Filósofo e professor da Unicamp destaca que o nazismo também utilizou teorias da conspiração para fins políticos
por Luciana Tortorello em 29/04/21 17:47
O filósofo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano afirma que o texto “O poder das trevas no Brasil”, publicado pelo Clube Militar, é uma peça perigosa, ainda que recheada de informações falsas.
No artigo assinado pelo presidente da organização, o general de divisão Eduardo José Barbosa, são feitos ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), a imprensa e a CPI da Pandemia.
“Há um exorcismo das teorias conspiração. Conspiração é coisa que é considerada algo sem nenhuma importância, no entanto, boa parte do pensamento político ocidental e do pensamento político que não se pauta por essas escolas de pensamento reconhece a importância das conspirações. Elas são feitas e o método mais usado pelas conspirações é pouco a pouco destilar no público todo o desrespeito às instituições políticas, todo desrespeito aos governantes e todo o desrespeito às leis”, explica o professor da Unicamp.
Romano diz que o nazismo foi ajudado por grandes conspirações, pegando como exemplo os Protocolos dos Sábios de Sião, uma famosa teoria da conspiração antissemita. “Essas cartas podem ser desprovidas de conteúdo e de objetividade, mas elas repetem um mantra e você sabe bem que Platão ensinou que uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade, isso você encontra na República de Platão. Então, nesse caso, não é muito importante saber se de fato esses generais assinaram ou não, o fato é que a existência de um documento como esse coloca em xeque a estrutura do estado democrático de direito no Brasil”.
O filósofo ressalta que a publicação do Clube Militar pode induzir notícias falsas e que o método de falsear a realidade remonta à Grécia antiga, com os sofistas.
“Qual é a grande técnica da sofisma? É apresentar uma mentira mesclada de verdades e essa essa mescla é que traz a credibilidade para os absurdos que são passados adiante. Então esse ponto me parece muito sério, porque você toca na questão da responsabilidade da fala pública, é por isso que a Constituição e toda doutrina jurídica se preocupa muito com a responsabilização do agente público. Você, como agente público, não tem o direito de questionar o estado a que você serve, você pode apresentar críticas ao funcionamento dele, você pode propor modificações, mas você não pode propor o seu fim”, argumenta Romano.
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