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BALAIO DO KOTSCHO

O único risco que Bolsonaro corre é ser preso. A única opção é a fuga

Um alentado resumo da semana que passou, que não foi muito favorável para o Bolsonaro

Em 19/08/23 14:19
por Balaio do Kotscho

Ricardo Kotscho, 75, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas, 5 netos e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

As apostas do momento sobre o destino de Bolsonaro variam entre ir para a cadeia ou fugir do país, como já fez no final do governo. 

Na noite de sexta-feira, ao ser homenageado pela Assembleia Legislativa de Goiás, o próprio ex-presidente admitiu, sem entrar em maiores detalhes: “Eu sei dos riscos que corro em solo brasileiro, mas não podemos ceder”. 

Ceder o que a quem? Como de costume, Bolsonaro nada explica, só faz aumentar a confusão em torno do seu destino. Fazendo-se agora de vítima, diz que “estamos vivendo momentos difíceis”. Nós quem, cara pálida? Sim, ele realmente está, mas o que nós temos a ver com isso?

Temos tudo a ver. O problema é que o país parece paralisado, enquanto aguarda o desfecho das intermináveis investigações sobre a era Bolsonaro, aquele  ex-presidente que custa a desencarnar no noticiário. 

Mais uma semana chega ao fim sem que nada de importante tenha sido votado no Congresso. As reformas tributária, fiscal e ministerial continuam empacadas; Lira e o seu centrão vão ficando cada vez mais indóceis, enquanto o presidente Lula viaja novamente no final de semana, desta vez, para a África, e deixa tudo para resolver na volta.  

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Até o anúncio do Novo PAC, em pomposa cerimonia montada pelo governo no Rio, com investimentos de R$ 1,7 trilhão em mais de 2 mil obras, acabou ofuscado pelas novas operações e revelações da Polícia Federal sobre as muambas presidenciais e outros trambiques. Advogados dos envolvidos assumem o protagonismo midiático e manipulam o noticiário na defesa dos seus clientes. 

À medida em que a PF, a PGR e o STF apertam o cerco em torno da “organização criminosa” que ocupou os palácios no governo passado, as apostas já não são se o ex-presidente será preso, mas apenas quando isso deve acontecer. E se ele fugir outra vez, para onde será? 

Por isso, cada vez mais gente séria no país pede a prisão preventiva dos chefes da gangue, para que não destruam provas nem assediem testemunhas. Ou que, pelo menos, devolvam seus passaportes para impedir a fuga. 

Com tantas lambanças e bandalheiras sem fim já provadas e comprovadas, o que falta acontecer ainda para tirar essa gente de cena e permitir que o país volte a viver em paz, de olho no futuro, na reconstrução nacional, e não mais no passado?

O maior problema do Brasil hoje não é mais nem Bolsonaro e seu entorno tóxico, mas o bolsonarismo resiliente, como mostrou a última pesquisa da Quaest, com o país ainda dividido ao meio: 43% são contra a prisão de Bolsonaro e 41%, a favor, apesar de todas as denúncias de crimes praticados pelo grupo nos últimos quatro anos. 

Até agora, somadas as penas previstas para estes crimes já investigados e comprovados, chega-se a algo próximo de 20 anos de cadeia, mas esta pena poderá ser bem maior quando for julgado o conjunto da obra. 

Discute-se agora qual seria o poder de reação destes bolsonaristas caso seu líder vá mesmo parar atrás das grades. 

A prisão de toda a cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal na sexta-feira, não só por omissão, mas por terem claramente atuado a favor dos golpistas de 8 de janeiro, mostra até que ponto chegou a lavagem cerebral promovida por Bolsonaro em amplos setores da vida brasileira, desde quando lançou sua candidatura presidencial nas redes sociais, em 2014, quando os brasileiros ainda davam risada dele e de suas ameaças de metralhar os adversários. 

Tinha prometido mudar de assunto para tratar aqui de outros temas, mas os fatos não deixam. E repórter não pode brigar com a notícia. 

Espero que a próxima semana seja mais amena para que possamos falar da vida real. O que realmente interessa? Mandem suas sugestões de pauta. 

Bom fim de semana.

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