A PF classificou Lula como "risco máximo" intensificando sua segurança. O atentado contra o político japonês Shinzo Abe nos obriga a pensar nos piores cenários.
por Rodrigo Arantes em 02/08/22 09:59
Nessa semana a PF classificou Lula como “risco máximo” intensificando sua segurança. Na história da nossa República não é raro que presidentes não consigam chegar ao fim do seu mandato. O atentado contra o político e candidato japonês Shinzo Abe, a complexidade da geopolítica do mundo em 2022 e a tragédia recente de Foz do Iguaçu nos obrigam a pensar nos piores cenários.
A Armadilha Hobbesiana é uma tática derivada da Teoria dos Jogos similar à delação premiada utilizada pela polícia para obter provas quando capturar os suspeitos de um crime. Ao usar os arquétipos do policial bom e do policial mau, se cria um jogo de forças para desestabilização psicológica dos suspeitos, levando-os a se entregar mutuamente. Mas na armadilha hobbesiana o que vemos é uma escalada armamentista onde os dois lados de um conflito começam a investir tudo o que possuem em armas e terminam economicamente falidos. E esta tática está totalmente presente nos métodos usados por Steve Bannon e seus clientes da direita conservadora para influenciar o resultado de eleições e plebiscitos por todo o mundo ao longo da década passada.
Desde 2014 no Brasil estamos assistindo uma radicalização da política nacional criando uma polarização onde de um lado temos partidos e líderes de esquerda e do outro partidos e líderes de direita. Mas com a Lava-Jato e a utilização da delação premiada temos a aplicação de fato destes estrategemas de teoria dos jogos para influenciar a política em escala nacional, criando assim uma onda de tensão sobre a classe política de modo que são reduzidos a apenas duas posições possíveis. Assim a Lava-Jato tornou-se uma operação de coordenação da vida política nacional que usando a Teoria dos Jogos conseguiu sim descortinar alguns esquemas de corrupção mas como efeito colateral acelerar a desindustrialização da economia brasileira e enfraquecendo o poder de compra da nossa moeda pelo menos pela metade.
Mas este ciclo narrativo da Lava-Jato já se esgotou e se faz necessário agora escrever uma segunda temporada da novela para continuar mantendo os polos de tensão sempre ativos e sempre capazes de capturar a atenção das pessoas desviando suas atenções dos temas que mais importam para apenas uma policialização e futebolização política no melhor estilo de Fla-Flu e Gre-nal, fazendo-as serem dominadas pelos seus instintos primitivos sem entender do que se trata o jogo maior que estão jogando.
E com as frequentes confusões entre as instituições brasileiras acerca das urnas eletrônicas, o judiciário, o exército, e os candidatos com maiores intenções de voto, estamos por um triz de vários cenários complicados de crise institucional para nos ocupar por mais alguns anos enquanto nossa moeda derrete e nossa economia patina para benefício de países mais ricos e dependentes de recursos naturais importados.
Mas de todos, o que mais me parece crível e complexo é o cenário de acontecer no Brasil algo semelhante ao que aconteceu recentemente no Japão por parte de algum “lobo solitário”. Tanto que Lula foi classificado pela Polícia Federal como “risco máximo”, devido às ameaças que sofre, tendo agora, com a candidatura oficializada, direito à segurança diária da PF para eventos de campanha e para compromissos do cotidiano.
Quando olhamos a complexidade do cenário internacional com uma guerra acontecendo no contexto da Europa e com frequentes estranhamentos entre EUA e Rússia e China e vemos o que aconteceu recentemente no Japão e as causas que o político Shinzo Abe defendia, que lutava para que o Japão desenvolvesse capacidades militares próprias e deixasse de ser um país militarmente ocupado pelos EUA. Vemos então que vivemos momentos complexos onde existem muitos interesses internacionais em jogo em torno de cada eleição que está acontecendo hoje no mundo como não acontecia desde a guerra fria.
E neste cenário internacional complexo o Brasil certamente é uma das peças chave de modo que o lado com o qual o Brasil escolher se aliar tem grandes chances de sair como vencedor no jogo da economia mundial, quando a guerra da Ucrânia e as sanções à Rússia dividem o mundo entre os blocos geopolíticos do G7 e do BRICS.
E no atual arranjo das peças do jogo eleitoral brasileiro, bastaria que um atentado como o que aconteceu no Japão acontecesse no Brasil, num contexto de tensionamento entre as instituições da democracia e as instituições militares, para obrigar o Brasil a um pivô geopolítico para fora do BRICS onde o povo seria obrigado a sair às ruas para defender um governo Alkimin (mais alinhado ao G7 porém eleito pelas urnas) para defender a democracia brasileira da sombra das investidas autoritárias dos militares brasileiros com suas frequentes manifestações políticas em atrito com o judiciário.
Em outras palavras, se deixarmos a chapa Lula-Alckmin se eleger, bastaria um tiro como o que deram em Shinzo Abe, ou alguma causa natural como a que aconteceu com Tancredo, para deflagrar um efeito dominó que poderia desmontar o patrimônio nacional, ou as instituições da República, ou os dois. E sentiríamos o efeito disso no bolso como não paramos de ver a nossa moeda se desvalorizando desde junho de 2013.
Por isso, as contradições da chapa Lula-Alkimin configuram uma fundação duvidosa para a reconstrução de um país que já passou por uma ruptura por causa de um impeachment onde o vice rasgou seu projeto de governo no primeiro dia em que assume o mandato como novo presidente, como se não tivesse sido eleito para cumprir o mesmo projeto que a presidente derrubada.
Diz uma música que “o golpe está aí” e “cai quem quer”. Uma segunda ruptura ou guinada política como a que derrubou a presidente Dilma pode ser muito pior e mais traumática que a primeira, e nos levar a consequências ainda piores. É a repetição de um erro que já cometemos e que advém de um erro óbvio: nada vai garantir que Alckmin e Lula seguiriam o mesmo projeto, assim como nada garantiu que Temer seguiria o mesmo projeto de Dilma.
Dado que no nosso país seja um presidente eleito nem sempre consegue concluir o seu mandato, chegou a hora de o eleitor rejeitar alguns arranjos eleitorais que não tem condições de entregar o que prometem, por que o nosso legislativo é um balcão de negócios onde se negocia de tudo e neste balcão o lobby dos grandes interesses e corporações sempre consegue mais atenção do que os interesses das pessoas físicas comuns. Da primeira vez que caímos num golpe podemos alegar ingenuidade, mas da segunda, é por que estamos sendo teimosos em não querer enxergar o que não queremos ver.
No mundo dos investimentos, nunca vemos um investidor experiente investir numa empresa que não apresente um projeto bastante convincente. No entanto, nas democracias, não raro o mesmo sujeito é capaz de dar o voto, algo muito mais precioso que o seu dinheiro, para um CEO para o próprio país, estado ou cidade, sem sequer saber se o candidato tem projeto ou não tem.
Precisamos votar em bons projetos e bons executivos para executá-los e bons parlamentares para fiscalizar, mas votamos aleatoriamente em tudo e deixamos as nossas vidas nas mãos dos outros mesmo por que é mais fácil, mas isso nos custa um dia a dia cada vez mais difícil, por mais 4 anos, sem reclamar.
Mas agora, as peças para criar uma tempestade institucional perfeita que nos manterá presos “em loop” nesta armadilha hobbesiana estarão colocadas caso a chapa Lula-Alkimin seja eleita e isto poderia nos levar a um imbróglio institucional atômico que pode enrolar o meio de campo da economia atrasando o país por mais um mandato ou até o final da década, pelo crime de sermos movidos pelo cérebro primitivo e que se deixa pegar por comportamentos de rebanho que quase sempre levam a multidão de sardinhas ao abate por tubarões. Já não era para termos aprendido?
*As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews
*Rodrigo Arantes é administrador, designer de jogos de escritório, empreendedor, entusiasta de movimentos de empreendedorismo startup e gamificação e fundador do Instituto #AJOGADA™ de Gameologia, que propõe o salto da burocracia para a ludocracia (administração baseada em jogos), pela substituição de documentos por tabuleiros colaborativos nos ambientes de trabalho e de educação.
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