No comando do Centrão, Arthur Lira quer ser sócio majoritário do governo na base do “dá ou desce”
Em 30/08/23 15:06
por Balaio do Kotscho
Ricardo Kotscho, 75, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas, 5 netos e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano
Foto: Ricardo Stuckert
Nos tempos de antigamente, diziam que ninguém governava sem o apoio do MDB ou do PMDB que depois virou MDB novamente. Sem chances nas eleições presidenciais, o partido de oposição criado durante a ditadura militar, se aliava ao PSDB ou ao PT, quem estivesse no governo. Eram tempos de Ulysses Guimarães. Hoje, esse fiel da balança nas votações da Câmara atende pelo apelido de Centrão sob o comando do presidente da Câmara, Arthur Lira.
Lula está há várias semanas quebrando a cabeça para acomodar no governo essa geringonça de partidos conservadores e terrivelmente fisiológicos, mas sem nenhuma garantia até agora que de que os cargos e verbas lhe darão os votos necessários no plenário.
Esse é o grande nó da “reforma ministerial”, que se arrasta há semanas, que nem reforma é. Trata-se, na verdade, apenas de mais uma gambiarra para acomodar na Esplanada figuras como o deputado Fufuquinha, do PP do Maranhão, aliado do todo poderoso Arthur Lira, para não ter que abrir os cofres a cada votação importante para o governo na Câmara.
Quantos votos garantirá Fufuquinha? Ninguém sabe, nem ele. Sabe-se que ganhará um ministério, mas ainda não se sabe qual. Tanto faz.
Já em seu terceiro mandato de presidente, era de se esperar que Lula tenha aprendido a lidar com um esquema parlamentar baseado na chantagem juntando o que a política brasileira tem de pior desde a democratização do país. Mas as dificuldades que vem encontrando mostram que agora tudo está custando mais caro. Haja emendas parlamentares, orçamento secreto, vagas nos ministérios, verbas para os feudos eleitorais.
Ulysses sempre dizia, quando criticavam a composição do Congresso: “Espera para ver o próximo”. E tem sido assim. O próximo sempre é muito pior, ainda mais após a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, que levou o Centrão do baixo clero para o poder central junto com o Centrão dos militares.
O presidente anterior terceirizou o governo para esses dois Centrões e passou quatro anos fazendo campanha pela reeleição, ameaçando dar o autogolpe se perdesse. Querem fazer o mesmo agora com Lula, mas o país não aguenta mais essa novela sem fim que poderia se chamar o Direito de Mamar (nas tetas do governo).
Apesar de tudo, o governo conseguiu aprovar, aos trancos e barrancos, o marco fiscal, e está perto de concluir a reforma tributária, o que lhe permite apresentar bons números na economia, com melhora em todas as áreas na comparação com a gestão anterior.
O desemprego vem declinando, salários sobem acima da inflação, o preço dos alimentos e dos combustíveis cai, o país recupera seu prestígio internacional, e é isso o que realmente importa para os brasileiros massacrados por quatro anos de desgoverno, incúria e destruição.
Empresas e cidadãos podem novamente fazer planos para o próximo ano, sem medo do amanhã. Que Lula tenha paciência e saúde para tourear esse Centrão insaciável, que não tem nenhum compromisso com o país. A única ideologia deles é o dinheiro (de preferência, vivo). Sei que não é fácil. Eu não gostaria de estar no lugar do presidente, mas quem mandou ser candidato?
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