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Economia

Fuga de capitais

Investimento estrangeiro no Brasil despenca 50% em 2020

O resultado é o pior desde a crise de 2008. Com menos investimento, multinacionais passaram a deixar o país.

por Hermínio Bernardo em 03/02/21 18:16

Investimento estrangeiro no Brasil despenca 50% em 2020
Fábrica da Ford, em Camaçari (BA), uma das unidades fechadas com a saída da montadora do Brasil.
(Foto: Divulgação/Ford)

Os investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira somaram US$ 34 bilhões em 2020. O valor representa uma queda de 50% em relação a 2019. Os dados foram divulgados pelo Banco Central.

O resultado é o mais baixo em 11 anos, quando houve a crise de 2008. O investimento direto no país (IDP) engloba investimentos mais duradouros – exemplo: expansão da capacidade produtiva de uma fábrica ou investimento das empresas em novas filiais aqui no Brasil. 

Com menos investimento externo entrando no país, as empresas passaram a enxugar as operações no Brasil.

No início deste ano, a Ford deixou o país e fechou três fábricas. Em dezembro, a Mercedes decidiu deixar a fabricação de carros no Brasil e encerrou a operação da unidade de Iracemápolis (SP). A empresa alemã decidiu continuar apenas com a fabricação de caminhões.

Outra gigante que encerrou as operações no brasil foi a Sony, que tinha uma fábrica operando há 50 anos na zona franca de Manaus. A empresa vendeu a unidade para a fabricante brasileira de eletrodomésticos Mondial

No varejo, anúncios recentes vieram da Zara e da Forever 21. A Zara anunciou na semana passada o fechamento de sete lojas no Brasil. Segundo a empresa, o movimento faz parte de um plano de reorganização global com foco na venda digital. 

Já a varejista Forever 21 anunciou o fechamento de todas as 11 lojas da marca em shoppings da rede Multiplan. A empresa não conseguiu fechar uma negociação com a administradora sobre os contratos de locação. 

Antes delas, Walmart e Fnac também fecharam as operações no brasil. A empresa de patinetes Lime foi embora em janeiro de 2020, seis meses depois do início das operações no Brasil.

Saída dolorosa

O economista e presidente da Inter.B Consultoria, Claudio Frischtak, destaca que há problemas domésticos e que a decisão de deixar o país também gera custos.

“Seja em termos de tamanho da população, extensão de território, diversidade e tamanho do PIB, o Brasil deveria ser um país razoavelmente atraente e não seria um país fácil de sair. É uma economia fechada, com barreiras à competição, uma economia de muitas dificuldades para as empresas operarem, com insegurança jurídica e imprevisibilidade regulatória. Não é um fator único, é a soma desses fatores”, analisa.

A saída recente do Brasil de empresas como Sony e Ford trouxe de volta ao debate econômico a chamada desindustrialização vivida pelo país. Fatores como os citados por Frischtak se encaixam dentro do que muitos especialistas e empresários enxergam como “custo Brasil”, ou seja, a dificuldade de se fazer negócios em território nacional.

Em 2017, o Banco Mundial posicionou o país na 123ª posição entre 190 nações do Doing Business Ranking, lista em que as classifica pela “facilidade em se fazer negócios”.

Um levantamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) realizado pelo Estadão/Broadcast e publicado no jornal O Estado de S. Paulo em janeiro mostra que, entre 2015 e 2020, 36,6 mil unidades fabris foram fechadas no país, o equivalente a cerca de 17 por dia.

A saída das empresas também é dolorosa para a economia nacional. Uma estimativa feita em novembro de 2019 pelo Movimento Brasil Competitivo em parceria com o Ministério da Economia mensura o tamanho do rombo: R$ 1,5 trilhão, drenados das empresas instaladas no território nacional em função de problemas estruturais, burocráticos, trabalhistas e econômicos.

Em reportagem publicada em 19 de janeiro, especialistas ouvidos pelo MyNews frisaram que somente a implementação de reformas que dinamizem o ambiente nacional e deem segurança jurídica ao setor produtivo podem evitar a chamada desindustrialização.

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