Batizada de ômicron, a nova variante do Covid-19 é bastante transmissível e já foi identificada em países da África, Europa e na China. Medidas sanitárias, como uso de máscara e distanciamento social continuam necessárias. Vacinação precisa avançar em todo o mundo
por Juliana Cavalcanti em 28/11/21 17:29
O anúncio do espalhamento de uma nova variante do Covid-19 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) colocou o mundo em atenção sobre uma possível quinta onda da pandemia do novo coronavírus. Identificada inicialmente em Botsuana e na África do Sul, a nova cepa do Covid-19 foi batizada de ômicron (B.I.I.529) e as primeiras observações apontam para uma transmissibilidade rápida. Desde que foi anunciada, a variante ‘de preocupação’ já foi identificada em Hong Kong (China), Israel e em diversos países da Europa (Bélgica, Itália, Holanda, Reino Unido e Alemanha).
“Essa variante aparece depois de um longo período do surgimento de novas ‘variantes de preocupação’. A última deste tipo foi a Delta e as sub-linhagens dela. Ela chamou atenção pelo número de mutações incomum. Foram identificadas 50 mutações, sendo mais de 30 na proteína spike [usada pelo vírus para invadir as células] e os pesquisadores notaram que nas duas semanas seguintes o número de detecção de casos cresceu numa velocidade muito alta”, explica o professor de genética da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador-colaborador do Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz-PE, Marcelo Paiva.
Paiva destaca que num mundo globalizado e com grande circulação de pessoas, é uma questão de tempo que a variante Ômicron seja registrada nas diversas regiões do planeta e que ainda é preciso avançar nos estudos para determinar o quanto a nova cepa pode ser perigosa para as pessoas – tanto as já vacinadas, quanto as que ainda não foram imunizadas.
Empresas desenvolvedoras de vacinas, como Pfizer/BionNTech e Oxford/AstraZeneca já anunciaram que estão realizando teste para avaliar se os imunizantes são eficiente para combater essa nova variação do covid-19. A União Europeia, a Ásia e o Oriente Médio determinaram o cancelamento de voos oriundos da África. No Brasil, a pedido da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Casa Civil anunciou o fechamento da fronteira para seis países do continente africano: África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue.
O pesquisador Marcelo Paiva lembra que o surgimento de novas variante do Covid-19 era esperado e considera precipitadas decisões sobre liberação do uso de máscaras e eventos com aglomeração de pessoas e sem distanciamento social.
“Estamos vendo gestores falarem em diminuir o uso de máscara, muitas festas particulares, jogos de futebol, já se discute a realização do carnaval. Penso que está faltando um Norte e seguir mais a ciência antes de considerar só a economia. Não tem como baixar a guarda. Todo mundo está cansado, mas o pensamento deveria ser no que está acontecendo agora e num futuro próximo. Não é possível abandonar o uso de máscara, o distanciamento e é preciso manter as medidas de higienização”, destaca o professor da UFPE.
Ele ressalta que se a população estivesse cumprindo os protocolos agora, talvez o Carnaval de 2022 pudesse acontecer, mas da forma como a pandemia vem sendo conduzida, não é possível afirmar como será a situação até lá.
Paiva destaca que o mundo precisa colocar em prática a equidade vacinal e alerta para a necessidade de garantir a distribuição de vacinas para as regiões mais pobres do mundo – sob o risco de não ser possível controlar a pandemia.
“A primeira coisa que a gente tem que pensar na equidade vacinal. A gente sabe que mesmo que a vacinação avance nos países mais ricos, as variantes [do covid-19] vão surgir onde as cobertura vacinal está mais baixas. (…) É preciso garantir que os países mais pobres tenham acesso às vacinas. No caso do Brasil, a pandemia foi muito ditada pela Europa. O Brasil até hoje não exige certificado de vacinação [dos viajantes], está fechando as fronteiras para esses países da África, mas a gente sabe que o fluxo maior de pessoas é da Europa para cá. Por fim, a gente precisa entender que enquanto alguns lugares já estão discutindo sobre dose de reforço e vacinação anualmente, com o número de doses disponíveis para as regiões mais pobres do mundo, o continente africano, por exemplo, só terá vacinas suficientes em 2023”, alerta o pesquisador, lembrando que essa demora favorece o surgimento de novas variantes e atrasa o que poderá ser considerado o fim da pandemia.
Até os cientistas descobrirem como a variante Ômicron atua no organismo humano, como ela ataca o sistema imune e se ameaça também as pessoas já vacinadas, Marcelo Paiva ressalta que é importante manter as medidas sanitárias. “A preocupação é com os não-vacinados, em primeiro lugar, que já têm sido as pessoas com mais casos graves e de mortes. E também com as pessoas com idades mais avançadas e todos os cuidados que vêm sendo falados desde o início da pandemia. A gente precisa voltar ao distanciamento, ao uso de máscara, continuar a vacinação. Muitas pessoas estão com a segunda dose atrasada. É preciso melhorar esse alcance”, finaliza.
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