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Golpe

Chegou o general da banda

Um ano e um mês depois do famigerado 8 de janeiro, dia em que os adeptos de Bolsonaro tinham tentado um malogrado golpe de estado — vieram à tona várias trapalhadas que os militares de extrema-direita cometeram. Trapalhadas, aliás, mais condizentes com generais da banda do que com militares sérios

Em 09/02/24 21:08
por Conversas com Cid

Cid de Queiroz Benjamin é um jornalista e político brasileiro. Nos anos 1960 e 1970, militou na luta armada, tendo sido dirigente do movimento estudantil em 1968 e integrante da resistência à ditadura militar, responsável pelo setor armado do Movimento Revolucionário Oito de Outubro.

“Chegou o general da banda / Mourão, mourão / Catuca por baixo que ele cai”. Esses versos, que me vieram à cabeça nos últimos dias com a preciosa colaboração do general Hamilton Mourão, são da música “general da banda” — o grande sucesso do carnaval de 1950.

De autoria de Satyro de Melo, Tancredo de Silva Pinto e José Alcides, a canção teve em Blecaute seu mais conhecido intérprete. Ela caiu tanto no gosto do público, que, a partir daí, o simpático cantor passou a se apresentar sempre fantasiado de “general da banda”, com um arremedo de farda e ornamentado com medalhas e dragonas.

Pois bem, nesta semana — exatamente um ano e um mês depois do famigerado 8 de janeiro, dia em que os adeptos de Bolsonaro tinham tentado um malogrado golpe de estado — vieram à tona várias trapalhadas que os militares de extrema-direita cometeram. Trapalhadas, aliás, mais condizentes com generais da banda do que com militares sérios.

Teve de tudo.

Para começar, um coronel que era o queridinho de Bolsonaro e de generais do seu entorno, depois de preso fez um acordo de delação premiada e entregou todos os elementos para as investigações da Polícia Federal. Essa delação comprometeu dezenas de superiores, a começar pelo antigo presidente, de quem o coronel era ajudante de ordens.

Em seguida veio mais coisa à tona. Além de minutas de decretos que anulariam as eleições e imporiam estado de sítio no país, foram descobertas gravações de reuniões em que se discutia o golpe de estado. Foi, talvez, um caso único na história em que conspiradores documentaram cada passo da conspiração. Piada pronta.

Depois, teve um caso ainda mais constrangedor: um coronel da ativa, ao ver os agentes da PF chegando à sua porta, teve um piripaque, passou mal, desmaiou e precisou receber atendimento médico.

Feliz do país que não depende de militares desse quilate para garantir a sua defesa diante de eventuais inimigos.

Depois disso tudo, impossível não relacionar esses episódios à gozação que Blecaute fez dos militares há mais de 70 anos, com a sua fantasia de “general de banda”.
Mas as coisas não pararam por aí. Talvez querendo levantar o moral das tropas golpistas, que andam meio em baixa, o general Hamilton Mourão, resolveu fazer um discurso ameaçador no Senado, onde ocupa uma cadeira pelo Rio Grande do Sul.

Foi patético.

Como se os militares estivessem acima das leis, Mourão considerou uma afronta que as investigações os atingissem e falou na existência de uma “devassa persecutória”. Não satisfeito, foi além: “Existem oficiais da ativa sendo atingidos por supostos delitos, inclusive oficiais generais. Não há o que justifica a omissão da Justiça Militar.”
Pelo visto, Mourão não sabe muito bem o que diz a Constituição e como funciona o Judiciário no Brasil. Pensa que seus colegas de caserna só podem ser julgados pela Justiça Militar, seja qual for o crime cometido.

Chega a ameaçar com a “possibilidade lamentável de um confronto de gravíssimas consequências”, pregando uma sublevação contra as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Ou seja, acusa quem ousa investigar uma tentativa de golpe de estado em que militares estejam envolvidos de estar fomentando um confronto “com gravíssimas consequências”.

Diante dessas declarações, enquanto o ministro da Defesa, José Múcio, continua num silêncio ensurdecedor, já há parlamentares pedindo a cassação do mandato de Mourão. É compreensível.

Se fosse o caso de dar-lhe um conselho, general, eu diria: No Chile há um dito popular interessante: “Del ridículo no hay vuelta”. Por isso, cuidado. Desse jeito o senhor vai fazer mais e mais gente compará-lo ao “general da banda” do Blecaute. Com todo o respeito a este último.

Chegou o general da banda.

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