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Creomar de Souza

Candidatos em viagem e Brasil à deriva

Enquanto alguns dos principais atores institucionais e políticos do país estão no exterior, uma série de temas urgentes se apresentam em compasso de espera. Tal qual uma donatária medieval sem senhor, o país padece nas suas próprias vulnerabilidades

por Creomar de Souza em 17/11/21 21:58

O Brasil é uma capitania hereditária sem donatário. Em um ato de sincronicidade bastante peculiar, de súbito os principais atores políticos do país estão alhures simultaneamente. Enquanto o Presidente Bolsonaro dispende alguns dias em uma turnê pelo Oriente Médio – em busca dos “petrodólares” que Paulo Guedes procura -, seu principal antagonista está na Europa. Em um misto de salamaleques e produção de material de campanha, Lula dialoga e tira fotos com simpatizantes do Velho Mundo, em um vislumbre muito claro do estágio atual de prestígio do governo federal com parceiros políticos.

Os militantes, por sua vez, de lado a lado, se dividem em uma espécie de preparação para a maior das batalhas. Entre aqueles que apoiaram Bolsonaro em 2018 começam a surgir dois movimentos que merecem atenção. O primeiro deles é o crescimento de vozes que lenta e continuamente querem dar a pecha de traidor do movimento antipolítica ao presidente da República. Ainda sem saber qual caminho estes assumirão, é possível dizer que o interesse de órfãos do bolsonarismo é o de conseguir mandatos a partir do reavivamento da narrativa da eleição anterior.

O segundo destes movimentos é o compasso de espera daqueles que permanecem fiéis ao presidente em termos de suas escolhas eleitorais. O ensaio até aqui malfadado de aproximação ao Partido Liberal e a indefinição de momento acerca de futuro mostram o empenho dos votantes resilientes em manter viva a chama da narrativa antipolítica. Portanto, da escolha de um partido, sendo o Progressistas ou uma legenda menos expressiva, passando pelos elementos que constituem o momento em que nos encontramos, o panorama de reeleição é bastante desafiador.

Em contraposição, os ensaios lulistas e o efeito gravitacional que se tenta construir no entorno da candidatura de Sérgio Moro geram uma dinâmica bastante complexa em termos das necessidades do país neste exato momento. Em específico, o excesso de atenção direcionado ao processo eleitoral drena as atenções acerca das necessidades presentes e coloca um número considerável de brasileiros em situação de vulnerabilidade.

A Nau de Pedra em que o país se transformou, navegando pelo Atlântico aparentemente sem leme ou timoneiro, mostra a necessidade de resolver questões imediatas com celeridade e qualidade. E aqui é importante reafirmar ambos os adjetivos, sobretudo quando se observa a perda considerável de capacidade de atores institucionais em construírem soluções de políticas públicas ancoradas em dados e premissas que permitam seu aprimoramento no tempo.

Tendo a erradicação do Bolsa Família como exemplo mais recente e levando em consideração a forma pouco robusta e coesa com que seu substituto – o Auxílio Brasil – tem sido construído. O prognóstico não é o da mera retirada dos pobres do orçamento da República, mas o seu apagamento como cidadãos portadores de direitos e dignidade.

Não se trata, portanto, de negar a importância do processo eleitoral. Mas, sobremaneira, da necessidade que cada um de nós possui de fazer um exercício de reflexão bastante crítico acerca de como chegamos até aqui e de quais são as possíveis soluções para os dilemas do nosso tempo. Este processo, que ultrapassa as armadilhas do debate falacioso proposto por gurus de internet ou demagogos de primeira ordem, obriga a cada cidadão com o privilégio de exercer escolhas conscientes em assumir um papel de transformação da nossa realidade.

A negação do enfrentamento deste desafio gerará como resultado a perpetuação de um ciclo que nos condena ao atraso cognitivo e material. E se o desinteresse de compreender esta dinâmica pode ser disfarçados com cercas, subterfúgios ou viagens internacionais, o fato irrefutável é que a navegação sem bússola, timoneiro e leme lançará a nau de pedra e toda sua tripulação rumo a um curso de perdição de difícil reversão.

Este texto apela, portanto, ao bom senso e a responsabilidade do leitor para que o país abandone sua condição de capitania hereditária e se transforme em uma república de cidadãos livres e responsáveis por seus atos e decisões.


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