Posição do Brasil sobre conflito na Ucrânia é incerta RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Posição do Brasil sobre conflito na Ucrânia é incerta


A posição do Brasil frente ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, deflagrado na noite da quarta-feira (23), ainda é incerta. O governo federal tem mantido uma postura que poder ser considerada dúbia para a política internacional, apontou o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lucas Rezende.

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“O Brasil se coloca em cima do muro em um momento extremamente grave. […] Por mais que haja diversas questões que impactam na causa dessa invasão russa, a gente tem que lembrar que estão quebrando o status quo político que foi definido desde o fim da Segunda Guerra Mundial”, afirmou em entrevista ao Almoço do MyNews desta quinta-feira (24).

O vice-presidente do Brasil Hamilton Mourão disse, ao chegar no Palácio do Planalto nesta quinta, que o país não está se mantendo neutro em relação ao conflito. “O Brasil deixou muito claro que ele respeita a soberania da Ucrânia. Então, o Brasil não concorda com uma invasão do território ucraniano. Isso é uma realidade”, declarou o vice-presidente.

O presidente da república Jair Bolsonaro (PL), no entanto, não se pronunciou sobre a invasão, mesmo após participar de evento público no interior de São Paulo e discursar por cerca de 20 minutos.

Por meio de nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que “o governo brasileiro acompanha com preocupação a deflagração de operações militares pela Federação da Rússia contra alvos no território da Ucrânia”.

O órgão também disse que o país é membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas e que permanece “engajado nas discussões multilaterais com vistas a uma solução pacífica, em linha com a tradição diplomática brasileira e na defesa de soluções orientadas pela Carta das Nações Unidas e pelo direito internacional, sobretudo os princípios da não intervenção, da soberania e integridade territorial dos Estados e da solução pacífica das controvérsias”.

Para o professor da UFMG a declaração ainda não é o bastante para definir um claro posicionamento do país frente ao conflito.

“Há duas posições divergentes atualmente no governo brasileiro. De um lado a nota do Itamaraty que fica em cima do muro e do outro Bolsonaro que foi até a Rússia, esteve próximo do presidente Putin e se solidarizou com ele. Até o momento eu imagino que nos bastidores estejam acontecendo muitas discussões sobre qual seria o posicionamento que o Brasil deveria ter”, disse Rezende.  

Presidente da República, Jair Bolsonaro acompanhado do Presidente da Federação Russa, Vladmir Putin durante declaração à Imprensa.

Presidente da República, Jair Bolsonaro acompanhado do Presidente da Federação Russa, Vladmir Putin durante declaração à Imprensa em fevereiro de 2022. Foto: Alan Santos (PR – Planalto)

Na terceira semana de fevereiro Bolsonaro esteve com Putin e chegou a insinuar que havia sido responsável por suposto recuo da Rússia nas fronteiras com o território ucraniano.

“O apoio que o presidente Bolsonaro deu ao Putin no momento em que ele estava prestes a quebrar a soberania de um outro estado e quebrar com as bases do direito internacional, isso tem consequêncioas. A gente viu a porta voz do governo Biden [dos EUA] dizendo que o Brasil está se aliando ao lado errado, por exemplo”, afirmou Rezende. 

Outras figuras políticas se pronunciaram

Os pré-candidatos às eleições de 2022 que figuram na frente das pesquisas de intenção de voto se pronunciaram sobre a invasão russa. Ciro Gomes (PDT) criticou o governo atual e disse que “no mundo atual não existe mais guerra distante e de consequências limitadas”. “Precisamos nos preparar, portanto, para os reflexos do conflito entre Rússia e Ucrânia. Muito especialmente por termos um governo frágil, despreparado e perdido”, completou em sua conta do Twitter.

Na mesma rede social, o ex-juiz Sérgio Moro disse repudiar a violação da soberania da Ucrânia. “A paz sempre deve prevalecer”, escreveu.

Por meio de nota, a pré-candidata e atual senadora Simone Tebet disse que “o governo federal precisa deixar claro que nosso respeito é à soberania e aos princípios de não intervenção territorial, e que estaremos lutando por uma solução de paz, por meio do diálogo e da diplomacia”.

Confira a entrevista completa do cientista político Lu

cas Rezende na edição do Almoço do MyNews desta quinta-feira (24):

 

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