinal, seus pontos principais eram os de que o regime garantiria que as próximas eleições  presidenciais fossem livres e transparente, que opositores que estavam inabilitados poderiam participar, e que não fosse Maduro aquele que escolhesse seus adversários.

Pois a ditadura parece ter rasgado esse documento. Nada dele restou. As eleições foram antecipadas de novembro para julho, para atrapalhar a oposição, os candidatos inabilitados, entre eles a escolhida pelos principais partidos opositores, María Corina Machado, continuaram se poder disputar, e Maduro escolheu seus candidatos.

Ao todo, serão 12 candidatos, mas nenhum deles pertence realmente à oposição. São meros fantoches ou opositores que se resignam ao regime em troca de favores. 

Maduro quer fixar a ideia de que Manuel Rosales seria seu grande opositor. De fato, o governador do Estado de Zulia, pertence ao partido opositor Un Nuevo Tiempo. Porém, sua postulação não foi reconhecida pela Plataforma Unitária, aliança dos principais partidos de oposição, incluído o seu. Sua inscrição, nos últimos momentos do prazo final, deu-se de modo repentino e, aparentemente, com uma ajuda do próprio regime.

Como afirmou Leopoldo López em uma entrevista à Folha de S.Paulo, no último domingo, o que está marcado para ocorrer na Venezuela, no próximo dia 28 de julho, “não pode ser considerado uma eleição, pois trata-se de uma armação de Nicolás Maduro para continuar no poder”.

De fato, com apenas 15% de apoio e mais de 80% da população contra o regime, parece que seria muito difícil que Maduro ganhasse uma eleição se ela fosse legítima. 

Pelo menos, esse último episódio serviu de “gota d’água” até para os aliados de Maduro na região, como Gustavo Petro (Colômbia) e Lula (Brasil). Ambos, diferentemente da postura de respaldo e aproximação à Maduro que vinham tomando, desta vez se posicionaram de modo crítico e se mostraram “preocupados” com o caminho tomado pelo ditador.

O que vem pela frente? Provavelmente mais uma volta no ciclo que descrevi acima. Salvo se Maduro recue por algum motivo. Ainda há tempo até 28 de julho, e até lá a crise e a fricção política devem aumentar de voltagem.

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Malandragem argentina como arte https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/malandragem-argentina-como-arte/ Thu, 29 Feb 2024 19:12:39 +0000 https://localhost:8000/?p=42542 "Nove Rainhas", que projetou o novo cinema argentino em 2000, ganha versão remasterizada e comemorativa, revelando muito da Argentina contemporânea

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Em primeiro lugar, é preciso dizer que “Nove Rainhas”, filme argentino de 2000 que inaugurou a chamada nova onda do cinema argentino, continua tão divertido como naquela época. A história de dois trambiqueiros que vivem de golpe em golpe nas ruas de Buenos Aires continua revelando muito da cultura, do idioma e dos costumes portenhos. A obra reestreou na Argentina agora, 24 anos depois, remasterizada e visualmente mais atraente, ainda que a trama ainda seja o melhor de tudo. 

“Nove Rainhas” foi dirigida por Fabián Bielinsky, então promissor nome entre os novos cineastas argentinos, que morreu de um infarto num hotel de São Paulo, em 2006. 

É estrelada por Ricardo Darín (Marcos) e Gastón Pauls (Juan). Antes que alguém diga “mas outra com o Darín?”, vale o aviso, este é o primeiro filme que o catapultou para o êxito retumbante que o ator possui ainda hoje.

A trama gira em torno de uma espécie de disputa entre Marcos e Juan para ver qual dos dois tem mais habilidade em truques para enganar vendedoras de quiosques, idosas que vivem sozinhas e garçons de cafés. 

A coisa se complica quando ambos se propõem a um salto maior, tentar vender a um espanhol milionário uma versão falsificada de uma coleção de selos raríssima.

Vários personagens se metem na história desde a bela Valéria (Letícia Brédice), irmã de Marcos, a falsificadores, colecionadores e vários tipos de vigaristas. 

O que ninguém espera, e que não seria um spoiler para um filme de mais de 20 anos, é que há um plot twist e se revela, ao final, um grande golpe de um dos trambiqueiros contra o outro. 

Mas, o que mais podemos interpretar a partir do filme? Uma das leituras possíveis é de que os argentinos estão acostumados a qualquer tipo de ginástica ou de truque para viver em uma crise financeira e também que estas sempre estão presentes na história recente do país. 

Outra, que Buenos Aires é uma cidade tão viva que se torna um palco por si só para diversas histórias. Mais de 90% da película ocorre na rua. 

Em terceiro lugar, que o inesperado sempre pode piorar algo que vai mal. Por exemplo, quando Marcos vai ao banco com um cheque na mão para sacar uma pequena fortuna vinda de um golpe, já começam a se fazer visíveis o que seria a crise de 2001. 

Dezenas de clientes impedidos de entrar, os bancos já fechavam suas portas, a paridade 1 dólar para 1 peso diluiu-se rapidamente rapidamente, decisão de políticos frágeis, como Fernando De La Rúa. Todos querem, e não podem, tirar dólares de suas contas, por conta do “corralito”, enquanto os bancos e suas portas de vidro eram ameaçados por hordas inconformadas em não ter acesso à moeda estrangeira em suas contas-corrente. Moeda esta que, desde há muito, reina na Argentina e leva a alguns políticos, até hoje, a enfeitiçar os argentinos com a ideia de que a dolarização é a única solução para a crise argentina.

Por fim, a inevitável visão de que, por aqui, tudo parece ser cíclico. As preocupações, os problemas, as angústias dos argentinos nas vésperas do “estallido” do ano 2001 não se diferenciam muito das de hoje. 

Neste sentido, “Nove Rainhas”, além de entretenimento, é também educativo sobre o país vizinho ao Brasil. 

Não há previsão da estréia remasterizada fora daqui, mas a versão tradicional, disponível em plataformas de “streaming” no Brasil, serve perfeitamente para esta leitura distanciada no tempo e muito mais esclarecedora hoje do que era no ano 2000.  

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Equatorianos avançam na eutanásia, mas América Latina segue distanciada https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/equatorianos-avancam-na-eutanasia-mas-america-latina-segue-distanciada/ Thu, 22 Feb 2024 17:28:01 +0000 https://localhost:8000/?p=42492 Apenas Equador e Colômbia tem normas aprovadas sobre o tema, o que falta no resto da região?

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O debate sobre a eutanásia ainda é muito incipiente na América Latina. Além disso, está travado por questões religiosas, morais e políticas.

Porém, nos últimos tempos, alguns avanços têm ocorrido, e isso é uma boa notícia. A autonomia de uma pessoa para decidir sobre o destino da própria vida deveria ser um direito humano indiscutível. Porém, o debate é muito sensível em várias partes do mundo

Na nossa região, até agora, apenas a Colômbia tinha o procedimento aprovado pela Corte Constitucional, porém, sem uma lei específica que a regule.

Na semana passada, o Equador deu um passo nessa direção. A Corte Constitucional daquele país decidiu, após longa batalha judicial, despenalizar a eutanásia, por sete pontos a favor e dois contra.

A decisão permite que médicos equatorianos realizem o procedimento sem ter de enfrentar processos na Justiça, assim como garante o direito à objeção de consciência aos profissionais que são contra a realização da eutanásia.

O veredicto ocorreu depois da luta na Justiça de Paola Roldán Espinosa, de 42 anos, portadora, há mais de três anos, de esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa que destrói as células nervosas responsáveis pelos movimentos involuntários.

Há mais de 2 anos, Roldán Espinosa não consegue mover-se. Segundo os médicos, a doença estava perto de impedir que ela respirasse.

Um time de três advogados foi reunido e trabalhou no caso até que se chegou a um veredicto. Agora, a aplicação no caso da paciente pode ser imediata, embora tenha sido dado um prazo de seis meses para que o Congresso “prepare um projeto de lei que regule os procedimentos eutanásicos, conforme o estabelecido na decisão”.

A Corte exigiu, porém, que casos de solicitação de morte digna sejam seguidos por dois parâmetros: que a pessoa dê seu consentimento inequívoco, livre e informado, e em caso de não poder fazer isso, que seja através de seu representante, além de uma decisão médica que avalie se trata-se de um “sofrimento intenso, proveniente de uma lesão corporal grave e irreversível ou de uma doença incurável”.

A eutanásia é um procedimento aceito em poucos lugares, além de Colômbia e Equador, também Bélgica, Luxemburgo, Países Baixos, Canadá, Espanha, Portugal, Nova Zelândia e cinco Estados da Austrália.

O caso da Colômbia foi um pouco mais complicado. Mas ocorreu porque Martha Sepúlveda, de 52, também com ELA (esclerose lateral amiotrófica) obteve uma permissão da Corte Constitucional para realizar o procedimento, apesar de isso não constar da Carta colombiana.

O caso é que, logo depois de obter o consentimento, Sepúlveda deu algumas entrevistas, uma delas para uma grande emissora colombiana. O caso repercutiu, porque ela estava, aparentemente, em perfeito estado de saúde, pois atravessava o primeiro período da doença.

Partidos conservadores, médicos, ativistas anti-eutanásia se manifestaram, e a Corte Constitucional recuou da decisão.

Custou ainda mais uma ronda de batalha jurídica para Sepúlveda e seu filho, até que ela pudesse, de fato, realizar o procedimento. A Corte acabou mantendo sua posição inicial e Sepúlveda deu adeus à vida como quis, sem viver a deterioração do próprio corpo e de sua mente.

De lá para cá, em um país onde mais de 70% da população aprova o direito à interrupção da vida, de acordo com pesquisa do instituto Invamer, mais de 200 colombianos já tiveram acesso à prática.

Nos demais países da América Latina, a prática é ilegal, mas há sinais de mudança. No México, há um projeto em análise no Congresso. No Chile, onde 72% da população aprova o recurso, a história de Cecilia Heyder, 52, que tem câncer, lúpus e sepse, chegou à Corte Suprema, e o caso comoveu deputados. Agora, a eutanásia no país depende do Senado —na Argentina também há uma proposta em andamento.

Para o médico Carlos Javier Regazzoni, ex-diretor do PAMI (o sistema de saúde público para idosos na Argentina), “a eutanásia é uma aberração, já que os profissionais estudam e fazem um juramento para ajudar os outros, não para aplicar a morte”. “Assim, abre-se a porta para algo terrível, que é a eliminação de pessoas com doenças mentais, idosos.

No Peru, onde a Igreja Católica tem forte influência sobre o Estado, um juiz determinou, há três anos, de modo inédito, que a eutanásia fosse concedida a Ana Estrada, 44, que tinha polimiosite, doença sem cura que causa debilidade muscular progressiva. De todo modo, todo tipo de trava foi imposto ao longo do processo, o que só alonga o sofrimento das pessoas afetadas.

No Uruguai, há uma lei que despenaliza o suicídio assistido. Assim, quem ajuda uma pessoa a morrer por compaixão, em tese, não pode ser considerado criminoso. Mas a decisão depende da análise de cada juiz.

No Brasil, o tema da eutanásia está muito distante de ser sequer discutido, em tempos de retrocesso em normas morais. Aí, a prática é considerada crime de homicídio, com previsão de pena reduzida. O parágrafo 1º afirma que o agente que comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral —o que pode ser interpretado como visando cessar o sofrimento de determinado paciente, cujo estado de saúde é irreversível— poderá ter a pena reduzida de um sexto a um terço.

Tudo muito enroscado, como se um ator estivesse jogando o problema no colo de outro, sem data prevista para uma conclusão final. Enquanto isso, pacientes terminais com alto grau de sofrimento, agonizam devagar em camas hospitalares e sequer podem respirar sem a ajuda de aparelhos.

Já é passado o momento de colocar sobre a mesa as cartas neste debate. A eutanásia deveria estar permitida em todas as partes, indiscriminadamente, ou deveria decidir-se caso a caso? De todo modo, faltam orientações mais precisas sobre um protocolo para aplicar a decisão, respeitando o desejo da sociedade e do paciente que está sofrendo. Já é mais que necessário poder discutir sobre isso, no Brasil, na América Latina e no mundo.

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Ditadura venezuelana usa estratégia nazista https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/ditadura-venezuelana-usa-estrategia-nazista/ Wed, 14 Feb 2024 16:31:51 +0000 https://localhost:8000/?p=42346 Regime utiliza o Sippenhaft, aplicado pelos alemães, ao deter opositores e vários de seus familiares

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Uma história terrível, e com inspiração na crueldade do regime nazista, está ocorrendo na Venezuela e mobilizando a comunidade internacional. Se trata da prisão, por parte da ditadura, da ativista de direitos humanos Rocío San Miguel, grande conhecedora dos assuntos militares do regime, uma fonte inestimável para jornalistas de vários países.

A referência ao nazismo vem por conta do recurso chamado de Sippenhaft, aplicado pelos alemães durante a época da Segunda Guerra e que consistia em castigar toda a família da pessoa-alvo. 

Primeiro, Rocío San Miguel foi detida no aeroporto de Maiquetia (Caracas), de onde faria uma viagem de férias com a filha, Miranda. Ficou desaparecida mais de três dias. O site Efecto Cocuyo (referência no valente jornalismo independente da Venezuela) foi o primeiro a revelar que San Miguel estava no Helicóide, edifício icônico de Caracas planejado e construído durante o “boom do petróleo” para ser um shopping, mas transformado pela ditadura chavista em prisão política. Alí estão mais de mil detidos por serem opositores, a maioria sem julgamento, segundo a ONG Provea. Esta obra arquitetônica única que se destaca no meio de Caracas acabou se transformando num dos principais centros de tortura do regime. 

San Miguel, 57, foi levada para lá no último dia 9 de fevereiro, pelo Sebin (Serviço de Inteligência do regime). A operação de Sippenhaft aconteceu nos dias seguintes, levando para o mesmo centro de detenção outros seis membros da família San Miguel, incluindo a filha Miranda, que mora em Madri, mas que tinha vindo passar férias com a mãe.

A filha telefonou para o pai ainda do aeroporto. Víctor Díaz Paruta, ex-marido de San Miguel foi buscar a filha no aeroporto. Daí, porém, ambos também foram levados pelo Sebin a um lugar indeterminado.

O governo dos EUA afirmou estar ““profundamente preocupado” pela detenção da ativista e diz acompanhar a situação com atenção. 

“Estamos atualizados quanto às informações sobre a detenção de Rocío San Miguel, e de seus familiares. Estamos profundamente preocupados por conta disso”, disse John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

Além de Miranda e seu pai, também foram presos o atual marido e dois irmãos da ativista, entre outras pessoas próximas a ela.

San Miguel é diretora da ONG Control Ciudadano, em que reune e publica informações sobre o universo militar do regime, que reconheceu publicamente ter detido a ativista sob a acusação de ser uma das pessoas que atuaram nos bastidores do suposto atentado contra Maduro, em 2018. 

San Miguel está sendo acusada de tentativa de matar o ditador, traição à pátria, conspiração e terrorismo. As demais pessoas da família estão presas sem acusações, por ora.

O caso de Rocío San Miguel joga por terra o já moribundo acordo de Barbados, em que a oposição e regime se haviam colocado de acordo com relação a eleições livres neste ano. Os EUA apoiam a ideia e tem alta expectativa com relação a esse pleito.

Porém, como já fez em 14 ocasiões, Maduro, depois de assinar acordos de compromisso de democratizar o país, faz de tudo para enterrá-los. Desta vez, já tomou diversas atitudes para matar o último tratado. A primeira delas foi considerar nula a eleição primária realizada pela oposição, e vencida por María Corina Machado, depois, reafirmou a inabilitação da mesma. Agora, coloca detrás das grades e sob ameaças de tortura, uma das mais importantes defensoras dos direitos humanos da Venezuela e vários membros de sua família. 

As eleições prometidas para este ano estão em risco, e mais distante ainda parece um retorno da Venezuela à democracia.

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Ônibus de Milei dá marcha atrás https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/onibus-de-milei-da-marcha-atras/ Thu, 08 Feb 2024 20:01:35 +0000 https://localhost:8000/?p=42313 Presidente retirou mega-lei do Congresso e planeja realizar plebiscito

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Depois de obter a aprovação geral de sua Lei de Bases, também conhecida como Lei Ônibus (por conter mais de 600 artigos inicialmente), o presidente argentino Javier Milei viajou a Israel sem demonstrar nenhuma grande alegria nem inconformidade.

A lei é um dos carros-chefe do seu início de campanha, e o caminho para ser colocada em prática ainda tinha alguns passos depois de passar na Câmara: o debate e a aprovação da mesma artigo por artigo, que havia começado já no princípio da semana, depois, seu tratamento no Senado.

De repente, no meio de uma tarde de sessão na última terça-feira, por meio de um porta-voz e deputado do partido do presidente, anunciou-se que a Lei estaria derrubada. Milei depois acrescentou que houve traidores da mesma, e soltou os nomes daqueles que, apesar de terem aprovado a lei no geral, estavam fazendo objeções no pontual. Chamou-os de traidores e passou a listar os nomes de todos eles. Ou seja, se tinha poucos apoiadores ou possíveis aliados no Congresso, ao colocá-los no mesmo saco, acaba de perder esse apoio. Seu partido agora fica ainda mais diminuto na Câmara de Deputados.

O que já não era mais uma Lei ônibus, afinal tinham tirado delas mais de 120 artigos e esta passara a ser chamada a ser Lei mini-van, virou nada, voltou a estaca-zero, e ninguém sabe neste momento o que poderá ocorrer.

Num primeiro momento, o mandatário ultraliberal sugeriu que se colocasse a lei em votação desde o princípio novamente, e que ele não cederia em nada. Porém, cientes de que a lei completa não passaria, membros de sua equipe falam em plano B. Um deles, de agrado do próprio Milei, é chamar um plebiscito. Mas isso não seria possível sem o apoio do Congresso. Por exemplo, há dois formatos possíveis permitidos pela Constituição argentina.

Um plebiscito vinculante pode partir do Congresso ou o do presidente, mas é exigido que ambos estejam de acordo de apresentar toda a Lei Ônibus para a participação popular. Outra maneira é via “consulta popular”. Ou seja, chama-se a população a dizer se quer ou não a Lei Ônibus, mas cujo resultado não pode passar a valer. Trata-se de uma consulta, apenas para que Congresso tenha como base para aprovar ou não. Advogados e equipe de Milei trabalham numa alternativa para alterar essas escolhas que creem “limitantes”.

Se ao final Milei ouve seu ministro do interior, Guillermo Francos, e outros membros da equipe, a única maneira de retomar o tema é cumprir todo o rito parlamentar desde o princípio. Só que agora com mais dificuldade, é claro, afinal, já deve ter perdido o apoio dos 34 a quem nomeou “traidores”.

Outra carta sobre a mesa seria desfazer o “ônibus”, e começar a tratar as reformas por separado. Mas isso já não é uma “política de choque” para ser implementada em seis meses, e sem ter de lidar com o Congresso. Que era o que Milei queria.

Agora, ele terá de fazer o que não lhe agrada, negociar, fazer política e tratar realizar essas mudanças nesses quatro anos, não em seis meses.

O que se agravou foi a inflação, pois a tal desregulação da economia está aprovada. E isso já está elevando os preços de alimentos e combustíveis a aumentos galácticos. Projeta-se, para dezembro, uma inflação por volta de 30%.

Confira cobertura no MyNews Especial e entenda:

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Milei deixa o mundo boquiaberto em Davos https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/milei-deixa-o-mundo-boquiaberto-em-davos/ Fri, 19 Jan 2024 01:16:28 +0000 https://localhost:8000/?p=42006 Discurso do presidente argentino choca liberais e moderados

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Javier Milei deixou seus espectadores de queixo caído em Davos, na última quarta-feira (17). Sim, estamos falando de Davos, o ponto de encontro do capitalismo internacional, que sempre abrigou conversas de alto nível do campo liberal e capitalista. Ou seja, a princípio, o campo de Milei.

Alto nível foi a primeira coisa que faltou, com a frase de abertura infantil do discurso. Aliás, a infantilidade na criação de um inimigo comum lembrou tempos da Guerra Fria, já longe no tempo: “Hoje estou aqui para dizer que o Ocidente está em perigo.” E explicou: “Está em perigo porque aqueles que supostamente deveriam defender os valores do Ocidente estão sendo cooptados por uma visão de mundo que inexoravelmente conduz ao socialismo e, consequentemente, à pobreza.”

Isso mesmo, Milei crê que surgiu para iluminar e avisar o poder econômico mundial que este vive o perigo do avanço do “socialismo” .

Para Milei, nas últimas décadas, “motivados por um desejo bem intencionado de querer ajudar os demais e por uma vontade de querer pertencer a uma ‘casta’ privilegiada, os principais líderes do mundo ocidental abandonaram o modelo da liberdade em troca de distintas versões do que nós chamamos de coletivismo”.

A repercussão dos principais diários do mundo foi variada, embora não pudessem esconder o espanto generalizado.

O El País, da Espanha, depois de conversar com vários líderes, afirmou que seu discurso “irritou” os mandatários e seus representantes:

“Cada vez mais apocalíptico, Milei expôs sua visão fundamentalista do mercado que nem mesmo é assumida em Davos, onde todas as empresas presentes estão acostumadas a colaborações público-privadas que são reivindicadas por outros presidentes, como o espanhol Pedro Sánchez, que falou logo depois no mesmo fórum. Milei defendia que os únicos que realmente fazem as coisas corretamente são os empresários.”

O El País segue: O discurso dele foi tão contundente que ele mesmo admitiu que “pode parecer ridículo dizer que o Ocidente se inclinou para o socialismo, mas essa é a tendência”

A agência EFE sinalizou que Milei atacou as agendas internacionais do feminismo e do meio ambiente, considerando-as parte da influência que o socialismo está exercendo sobre as políticas econômicas do Ocidente.

O jornal britânico The Guardian afirmou que Milei não apresentou razões firmes para criticar o feminismo. “Não explicou, no entanto, como essa visão libertária leva as mulheres no Reino Unido a trabalharem efetivamente dois meses sem remuneração devido à disparidade salarial de gênero, por exemplo.”

Já o Financial Times, aparentemente, gostou. Disse que a fala de Milei foi de “alto perfil”, e a “a primeira oportunidade dele apresentar sua visão ultraliberal à elite mundial após sua surpreendente vitória nas eleições”, escreveu em editorial.

Em geral, Milei irritou ao apontar a infantilidade dos próprios líderes por terem “deixado” o socialismo avançar em seus países.

Também disse que o mundo vive seu melhor momento.

“Não houve em toda a história da humanidade um momento de maior prosperidade do que o que vivemos hoje. O mundo de hoje é mais livre, mais pacífico e mais próspero… O capitalismo de livre empresa e a liberdade econômica têm sido ferramentas extraordinárias para acabar com a pobreza no mundo, e nos encontramos hoje no melhor momento da história”.

Apesar dos pedidos e perguntas, Milei não destrinchou nem expôs as polêmicas leis de ajuste, reforma trabalhista, cortes de subsídios e aposentadorias que nestes dias estão sendo votados em sessões extraordinárias do Congresso.” Tampouco deu respostas objetivas a seus planos para reduzir os 211% de inflação anual, os 55% de desvalorização da moeda e a pobreza dos argentinos, de mais de 40%.
Milei pôs o foco no país que, “no início do século 20, era o mais rico do mundo, hoje tem cerca de 50% da população abaixo da linha da pobreza e 10% de indigentes, sendo que a Argentina é um país que produz alimentos para 400 milhões. Para onde vai toda essa comida? A resposta é que o Estado fica com 70% dela.”

Milei disse que os líderes mundiais deveriam ser os comandantes, os heróis nessa luta contra o comunismo.

“O Ocidente está em perigo porque aqueles que supostamente deveriam defender os valores do Ocidente estão sendo cooptados por uma visão de mundo que inexoravelmente conduz ao socialismo e, consequentemente, à pobreza”, alertou, e em uma mensagem à seleta audiência enfatizou:

“Não se deixem intimidar nem pela casta nem pelos parasitas que vivem do Estado”

Por fim, como se faltasse alguém a quem desagradar, avançou contra o feminismo, a mudança climática e a “agenda globalista”.

Vozes internas e inclusive do espaço político de Mauricio Macri, como o ex-ministro da Cultura, Pablo Avelluto, também questionaram o discurso de Milei, segundo Avelluto, “baseado em falácias”.

“Ouvi o discurso do presidente em Davos. Uma mensagem reacionária baseada em falácias e atos de fé próprios da década de ’30. Posso ser coletivista, socialista, comunista, esquerdista ou o que parecer. Mas o liberalismo está muito longe de ser esse delírio fanático”, escreveu Avelluto em suas redes.

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Milei leva argentinos a protestar em tempo recorde https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/milei-leva-argentinos-a-protestar-em-tempo-recorde/ Sat, 30 Dec 2023 19:21:42 +0000 https://localhost:8000/?p=41870 Parece que pela primeira vez, muitos estão se dando conta do que queria dizer o presidente com o "no hay plata" e com "o ajuste é a única saída possível"

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Pouco mais de duas semanas de sua posse, e já o novo presidente argentino, Javier Milei, levou milhares às ruas para manifestar-se contra suas primeiras decisões. Milei leva argentinos a protestar em tempo recorde
No dia 20, o protesto foi mais espontâneo, motivado especialmente pelo pacote de medidas econômicas que anunciava a demissão de servidores públicos, a liberação de preços que até então estavam sob controles e programas de assistência, corte de subsídios e liberação do preço dos combustíveis. Suficiente para o argentino de classe média ficar pelo menos bravo. O corte, dizia Milei na campanha, seria na chamada “casta”. Logo de cara, porém, ficou claro que não era, os os aumentos e remarcações começaram a ser praticados à luz do dia, quase todos os dias, e a inflação disparou. A projeção é de que alcance os 30% em dezembro e 40% em janeiro, acumulando até 200% ao ano.
Parece que pela primeira vez, muitos estão se dando conta do que queria dizer o presidente com o “no hay plata” e com “o ajuste é a única saída possível”.
Muita coisa que Milei anunciou ainda não entrou em prática, portanto, por ora, quem sente é a população com a renda mais baixa. A saber se isso de fato se estenderá a toda a “casta”, como dizia ele na campanha.
Nesta última quarta-feira (27), o protesto foi mais pesado, e reuniu mais gente. Convocado pela CGT (Confederación Geral del Trabajo), teve como foco a reforma trabalhista prevista no DNU (Decreto de Necessidade e Urgência). Esse recurso pode ser usado pelo presidente sem passar pelo Congresso e tem aplicação imediata. Sua colocação em vigor poder ser interrompida caso haja um voto negativo de ambas as casas, Deputados e Senadores. E isso ainda não aconteceu.
O DNU é muito mais amplo e inclui uma reforma trabalhistas, a demissão de mais de 7 mil servidores do Estado, elimina necessidades de contratos que passem pelo aval do Estado, elimina indenizações por demissão, permite jornadas de até 12 horas.
No começo do dia, ônibus e metrôs receberam a visita de policiais, para revisar, tomar documentos e registrar quem estava indo à marcha. Algo que só guarda semelhança ao que se fazia na época da última ditadura militar, mas que hoje integra o “protocolo Bullrich”, novas normas de choque implementadas pela nova ministra de segurança, Patricia Bullrich. Elas incluem, por exemplo, outro recurso só usado nas últimas décadas pela ditadura militar.
A manifestação ocorreu com tranquilidade, embora reunindo mais gente do que na semana anterior.
E Milei parece estar seguindo um padrão. Depois que ocorre a manifestação, e quase todos foram para casa, ele sai com mais novidades.
Desta vez, trata-se de um projeto de lei “ônibus”, como se chama na Argentina essas propostas que incluem demasiadas determinações em diferentes áreas.
Trata-se de 664 artigos para a apreciação do Congresso, abarca áreas como a econômica, fiscal, social, previsional, de segurança, defesa, energética e sanitária.
Também uma ampla reforma eleitoral, uma anistia para quem traga dólares ao país, reformas impositivas e muitas outras.
No setor de privatizações, o governo poderá privatizar até 41 estatais, em busca de “competição e eficiência econômica”.
E voltou a nomear muitas já antes citadas: Aerolíneas Argentinas, Banco de la Nación Argentina, a petrolífera YPF, ferrovias, a agência de notícias Télam e outras.
Um ponto que será inevitavelmente um distúrbio é um aumento das retenções (taxas para exportação) ao campo. O tributo subirá a 15%, o que afeta o setor ruralista em cheio.
São tantas mudanças propostas entre o pacote anunciado pelo ministro Luis Caputo, o DNU (Decreto de Necessidade e Urgência) e o novo projeto de lei-ônibus, que mal dá tempo aos opositores de protestarem por algo, que logo outra legislação é apresentada. Veja aqui mais colunas da Sylvia Colombo

Milei leva argentinos a protestar em tempo recorde

Foto: Reprodução/Facebook

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Os 30 anos da morte de Pablo Escobar https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/os-30-anos-da-morte-de-pablo-escobar/ Thu, 30 Nov 2023 14:45:03 +0000 https://localhost:8000/?p=41537 Livro recém-lançado reflete sobre perseguição e fascínio exercido pelo narcotraficante

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Neste sábado (2 de dezembro), completam-se 30 anos da morte do mais importante e conhecido narcotraficante da Colômbia e quiçá, do mundo, Pablo Escobar, que foi baleado por uma força-tarefa que passou meses buscando-o para eliminá-lo. Escobar estava escondido numa casa suburbana, em Medellín, e quando foi descoberto, tentou fugir pelo telhado, mas não teve sucesso. Tinha 44 anos.

É difícil mensurar a quantidade de horror que Escobar trouxe para este nosso país-vizinho. Políticos, ex-presidentes, candidatos e ministros, além de juízes e magistrados, jornalistas, donos de jornais e civis, que morreram devido às tantas bombas que fez explodir nas cidades, sem contar um voo da Avianca, derrubado em pleno ar, foram das tantas mortes que causou.

É mórbido e lamentável que Pablo Escobar seja hoje um ícone pop, que estampa camisetas que os turistas compram, ou que seja figura buscada por jovens para tatuar-se, que se dediquem músicas e séries e que sua sepultura, em Medellín, seja visitada praticamente todos os dias do ano por turistas do mundo todo.

Enquanto vivia, Escobar era amigo de celebridades do futebol, namorava jornalistas e atrizes, dava festas animadas por figuras importantes do cenário musical.

Quando finalmente se entregou à polícia, foi levado a uma prisão que pouco tinha de um verdadeiro cárcere. Era uma propriedade escolhida por ele mesmo, onde havia luxos, podiam entrar convidados seus _até alguns representantes da seleção colombiana da época foram ali jogar um amistoso. Além disso, lá se planejavam atentados, envios de droga ao exterior e a divisão de poderes nos bairros de Medellín onde Escobar atuava.

As autoridades se cansaram do que era uma burla, uma vergonha às instituições, e o então presidente Cesar Gaviria decidiu mudar Escobar de cárcere, levando-o a uma prisão mais controlada. A iniciativa provocou um motim e a fuga do chefe narco, além de vários de seus apoiadores.

O livro do ex-general e ex-vice-presidente da República Óscar Naranjo, “El Derrumbe de Pablo Escobar” (ed. Planeta, importado), recém-lançado na Colômbia, conta bastidores da busca pelo criminoso _operação da qual participou quando era um jovem major, assim como reflete sobre a sobrevivência de Pablo Escobar como um ícone nos dias de hoje. Num momento em que a violência ligada ao narcotráfico cresce na Colômbia, estudar a trajetória desses poderosos “capos” da droga é um exercício pertinente.

Nos anos mais sangrentos da atuação do Cartel de Medellín, foram executivos o candidato à Presidência Luis Carlos Galán Sarmiento, favorito à vitória em 1989, o ministro da Justiça Rodrigo Lara Bonilla, que em seus discursos mencionava pela primeira vez os “dinheiros sujos”  (ou seja, provenientes do narco) para financiar campanhas, o diretor de Redação do El Espectador, Guillermo Caño, executado por sicários na saída do jornal, à noite, e a jornalista Diana Turbay, entre tantos.

Os assassinatos eram o principal fator de pressão política do grupo, que lutou, e conseguiu, que na Constituição colombiana ficasse inscrito um artigo que proibia a extradição de criminosos colombianos aos EUA. Uma vez que a droga que produzia o cartel ia para o país do norte, os criminosos temiam ser processados lá. O lema dos chamados “extraditables” era “prefiro um túmulo na Colômbia do que a prisão nos EUA”. Acabaram conseguindo.

Os anos 1980 e 1990 foram marcados por dois cartéis, o de Medellín (comandado por Escobar) e o de Cali, que era menos violento e tinha uma estrutura mais parecida à da máfia italiana. Puniam com a morte traidores, mas não estouravam bombas em shoppings ou nas ruas apenas para assustar e subjugar a popução e legitimar suas fronteiras, como fazia o de Medellín.

Exterminar Escobar começou com uma força-tarefa da polícia, logo foram agregados o Exército e, uma decisão temerosa, a entrada de outros narcos, inimigos de Escobar, os chamados Pepes (Perseguidos por Pablo Escobar), que foram essenciais para sua captura e morte.

Naranjo nos traz o diário dessa busca, as questões éticas com que se enfrentaram as autoridades até admitir que, sem a ajuda do crime organizado, não poderiam chegar a Escobar. Há, também, reflexões de 30 anos depois. Perseguir com tanta sanha a Pablo Escobar resolveu o problema de fundo do narcotráfico na Colômbia, ou não fez nenhuma diferença, ou o agravou?

Mais que nada, o livro traz uma reflexão sobre esse período sangrento, lembra suas vítimas e ajuda a olhar para trás de modo crítico, num momento em que a América Latina volta a enfrentar uma escalada de violência relacionada ao tráfico ilegal de drogas.

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América do Sul tenta colocar freio a Israel https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/america-do-sul-tenta-colocar-freio-a-israel/ Thu, 02 Nov 2023 16:52:21 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=41013 Países da região estão reagindo à morte de civis palestinos no conflito

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Assim que teve início a ocupação da Ucrânia por parte da Rússia, os países sul-americanos foram os que mais tardaram em tomar um partido, e poucos o fizeram de fato. Me lembro de estar em Santiago, no Palácio de La Moneda, esperando um pronunciamento do recém-eleito mandatário chileno, Gabriel Boric, e ele não titubeou em condenar o ataque a Ucrânia.

Poucos o seguiram. Algumas semanas depois, em visita à Casa Branca, Petro foi indagado sobre se mandaria ou não armas, tanques e outros aparatos de guerra para a Ucrânia. Petro se esquivou, disse que havia muitas guerras no mundo e que estava concentrado em resolver a questão da violência em seu próprio país.

Já o conflito entre Israel e o Hamas tem sido diferente. E países da região tem se manifestado com maior ênfase, principalmente após o bombardeio de um campo de refugiados em Gaza. O primeiro país a fazê-lo foi a Bolívia, e tomou a atitude mais extrema, rompendo relações com Israel. Não chega a ser uma surpresa. Já no dia seguinte ao ataque do Hamas em território israelense, o ex-presidente Evo Morales lançou um tuíte dizendo que apoiava as ações do grupo terrorista.

Depois, com a escalada da retaliação, Morales postou um pedido para que Israel fosse classificado como um “Estado terrorista”, e que Benjamin Netanyahu fosse denunciado à corte penal internacional por genocídio e crimes de guerra.

O rompimento foi anunciado pela ministra María Nela Prada, em representação do atual presidente, Luis Arce. “Nós exigimos que os ataques à Faixa de Gaza acabem, pois eles estão acabando com a vida de milhares de civis e causando um deslocamento forçado de palestinos”, afirmou, em uma coletiva de imprensa em La Paz. Tampouco se trata da primeira vez que a esquerda boliviana demonstra suas antipatias contra Israel. Durante a gestão de Evo Morales, em 2009, também houve um rompimento das relações com o país ante um ataque deste à Faixa de Gaza.

As relações só foram reatadas pela presidente interina Jeanine Áñez, que assumiu depois da renúncia de Evo Morales, após um período de caos político que o levou a deixar o país.

Outros países estão demonstrando preocupação. O Chile, com uma comunidade de 500 mil palestinos existe mesmo um clube de futebol no país com esse nome, chamou seu embaixador em Israel para consultas.

O presidente Gabriel Boric afirmou que havia tomado essa decisão por conta das “violações à lei humanitária internacional que Israel estava cometendo em Gaza, e que são inaceitáveis”. Boric ainda afirmou que as mais de 8 mil mortes de civis causadas pela ofensiva israelense em Gaza demonstram que se trata de “uma punição coletiva contra a população civil em Gaza”. Também o posicionamento a favor dos palestinos tem a ver com a política interna do país. Há na base de apoio do governo, integrantes de origem palestina, como Daniel Jadue, que já foi presidenciável.

O mesmo ocorreu com a Colômbia. O presidente Gustavo Petro convocou também seu embaixador para consultas. Petro é um defensor da causa palestina e vem atacando fortemente a retaliação israelense aos ataques de 7 de outubro. Primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia, Petro disse durante a semana que tomava essa atitude por conta do “massacre do povo palestino”.

O mandatário colombiano ainda fez uma comparação entre as atitudes de Israel com as de Adolf Hitler. Israel respondeu por meio de seu ministro das relações internacionais, Eli Cohen, que acusou Petro de colocar vidas de judeus em risco, encorajando “os horríveis atos dos terroristas do Hamas por meio de declarações hostis e antisemitas”. A posição de Petro acabou criando uma fricção interna na política colombiana, justamente num contexto em que o governo saiu derrotado das eleições regionais ocorridas no último dia 29.

Um dos que saíram ao ataque de Petro foi seu sucessor, Iván Duque, que o acusou de não mencionar o ataque terrorista do Hamas em seus comentários sobre o conflito.

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O que está ocorrendo na Venezuela? https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/o-que-esta-ocorrendo-na-venezuela/ Thu, 26 Oct 2023 20:58:23 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=40906 Como muitos sabem, este país que é dominado pelo chavismo desde 1999 e que pode ser considerado uma ditadura desde, pelo menos, o ano de 2017

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No último domingo (22), enquanto os olhos da região estavam voltados para o que ocorria na Argentina, algo muito importante ocorreu na Venezuela.

Como muitos sabem, este país que é dominado pelo chavismo desde 1999 e que pode ser considerado uma ditadura desde, pelo menos, o ano de 2017 _quando foi eleito de modo fraudulento um “congresso” governista para substituir um parlamento de maioria opositora que havia sido escolhido de forma legítima_ continua vivendo uma crise humanitária terrível.

Um governo que surgiu com legítima preocupação social, que realizou uma verdadeira transformação no país, incluindo sua diversidade e a inserção de milhares de pessoas humildes à classe média, acabou perdendo o rumo quando o autoritarismo e a corrupção começaram a tomar conta do cenári.

Pelo menos desde 2014, mais de 7 milhões de venezuelanos deixaram o país, há fome, falta de insumos nos hospitais, perseguição a opositores e censura e prisão para jornalistas e políticos de oposição.

As tentativas de realizar mesas de paz, negociações, diálogos com mediação estrangeiras foram, até aqui, todos frustrados. O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, sempre que compareceu a esses fóruns, prometeu eleições livres, mais democracia e liberação de presos. Jamais cumpriu grande parte disso. O máximo que fez, quando a comunidade internacional estava pressionando demais, foi conceder alguns favores, migalhas. Em certas eleições, deixava que alguns opositores vencessem em alguns Estados, enquanto obrigava outros a deixar o país. Em alguns momentos, liberava um punhado de presos políticos, enquanto nas terríveis prisões conhecidas como La Tumba e El Helicóide ainda há mais de 100.

Não foi diferente na última semana, quando os EUA prometeram aliviar sanções que o governo vem recebendo em troca de uma promessa de que a eleição presidencial de 2024 seja “livre e democrática” e que não haja mais perseguição a opositores no país.

Os EUA, neste momento, estão com os olhos bem abertos com relação à Venezuela, porque, afinal, há uma crise de falta de petróleo no mundo relacionada ao conflito na Ucrânia.

Foi nesse contexto que o regime aceitou, ainda que de mau humor, que a oposição venezuelana realizassem primárias. A ideia da sempre dividida oposição do país, desta vez, é escolher um candidato único para enfrentar, no ano que vem, a Maduro ou a algum outro chavista por ele escolhido, para a sucessão presidencial.

A votação ocorreu de modo inédito. Por exemplo, foi possível que eleitores venezuelanos exilados votassem. Exerceram o dever 2,4 milhões de pessoas, e a veterana opositora María Corina Machado, saiu vencedora com 92% dos votos.

Por que Corina venceu? Em primeiro lugar, porque é a mais antiga e mais combativa dos opositores desde que era membro da Assembleia Nacional, ainda com Chávez vivo. Em segundo, porque seus demais colegas todos já se desgastaram ao máximo ou caíram no ostracismo, como Leopoldo López, Juan Guaidó, Henrique Capriles. Alguns dos demais, sem chances, acabaram desistindo a seu favor.

Quais são os próximos passos? A situação de María Corina, apesar da euforia de sua vitória, é ainda cheia de obstáculos. Um deles, o fato de ter sido inabilitada politicamente, assim como quase todos os demais opositores importantes, por 15 anos.

Porém, como Maduro prometeu, no acordo firmado em Barbados, que garantirá eleições livres, é de se esperar que a inabilitação caia. É o que também insinuou como necessário o secretário de Estado Anthony Blinken.

Depois, Corina tem que de fato apresentar uma plataforma unificadora. Conhecida como uma líder de direita mais radical, que em mais de um momento reivindicou a desobediência civil para a saída do país da ditadura, precisa apresentar projetos que incluam chavistas dissidentes recentes e antigos, e praticamente não pode dedicar-se a outro projeto que a atender a situação de pobreza, desnutrição e de falta de atendimento médico aos que precisam.

Esse caminho começou no domingo (22) e se estenderá até o segundo semestre do ano que vem, até uma data a ser definida pelo regime para que essa votação ocorra.

Já se falhou várias vezes no passado na tentativa de realizar uma transição democrática no país. Agora, as fichas estão nas mãos dessa opositora ferrenha ao chavismo desde o primeiro dia. Conseguirá ela reunir as forças locais e internacionais que necessita para enfrentar o regime? O que Maduro tem na manga para não cumprir este mais novo acordo?

Essa é a história que se desenrola no país vizinho ao Brasil ao longo dos próximos meses.

E é importante para o Brasil ter uma Venezuela estável.

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Quem é o novo presidente do Equador? https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/quem-e-o-novo-presidente-do-equador/ Thu, 19 Oct 2023 17:04:29 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=40702 Daniel Noboa, 35, foi eleito o mais jovem presidente do Equador, no último dia 15 de outubro

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Uma vitória “improvável”. Assim descreveu Daniel Noboa, 35, o fato de ter sido eleito o mais jovem presidente do Equador, no último dia 15 de outubro.

Improvável porque seu nome não aparecia sequer nas listas dos cinco favoritos quando começou a campanha eleitoral. Em poucas semanas, porém, a história desse pleito deu um giro, houve um verdadeiro “plot twist” e Noboa galgou ao primeiro lugar, para sair vencedor no segundo turno.

Antes de mais nada, vale mencionar que esta foi uma eleição também bastante “improvável”. Não fazia parte do calendário eleitoral regular do Equador. Mas se tornou necessária depois que, em maio, o presidente Guillermo Lasso decretou uma “morte cruzada”. Trata-se de um recurso constitucional que existe no Equador para ser usado quando acabam todas as possibilidades de diálogo entre presidente e parlamento. Lasso diluiu o parlamento e ficou obrigado a convocar eleições e a deixar o palácio de Carondelet.

A “morte cruzada” foi um recurso criado recentemente no Equador para impedir que o país voltasse a viver tanta instabilidade institucional, uma marca de sua história, que ocorre desde o período da redemocratização. De lá para cá, sete presidentes não conseguiram cumprir seu mandato, principalmente por intrigas internas e conflitos com a Assembleia Nacional (o Congresso unicameral do país).

País com sérios problemas de desigualdade social, com uma racha racista em que descendentes de europeus menosprezam indígenas, pobreza e alta taxa de informalidade, o Equador viveu uma década de estabilidade e de melhora na vida dos mais humildes quando Rafael Correa chegou ao poder, em 2007, governando por três mandatos e estabilizando a economia e as tensões sociais. Correa, ainda muito popular, naquela época aumentou o gasto público do Equador e transformou em políticas de repasse, tirando milhões da pobreza e trazendo-os para a classe média.

Com o tempo, porém, seu autoritarismo, a perseguição à imprensa e denúncias de corrupção foram desgastando sua imagem, e ele então foi condenado pela Justiça local. Hoje, vive refugiado na Bélgica, de onde é sua mulher.

O pós-correísmo, a partir de 2017, voltou a conhecer a instabilidade institucional. Seu sucessor, Lenín Moreno, foi acusado de fraude pelo perdedor da eleição e quase perdeu o cargo nos protestos indígenas de 2019, que ficaram sem uma resolução clara. As eleições seguintes deram a vitória a Lasso, que não aguentou a pressão do aumento da violência e das rebeliões nas prisões, que o desestabilizaram. Ele dizia serem provocadas pelo correísmo.

A verdade é que o país entrou numa espiral de violência, potencializada por seus problemas de fundo, que já saiu do controle. Antes apenas rota para a droga que viaja para os EUA, hoje o país abriga cartéis mexicanos, venezuelanos e mesmo albaneses.

Um dos então candidatos, Fernando Villavicencio, resolveu enfrentar isso diretamente. E na campanha posicionou-se contra a ascensão dos cartéis. A consequência foi sua morte, encomendada por cartéis a sicários que o executaram a olhos vistos, em pleno comício de campanha.
Portanto, os equatorianos encaminharam-se para esse pleito tampão Noboa terá apenas 16 meses de governo, até terminar o mandato de

Lasso com desânimo, medo de sair na rua, sendo extorquido e vítima de demarcações de território. Tudo sem muita esperança. A figura mais forte da política, Corrêa, está exilado, sua apadrinhada política, Luiza González não se mostrou à altura das circunstâncias, um dos porta-vozes da luta contra o tráfico, Villavicencio, morto. Além de um candidato a prefeito e duas lideranças partidárias.

Foi nesse vácuo que Noboa apareceu. Pertencente a uma família importante de Guayaquil, o centro econômico do Equador, seu pai tentou ser presidente em cinco ocasiões. Fracassou, mas nunca deixou de ser o empresário bilionário que comercializa bananas e que segue sendo influente entre empresários e políticos.

Noboa já partiu, portanto, com vantagem. Com larga experiência acadêmica, estudou administração em Harvard e em Georgetown, a Noboa lhe falta experiência política. Apenas cumpriu parte do mandato de deputado, interrompido, justamente, pela “morte cruzada”.
É difícil imaginar que, em 16 meses, Noboa resolva os graves problemas do país. O mais provável é que se concentre em medidas mais populares, para angariar mais votos e, então, poder disputar um mandato de quatro anos.

Espera-se que o Equador consiga ao menos tranquilizar-se um pouco nesse período, ainda que Noboa aposte numa linha dura contra o crime organizado, algo que já não funciona na região desde a “guerra contra o narcotráfico” levado adiante desde 2006, no México de Felipe Calderón. Enquanto isso, vale seguir os passos de Correa, que certamente mirará para o pleito de 2025 como mais uma chance de voltar ao poder.

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5 filmes e séries para entender as crises Argentinas https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/5-filmes-e-series-para-entender-as-crises-argentinas/ Wed, 11 Oct 2023 13:44:35 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=40517 Saiba filmes que podem ajudar a entender a atual situação da Argentina

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Esperando ao Messias, dir. Daniel Burman, 2000 (Amazon Prime)
O filme se passa em 1999 e, portanto, retrata a Argentina antes da crise de 2001, que causou a queda do então presidente, Fernando de La Rúa, e uma maxi-desvalorização do peso. O processo é visto por meio dos olhos de Ariel (Daniel Hendler), um jovem que pertence à enorme comunidade judaica de Buenos Aires, universo onde se passam várias das produções do cineasta Daniel Burman (Vencedor do Urso de Ouro, Festival de Berlin, 2004).

A mãe de Ariel está gravemente doente, e o rapaz luta por conseguir um trabalho numa Argentina às vésperas de um furacão social e econômico.

Num dos momentos mais emblemáticos do filme, Ariel entra num banco para descontar um cheque e vê a porta da agência se fechar na sua cara. Do lado de fora, clientes desesperados para retirar dinheiro fazem balançar as portas da agência, antecipando as tentativas de invasão dos bancos tão comuns na crise de 2001.

Dezembro, 2001 – dir. Benjamín Ávila, 2023 (Star+)
A pior crise econômica, social e política da história do país vizinho é contada em vários planos. No principal, estão os bastidores do poder, as tramas, intrigas e reviravoltas que ocorrem ao redor do então presidente Fernando de la Rúa, que ao final desse processo acaba abandonando o poder, a Casa Rosada e a Argentina a bordo de um helicóptero.

Nos demais planos, vemos como as ruas fervilharam durante a crise, e, depois, viveram uma escalada de repressão e violência. Ao final, os enfrentamentos levaram à morte de 39 pessoas.

O cenário geral era o de uma crise já em estado de metástase, com o desemprego e a pobreza batendo recordes e mostrando que a convertibilidade política econômica instalada no governo de Carlos Menem, em que um peso valia um dólar era uma medida artificial que se mostraria um enorme fracasso a longo prazo.

Cenas comuns daquela época, como os panelaços, saques ao comércio e vidraças de bancos vandalizadas são retratados fielmente, assim como a ascensão dos “piqueteros” e as imagens de uma Buenos Aires quase distópica, com o caos reinando nas ruas.

Interessante observar como há muitas coisas em comum com o momento de crise que o país vive atualmente. A série é baseada no livro “El Palacio y La Calle”, de Miguel Bonasso. A direção é de Benjamín Ávila (de “Infância Clandestina”).

Memória do Saqueio, Fernando “Pino” Solanas, 2004 (no youtube)
Este já clássico documentário sobre as diversas crises pelas quais passou a Argentina, retrata o país desde a ditadura militar (1976-1983) até o “estallido”, de 2001.

Solanas defende a tese de que a degradação econômica da Argentina vem da frustração com a política neoliberal que ocupou espaços de poder depois da redemocratização do país. Também ataca o avanço das multinacionais, a corrupção e o programa de privatizações que começou a ser aplicado nos anos 1990, com apoio da comunidade internacional.

O filme viaja a várias partes da Argentina, tirando do centro das atenções a cidade e a área metropolitana de Buenos Aires e mostrando diretamente a fome, a infância sem educação e a pobreza nas diversas províncias.

Raúl, La Democracia Desde Adentro, dir. Juan Baldana e Christian Rémoli, 2019 (no youtube)
O documentário coloca o foco no primeiro governo da redemocratização argentina, o de Raúl Alfonsín (1983-1989). O político, grande defensor dos valores democráticos, inaugurou um período de esperança e reparação na Argentina. Alfonsín apoia o histórico Julgamento das Juntas, no qual vários dos chefes militares foram condenados, dando início a exemplar e pioneira política de defesa dos direitos humanos da Argentina.

O filme mostra muito de sua vida privada e política. A crise econômica, porém, cresce em seu período, mostrando que nos últimos anos, o regime militar vinha endividando o país e fazendo crescer a inflação. Alfonsín tentou proteger a economia criando uma nova moeda, o Austral. Aos poucos, porém, a experiência se frustra, e o então presidente não consegue deter a hiperinflação.

Nesta época, a moeda argentina se desvalorizava várias vezes num mesmo dia, empobrecendo a população, que saiu às ruas para saquear supermercados e outros estabelecimentos. Alfonsín teve de antecipar a posse de seu sucessor, Carlos Menem, por não aguentar as pressões.

A Odisseia dos Tontos, dir. Sebastián Borensztein, 2019 (Amazon Prime)
Com Ricardo Darín, Luis Brandoni e Verónica Llinás, o filme conta a história de alguns habitantes do povoado de Villa Alsina, na provincia de Buenos Aires, que decide retomar uma cooperativa falida há mais de 10 anos.
Juntam quase todas as suas economias e as depositam num banco. Porém, quando veem que a crise de 2001 ia ganhando corpo, decidem retirar a quantia.

Tarde demais, chegam à agência no dia em que se impõe no país o “corralito”, que bloqueou o acesso dos usuários a seu dinheiro nos bancos. Além disso, são vítimas de um golpe de um trambiqueiro, que esconde a fortuna num cofre debaixo da terra, num sítio com um complicado esquema de segurança.

O grupo, inconformado, decide reaver a quantia, custe o que custar. Numa comédia de alta voltagem humorística, o filme trata de ver o “estallido” de 2001 desde a perspectiva do absurdo.

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Cifra de desaparecidos volta ao debate político na Argentina https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/cifra-de-desaparecidos-volta-ao-debate-politico-na-argentina/ Thu, 05 Oct 2023 12:20:39 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=40306 No último debate eleitoral argentino, no domingo (1), o candidato de ultradireita Javier Milei reacendeu um debate que ocorre na Argentina desde os anos 1970

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No último debate eleitoral argentino, no domingo (1), o candidato de ultradireita Javier Milei reacendeu um debate que ocorre na Argentina desde os anos 1970, o da cifra de desaparecidos durante a ditadura militar (1976-1983). Milei afirmou que não foram 30 mil as vítimas do regime, mas sim 8.753.

No dia seguinte, defensores dos direitos humanos, políticos e analistas trataram de dar continuidade a esse debate tão passional que polariza os argentinos. De um modo geral, a direita sempre tenta diminuir essa cifra, enquanto a esquerda segue aferrada ao número de 30 mil.

Durante a gestão de Mauricio Macri (2015-2019), o embate também ocorreu, pois este se posicionou contra a política de repassar verba às associações de direitos humanos, como as Mães e as Avós da Praça de Maio. A pressão da sociedade foi tanta que Macri se moderou e não tocou mais no tema. Sua posição, porém, levou muitos a novamente questionarem a cifra e a pedir o fim dos chamados “currais” de direitos humanos, ou seja, das organizações que ainda buscam a verdade e a reparação dos crimes da ditadura _e a quem a direita em geral é hostil.

Naquela época, porém, Macri não pôde avançar muito com essa posição ao sentir o grande risco de perder apoio político. Afinal, o tema das vítimas do regime ainda é sensível e comove a boa parte da sociedade argentina.

Milei, porém, sem papas na língua, como sempre, volta com essa ideia de “deixar os anos 1970” para trás. Muito mais agressivo do que Macri tentou ser neste tema, Milei não só afirmou que a cifra de desaparecidos é bem menor que a dos 30 mil. Também reforçou que considera a política de direitos humanos um “curral” com finalidades eleitoreiras, e que “nos anos 1970, o que ocorreu foi uma guerra”, com mortes dos dois lados.

Comecemos pelo número de vítimas, o que de fato se sabe sobre isso? Milei está correto ao afirmar que não foram 30 mil os desaparecidos. Este número, que não foi calculado a partir de nenhuma base empírica, na verdade se tratou de um discurso forjado por argentinos exilados na Europa, fugidos da perseguição política, para chamar a atenção para a repressão que corria solta em seu país.

A primeira contagem confiável dos desaparecidos surgiu com os trabalhos da Conadep (Comissão Nacional de Desaparecidos), instituída pela democracia, no governo de Raúl Alfonsín (1983-1989), cuja principal porta-voz é a ativista Graciela Fernández Meijide, mãe de Pablo, um rapaz então de 17 anos, que foi arrancado de seu quarto, diante de todos os familiares, e que nunca mais voltou.

A Conadep contabilizou, nos anos 1980, com a ajuda de outras instituições de direitos humanos, 7.954 casos de pessoas desaparecidas, com nome, sobrenome e circunstância do desaparecimento.

Essa lista, com o tempo, foi sendo aumentada com a revelação de outros casos que vieram à tona nos primeiros anos do período democrático. Logo, o número ultrapassou os 10 mil desaparecidos.

Porém, essa lista sempre foi alimentada por relatos ou denúncias de familiares ou amigos que podiam dar o nome e o sobrenome de alguém próximo que perderam. Mas não contabiliza os sumiços que não foram relatados por medo de uma possível retaliação ou porque, em muitos casos, eliminou-se toda a família na repressão e não sobrou quem pudesse fazer a denúncia.

Há ainda mais indícios de que o número inicial, da Conadep, não era o mais correto. Por exemplo, um deles surgiu de documentos que tiveram o sigilo derrubado por Washington nos últimos quinze anos.

Tratava-se de uma correspondência entre militares argentinos e chilenos, conversando no âmbito da Operação Condor, em que os primeiros relataram aos colegas do país vizinho que já haviam “eliminado 22 mil pessoas ligadas à subversão”, entre os anos de 1975 e 1978. Ou seja, uma informação que veio da boca dos próprios responsáveis pela repressão.

Portanto, nem 30 mil, nem muito menos 8 mil. Há consenso entre historiadores hoje de que o número real deve estar em torno de 20 ou 25 mil. É importante esclarecer a verdade e contar a história como ela é. Mas lembremos que, nesse estica-e-puxa em que vivem esquerda e direita argentinos, uns jogando a cifra de desaparecidos para cima e outros, para baixo, não há por onde justificar os horrores da ditadura. Se fossem mil ou 500 ou 100 os desaparecidos, por exemplo, o período continuaria sendo nefasto.

Quanto à afirmação de Milei sobre ter havido uma “guerra” nos anos 1970, e que não só os militares que tivessem cometido “abusos” deveriam ser punidos, mas também “os montoneros e o ERP (guerrilhas marxistas urbanos)”, existe uma verdadeira má-fé.

Milei praticamente repetiu letra por letra uma frase do comandante da Marinha da ditadura, Emilio Massera, que dizia que “houve uma guerra, e nessa guerra, forças do Estado cometeram excessos”.

Milei, como muitos antes dele, crê que a violência política deve ser interpretada da mesma forma, como se os crimes de civis pudessem ser equiparados a crimes de Estado.

Milei passa por cima de tratados internacionais, dos quais a Argentina é signatária. O Estatuto de Roma, por exemplo, estabelece que apenas a violência do Estado é um crime de lesa humanidade e que por isso não prescreve nunca, e que delitos cometidos por civis prescrevem depois de um tempo.

Do jeito que Milei expõe, não teria havido condenação a montoneros ou membros do ERP, o que não é verdade. Nos anos 1980, após a redemocratização, dezenas deles foram presos. Após os indultos concedidos por Carlos Menem (1989-1999), a maioria foi liberada, assim como muitos cabeças das Forças Armadas. Quando os julgamentos foram retomados, durante o período dos Kirchner, já era tarde demais para julgar ex-guerrilheiros, por conta da prescrição de seus delitos e o foco ficou nos militares, porque seus crimes são considerados de lesa humanidade.

Mas, talvez, o pior erro de Milei tenha sido dizer que “não há mais que discutir a história, viemos para governar”. Um povo sem memória fica vulnerável a incorporar discursos negacionistas e a perder seu senso crítico sobre os rumos de seu país.

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Evo quer voltar, mais uma derrota da democracia? https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/evo-quer-voltar-mais-uma-derrota-da-democracia/ Thu, 28 Sep 2023 12:37:38 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=40081 Evo Morales anunciou nesta semana que vai se apresentar novamente para disputar as eleições de 2025

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Evo Morales anunciou nesta semana que vai se apresentar novamente para disputar as eleições de 2025. Seria a sétima vez que concorre ao cargo de presidente. O espanto não vem tanto pelo número, mas sim porque tal intenção vai diretamente contra a Constituição que ele mesmo promulgou e assinou. Nela, a Bolívia só permite uma reeleição. Mas Morales já governou por três mandatos e teve sua quarta vitória anulada.

Para quem não está muito familiarizado com a história recente da Bolívia, vale lembrar que Evo começou sua carreira política como líder sindical dos plantadores de coca na província do Chapare, ainda nos anos 1990.

Na época, o país vivia tempos turbulentos, crise econômica, greves, e tensão social. Evo se lançou candidato em 2002, e perdeu.
Depois de um longo trabalho com marqueteiros estrangeiros e sindicalistas bolivianos, saiu vencedor em 2006, numa época em que a América Latina vivia seu “boom das commodities”. O período de bonança serviu a Evo para dar um grande impulso à luta contra a pobreza, um problema crítico do país.

Em 2006, quando assumiu, Evo recebeu o país com PIB de US$ 9 bilhões. Hoje, esse índice é de US$ 37 bilhões. Há 13 anos, os pobres representavam 60% da população. Hoje, são 35%. Nos últimos anos, ainda que interrompido pela pandemia, a Bolívia se tornou o país sul-americano que mais cresce _mais até que Brasil e Argentina.

O que Evo realizou na Bolívia é revolucionário, criou uma nova classe média, realizou obras de infraestrutura, modernizou estradas e até construiu povoados novos de construções de concreto ao lado de onde antes as pessoas viviam em casas de barro e madeira, expostas a animais perigosos e incêndios.

Os benefícios que o povo boliviano recebeu na época são inegáveis. Porém, como passa a tantos, Evo caiu na tentação do autoritarismo. Interpretou que o carinho das pessoas lhe daria legitimidade a uma estada no poder sem limites. E foi aí que deu seu passo em falso.
Reelegeu-se em 2009, com a nova Constituição que dizia que apenas seriam permitidos dois mandatos.

Às vésperas da eleição de 2014, pediu à Suprema Corte, da qual constavam juízes em maioria postos alí por ele, que aceitassem que, na verdade, seu primeiro mandato não valeria na conta, afinal, a nova Constituição é que marcaria seu primeiro mandato. A Corte aceitou.

Naqueles dias, em uma entrevista que lhe fiz no Palacio Quemado (sede do poder em La Paz), perguntei se ele, na próxima vez, ia concorrer também a um quarto mandato. Ele disse: “vou respeitar a lei”.

O que não me contou a mim e tampouco aos bolivianos é que tinha poder, e iria, mudar as leis. Como a crise econômica já dava suas mostras depois do “boom das commodities” e boa parte da oposição se juntou para pedir que não tentasse mais uma eleição, Evo relutou.

Ainda assim, aceitou lançar um plebiscito, se a população dissesse “sim”, ele mudaria a Constituição e concorreria de novo, se dissesse “não”, ele “iria voltar a sua casa no campo, no Chapare”. Pois a população disse “não”, em sua maioria, a derrota foi de 51,3% contra 48,7% para o sim.

A princípio, Evo disse que respeitaria a decisão do povo. Meses depois, porém, sua cúpula e ele mesmo passaram a dizer que esse plebiscito estava “manchado pelas fake news”. Durante a campanha, havia surgido um rumor de que Evo teria tido um filho e abandonado-o. Depois se descobriu que não era verdade, que a criança não existia. Mas para ele, isso teria influenciado no plebiscito, que ele então passou a considerar ilegítimo.

Para voltar ao páreo, ele e sua equipe se armaram de outro argumento. O de que, segundo a Declaração Universal de Direitos Humanos, qualquer cidadão deve ter possibilidades de ser presidente de seu país e, com isso, se não deixassem que Evo participasse, lhe estariam tirando um “direito humano”.

Evo concorreu, em 2019, numas eleições confusas, interrompidas, com um papel no mínimo atrapalhado da OEA ao não reconhecer o resultado. Evo afirmava que tinha ganho, enquanto o país mergulhou no caos.

Manifestantes, opositores, a própria polícia saiu às ruas em desconhecimento do resultado. Evo foi pressionado pelas Forças Armadas a renunciar, algo que fez contra sua vontade, e deixou o país, primeiro para o México, depois para a Argentina.

Eu estava em La Paz nos dias em que esta se colocou em polvorosa, com o país acéfalo. Afinal, Evo havia mandado a todos os que estavam na linha de sucessão a também renunciar. A oposição se apressou, e colocou a primeira representante depois dos que haviam renunciado, no poder, a segunda vice-presidente do Senado, no poder. Seu nome é Jeanine Áñez, e até hoje está numa prisão respondendo a uma condenação que nunca veio.

Evo, sem poder voltar ao país a tempo, escolheu um sucessor para a eleição seguinte, seu apadrinhado Luis Arce. Como acontece em tantas partes, como com Juan Manuel Santos e Uribe, Rafael Correa e Lenin Moreno, o criador acabou voltando-se contra a criatura.
Hoje, Evo e seu sucessor, Luis Arce, mal podem falar entre si, tamanha é a animosidade, e ameaçam rachar o MAS (Movimento ao Socialismo), partido fundado por Evo, composto por sindicalistas e gente “de abajo”.

Agora, Evo lança seu desafio ao grupo de Arce, justamente quando este voltou de dar um excelente discurso nas Nações Unidas, em Nova York. A rusga entre ambos pode durar meses agora. O tema é que a Bolívia, país pobre e com muitas carências, carece mais de um consenso para seu próximo governo do que uma disputa palaciana e que auto-fagocite seu partido mais popular em muitos anos.

Evo tem muito apreço pelo poder, mas não entende que sua onipresença e tramóias para concorrer à Presidência quando já esgotaram suas possibilidades são atos muito prejudiciais para a Bolívia.

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Mulheres disputarão presidência do México https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/mulheres-disputarao-presidencia-do-mexico/ Thu, 21 Sep 2023 12:26:02 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=39891 Nos últimos dias, tivemos a definição de pelo menos duas candidatas mulheres pelas principais forças políticas em disputa. Ou seja, crescem as chances de que o gigante azteca tenha sua primeira mulher presidente, diferentemente de seu vizinho do norte, os EUA

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As eleições do México rolam apenas em 2 de junho do ano que vem. Mas, na segunda maior economia da América Latina depois do Brasil, o tabuleiro eleitoral começa a se mover bastante antes. E desta vez traz novidades.

Nos últimos dias, tivemos a definição de pelo menos duas candidatas mulheres pelas principais forças políticas em disputa. Ou seja, crescem as chances de que o gigante azteca tenha sua primeira mulher presidente, diferentemente de seu vizinho do norte, os EUA, que jamais elegeu um mandatária do sexo feminino.

Mas, quem são elas?
Quem dispara adiante é Claudia Sheinbaum, que até pouco tempo atuou como prefeita da Cidade do México, um dos maiores redutos eleitorais do país. Sheinbaum sai com vantagem porque será apadrinhada por Andrés Manuel López Obrador, o atual presidente, que chega ao fim de seu mandato com mais 60% de aprovação.

Tamanha popularidade alcançada por essa administração obrigou os partidos de oposição, de diferentes filiações ideológicas dentro do espectro político, a unirem-se em uma espécie de frente ampla contra o Morena (Movimento de Regeneração Nacional), partido de AMLO e de Sheinbaum.

Nesta frente, estão juntos de maneira inédita o PRI (Partido da Revolução Institucional), que governou o país por mais de 7 décadas, o PAN (Partido da Aliança Nacional), a oposição de direita, e o PRD (Partido da Revolução Democrática), que nasceu de uma dissidência esquerdista do PRI.

Pois a inusitada formação escolheu uma candidata única, Xochitl Galvez, senadora de origem indígena e independente, que confrontou López Obrador ao mostrar que uma mulher de sua ascendência poderia ter ideias mais à direita. AMLO sempre se gabou em ser o porta-voz dos povos originários de seu país.

Galvez defende uma política dura contra o narcotráfico e a violência _temas que López Obrador menosprezou em seu governo, fazendo com que a cifra de assassinatos aumentasse no país (já são mais de 150 mil mortos em sua gestão). AMLO, desde então, não a deixa em paz, criticando-a em quase todas as “mañaneras”, como são chamadas as coletivas de imprensa que dão todos os dias, a partir das 7h da manhã.

Ainda é cedo para fazer um balanço final do sexênio (como chamam os mexicanos os seis anos de mandato, sem reeleição, que são lei no México), mas o certo é que ele fez avanços no que diz respeito a ajudas aos mais humildes _aumentando em 20% os salários_ e ao fazer uma boa administração da economia, que cresce a 5% ao ano.

Outro elemento que lhe confere muita popularidade é o modo como repassou altas quantias em gasto social para ajudar os mais pobres _foi recorde nos últimos anos_, em vez de privilegiar fábricas de peças e autopartes, que era a política principal que interessavam os EUA de Trump e as estratégicas de seu antecessor, Peña Nieto. AMLO preferiu realizar entregas de planos para a educação e programas de bolsas para universitários. Com ele, o plano de neoliberalismo mexicano que imperou nos anos 1990 deu lugar a um desenvolvimentismo nacionalista, com toques esotéricos em seu discurso.

A oposição, na figura de Galvez, porém, acentua as cores autoritárias de seu governo, e por seu modo demagogo de propagandear os feitos de sua gestão que, ao final, não ficaram à altura de suas promessas de campanha.

Agora, porém, aproxima-se o momento de passar o bastão. E o principal duelo deve ser entre duas mulheres. Aconteça o que acontecer, serão eleições inusitadas e com novidades para este país, tão distante geograficamente do Brasil, mas sobre o qual deveríamos estar melhor informados, por conta de tantos pontos em comum com relação a questões sociais e desafios econômicos.

 

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Pinochet, o vampiro indiscreto https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/pinochet-o-vampiro-indiscreto/ Thu, 14 Sep 2023 18:15:12 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=39650 Não é tarefa fácil fazer um filme cômico com uma das figuras mais nefastas do planeta no século 20, que de fato deixou um rastro de sangue no Chile

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Na sátira política “O Conde”, de Pablo Larraín, o ex-ditador chileno Augusto Pinochet não morreu. Afinal, ele se trata de um vampiro, nascido na França pré-revolucionária com o nome de Claude Pinoche e, hoje, cansado de tomar sangue e não morrer jamais, vive num isolado casarão num ponto indefinido da Patagônia.

Não é tarefa fácil fazer um filme cômico com uma das figuras mais nefastas do planeta no século 20, que de fato deixou um rastro de sangue no Chile. Mas o habilidoso Larraín diretor de “Spencer” (sobre a princesa Diana) e de “No” (sobre o plebiscito que marcou o fim da ditadura chilena) consegue driblar o que poderia ser de mau gosto e acerta em não humanizar o ditador, ao contrário, deixa que as próprias situações pelas quais passa o façam.

Depois de mostrar brevemente sua vida na França, quando viola até mesmo o túmulo de Maria Antonieta e rouba sua cabeça, o jovem Claude Pinoche vai parar no Chile. Segundo a ficção, ele teria fingido sua própria morte, em 2006, indignado por estar sendo julgado por corrupção e não elogiado por ter “matado tantos comunistas”.

Durante a noite, mesmo já velho, o ditador ainda caminha pela casa patagônica usando seus velhos uniformes. Em sua cozinha, há centenas de corações congelados. Quando sente fome fora de hora, desce e prepara um “shake” para se revigorar”. E voa, vai até a Santiago de hoje e a sobrevoa até encontrar uma outra vítima de quem rouba o sangue e o coração.

Numa das cenas mais escalofriantes, o filme, que é todo em branco e preto, mostra Pinochet com sua capa militar no pátio interno do Palácio de La Moneda. Ele vai olhando a fila de bustos de presidentes e sente falta do seu, por isso se coloca entre os de Salvador Allende, o que presidente que ele derrubou, e o de Patricio Aylwin, o primeiro mandatário eleito pós-redemocratização do país.

Pinochet também recebe a visita dos filhos, ávidos por uma herança que ao parecer nunca virá, uma vez que o pai nunca morrerá. Ele vive acompanhado da mulher Lucía Hiriart, uma voz forte da ditadura, que atuava com frequência ao lado de Manuel Contreras, o temido chefe da DINA, a polícia secreta do Chile. No filme, Pinochet também morde Hiriart e a transforma em vampiro, ou seja, ela também nunca morrerá, para o terror dos filhos, que estão quebrados financeiramente.

Quem aparece de visita é “Maggie”, ou Margaret Thatcher, para lembrar os tempos em que Pinochet a ajudou a vencer a Guerra das Malvinas. Ah, Thatcher também é um vampiro e chega voando desde Londres.

Perguntado pelo jornal The Guardian sobre como fazer uma sátira de uma história que ainda é uma ferida aberta para os chilenos, Larraín diz que “qualquer forma de narrativa precisa de uma crise, seja Shakespeare ou seja uma comédia grega. A história recente do Chile é uma crise. Eu não saí dessas fronteiras”, conta.

Num cinema de Santiago, o filme foi visto às gargalhadas do público nas cenas mais cômicas. É de se esperar que os cerca de 30% da população que ainda tem simpatias pelo general sequer pense ir assistir um filme que o pinta de modo ridículo.

“Tivemos de trabalhar muito para saber como abordar Pinochet. Um retrato dele no cinema ou na TV nunca foi feito. A combinação de comédia e sátira, minha opção, talvez seja a única possível”, afirma o diretor. O personagem é encarnado pelo ator veterano Jaime Vadell. “Se evitarmos a sátira, podemos rapidamente cair em um tipo de empatia que não é aceitável”, acrescentou o diretor. O filme já foi exibido em festivais estrangeiros e desembarca amanhã (15) por aqui, numa produção da própria Netflix.

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Filmes para entender o golpe de Estado no Chile https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/filmes-para-entender-o-golpe-de-estado-no-chile/ Thu, 31 Aug 2023 12:14:31 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=39243 Para ajudar a refletir sobre a época, segue a recomendação de 5 filmes, entre clássicos e novidades, que reconstroem a época segundo distintos aspectos

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O golpe de Estado do Chile completa 50 anos no próximo dia 11 de setembro, num momento delicado do governo do esquerdista Gabriel Boric, que começou sua carreira política evocando a figura de Salvador Allende, o presidente socialista que foi derrotado e que se suicidou após o bombardeio do palácio de La Moneda. Este capítulo foi o início da sangrenta ditadura militar chilena (1973-1990), que deixou mais de 3 mil desaparecidos. Para ajudar a refletir sobre a época, segue a recomendação de 5 filmes, entre clássicos e novidades, que reconstroem a época segundo distintos aspectos.

A lista

“Missing” (Costa-Gravas, 1982) – Filme clássico com Jack Lemmon e Sissy Spacek, baseado numa história real, a do jornalista norte-americano Charles Horman, que desapareceu logo após o golpe de 1973. Seu pai e sua mulher o buscam por todas as partes, mas nunca o encontram. O filme, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes, foi banido no Chile até o fim da ditadura, em 1990.

“Aranha” (Andrés Wood, 2019) – Protagonizada por Mercedes Morán, María Valverde e Marcelo Alonso, conta a história de um trio amoroso que compartilha, na juventude, a militância em um grupo de direita, o Frente Nacionalista Patria y Libertad, conhecido pelo símbolo de uma aranha. Nos anos 70, antes do golpe militar, a organização promoveu vários atentados contra apoiadores do governo do presidente socialista Salvador Allende.

“A Batalha do Chile” (Patricio Guzmán, 1975-1979) – A trilogia de documentários traz a visão privilegiada do cineasta que retratou os antecedentes da eleição de Salvador Allende, a tensão social e a polarização da sociedade até culminar no golpe de Estado. Há passagens históricas, como o momento em que o câmera argentino Leonardo Henrichsen é morto enquanto grava o próprio tiro que o alvejou. Guzmán também vai a encontros de trabalhadores, reuniões sindicais e paradas militares e mostra as primeiras aparições daquele que seria o protagonista do golpe, o general Augusto Pinochet.

“No” (Pablo Larraín, 2012) – O drama ficcionaliza a famosa “campanha do não”, que ocorreu em 1988, quando se deu um plebiscito que decidiria se os chilenos queriam que a ditadura de Pinochet continuasse ou não. Baseada em obra do escritor Antonio Skármeta, o filme é protagonizado pelo mexicano Gael García Bernal, que integra a equipe que faz a campanha publicitária para que o “não” vença. O filme mostra como ele conseguiu armar uma estratégia que transformou uma mensagem com uma palavra negativa em algo festivo, alegre, enquanto a campanha do “sim” era burocrática e baseada em números e balanços do regime. O “não” acabou vitorioso, colocando fim na ditadura.

“Machuca” (Andrés Wood, 2004) – Durante o governo socialista de Salvador Allende, encerrado pelo golpe de Estado de 1973, havia um programa do governo que trazia indígenas de comunidades para estudar em Santiago. O filme mostra a relação do menino branco e burguês Gonzalo Infante e o humilde Pedro Machuca, numa escola católica de Santiago. A amizade dos dois mostra a divisão da sociedade chilena. Enquanto a família de Infante apoiou o golpe, a de Machuca sofreu duramente suas consequências, A polarização da época está na origem da cisão política que existe até hoje no país.

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Surge um velho conhecido da Argentina, os saques a supermercados https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/surge-um-velho-conhecido-da-argentina-os-saques-a-supermercados/ Wed, 23 Aug 2023 18:22:32 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=39087 As ondas de saque foram convocadas pela internet, em grupos de WhatsApp, algumas imagens iniciais usadas para provocar os grupos eram falsas, o que levou o governo a afirmar que sequer estavam ocorrendo.

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Quem não se lembra da hiperinflação brasileira nos anos 1980? Ou da Argentina, na mesma década? Em ambas assistimos o que está ocorrendo exatamente agora, nas ruas de Buenos Aires e em cidades do interior: invasões e saques a supermercados.

Na Argentina, isso é mais comum, não depende apenas do aparecimento da temida “hiper” (como é chamada), ocorre regionalmente quando governadores tomam medidas de ajuste, nacionalmente, quando há terremotos que afastam os argentinos do dinheiro, como com o “corralito”, e a crise de 2001.

Curiosamente, o peronismo, se de longe não tem as soluções econômicas para o país, no dia-a-dia consegue frear essas manifestações. Afinal, é a única das forças políticas que têm estrutura de contenção aos mais pobres, realiza distribuição de assistência social, possui estruturas de contato direto nas favelas, que por meio de distribuição de benefícios, conseguem interromper o fluxo de raiva. Durante a pandemia, chegou-se a imprimir dinheiro para distribuir aos mais humildes para que pudessem comer e que se contivessem as manifestações.

O caso é que hoje a Argentina tem um presidente praticamente simbólico, que é visto viajando para posses de outros mandatários, visitas protocolares e nada mais. Parece estar contando as horas até o dia 10 de dezembro, quando por fim abandonará o Sillón de Rivadavia (cadeira onde se senta o presidente em exercício).

Desde a vitória de Javier Milei nas primárias do último dia 13, os saques a supermercados vêm se multiplicando. O fenômeno está relacionado à desvalorização de mais de 30% do peso. Se a conversão ficou favorável aos que chegam à Argentina com dólares ou alguma moeda estrangeira, para os argentinos mais humildes o efeito pode ser passar de ter uma vida pobre a uma miserável. De poder sobreviver de uma “changa” (um trabalho informal) a ver-se diante da perspectiva de tomar empréstimos ou mesmo roubar.

Nos últimos dias, têm se registrado saques em várias localidades: Loma Hermosa, Don Torcuato, Derqui, José León Suarez, Moreno, Grand Bourg. Fora de Buenos Aires, vem ocorrendo principalmente na pujante Mendoza, na turística Neuquén e em Córdoba, segunda mais importante do país. Em todas essas localidades, o comércio de rua fechou mais cedo, temendo o que se anunciava nas redes sociais.

Os políticos reagiram de distintas maneiras, do lado de Milei, apontaram para razões políticas, sugerindo que eram militantes kirchneristas buscando desmoralizar sua vitória nas primárias.
Sua vice, Victoria Villarroel, foi enfática: “Os saques orquestrados em Mendoza, Neuquén e Río Cuarto mostram uma coordenação e uma diretiva concreta para delinquir. Quero deixar claro que, com Milei, não vamos tolerar o delito, seremos inflexíveis”.

Já a segunda colocada no pleito, Patrícia Bullrich afirmou que “as tentativas de saques são o resultado do país em retalhos que nos estão deixando. Nada justifica esses ataques à propriedade privada nem a inação do governo. Necessitamos ordem já”.

As ondas de saque foram convocadas pela internet, em grupos de WhatsApp, algumas imagens iniciais usadas para provocar os grupos eram falsas, o que levou o governo a afirmar que sequer estavam ocorrendo. A história depois foi bem outra. A viralização dessas imagens antigas levou a levantes reais, registrados pelas próprias autoridades locais. Há 56 detidos e um policial ferido. Bullrich pediu a convocação de um estado de emergência.

Muitos analistas e eleitores estão preocupados com o tipo de negociações e de comportamentos dos candidatos daqui até 22 de outubro, quando se celebram as eleições presidenciais.
Porém, essas ondas de saques nos revelam que o problema já é urgente agora e muitos não parecem ter paciência para chegar a saber quem pode administrar essa crise.

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América Latina, uma região em recessão democrática https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/america-latina-uma-regiao-em-recessao-democratica/ Wed, 16 Aug 2023 21:29:39 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38894 A diferença, agora, parece ser que essas cifras já não nos assustam

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A América Latina vive um período de “recessão democrática”, segundo os números da prestigiada pesquisa Latinobarómetro, recém-lançados. A socióloga chilena Marta Lagos, que coordena o estudo, já vinha apontando essa tendência nas últimas pesquisas.

A diferença, agora, parece ser que essas cifras já não nos assustam, basta olhar o noticiário da região a cada semana: aumento da violência, preferências por soluções mais radicais nas eleições (como na Argentina), assassinatos de candidatos (Equador) e baixo volume de comparecimento às urnas, entre outros aspectos. O documento ainda alerta: “A democracia, muito longe de se consolidar, entrou em recessão, e vai deixando os países vulneráveis ao avanço de soluções autoritárias”, diz Lagos.

A Latinobarómetro é um instituto baseado no Chile e que realiza pesquisas anuais, in loco, em 17 países da região. Neste ano, apenas a Nicarágua ficou de fora, por não ter sido permitida a entrada dos pesquisadores no país. O estudo mostra que 48% dos latino-americanos apoiam hoje a democracia como regime político, o que marca uma diminuição de 15 pontos percentuais nos últimos dez anos.

Outras conclusões que vale a pena observar:

A indiferença dos latinomaericanos sobre que tipo de regime preferem aumentou, foi de 16% no ano passado a 28% neste ano;

A preferência por um governo autoritário ante a um democrático subiu de 13% no ano passado para 17%;

Entre os jovens, são 43% os que apoiam a democracia, já entre os mais velhos, essa cifra cresce para 55%;

Esses números explicam, por exemplo, a ascensão de Javier Milei, na Argentina. Segundo o estudo, “as sociedades latino-americanas estão insatisfeitas, desesperadas por soluções”, daí a escolha por supostos “outsiders”, que com respostas radicais e simplórias prometem resolver os graves problemas do país.

Em 2019, houve protestos em vários países por uma mudança da relação do Estado. Os manifestantes reclamavam por melhores pensões, aposentadorias e melhor educação. Esses protestos foram deixados de lado uma vez que chegou a pandemia do coronavírus. Depois, no chamado pós-pandemia, as demandas de 2019 voltaram renovadas. E esse é o ambiente político que se vive na região. As pessoas estão cansadas dos políticos já conhecidos e suas reivindicações aumentaram com o agravamento da situação econômica e a violência em muitos dos países.

Um fenômeno marcado de nossos tempos parece ser o da popularidade de líderes autoritários, como é o caso do salvadorenho Nayib Bukele, que tem mais de 70% de aprovação e é praticamente um ditador. Tendo avançado contra as instituições, com um Congresso totalmente fiel a ele, Bukele mudou a Constituição e muito provavelmente vencerá o pleito de sua reeleição. O fato de haver cartazes de apoio a Bukele em vários países da região mostra que sua estratégia autoritária é popular não apenas em El Salvador.

Quanto a presidentes democráticos que se mostraram fracos para levar seu governo adiante, se vê a reação popular para que deixem seus postos cada vez mais presentes, como ocorreu com Fernando Lugo, no Paraguai em 2012, com Dilma Rousseff, no Brasil em 2016, e com Pedro Castillo, no Peru, mais recentemente.

O estudo Latinobarómetro nos coloca diante de um espelho. De certo modo, já nos sentimos em uma situação assim. O que ele acrescenta é que os números confirmam nossas sensações e nos dão claridade e números precisos sobre o tempo em que vivemos. Na região, emerge uma geração de eleitores pouco interessados nos processos históricos de seus países, que querem transformações rápidas e querem lideranças novas de pulso firme e que os entusiasmem.

Para onde esses fenômenos levarão a região? Teremos de decifrar isso antes de que seja tarde demais.

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Um ano de altos e baixos de Petro na Colômbia https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/um-ano-de-altos-e-baixos-de-petro-na-colombia/ Wed, 09 Aug 2023 15:56:04 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38755 "Estou no governo há um ano, não no poder", e apontou para obstáculos que têm encontrado em outras forças que diz possuírem o poder "de facto", empresas, imprensa, cartéis de narcotráfico.

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Gustavo Petro, presidente da Colômbia, sempre teve um estilo grandiloquente de discursar, buscando a palavra perfeita para ficar nos livros de história. Quando tomou posse, há um ano, parafraseou o escritor García Márquez (1927-2014), mudando o final do romance “Cem Anos de Solidão”. Enquanto o Nobel apontava para um fim catastrófico da espécie humana, Petro prometeu outra coisa aos colombianos: “Hoje começa nossa segunda oportunidade sobre a terra”.

Nesta semana, quando completou um ano no comando do país (em 7 de agosto), o presidente da Colômbia, em entrevista à jornalista Maria Jimena Duzán, demonstrou que sente que tem uma tarefa mais complicada adiante e que não pôde avançar em promessas cruciais de sua campanha. “Estou no governo há um ano, não no poder”, e apontou para obstáculos que têm encontrado em outras forças que diz possuírem o poder “de facto”, empresas, imprensa, cartéis de narcotráfico. Por outro lado, demonstrou otimismo porque crê que sua fórmula é uma alternativa ao neoliberalismo que floresceu no país nos anos 1990, com a nova Constituição, e que vem demonstrando estar liquidado. Isso, segundo Petro, abre espaço para o extremismo de direita e “ameaça o planeta”.

“Por conta da crise econômica, da guerra, da pandemia e da crise ambiental, há uma crise civilizatória, o fascimo cresce porque acabou o neoliberalismo não tem mais soluções”.
Primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia, Petro foi eleito por margem apertada na disputa com o direitista Rodolfo Hernández. Em sua plataforma estava promover a “paz total”, ou seja, a pacificação de um país atormentado pela violência por meio de negociações com os distintos grupos, uma reforma agrária por meio da compra e doação de terras improdutivas, e uma ambiciosa agenda de redução da produção do petróleo e revigoramento da luta contra o desmatamento amazônico.

Mas, quanto de fato pôde avançar Petro?

Uma das mais esperadas promessas de campanha do colombiano é a reforma agrária que consta do acordo de paz assinado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em 2016.
As cifras, porém, ainda estão distantes do ideal. No tratado, se fala de uma entrega de 3 milhões de hectares e a formalização de 7 milhões já ocupadas por camponeses. A gestão Petro chegou a apenas 2% desta meta. O presidente alega ter encontrado vários obstáculos, como a falta de um mapeamento preciso das terras improdutivas e disputas locais de facções criminosas que impedem a atuação do Estado no campo.

Na área ambiental, Petro havia prometido o abandono gradual e avançado do petróleo e do gás, substituindo-os por energias alternativas e renováveis.
Porém, para além dos eloquentes discursos que deu sobre o tema em várias cúpulas internacionais, a gestão não pôde ir muito adiante nesse quesito devido à dificuldade de fazer acordos com empresas privadas que pudessem instalar esses parques eólicos e solares.

Na área de desmatamento, sim, há boas notícias, como a redução de 29,1% do ano passado para este.

O governo, porém, vem enfrentando dificuldades em aprovar projetos no Congresso. Politicamente, a aliança que elegeu Petro, uma frente ampla de esquerda e centro, se desfez, e hoje os conservadores dominam o parlamento. Com isso, ficaram travadas reformas e normas nas áreas econômica e de educação.

A oposição vem ganhando força e isso deve ser visível nas eleições regionais que ocorrem em outubro. Escândalos como os que envolvem os áudios de seu ex-colaborador Armando Benedetti e a prisão de seu filho, Nicolás Petro, não ajudam. Ambos apontam para a possibilidade de Petro ter recebido apoio financeiro para sua campanha vindo do narcotráfico, uma acusação que já custou caro a outros ex-mandatários como Álvaro Uribe ou Ernesto Samper.

Aliado do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, Petro vem navegando águas turbulentas e com protestos da oposição no horizonte próximo.

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As Avós da Praça de Maio são o melhor da Argentina https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/as-avos-da-praca-de-maio-sao-o-melhor-da-argentina/ Thu, 03 Aug 2023 22:31:05 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38716 As Avós criaram, em 1977, uma associação apenas para buscar os netos, ou seja, os filhos desses desaparecidos que teriam nascido em cativeiro

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Poucas coisas são tão gratificantes, na Argentina, quanto o encontro de um neto por parte das Avós da Praça de Maio. Paralelamente à luta das Mães da Praça de Maio, que até hoje buscam os filhos desaparecidos durante a ditadura militar (1976-1983), as Avós criaram, em 1977, uma associação apenas para buscar os netos, ou seja, os filhos desses desaparecidos que teriam nascido em cativeiro. O cálculo é de que 500 bebês vieram ao mundo nos centros clandestinos de detenção.

Enquanto a maioria de seus pais e mães foram assassinados pela repressão, tornou-se uma prática comum que as crianças fossem poupadas. Porém, em vez de serem entregues a familiares, os militares se apropriaram desses bebês, entregando-os, com outra identidade, a amigos e parentes de militares, imaginando que, deste modo, jamais conheceriam sua origem.

Se no início a associação contava com dezenas de avós, estas vêm perdendo para o tempo seus principais membros fundadores. Uma delas ainda resiste, se trata de Estela de Carlotto. Depois de recuperar mais de 100 netos, ela, enfim, encontrou o seu, Ignacio de Carlotto, que havia sido entregue a uma família no campo, que o criou e que ele considerava seus pais até os 30 anos.
Carlotto ainda é das mais ativas, mas muitas das Avós Fundadoras estão envelhecendo e afastando-se da luta, ou mesmo morrendo. Mesmo que essa geração a partir de algum momento não possa mais fazer as buscas, elas certamente continuarão a ser feitas. Aos poucos, vêm assumindo a associação netos recuperados e militantes de direitos humanos.

Foi a pedido das Avós que se construiu um banco de dados genético único no mundo, que é capaz de identificar uma pessoa sem ter o material dos pais, mas sim das avós ou mesmo de primos.
Qualquer pessoa que tenha nascido nos anos 1970 e 1980 e tenha alguma desconfiança de ser um neto apropriado, tem o direito de fazer o teste. Em caso de o resultado dar positivo, as Avós proporcionam a divulgação, não sem antes realizar um trabalho com a ajuda de advogados e psicólogos que preparam a nova documentação da pessoa e a orientam a lidar com suas emoções nesta nova situação.

Mais uma alegria desse tipo ocorreu na semana passada, quando anunciaram a recuperação do neto 133, filho de Cristina Navajas e Julio Santucho. Ele é neto de uma das fundadoras da Associação, Nélida Navajas, que morreu em 2012 e não pôde conhecer o neto perdido. Na ocasião do anúncio, Mario Santucho, o irmão do neto encontrado afirmou: “Meu primeiro pensamento foi e sempre vai ser, para minha mãe e para a minha avó, porque elas nunca deixaram de lutar para nos encontrar e não estaríamos aqui sem elas.”

Hoje o trabalho das Avós e das Mães é reconhecido dentro e fora da Argentina, suas fundadoras andaram pelo mundo dando palestras e recebendo prêmios. Mas não foi assim sempre. No início de suas buscas, Mães e Avós compartilhavam um preconceito da elite argentina, eram chamadas de “Loucas da Praça de Maio” e, durante todo o tempo que durou a ditadura, não tinham presença ou voz nos meios de comunicação argentinos.

A história do neto 133 é como a de tantos outros. Tendo sido apropriado por um integrante das Forças de Segurança casado com uma enfermeira em 24 de marzo de 1977, afirmou que desde jovem teve dúvidas sobre sua identidade. Foi criado como filho único, com uma irmã vinte anos mais velha que já não vivia com a família. Foi ela que, um dia, contou ao caçula que ele não era filho biológico daquele casal. O rapaz, então, confrontou o pai adotivo duas vezes, mas nas duas recebeu a resposta de que ele, sim, era seu pai biológico. Inconformado com a resposta, o rapaz entrou, então, em contato com as Avós, fez teste de DNA, que foi comparado com a base de dados genéticos e teve sua identidade confirmada em 26 de julho último.

É normal que os netos encontrados não saiam à luz logo de cara, há todo um trabalho de reconstrução da história verdadeira, contatos com os pais adotivos e até a emissão de novos documentos, do DNI (o RG argentino) ao passaporte. A mãe morreu no centro clandestino em que deu à luz ao neto 133, o pai, escapou para o exílio. No dia do anúncio, seu pai, Julio Santucho, tinha lágrimas nos olhos. “É uma vitória da democracia e uma derrota da ditadura, porque eles quiseram roubar nossos filhos e os estamos recuperando”.

Ao entregar essas crianças para adoção, os militares não pareciam desconfiar de que essa mentira teria pernas curtas. Muita luta, muita pesquisa e investigação, fazem reviver uma geração inteira que tinha tido sua identidade roubada. É dos poucos assuntos que unem a sociedade argentina. A cada descoberta de um neto, o país chora de emoção. E aqueles que maquinaram a ditadura recebem essa dura e merecida resposta da história.

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EXCLUSIVO: Sylvia Colombo entrevista o presidente Santiago Peña https://canalmynews.com.br/politica/exclusivo-sylvia-colombo-entrevista-o-presidente-santiago-pena/ Sat, 29 Jul 2023 01:02:52 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38659 Saiba o que pensa o presidente Santiago Peña sobre Mercosul, moeda única, integraçao e Lula

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Sylvia Colombo entrevista um dos mais jovens mandatários da região, o recém-eleito Santiago Peña, 44, conversou com exclusividade com o MyNews a poucos dias de tomar posse como presidente do Paraguai, no dia 15 de agosto.

Em sua passagem por São Paulo, Peña nos contou que pretende aproximar-se do presidente Lula, apesar das diferenças ideológicas, e avançar em pautas comuns, como o acordo do Mercosul com a União Europeia, a integração regional e obras de engenharia que conectem os países. O paraguaio, porém, não está de acordo com a implementação de uma moeda comum no bloco, ideia debatida entre Brasil e Argentina.

 

Confira aqui a entrevista completa: 


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Equador tem eleição e Estado de emergência juntos https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/equador-tem-eleicao-e-estado-de-emergencia-juntos/ Thu, 27 Jul 2023 10:42:31 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38630 A disputa por território tem gerado uma série de consequências graves, incluindo sequestros, extorsões e homicídios, afetando a segurança da população em geral.

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Ter um país instável e violento na região não é uma boa notícia para nenhum vizinho. É por isso que as autoridades sul-americanas, e brasileiras especialmente, deveriam ter oferecido apoio há tempos, garantindo que o Equador pudesse realizar eleições realmente limpas e, sobretudo, pacíficas neste próximo dia 20 de agosto.

Vamos lembrar que o mandato do atual presidente, Guillermo Lasso, foi interrompido pelo mecanismo conhecido como “morte cruzada”, quando as relações entre o Congresso e o Executivo atingiram um limite crítico, levando Lasso a decretar o fechamento do Congresso e a renunciar ao poder, convocando novas eleições gerais.

Uma das principais razões para o desgaste de Lasso foi a crise nas prisões, um problema que já vinha aumentando antes de que tomasse posse e que se agravou durante o seu período no governo.

A violência tanto dentro como fora das grades tem sua origem na internacionalização do narcotráfico equatoriano, com a entrada de cartéis estrangeiros fortalecendo os já existentes no país. Hoje em dia, atuam no Equador cartéis mexicanos, colombianos, ex-guerrilhas, dissidentes, facções venezuelanas e outras organizações ligadas ao tráfico de drogas, como a Máfia Balcânica, organização albanesa instalada no país há mais de uma década.

O narcotráfico aproveitou-se da crise econômica e social que o Equador enfrenta, e que ficou evidente com a revolta dos indígenas contra o empréstimo do FMI em 2019. Essa crise apenas se agravou no cenário pós-pandemia, proporcionando um ambiente favorável para o crescimento das atividades ilícitas relacionadas ao tráfico de drogas.

Nos últimos meses, entre os imigrantes clandestinos que buscam chegar aos EUA, a população de equatorianos é a que mais tem crescido, ao lado dos haitianos, de acordo com dados das Nações Unidas.

A disputa por território tem gerado uma série de consequências graves, incluindo sequestros, extorsões e homicídios, afetando a segurança da população em geral. Nas prisões superlotadas, há massacres entre gangues e confrontos promovidos pelas forças de segurança.

Lasso, sem apoio no Congresso, não teve poder político nem pessoal para enfrentar esse desafio, desde o primeiro dia. Ele diz, em sua defesa, que esses distúrbios seriam causados por forças relacionadas a seu rival, o ex-presidente Rafael Correa, condenado por corrupção e fora do país.

Nesta semana, o mandatário decretou estado de emergência nas prisões e impôs um toque de recolher noturno em três províncias da costa, após um fim de semana marcado pela morte de oito pessoas, incluindo um prefeito.

Com o Estado de Emergência, Lasso tem como objetivo libertar dezenas de agentes penitenciários que estão sendo mantidos como reféns. Por outro lado, organismos de direitos humanos alertam para abusos que estariam sendo cometidos contra os detentos.

Impossível não temer distúrbios no próximo dia 20 e nas semanas seguintes à eleição. A comunidade internacional deveria estar mais alerta.

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Ainda é tempo de “negociar” com Maduro? https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/ainda-e-tempo-de-negociar-com-maduro/ Wed, 19 Jul 2023 22:10:37 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38554 Que forças têm Brasil, Argentina e Colômbia de resolver as principais sanções que hoje pesam sobre a Venezuela? Poucas. França e Europa, talvez, por sua voz protagonista na geopolítica, mas quem precisa ser convencido mesmo disso é Joe Biden.

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Curioso que tenha havido tanta celebração no governo brasileiro e tanto tambor midiático ante a notícia de que, em Bruxelas, uma reunião entre regime e oposição venezuelanos, Brasil, Argentina, Colômbia, França e União Europeia, chegou a um acordo para garantir eleições livres no país caribenho.

Esses líderes pediram ao regime que o pleito, a ser realizado em outubro de 2024, tenha acompanhamento internacional e seja “justo para todos, transparente e inclusivo”, além de contar com a “participação de todos os que desejam”. Na sequência, mais bondades foram sugeridas, como a suspensão de todas as sanções impostas hoje contra a Venezuela. Em troca, Maduro “apenas” teria de oferecer eleições livres. E a oposição, o trato de chegar a um candidato único escolhido nas primárias de outubro.

Até aqui, aparentemente, só boas notícias. Mas vejamos os detalhes, uma vez que, afinal, tudo é detalhe!

Que forças têm Brasil, Argentina e Colômbia de resolver as principais sanções que hoje pesam sobre a Venezuela? Poucas. França e Europa, talvez, por sua voz protagonista na geopolítica, mas quem precisa ser convencido mesmo disso é Joe Biden.

Os líderes que querem ajudar pedem que a votação tenha acompanhamento internacional. Bem, as anteriores não tiveram, exceto o de uma meia dúzia de países “amigos”, que só ratificaram o resultado _esperamos que Brasil e Colômbia não se prestem a essa tramoia. A Venezuela precisa de um grupo de observadores robustose que inclua organismos internacionais reconhecidos e independentes, como a OEA e União Europeia. Na semana passada, o líder do Congresso chavista, Jorge Rodríguez, disse que os europeus (“parentes dos conquistadores”) estariam fora.
Quando se fala de uma votação inclusiva, isso inclui o 25% da população venezuelana que está no exílio? A oposição exige que sim, o regime crê que quem saiu não tem voz. Bom, apenas aí, já se pode definir a eleição.

Mais, para que a oposição chegue a um candidato único, é preciso que eles sejam habilitados. Os três principais não estão, Henrique Capriles, Juan Guaió e María Corina Machado. Como eles vão disputar as primárias mesmo assim, é uma chance de o regime tornar suas candidaturas legítimas.

Ultrapassados esses imensos obstáculos, Maduro prometeria realizar eleições livres. Mas não se iluda. Ele já fez isso várias vezes. Seu modus operandi ao longo desses anos autoritários foi o de, a princípio, aceitar de boa a entrada em negociações, diálogos e conversas. Mas, uma vez aí, ele as estica até onde for possível. Até que, de repente, abandona o barco por um detalhe técnico ou por birra e nada ou muito pouco do que se tratou, de fato se cumpre.

Alguns exemplos?

Entre 2002/2003, houve a mesa de diálogo da OEA (Organização dos Estados Americanos). Na época, o secretário-geral era César Gaviria, o ex-presidente colombiano. Dessas mesas de diálogo, participaram representantes do governo e da oposição. Houve tantos desencontros que Gaviria anunciou a suspensão da mesa por “falta de vontade política” das duas partes.
Outra tentativa foi o grupo Boston, em 2002, uma comissão interparlamentaria convocada pela Assembleia Nacional e com apoio da OEA. O objetivo era revisar práticas legislativas e eleitorais entre lideranças norte-americanas e venezuelanas. Foi nessa ocasião que John Kerry iniciou uma tentativa de diálogo com Maduro, que também fracassou​.

Em 2016, ganhou força a campanha por um referendo revogatório, recurso que consta na Constituição e que permite à população aceitar ou não a continuidade de um líder até o fim de seu mandato. O governo, a princípio, havia topado conversar sobre a possibilidade, mas impôs à oposição regras impossíveis de seguir. Em outubro do mesmo ano, o Conselho Nacional Eleitoral (órgão chavista) suspendeu a convocatória para o referendo, alegando fraude por parte dos partidos de oposição em sua coleta por assinaturas. Nesta época, recrudesceram ainda mais os protestos de rua que haviam começado em 2014. Quando esses protestos se intensificaram, direcionando-se a uma marcha até o palácio de Miraflores (sede do governo venezuelano), Maduro pediu a intermediação do papa, que diluiu o aspecto violento das manifestações.

O ambiente turbulento e de tensão nas ruas continuou em 2017, quando governo e oposição concordaram em reunir-se em Santo Domingo, na República Dominicana, para discutir uma estratégia de paz. As diferenças internas foram tão grandes que o então presidente do país, Danilo Medina, se viu forçado a suspender a mesa.

Por fim, a atual mesa de negociações, a do México, andou algumas rodadas, até que o regime abandou-a em repúdio a extradição de um preso político ligado ao chavismo para os EUA
A partir daí, o regime reforçou os contornos mais autoritários que vemos hoje, com um sem-número de forças especiais atuando na repressao, a quantidade recorde de presos políticos, a eleiçao criminosa e ilegal que praticamente substituiu o Parlamento oficial por um paralelo, e mais de uma eleiçao de fachada de governadores e a presidencial de 2018, na qual Maduro saiu “vitorioso”.

É bom que Lula se proponha a ajudar para que as eleições na Venezuela ocorram de modo legítimo. A região se beneficiaria muito com uma Venezuela democrática e, mais que nada, os próprios venezuelanos, que sofrem perseguição, fome e exílio, entre tantas dificuldades. Só que essas eleições não podem ser “relativas”. Precisam ser justas, abrangentes, com contagem reconhecida. Ou, simplesmente, não serão nada, e estenderiam o predomínio chavista sabe-se lá por quantos anos

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Alerta para as comemorações do 11 de Setembro no Chile https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/alerta-para-as-comemoracoes-do-11-de-setembro-no-chile/ Thu, 13 Jul 2023 15:31:19 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38478 Os desafios de Boric para encontrar um consenso são enormes, e sua debilidade começa a se fazer notar, em suas diferenças com o Congresso e com a incapacidade, sequer, de nomear alguém de sua confiança para comandar a memória de data tão nefasta para o Chile.

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A noite em que se conheceu que Gabriel Boric seria o novo presidente do Chile, em 19 de dezembro de 2021, foi de festa para os progressistas. Desde socialistas de antiga data, a allendistas, partido comunista, centro-esquerda e a chamada “direita democrática”, que se assustou com o avanço da extrema-direita que representava a opção de José Antonio Kast, saíram para comemorar.

Porém, lembro-me que, voltando daquela cobertura do centro até o hotel em Santiago, já avançada a madrugada, me topei com um grafitti recém pintado num muro: “Boric, não brinque com os presos políticos!”.

A assinatura era clara, tratava-se dos jovens representantes de esquerda do Partido Comunista e de outras agrupações relacionadas. Eles, que foram o coração dos protestos de 2019 e que deram o primeiro passo para a instalação da Assembleia Constituinte (primeira versão), já vinham mostrando desgosto com Boric.

Primeiro, porque se afastava de sua base eleitoral para aproximar-se do centro político e até da direita. Hoje, teve de retroceder em vários pontos progressistas de sua agenda e até celebrar os Carabineros responsáveis por abusos de direitos humanos nos protestos. Tampouco liberou os chamados “presos políticos”, detidos naquela fase, ou fez gestos de resolver as questões de violência no Sul, que vira e mexe recebe intervenções militares.

O partido comunista já não se vê representado por ele e aproveita todas as oportunidades para criticá-lo.

O mais recente desses episódios ocorreu no último mês. Boric havia nomeado o escritor e jornalista Patrício Fernández, criador da revista The Clinic e progressista, para cuidar das comemorações dos 50 anos da ditadura chilena (1973-1990), que ocorrem no próximo mês de setembro.

Pois, integrantes do PC foram vasculhar tuítes e postagens de Fernández, e encontraram ali o que alegam ser uma campanha de relativização da ditadura. Junto a outras 160 agrupações relacionadas à defesa dos direitos humanos, pediram sua cabeça a Boric.

A principal discórdia ocorreu num trecho de uma entrevista de rádio em que Fernández foi entrevistado pelo sociólogo Manuel Antonio Garretón. Na entrevista, o jornalista, que fez parte da Assembleia Constituinte, afirmou que era necessário estudar mais as razões do golpe militar e que atitudes do presidente socialista Salvador Allende poderia ter provocado o giro dos militares contra ele.

As críticas foram ferozes. Patrício Fernández retrucou que nunca justificaria um golpe de Estado. Porém, seu cancelamento nas redes sociais e no ambiente político foi rápido. Enquanto isso, membros da oposição atacaram a esquerda, por sua virulência contra um de seus próprios integrantes. A fogueira já estava acesa e vários representantes dos partidos de direita, estes sim, saíram a dar declarações relativizando a ditadura.

“Eu sim justifico o golpe militar, vimos o cancelamento imediato de uma pessoa de esquerda que não era suficientemente de esquerda para o setor mais radical”, disse Jorge Alessandri (UDI).

Foi demais para Fernández, que renunciou ao posto. “Minha pessoa se transformou num obstáculo para o bom desenvolvimento dessa comemoração. O desafio é tão grande e importante, que peço que entendam porque estou dando um passo para o lado”.

Para não causar mais turbulências nessas delicadas comemorações do 11 de Setembro, não nomeou um novo nome, e sim encarregou distintos ministérios de cuidar das atividades que ocorrerão no período.
O período militar chileno fez mais de 3 mil vítimas, entre mortos e desaparecidos, dentre os quais apenas 307 foram até hoje identificadas.

Com a esquerda rachada, brigando entre si, e os ultradireitistas ganhando tração, uma vez que derrotaram a Constituinte no ano passado e agora são maioria na nova Assembleia, o Chile chega à data histórica de 50 anos de uma ferida que, em vez de estar cicatrizando-se, parece reabrir.

Os desafios de Boric para encontrar um consenso são enormes, e sua debilidade começa a se fazer notar, em suas diferenças com o Congresso e com a incapacidade, sequer, de nomear alguém de sua confiança para comandar a memória de data tão nefasta para o Chile.

Ainda neste ano, os chilenos voltarão às urnas para decidir sobre a segunda versão da nova Constituição. Uma derrota do governo ali pode significar que a estrada estará ainda mais aberta à extrema-direita no Chile.

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Quem se importa com o colapso da democracia na Guatemala? https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/quem-se-importa-com-o-colapso-da-democracia-na-guatemala/ Thu, 06 Jul 2023 15:21:40 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38371 O governo brasileiro ainda não se pronunciou sobre a anulação do primeiro turno das eleições na Guatemala, um grave avanço contra as instituições num importante país da América Central.

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O governo brasileiro ainda não se pronunciou sobre a anulação do primeiro turno das eleições na Guatemala, um grave avanço contra as instituições num importante país da América Central. Este pedaço do mundo que, aparentemente, está abandonado pela comunidade internacional, embora esteja no coração das relações entre norte e sul.

Não se trata apenas do Brasil, nenhuma outra economia importante da região, ao menos até o fechamento deste texto, havia se manifestado com relação à escalada do autoritarismo no país e em seus vizinhos, algo cada vez mais visível e palpável, embora apenas se transforme em assunto de interesse especial quando impacta na questão imigratória aos EUA.

Há meses se discute a legitimidade das eleições guatemaltecas, marcadas pela anulação de candidaturas discordantes com a linha do atual presidente, Alejandro Giammattei. O mandatário vem avançando nos últimos meses contra a Corte Suprema, o Congresso, a oposição e os jornalistas independentes deste país.

Quando foram anunciados os vencedores do primeiro turno, Sandra Torres (centro-direita) e Bernardo Arévalo (centro-esquerda), sentiu-se que o país centro-americano poderia afastar-se do autoritarismo de Giammattei, afinal, seria um resultado considerado “zebra” e que assustaria os empresários conservadores do país.

Em conversa com o My News, em Bogotá, José Zamora, filho do jornalista José Rubén Zamora, condenado a seis anos de prisão por conta das denúncias de corrupção divulgadas em “El Periodico” disse que “Não é possível que tudo na Guatemala possa mudar tão rápido. Estávamos trabalhando em recursos para tirar meu pai da cadeia antes, por conta das irregularidades no processo, e achávamos que com esse resultado do primeiro turno seria propício, mas agora, nada está certo.”

Segundo o Human Rights Watch: “Os latino-americanos sabem o que é perder o direito ao voto. Nossos governos não deveriam ficar em silêncio enquanto uma elite corrupta coloca em risco esse direito fundamental na Guatemala”, afirmou Juan Pappier, diretor para as Américas do organismo.

Para quem não acompanhou, as eleições do último dia 25, como se previa, terminaram com um resultado fragmentado e levando para um segundo turno pelo menos um candidato inesperado (Arévalo). Uma reeleição de Giammattei seria impossível, porque no país não há esse recurso. Porém, se esperava que outro candidato conservador chegasse à final. Arévalo, filho de um ex-presidente guatemalteco, abraçado à ideia de proteção do ambiente e a um certo progressismo, espantou os donos do poder no país.

Por conta da pressão de partidos de direita, a Corte Constitucional pediu a recontagem dos votos e terminou por anular os resultados do primeiro turno, colocando o país no limite de um governo autocrata ou de uma ditadura. A decisão recebeu críticas da União Europeia e da OEA (Organização dos Estados Americanos), porém, foi ignorada pontualmente por países como o México, a Argentina ou o Brasil.

É preciso ser míope para não entender que o que ocorre na Guatemala afeta o Brasil e a região diretamente. Trata-se de um país golpeado pela violência do narcotráfico, na rota das distintas imigrações aos EUA e na porta de entrada da América do Sul. “Se houver um cancelamento das eleições, será outro sinal de que a elite corrupta da região ainda tem o poder de se sobrepor à vontade do eleitorado”, disse Jeremy McDermott, do Inside Crime.

Reunidos em Puerto Iguazú, nesta semana, os mandatários de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, sequer puderam chegar a uma posição comum sobre a Venezuela, que acaba de cancelar a candidatura de María Corina Machado, uma opositora tradicional ao regime que vinha se projetando com força para as eleições de 2024. Quanto à Guatemala, então, nenhum gesto.

Enquanto posicionar-se quanto à democracia na Venezuela parece atender a uma lógica de apoios internos de cada país, dos pontos de vista ideológicos e eleitorais, o que se pode dizer sobre posicionar sobre a Guatemala, que nenhum crédito a ninguém parece trazer desde as urnas?

Uma lástima completa. Se a tal democracia regional fosse de fato de interesse desses líderes, teríamos uma posição de repúdio com relação ao que acontece no país centro-americano.

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Para que servem as primárias argentinas? https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/para-que-servem-as-primarias-argentinas/ Thu, 29 Jun 2023 12:06:08 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38283 A pergunta parece óbvia, mas a resposta, não tanto. A corrida presidencial na Argentina já está a todo vapor

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A pergunta parece óbvia, mas a resposta, não tanto. A corrida presidencial na Argentina já está a todo vapor e com viradas de roteiro estonteantes a cada semana – isso para uma população que acompanha a política quase de modo tão visceral como faz com o futebol.

Apesar de a votação geral ocorrer apenas em outubro, as atenções agora estão presas às eleições primárias. Ou, como seu nome oficial indica, as Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO), marcadas para o próximo dia 13 de agosto.

Esse recurso foi implementado em 2009, durante o primeiro mandato de Cristina Kirchner. A ideia era que os eleitores decidissem, por meio das urnas, quem preferiam que fosse o candidato por cada uma das forças políticas. Porém, apesar de serem os criadores das PASO, os kirchneristas jamais as respeitaram em sua vocação principal.
Corrente altamente dependente de um líder personalista _ no passado, foi Juan Domingo Perón ou Carlos Menem; recentemente, Néstor e Cristina Kirchner_, os kirchneristas, principalmente, jamais conseguiram apresentar duas opções viáveis para uma sucessão.

Outros partidos também fazem isso, foi o caso de Mauricio Macri na última eleição, na qual saiu derrotado, e o próprio peronismo, que jogou todas as suas fichas em Alberto Fernández. Este chegou ao posto e fracassou.

No caso das PASO atuais, medo de perder, de desgastar o partido em fricções internas e centralismo da decisão do líder, fazem com que, mesmo antes da primária, a força política se una em torno de um só nome. Apontado praticamente ao estilo “dedazo” mexicano pelo caudilho da vez. Desta vez foi Cristina Kircher, que escolheu como seu nome na disputa ao atual ministro da economia Sergio Massa.

A única força que chegará às PASO de fato para disputar a vaga em uma chave será o Juntos por el Cambio, coligação encabeçada pelo ex-presidente Mauricio Macri. Aí disputarão, de um lado, Horacio Rodríguez Larreta, astuto e pragmático chefe de governo da Cidade de Buenos Aires, contra Patricia Bullrich, admiradora de Bolsonaro e amiga de Sergio Moro, que tem discurso de mão dura com relação ao narcotráfico.

É preciso ficar de olho nessa disputa, uma vez que, nas pesquisas e nas eleições regionais, é o Juntos Por el Cambio quem vem ganhando mais cargos regionais e pontuando adiante na pesquisa para intenção de voto.

O peronismo também terá duas fórmulas, mas muito desiguais, concorrendo aí. Desiguais porque Massa, ao ser o escolhido de CFK terá toda a máquina pública para fazer sua candidatura decolar. Conta contra ele, porém, o fato de ser o ministro de economia de um país com inflação de 3 dígitos. Mas, por ora, ele não parece ter muita dificuldade em derrotar seu rival nas PASO, o líder ativista Juan Grabois.

As PASO também servem, e neste ponto funcionam, para filtrar as candidaturas de nanicos muito nanicos. É preciso obter mais de 1,5% dos votos nas PASO para seguir em qualquer candidatura.

Com todos seus problemas, as primárias argentinas são um avanço num sistema político que costumava ser caótico com demasiados candidatos. Temos, inclusive, tido exemplos catastróficos em países da região que não adotam sistemas semelhantes, como Equador e Peru.

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Por que precisamos falar sobre o México? https://canalmynews.com.br/politica/por-que-precisamos-falar-sobre-o-mexico/ Wed, 21 Jun 2023 16:50:51 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38154 Confira a coluna da Sylvia desta semana

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Este particular país da América do Norte, porém identificado culturalmente na America Do Sul,verá o fim do chamado sexênio (no México, as gestões são longas e sem reeleição), em 1 de julho de 2024. Um período em que, se por um lado imprimiu uma nova cara ao modo de fazer política num mundo em transformação, por outro preferiu isolar tanto seu país em termos de relações e investimentos internacionais, ao não chamar ao debate lideranças, opositores, referentes de outros países. “Outros países têm problemas, eu me dedico a resolver os de México, diz AMLO”, quando perguntado por essa questão.

AMLO é o primeiro presidente de sua força política, o Partido da Regeneração Nacional, o Morena, fundado por ele. Surgiu, em seus primórdios, do próprio PRI, e foi se afastando por desavenças.

É fato que o gasto social referente a ajudar os mais pobres foi recorde nos últimos anos, em vez de privilegiar fábricas de peças e autopartes, que era a política principal que interessavam os EUA de Trump e as estratégicas de Peña Nieto. AMLO preferiu estradas novas e entregas de planos para a educação e programa de bolsas. Um plano de neoliberalismo mexicano dava lugar a um desenvolvimentismo nacionalista, com toques esotéricos em seu discurso.

Suas altas aprovações, medidas entre 65% e 70% nos mostram que em algo se avançou.

Porém López Obrador vem se debilitando por não ter o Congresso para ajudá-lo em suas reformas de modo tão fácil como no começo, foi obrigado a aceitar a pressão dos EUA em pressionar migrantes centroamericanos a não irem aos EUA, a reprimir, e é aí que seu governo tem encontrado dificuldades, além de ter tido uma posição algo irresponsável no caso das vacinas de Covid-19. Eram famosos os vídeos em que Lopez obrador ia a comércios populares para estimular que as pessoas mantivessem viva a cultura local.

A corrida pela sucessão de AMLO já está lançada. Como este é o principal líder da luta, as primárias do país, que ocorrem em distintas rodadas, praticamente será acompanhada com se fosse novela, entre os que preferem a candidata Claudia Sheinbaum, e seu diálogo talvez também algo esotérico, e o do ex-secretário de Estado Maurício Ebrard, que surge como opção mais séria, moderada do que é AMLO. Como o México não tem figura de vice-presidente, Ebrard é uma espécie de mão do governo em todas as áreas. Seria estranho que ele não se candidatasse. Em se tembro de setembro, conheceremos os resultados das corridas intra-candidatos.

Não devemos nos furtar a dizer que Ebrard tem mais experiência com os EUA, e poderá lidar com melhores acordos com a Latam no que diz respeito a fluxos migratótios, enquanto Sheinbaum não lhe doerá o punho apoiar as decisões mais linhas dura de AMLO.

Não devemos demorar a trazer a voz do povo aqui. AMLO é amado por mais de 65% dos mexicanos, dos 70% que querem que ele continue com o cargo. Embora isso seja impossível pela Constituição, é comum, por exemplo na hora do PRI, que em algum momento o atual mandatário unja seu preferido com o famoso “dedazo”, ou seja, dizendo que a máquina do Estado será disponibilizada que para este se eleja. Essa técnica funcionou durante as 7 décadas de poder do PRI. Veremos algo distinto agora?

Com o rápido de desgaste de Claudia Sheinbaum contamina algo pouco saboroso que teve de entregar a seus eleitores: uma política mais dura e repressiva no que diz respeito à imigração ilegal.
Enquanto o cenário não se termina de formar, as eleições primárias do Morena ganham espaço de novela nacional cujo episódio será no dia 6 de setembro. Se levantará AMLO para indicar sua sucessora ou sucessor?

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Haverá um apagão informativo na América Central? https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/havera-um-apagao-informativo-na-america-central/ Wed, 14 Jun 2023 17:47:17 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=38069 Confira a coluna da Sylvia desta semana

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Num passado não muito distante, à exceção de Cuba, era inimaginável que outros países da América Latina vivessem tamanha perseguição a seus meios de comunicação independentes.
Essa situação, porém, vem escalando na América Central e na Venezuela. Nos últimos meses, vários governos, alguns ainda democráticos, outros ditaduras em formação ou já instalados como tal, avançaram contra as instituições e contra a liberdade de imprensa.

Nos próximos dias, a Justiça da Guatemala emitirá uma sentença contra José Rubén Zamora, que já está preso há quase um ano. Aos 66, Zamora, fundador do mais tradicional jornal guatemalteco, “El Periódico”, que circulava desde 1996 e fechou no mês passado, pode pegar até 40 anos de cadeia.
A acusação é por fraude e por não entregar contas claras à receita local. Sua defesa nega, e reafirma que o processo é político.

“Alejandro Giammattei [presidente da Guatemala] parece usar um manual do ditador latino-americano moderno. Em vez de perseguir diretamente jornalistas e meios de comunicação por algo que publicaram, avançam sobre eles de modo gradual e pelo caminho das finanças, afogando, aos poucos, essas empresas pelo lado econômico”, disse José Zamora, filho de Rubén, ao MyNews, desde Miami, onde foi viver com a família por conta de ameaças.

Já em El Salvador, o governo autoritário de Nayib Bukele avança rapidamente contra todas as instituições do Estado. Já tem maioria no Congresso em eleição polêmica, e ainda assim quer reduzi-lo, nomeou ele mesmo uma nova Suprema Corte, mudou a Constituição para poder se reeleger e, como não podia ser diferente, avançou contra os meios de comunicação independentes. O alvo principal, no caso, é o El Faro, jornal digital essencial para a cobertura não apenas do que ocorre em seu país, mas também em outros em que sequer há imprensa livre, como Honduras.

A perseguição ao El Faro também seguiu as medidas do tal “manual”, mencionado por José Zamora. Investigação de suas finanças, várias operações de busca, acusação de não cumprir com as regras tributárias. O El Faro tem prêmios internacionais por cobrir os dramas da região hoje, e era o único jornal local a mostrar assuntos que Bukele não gostaria que fossem públicos. Entre eles, suas negociações com as “maras”, contra quem, depois, lançaria uma guerra. Sem poder continuar resistindo a pressões, no início de abril, o El Faro mudou sua sede para a Costa Rica, que aos poucos vem sendo o principal abrigo para jornalistas e opositores de governos autoritários da região.

Em conversa com o MyNews, o jornalista Carlos Dada, um de seus fundadores, disse que o país vem vivendo o desmonte da democracia, o fim dos pesos e contrapesos na cúpula do poder e a destruição de mecanismos de transparência. O jornal e sua equipe também foram espionados usando o sistema Pegasus e exposto de modo negativo na TV estatal.

“Nós não vamos mudar em nada nossa cobertura de El Salvador, mas faremos de modo diferente, com alguns jornalistas lá, mas a sede do jornal num país que pode nos garantir certa estabilidade”, adiciona Dada.
Também na Costa Rica opera o jornal nicaraguense El Confidencial, um pioneiro nesta saída de críticos de Daniel Ortega nessa nova onda de exílio. Seu editor, Carlos Fernando Chamorro, conta que, nos últimos tempos, tem reforçado a proteção de suas fontes na Nicarágua, onde qualquer um que lhe passar informação corre o risco de ser preso. “Já não identificamos quem nos passa a informação, tampouco damos nomes de quem colabora conosco estando na Nicarágua, só assim podemos circular com certa segurança”, disse ao MyNews.

Por fim, fora da América Central, mas com desafios parecidos, está a Venezuela, que há mais de 480 dias vem sofrendo um bloqueio de internet, sob ordens do ditador Nicolás Maduro. O Efecto Cocuyo, principal diário independente, lançou uma campanha em que venderá 480 NFTs (token não fungível) colecionáveis por US$ 190, numa campanha para ajudar o jornal a se financiar neste importante ano pré-eleitoral. Em outubro, a Venezuela terá eleições primárias para escolher o candidato da oposição e, no ano que vem, as presidenciais.

“Essa campanha é mais importante agora em vésperas desses acontecimentos políticos, porque há muito em jogo nessa eleição e vamos precisar atuar para combater a desinformação e as mentiras da ditadura”, diz uma das fundadoras do Efecto Cocuyo, Luz Mely Reyes, ao MyNews. Luz Mely também está fora da Venezuela.

Para responder à pergunta sobre se haverá ou não um apagão informativo na região, a resposta imediata é “não”, muito por conta desses valentes colegas que resistem de modo corajoso e criativo, ainda que correndo vários riscos.
Mas isso não significa que esse quadro não possa mudar nos próximos meses. Já há sinais de que o presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, deseja colocar limites a essa atuação da imprensa estrangeira em seu país.

No caso de isso se agravar, o risco de apagão informativo será maior. E as consequências para a América Central serão terríveis. Trata-se de uma região cheia de problemas sociais, imigração ilegal, facções criminosas, que não ficarão contidas apenas à América Central se não houver medidas dos Estados e a vigilância das mesmas por parte dos meios de comunicação.

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Justiça na Amazônia, utopia ou realidade? https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/justica-na-amazonia-utopia-ou-realidade/ Wed, 07 Jun 2023 16:12:59 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=37984 Confira a coluna da Sylvia desta semana.

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Familiares, amigos, imprensa e defensores dos direitos ambientais estiveram presentes nas distintas homenagens ao jornalista britânico Dom Phillips e ao indigenista brasileiro Bruno Pereira por conta do aniversário de um ano do assassinato de ambos, no Vale do Javari, na Amazônia, por parte de atores ligados ao garimpo e a pesca ilegais. Os atos aconteceram no Rio de Janeiro, em Brasília, em Londres e em outras cidades.
Se, por um lado, há uma grande dose de conforto ver que a rede de solidariedade formada por seus amigos e familiares em torno da tragédia continua viva, alimentando projetos, livro, documentários e, principalmente, promovendo ações para que o caso não perca visibilidade; por outro, não há praticamente notícias boas relacionadas a como continuam sendo ameaçadas as populações indígenas no Javari, ainda perseguidas e mortas pela ação do garimpo e da pesca ilegal.
Como a própria viúva de Dom, Alessandra Sampaio, disse, no evento carioca, “Toda a repercussão mundial, tudo o que se fez desde a morte deles, não chegou ainda a mudar algo para a população do Javari”.
Bruno Pereira, um homem que dedicou a vida a cuidar dos indígenas, os estava treinando a usar equipamentos de controle e vigilância para evitar que suas terras fossem invadidas de modo ilegal.
Dom Phillips, por sua vez, estava escrevendo um livro chamado “Como Salvar a Amazônia”. Ter sido perseguido e morto com um tiro nas costas demonstrou que essa é uma indagação muito incômoda para chefes de garimpo e pesca irregulares, assim como os que lideram cartéis de narcotráfico que atuam na região.
O histórico de ataques às terras indígenas exibido no bom documentário “Vale dos Isolados”, da Globoplay, dirigido por Sonia Bridi, infelizmente deixa um sabor amargo na boca de quem o assiste buscando algum sinal de que há avanços na preservação da floresta. O filme nos mostra o longo histórico da violência na Amazônia como uma contínua sucessão de assassinatos e massacres ocorridos nas últimas décadas, a maioria deles sem julgamentos ou condenações dos verdadeiros mandantes.
No caso de Dom e Bruno, há dois assassinos confessos esperando julgamento, mais o suposto mandante do crime, que foi indiciado nesta semana. Com a proximidade do julgamento, a defesa dos executores alterou sua versão. Eles agora afirmam que haviam confessado o crime num primeiro momento sob tortura e que Bruno havia atirado primeiro. Portanto, tentam emplacar uma nova narrativa na qual teriam agido em defesa própria _uma tese difícil de provar, mas que torna o julgamento mais intrincado.
Há, ainda, a questão política. Ninguém é ingênuo de pensar que esses assassinos atuaram sozinhos. E a continuidade da violência na Amazônia está diretamente relacionada com o histórico de encobrimentos e corrupção das autoridades locais.
Quando o presidente Lula foi eleito, a esperança de que a Amazônia passaria a ser uma preocupação real por parte do Estado projetou as demandas pela pacificação da região. De fato, no discurso com relação ao tema do meio ambiente, o ex-presidente Bolsonaro e o de Lula são completamente opostos.
Durante seu mandato, Bolsonaro retirou a proteção indígena e defendia a ideia de que a Amazônia deveria ser rentável. O desmatamento aumentou. Quando saiu a notícia de que se haviam descoberto os corpos, Bolsonaro foi capaz de dizer que Dom e Bruno entraram numa área não autorizada e que eram os responsáveis por sua morte, ao buscar uma “aventura”, sem estarem preparados.
Lula, após eleito, mostrou interesse em mudar essa situação e anunciou investimentos e ações locais, além de levar essa intenção a vários líderes europeus.
Afinal, a Amazônia protegida do desmatamento e da violência é praticamente um requisito pelo tão buscado acordo Mercosul-União Europeia.
Entre as coisas que se fez nesse início de mandato, está o envio de ajuda para ajudar os Yanomami a expulsar dezenas de milhares de exploradores ilegais de ouro de suas terras.
Na última segunda-feira (5), durante a cerimônia de comemoração do dia do Meio Ambiente, Lula voltou a anunciar medidas de proteção aos indígenas, como a ampliação de meios navais que patrulham os rios da Amazônia, compra e modernização de equipamentos e aumento da presença do Exército nas fronteiras para tentar frear a disparada do narcotráfico entre os países da Amazônia Real. Lula também enfatizou a questão econômica, afirmando que, sim, a Amazônia pode ser preservada e, ao mesmo tempo, ter um papel na produtividade do país por meio de suas riquezas.
São boas notícias, mas Lula se encontra hoje com as mãos atadas para avançar com a legislação necessária para pôr em prática uma reforçada segurança para os povos indígenas. Seu enfraquecimento ante o Congresso ficou notória diante do voto conservador dos deputados com relação ao marco temporal _um retrocesso histórico que deixará várias tribos expostas aos avanços das máfias.
O projeto ainda será votado no Senado, onde infelizmente são poucas as chances de não-repetição do voto da Câmara.
Na cerimônia no Rio de Janeiro, o líder indígena Beto Marubo, amigo de Bruno, afirmou que, em sua terra, “absolutamente nada mudou”. E que já não estavam interessados nas boas intenções: “Queremos ver as coisas acontecerem”.
No emotivo encontro no posto 6 de Copacabana, onde Dom adorava praticar paddle surf, o ambiente nesta segunda era de tristeza e planos de luta, vêm aí um o livro que Dom deixou sem terminar, e que agora será completado por amigos, também um outro documentário, de produção estrangeira, além de mais atos para deixar a causa circulando e acesa.
Ainda que as esperanças sejam poucas de que se faça 100% de Justiça e de que a violência cesse na região, predomina entre ambientalistas e mesmo no discurso de Marina Silva, que resiste, ainda que enfraquecida, no governo, a ideia de seguir lutando.
Neste momento de alta visibilidade internacional da Amazônia, o governo brasileiro tem uma chance histórica para oferecer soluções a indígenas e ribeirinhos, para acabar com as lutas fratricidas, que se desmontem as máfias e que se deixe de desmatar a Amazônia.

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Por que a Venezuela é uma ditadura? https://canalmynews.com.br/coluna-da-sylvia/por-que-a-venezuela-e-uma-ditadura/ Wed, 31 May 2023 22:54:38 +0000 https://canalmynews.com.br/?p=37919 Neste processo de acirramento da repressão, refugiados saíam do país caminhando, de ônibus ou voando, cada qual como podia.

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Às vésperas da eleição para a Assembleia Constituinte de 2017, época de muitos protestos nas ruas e repressão por parte do Estado, cheguei a Caracas para cobrir o evento e, logo ao sair do aeroporto, embarquei numa moto para chegar ao meu hotel. Era o único meio de transporte possível, pois as ruas na região leste da cidade, onde a oposição é mais forte, havia bloqueios armados pelos próprios moradores para enfrentar o avanço das diversas forças a favor do governo (a FAES, uma espécie de Bope, o Sebin, serviço de inteligência, e os colectivos, milícia civil chavista).

Já nas ruas dos bairros populares, castigadas pelos anos de crise, o transporte em duas rodas era o único meio para chegar a zonas mais humildes e completamente vigiadas pelos chamados “representantes do povo”. Além delas, havia apenas os caminhões que cobravam tarifas para levar dezenas de pessoas na caçamba de volta ao lar. O sistema de transporte coletivo, àquela altura, já estava quase colapsado.

Em tempos de ruas vigiadas, manifestações diárias, ataques de gás lacrimogêneo, ataques com pedras, as “guarimbas” (nome dado a esses bloqueios) eram o modo que parte da sociedade encontrava para dormir tranquilos, sem saques ou buscas específicas realizadas pelos serviços de inteligência. Colocando-se na primeira linha de enfrentamento com as forças oficiais, estava um grupo de jovens, de 14 a 20 anos, que integravam o La Resistencia. Eles avançavam com armas caseiras nos protestos, com coletes improvisados a partir de chapas de raio-x, não sem evitar mortos em suas filas e feridos que eram levados para ser tratados em casa, pois os hospitais os denunciavam às autoridades.

O ano de 2017 foi o de acirramento de um governo autoritário na Venezuela, e também quando muitos meios de comunicação, organismos de direitos humanos e parte da comunidade internacional passou a chamar a Venezuela de “ditadura”. As coisas já estavam feias desde antes, com perseguição a políticos, opositores e jornalistas. Em 2014, havia ocorrido outra onda de protestos furiosos, que levaram à prisão o líder Leopoldo López, hoje exilado nos EUA.

Neste processo de acirramento da repressão, refugiados saíam do país caminhando, de ônibus ou voando, cada qual como podia.

A Assembleia Constituinte acabou sendo eleita com fraude reconhecida internacionalmente. Na prática, substituiu a Assembleia Nacional eleita em 2015, esta sim considerada a última votação legítima da história recente da história da Venezuela.

Em 2018, Maduro afirma ter vencido eleições em que o comparecimento às urnas foi baixíssimo. A vitória não foi reconhecida pela comunidade internacional, e o líder da Assembleia de 2015, o então desconhecido Juan Guaidó, proclamou que havia um vazio de poder, e que, por conta disso, ele seria o próximo da linha de sucessão. O experimento fracassou. Hoje, Guaidó está ameaçado de morte e também está exilado nos EUA. Em entrevista concedida ao My News, afirmou que via “com muita preocupação a aproximação de governos da região” a Maduro.

Esse processo, que teve início com a virada da posição do governo da Colômbia, com a chegada ao poder do esquerdista Gustavo Petro, em agosto de 2022, teve mais um episódio ruidoso nesta semana, com a surpreendente recepção acalorada de Lula a Nicolás Maduro, no dia anterior da Cúpula dos Presidentes da América do Sul, em Brasília.

Se por um lado se pode entender a iniciativa de diálogo do governo brasileiro com relação à Venezuela, país com o qual o Brasil compartilha mais de 2 mil km de fronteira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ter passado dos limites com a frase que dirigiu a Maduro diante de jornalistas em que o brasileiro afirmou que a crise da Venezuela era uma questão de narrativa.
E por que não é? É possível dar algumas evidências concretas.

Uma, o Sistema Judiciário da Venezuela, na última década, foi cooptado pelo chavismo. Ao longo dos últimos anos, foram levados a renunciar, presos ou pressionados a exilar-se quase todos os membros da Corte Suprema.

A segunda, o governo dinamitou possibilidades de um referendo revogatório, algo que consta entre as ferramentas constitucionais para remover um governo, caso, em plebiscito, a população rejeite a continuidade de um governo. O próprio Chávez passou por um, vencendo-o. Já Maduro usou o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), para afirmar que o recolhimento de evidências realizado pela oposição era irregular, e cancelou a votação em suas vésperas. Hoje, já ninguém fala de usar esse recurso.

É fato que há eleições, mas a maioria delas fraudadas. Quando entrevistei o líder chavista Jorge Rodríguez, hoje líder da Assembleia Nacional, ele me disse que a Venezuela era campeã na realização de eleições entre as democracias da região. De fato, o calendário eleitoral é respeitado, apesar de alguns tropeços, e ainda há referendos e plebiscitos que ocorrem à parte, o difícil é crer nos resultados, porque as votações têm proibida a participação de observadores internacionais e o sistema que costumavam usar, o Smartmatic, admite que houve alterações nas eleições dos últimos anos. Além disso, era possível verificar apenas com a visita aos principais centros eleitorais da capital e outros centros urbanos que muito pouca gente tinha comparecido a votar, diferentemente do que dizia o regime.

Outra razão para dizer que a Venezuela é uma ditadura é que o poder Legislativo foi completamente dominado pelo chavismo. Depois da derrota do regime, em 2015, nunca mais a ditadura cometeu o mesmo “erro” de ter eleições realmente livres. Tanto que, depois da superposição do parlamento de maioria opositora por meio da Assembleia Nacional Constituinte, se realizaram eleições para um novo Congresso em que a oposição foi impedida de participar. Hoje, o parlamento unicameral é formado apenas por deputados governistas.

Ainda, há pelo menos 3 mil presos políticos, a maioria deles confinados, sem julgamento e sem acesso à luz do dia, em locais tenebrosos como La Tumba ou El Helicóide, construções mirabolantes adaptadas a partir do “boom” de obras dos anos de auge do petróleo para cárceres em que a tortura é algo comum. A ONG PROVEA documenta essas prisões de perto.

Desde o início do regime chavista, há, segundo as Nações Unidas, 7 milhões de venezuelanos fora do país. Isso representa 25% da população, o que torna mais fáceis as fraudes eleitorais, uma vez que os opositores ou descontentes no exterior perdem o direito de votar.

Como se não bastassem essas razões, ainda poderíamos elencar o aumento da fome, da pobreza e a degradação das condições de vida de grande parte da população.

Por fim, não há liberdade de imprensa, que foi sendo dinamitada ao longo dos últimos anos, tendo início com a desapropriação dos principais canais de TV privados e arrasado com a imprensa independente por meio de pressões financeiras, prisão e exílio de seus bravos protagonistas. Para a imprensa internacional, cada vez foi ficando mais difícil entrar no país, eram necessárias artimanhas e desvios para qualquer cobertura. Um colega meu, da imprensa espanhola, quase perdeu um olho numa surra aplicada pelas forças do regime enquanto tentava cobrir uma das transições legislativas do regime.

Quando saía de Caracas pelo aeroporto de Maiquetía, naquele ano de 2017, um garoto de 15 anos sentou-se ao meu lado. Tinha um olho roxo e levava apenas uma mochila. Na inocência rebelde que fica evidente em seu modo de falar, ele me contava que havia cedido ao ultimato de seu pai, residente nos Estados Unidos, de ir embora do país caso a Assembleia fosse eleita. Eu dizia a ele que era um privilegiado de poder sair quando as coisas estavam ficando mais feias. E ele me respondeu, “meu lugar é em Barquisimeto (uma das cidades mais populosas do país), defendendo a democracia no meu país”. O menino era um dos integrantes do La Resistencia e, ao ouvir sua história, uma senhora que viajava conosco desenhou um sinal da cruz em sua testa: “Meu filho, um dia isso tudo acaba e voltaremos”.

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