Ícone buscar Ícone abrir menu

jornalismo independente

Colunistas

BALAIO DO KOTSCHO

Terra Indígena Apyterewa arde em chamas e sofre com demora na expulsão dos invasores

O clima aqui é sufocante, não só por causa do calor e da seca que assolam a Amazônia nesta época do ano, mas pela demora do poder público em cumprir a ordem do Supremo Tribunal Federal para a de desintrusão (expulsão dos invasores) na Terra Indígena Apyterewa, no Sul do Pará, a área mais desmatada na Amazônia durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro. 

Em 05/11/23 13:58
por Balaio do Kotscho

Ricardo Kotscho, 75, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas, 5 netos e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano

Foto: Op VERDE BRASIL/17

Com base em relatos de colegas que estiveram lá e de fontes da Funai (eu não tenho mais condições físicas para ir à região, como já fiz tantas vezes), tomei conhecimento esta semana da gravidade da situação em que se encontram os indígenas, mesmo após as várias operações do governo federal deflagradas este ano para proteger a floresta e os povos originários. O cenário é preocupante. 

Uma nova operação estava marcada para o dia 1º de novembro para retirar os invasores que resistem em sair voluntariamente da área, mas ainda não tinha começado até hoje. 

Enquanto isso, os 350 agentes da Funai, Ibama, PF, PRF, Exército. e Força Nacional de Segurança, sob o comando da Secretaria Geral da Presidência, continuam aquartelados, à espera que o Ministério da Justiça autorize a Força Nacional a agir no apoio à retirada dos invasores, Sem isso, a desintrusão pelos agentes federais fica mais perigosa, fazendo com que os invasores ganhem força e comecem a acreditar, cada vez mais, que a operação não ocorrerá, como garantem as fake news divulgadas pela  rede formada por 250 madeireiros conhecidos como “Máfia da Tora”, que agora discutem a compra de armas pesadas nos
Estados Unidos para resistir à expulsão.

O motivo da suspensão da operação foi um óbito para lá de suspeito de um invasor, que tinha passagens pela polícia por furto e roubo e que, numa das operações dos agentes de segurança, sacou a arma de um policial. Houve uma disputa, um tiro acidental e a morte de um indivíduo. Conseguiram um cadáver. O caso está sob investigação da Polícia Federal.

Em pouco mais de 30 dias, os agentes já tinham conseguido retirar uma leva de “fazendeiros-invasores” e grande quantidade de gado. O desmatamento da área já caiu 95% desde que a operação começou. 

A Vila Renascer, onde moram cerca de 300 pessoas, é o grande foco de resistência, estimulada pelos donos do gado e dos garimpos, que todo dia oferecem um generoso churrasco aos moradores. Pelas redes sociais, transmitem uma narrativa de pessoas humildes, que garantem não estar invadindo a terra indígena, só querem trabalhar. Eles contam com o apoio da bancada da bala e do boi do Pará, em nível estadual e federal.

A disputa aqui é, antes de tudo, de narrativa midiática, algo que a direita sabe fazer muito bem. Os invasores publicam diariamente todo tipo de mentira contra os agentes da operação, batem pesado no governo Lula e em nenhum momento mencionam o drama dos índios. Será que fazem isso com recursos próprios? Quem financia?

Muitos desses invasores são reincidentes que escaparam da desintrusão de 2011 . Apesar do calor, vive-se um clima de “guerra fria” entre os agentes federais e os invasores. Na noite do dia 31, véspera do prazo final para a desocupação voluntária, a placa que identifica a TI Apyterewa, instalada há poucos dias, foi alverjada por tiros e depois arrancada numa tentativa de intimidação do processo de desintrusão.

As queimadas continuam, não se vê o céu limpo um dia sequer.  Além disso, prosseguem o desrespeito ao meio ambiente e aos indígenas, a dominância dos garimpos clandestinos, dos posseiros, das igrejas neopentecostais, da pistolagem e dos políticos populistas da direita. Para eles, não faz sentido perder uma reserva de mão de obra barata, que manobram facilmente.

Daqui a 15 dias, devem começar as chuvas, tornando mis difícil o prosseguimento do processo de desintrusão. Todo esforço poderá ser perdido, bem como todo o discurso político de defesa dos Povos Originários e do Meio Ambiente.

Vida que segue.  

últimos vídeos

Inscreva-se no Canal MyNews

Vire membro do site MyNews

Comentários ( 0 )

Comentar

MyNews é um canal de jornalismo independente. Nossa missão é levar informação bem apurada, análise de qualidade e diversidade de opiniões para você tomar a melhor decisão.

Copyright © 2022 – Canal MyNews – Todos os direitos reservados. Desenvolvido por Ideia74

Entre no grupo e fique por dentro das noticias!

Grupo do WhatsApp

Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo.

ACEITAR