Como a internet que conhecemos hoje está sendo repensada nesta disputa
por Natália Fernandes em 07/05/21 12:44
Uma mensagem curta, porém relevante, passou a pedir permissão aos usuários para que seus dados sejam rastreados pelos aplicativos instalados em celulares da Apple. Parece simples, mas a atualização do sistema iOS 14.5 gerou barulho no mercado.
O que está em jogo neste duelo são dois modelos distintos de remuneração do ecossistema de tecnologia. Um permite o acesso à conteúdos por meio de pagamento do usuário, o outro é gratuito, mediante compartilhamento de informações dos seus perfis de navegação.
Muitas empresas deste segmento de publicidade online, dentre elas o Facebook, entendem que um grande número de pessoas não aceitará o compartilhamento das informações.
Não acho que eles estejam errados. O contexto de constante vazamento de dados e problemas de privacidade enfrentados pelas big tech acaba sendo um cenário fertil para gerar o sentimento de desconfiança das pessoas.
No entanto, é justamente o acesso às informações dos usuários e comercialização de anúncios que garantem a existência de parte significativa da internet que conhecemos hoje. Isso significa que se essa tendência ganha tração, empresas que dependem da exibição de anúncios podem ter menos dados para tornar seus anúncios mais eficientes, impactando a qualidade dos seus produtos.
Enquanto para a Apple as pessoas devam ter o direito saber exatamente o que está sendo feito com seus dados e de pagar um valor (que veja bem: pode ser para própria Apple) para ter uma experiência segura e com privacidade de dados no ambiente digital, para o Facebook, isso impacta na existência da internet aberta e gratuita como conhecemos hoje, em que o bolso dos anunciantes das marcas torna possível pela exibição dos seus anúncios.
São dois lados interessantes da discussão.
É inegável que não podemos mais ter o uso de dados dos usuários como acontece hoje. A publicidade digital opera em grande parte sem que as pessoas tenham o verdadeiro conhecimento sobre este ecossistema. Os desmandos desta prática geraram inúmeras políticas de regulamentação que estão em andamento em diversos países.
Já os acessos à notícias, entretenimento ou conteúdos de diversas espécies hoje, ocorrem em grande escala de forma “gratuita” hoje porque os anunciantes se beneficiam de dados altamente qualificados dos usuários (e em alta escala), para exibir publicidades que podem manter financeiramente este ecossistema.
Ambas lucram em suas defesas. Apple por se apropriar de uma posição muito favorável no mercado, além de ter seus produtos pagos como opção a quem não quer compartilhar seus dados. Facebook por conseguir lucrar com publicidades eficientes baseadas em dados de navegação.
É pouco provável que venhamos a caminhar para um modelo exclusivo de uma das práticas. A pluralidade de possibilidades é a cara do digital que se molda às vontades de seus usuários, caso eles compreendam seu potencial.
Diante disso, o dado está em jogo e é este o ponto de partida a ser trabalhado.
Em um ecossistema em que ainda se aborda este tema de forma tão incipiente, a empresa que conseguir compreender o valor da privacidade, uso consciente e consentido dos dados e seu valor agregado para os negócios, arranca com grande vantagem perante a concorrência.
O mercado brasileiro ainda é bastante carente desta compreensão. No entanto, a transformação envolve mudança de mindset e não é construída do dia para noite. Mais do que buscar reinventar a roda, contar com parcerias especializadas pode ser o caminho mais curto para que empresas de peso naveguem neste cenário e chegue em solo firme ao final da jornada.
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