Estudos de neurociência e do comportamento humano nos mostram que há algumas táticas para desenvolver o carisma
por Fabio La Selva em 01/06/21 15:02
Tenho uma memória marcante da minha época de escola que guardo comigo até hoje.
Durante o intervalo de uma das aulas, em meio a uma conversa de corredor, uma colega de classe fez um comentário sobre um de meus amigos: “O Rodrigo não tem carisma”. Acredito que o que a levou a dizer isso foi considerar Rodrigo uma pessoa que, ao contrário dela, não tinha um grande entrosamento social. Era visível a preferência dele por videogames e livros, ao invés de pessoas.
Eu tinha cerca de 12 anos e nunca mais me esqueci disso. Lembro daquilo ter despertado um sentimento esquisito dentro de mim. Uma mistura de pena com culpa. Pena, pois ele era meu amigo, e de certa forma, entendi aquele comentário como uma ofensa a ele. Fiquei ressentido. A culpa veio logo em seguida, porque entendia a percepção dela e concordava em partes com o que dizia. Aos olhos de uma criança, não ter carisma soava ser uma infelicidade que alguns estavam sujeitos a nascer com e outros, como no caso do meu amigo, sem.
Foram mais de 20 anos sem ver ou ouvir sobre o Rodrigo. Até que, alguns anos atrás, o reencontrei em um evento. Poucos minutos de observação foram suficientes para constatar que aquele homem era bem diferente do menino que conheci na escola. De sorriso fácil, ele atraía o sorriso e a atenção de todos. Não tenho dúvidas de que se eu perguntasse a qualquer um ali se achavam ele uma pessoa carismática, a resposta teria sido afirmativa.
Fui conversar com ele. Puxa, que papo bacana tivemos. Não fiquei surpreso ao descobrir que ele tinha investido em uma jornada de desenvolvimento pessoal e autoconhecimento bem interessante durante sua fase adulta.
Esse episódio me fez refletir bastante.
O carisma pode parecer um dom extraordinário atrelado a nossa genética, e que algumas pessoas têm a sorte de nascer com, enquanto outras não. Mas não é bem assim. Longe de ser algo divinamente concedido a alguém, se você deseja ser uma pessoa carismática, você pode treinar e desenvolver essa habilidade.
Outro engano comum sobre o carisma, é que não se trata de mostrar-se como uma pessoa incrível para os outros. Tão pouco é sobre exibir suas boas qualidades. Carisma não é sobre você, é sobre o outro. É despertar no seu interlocutor, o poder dele se sentir bem consigo mesmo. É fazer com que ele se sinta importante, depois de uma conversa.
Concentrar sua energia mental e emocional em alguém, durante uma interação, é o caminho para se criar esse sentimento de importância. Faz parte de nossa essência humana desejar atenção e reconhecimento.
Estudos de neurociência e do comportamento humano nos mostram que há algumas táticas para desenvolver o carisma:
Olhar nos olhos da pessoa enquanto ela está falando. Há diversos estudos que comprovam que pessoas que mantêm um maior nível de contato visual, tendem a transmitir mais sentimentos positivos como honestidade, sinceridade, competência e confiança. O contato visual também promove a intimidade com seu interlocutor, fortalecendo a conexão entre as duas pessoas.
Focar no ‘aqui e agora’. Desenvolver a presença começa com a atitude mental. É natural do ser-humano ser distraído pelos pensamentos, mas sempre que se der conta que se distraiu, retome o foco total em seu interlocutor.
Acenar para mostrar que você está ouvindo. Além do contato visual, outra prática que costuma transmitir conexão aos outros é o acenar com a cabeça. Feito de uma maneira genuína, o outro tende a perceber que você está acompanhando o seu ritmo. A linguagem corporal costuma ser ainda mais poderosa que a verbal.
Não pensar em como você vai responder enquanto a pessoa ainda está falando. Todos nós temos a tendência de fazer isso. Mas se você está pensando no que vai dizer, significa que não está ouvindo totalmente o que a outra pessoa está dizendo. Domine o seu impulso de dizer o que quer antes da hora. Lembre-se, não é sobre você, é sobre o outro.
Aguardar um ou dois segundos antes de responder. Interromper no mesmo instante em que uma pessoa faz uma pausa ou que para de falar, também pode indicar que não se estava totalmente entregue e ouvindo o que estava sendo falado. As pausas costumam agregar a eloquência de quem as utiliza conscientemente.
Um bom resumo destas cinco técnicas pode ser feito em três palavras: pratique sua presença.
Além de aguçar nosso carisma, a presença se comprovou ser um fator essencial quando queremos melhorar nossos relacionamentos. Há uma frase que gosto muito: “A qualidade da sua vida é igual a qualidade de seus relacionamentos.”. Se levarmos isso a sério, é no mínimo reconfortante pensar que podemos aprimorar nossos relacionamentos – e consequentemente nossa vida – apenas exercitando um pouco a nossa presença nas interações do dia-a-dia.
Fabio La Selva é mentor de carreiras, co-fundador da Cortex Academy e gerente de parcerias no Google.
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