A condução coercitiva de Lula foi um dos pontos considerados pelo STF na suspeição do ex-juiz; fala aconteceu em evento de empresários
por Juliana Braga em 28/03/21 21:36
O ex-ministro Sergio Moro disse neste domingo (28) não se arrepender de nada do período em que comandou a Operação Lava Jato em Curitiba. Segundo ele, as críticas são feitas por “adversários do combate à corrupção” e ignoram os fatos. A fala aconteceu em um encontro virtual promovido pelo grupo Parlatório, que reúne empresários, banqueiros e economistas. O evento acontece na mesma semana em que o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou o ex-juiz parcial no julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na compra de um triplex em Guarujá.
“Várias pessoas foram investigadas, foi provado que suborno foi pago e as sentenças foram aplicadas. Pode ter havido erros? Talvez. Mas, às vezes, os adversários do combate à corrupção colocam como se fosse uma conspiração entre juízes maldosos e procuradores ambiciosos e não foi nada disso”, afirmou.
O MyNews teve acesso à sala virtual na qual Moro discursou. Também estavam presentes os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Michel Temer (MDB), além de empresários como o Luiz Carlos Trabuco (ex-CEO do Bradesco), Flávio Rocha (Riachuelo), Marcelo Araújo (Ipiranga), Jorge Gerdau (Gerdau) e Carlos Tilkian (Brinquedos Estrela). Do Judiciário, participaram os ex-ministros do STF Eros Grau e Elen Gracie. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles estava presente, assim como os ex-ministros do governo de Jair Bolsonaro Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde), assim como o ex-porta-voz, general Rêgo Barros.
No encontro, Moro negou ter havido “algo intencional” ou qualquer “abuso de decisão” e falou especificamente da condução coercitiva do ex-presidente Lula. Esse foi um dos pontos levados em consideração nos votos da ministra Cármen Lúcia e do ministro Gilmar Mendes para considerar que Moro não foi imparcial no julgamento do triplex. O ex-juiz pormenorizou as comunicações que teve com investigadores da força tarefa e disse que concedeu o pedido de condução coercitiva a pedido da Polícia Federal.
“Essas interações são corriqueiras e eu indaguei: ‘Precisa mesmo?’”, relatou. Segundo ele, a PF afirmou ter informações de que se planejava uma barreira humana em torno do ex-presidente e disse ter receio de como isso poderia evoluir. Havia uma preocupação, segundo disse, com a possibilidade de o prédio onde Lula morava ser cercado e haver tumulto. “Eu podia dizer: ‘a Polícia que se vire, não é problema meu’”, sustentou.
Moro defendeu ainda que esse tipo de diligência nunca foi feito para humilhar ninguém e lembrou que, na época, a condução coercitiva era algo corriqueiro. Somente depois o STF, por 6 votos a 5, decidiu restringir o expediente a somente quando o intimado se negasse a comparecer voluntariamente. Ele destacou ainda que não foram utilizadas algemas e pessoas ligadas a Lula teriam vazado a informação para a imprensa, não nenhum dos investigadores.
O ex-juiz atacou ainda as críticas de que a Lava Jato teria criminalizado a política. “Quando se fala de abusos, erros, etc, precisamos ir aos fatos. Essa de que a Lava Jato criminalizou a política. As pessoas foram processadas e condenadas por suborno, não por opinião política. Se vários políticos tinham como natural receber suborno, eles criminalizaram a política.”
Moro ainda comparou o esvaziamento do combate à corrupção no governo de Jair Bolsonaro (sem partido) à agenda ambiental. “Penso que o setor privado tem um papel muito importante, não tem que ficar esperando o governo dizer o que tem que fazer. A gente vê isso hoje na área ambiental de uma maneira muito clara. As empresas, muitas delas, estão tomando a frente em adotar medidas consistentes de preservação ambiental. E a mesma coisa pode se dar em relação à corrupção”, declarou. O ministro Ricardo Salles, presente ao encontro segundo os organizadores, não se manifestou.
Antes do ex-ministro, falaram os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer. Para Fernando Henrique, o Brasil passou por uma fase de expansão então tudo se expandiu, inclusive a corrupção. Para Temer, há hoje certo terrorismo, um desserviço, ao se dizer que se esgotou em definitivo o combate à corrupção. “Operação Lava Jato, por exemplo, foi um título dado para uma das operações e que ganhou um efeito jornalístico bastante acentuado, mas ela não esgota o combate à corrupção”, sustentou.
Ex-ministro de Jair Bolsonaro, o general Santos Cruz criticou o uso do combate à corrupção como bandeira política. “Ela é usada como bandeira política mas depois as promessas não são cumpridas, as promessas demagógicas não se transformam em ações.”
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