Sem as ações de instituições como a Redes da Maré, a crise seria ainda mais devastadora para os mais pobres
por Edson Diniz em 14/04/21 12:02
Um dos efeitos da pandemia, para além do número crescente de mortes, foi a retomada da fome como companheira indesejada dos mais pobres. Em recente pesquisa feita pelo Data Favela, 68% dos entrevistados, moradores de espaços populares, favelas e periferias, disseram não conseguir mais se alimentar e alimentar suas famílias regularmente sem receber doações de cestas básicas.
Assim, a fome, a falta de renda provocada pelo aumento do desemprego e a ausência de atendimento médico constituem a dura realidade dos brasileiros mais pobres. E foi diante dessa situação que instituições da sociedade civil resolveram criar ações para minimizar os efeitos da pandemia na vida de milhares de pessoas.
Esse é o caso da Redes de Desenvolvimento da Maré. Instituição criada por moradores do conjunto de favelas da Maré, localizada na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, onde vivem 140 mil pessoas. A Redes da Maré atua nesse território há mais de 20 anos desenvolvendo projetos nos campos da educação, arte e cultura, desenvolvimento territorial e segurança pública.
Logo no início da pandemia, a Redes da Maré criou um plano de emergência baseado na campanha “Maré diz não ao Coronavírus”. Essa campanha engajou empresas, voluntários e moradores locais em ações para mitigar os efeitos da pandemia. Tal mobilização permitiu arrecadar 1.980 toneladas de itens (alimentos, refeições e produtos de limpeza e higiene), o que resultou na distribuição de 20.281 cestas básicas – beneficiando 54.709 pessoas – e no preparo de 65.000 refeições para pessoas em situação de rua. A campanha também produziu peças de comunicação para ajudar na prevenção do contágio na Maré, como vídeos para as redes sociais, cartazes, folders, rádios novelas, carro de som, podcast e uma editoria sobre o coronavírus no Maré de Notícias, o principal portal de notícias sobre as 16 favelas mareenses.
Além das ações emergenciais no campo da segurança alimentar, a Redes da Maré – junto com a Fiocruz, Dados do Bem, SAS Brasil, União Rio, o Conselho Comunitário de Manguinhos, com financiamento do Todos pela Saúde – criou o programa Conexão Saúde que oferece gratuitamente telemedicina, isolamento seguro e testagem no conjunto de favelas da Maré e de Manguinhos.
Sem as ações de instituições como a Redes da Maré, a crise seria ainda mais devastadora para os mais pobres. No entanto, sozinha a sociedade civil não é capaz de enfrentar a Pandemia como ficou evidente agora. Com a nova onda de contágio e o iminente colapso dos sistemas de saúde, o governo federal precisa abandonar a postura negacionista e liderar as ações contra a pandemia. É fundamental que o Ministério da Saúde acelere a vacinação da população, e continue com as ações de prevenção ao contágio.
Sabemos que outras instituições da sociedade civil, centros de pesquisa, universidades públicas, médicos e voluntários em todos os cantos do país continuarão mobilizados, assim como nós da Redes da Maré. Resta ao Estado e, mais especificamente, ao governo federal cumprir a sua parte e suas obrigações. Os brasileiros merecem respeito e vida digna.
Edson Diniz morou na Favela da Maré por 40 anos, historiador, doutor em sociologia da educação pela PUC-Rio. Cofundador da Redes de Desenvolvimento da Maré, criador do Núcleo de Memória e Identidade dos Moradores da Maré (NUMIM), por onde publicou dois livros sobre a história da Maré.
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