Grupo, cujos fundos somam US$ 7 trilhões, ganhou o reforço de bancos nacionais como Itaú e Santander
por Juliana Braga em 21/04/21 22:09
Um grupo de 51 investidores estrangeiros, cujos fundos somam US$ 7 trilhões, voltou a pressionar o presidente Jair Bolsonaro a apresentar políticas concretas de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia. Desta vez, a iniciativa ganhou signatários nacionais de peso, representantes dos bancos Santander e Itaú.
No novo documento, ao qual o Canal MyNews teve acesso, os investidores avaliam a carta enviada por Bolsonaro ao mandatário estadunidense Joe Biden, em razão da Cúpula do Clima organizada pelo democrata, e cobram um plano de ações sólido e efetivo do governo brasileiro. A cobrança internacional converge com a pressão doméstica do setor privado sobre o ministério do Meio Ambiente, comandado por Ricardo Salles – o ministro vem sendo alvo de críticas dos mais diversos representantes da sociedade civil.
Em junho de 2020, esses mesmos gestores de fundos estrangeiros já haviam enviado uma carta na qual cobravam uma redução significativa do desmatamento ilegal na Amazônia, sob a ameaça de retirar seus recursos do Brasil. Eles exigiam ainda o fortalecimento do Código Florestal e das agências responsáveis pela política ambiental, além da prevenção de incêndios na região e transparência nos dados.
“É com grande preocupação que observamos a tendência de crescimento do desmatamento no Brasil. (…) Estamos preocupados com o impacto financeiro que o desmatamento e a violação dos direitos de povos indígenas podem ter sobre nossos clientes e companhias investidas, por potencialmente elevarem os riscos de reputação, operacional e regulatório”, escreveram os gestores à época.
Na nova carta, a iniciativa batizada de Diálogo de Política de Investidores sobre Desmatamento (IPDD na sigla em inglês) saúda o compromisso reafirmado por Bolsonaro de acabar com o desmatamento ilegal até 2030. Os gestores reconhecem ainda os impactos do combate à pandemia do coronavírus nas finanças públicas, mas ressaltam que as ações adotadas nos últimos dois anos afastam o país da meta.
“A perda florestal em 2020 atingiu o maior patamar em 12 anos e, embora os meses da estação chuvosa de janeiro e fevereiro indiquem uma melhora neste ano, notamos que o período de pico de preocupação na estação seca ainda está por vir e que os dados do mês passado foram piores do que em março de 2020”, apontam.
Os gestores afirmam estarem engajados com o governo brasileiro desde o ano passado por acreditarem que o combate ao desmatamento exige o cumprimento da legislação brasileira, atitude firme contra leis que possam estimular a prática e transparência na rastreabilidade das cadeias de abastecimento.
“Estamos ansiosos para ouvir do governo brasileiro como ele colocará em prática esses blocos de construção para uma estratégia bem-sucedida de combate ao desmatamento ilegal”, cobram.
De junho do ano passado para cá, o grupo ganhou cerca de 20 novos investidores, e seus fundos, que somavam US$ 3,5 trilhões, hoje passam de US$ 7 trilhões. Entre os novatos estão Santander e Itaú. Para o CIO do Itau Asset Management, Eduardo Camara Lopes, a parceria com o setor privado, angariando os recursos e investindo na região com o apoio do governo, é parte da solução para o problema. Ele diz ainda que a melhor maneira de ajudar no combate ao desmatamento é combater a pobreza na Amazônia. “É responsabilidade do governo criar o ambiente adequado para esses investimentos”.
Assinam a missiva os co-presidentes do IPDD Jan-Erik Saugestad, CEO da Storebrand Asset Management, um fundo norueguês, e Graham Stock, sócio da BlueBay Asset Management, um fundo europeu.
“O Diálogo de Política de Investidores sobre Desmatamento (IPDD) observa que o Presidente Bolsonaro do Brasil escreveu ao Presidente Biden dos Estados Unidos da América antes da Cúpula dos Líderes sobre o Clima desta semana. O IPDD saúda a reafirmação do Presidente Bolsonaro com o compromisso existente do Brasil para eliminar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Reconhecemos que a emergência de saúde pública causada pela covid-19 exacerbou os desafios que o Brasil enfrenta em muitas frentes e colocou particular pressão nas finanças públicas.
Notamos, no entanto, que as políticas dos últimos dois anos afastaram o Brasil ainda mais da meta de reduzir o desmatamento ilegal. A perda florestal em 2020 atingiu o maior patamar em 12 anos e, embora os meses da estação chuvosa de janeiro e fevereiro indiquem uma melhora neste ano, notamos que o período de pico de preocupação na estação seca ainda está por vir e que os dados do mês passado foram piores do que em março de 2020.
Portanto, saudamos também a disposição do presidente Bolsonaro de se envolver com a sociedade civil, incluindo ONGs e representantes de povos indígenas que vivem na Amazônia e outros biomas sensíveis, para encontrar soluções construtivas para a ameaça de desmatamento ilegal.
Estamos engajados com as autoridades brasileiras desde o lançamento da iniciativa em junho de 2020, pois acreditamos que o combate ao desmatamento ilegal requer a aplicação da legislação existente, incluindo o julgamento de atividades ilegais; medidas firmes para impedir a legislação que possa encorajar o desmatamento, como a concessão de direitos de propriedade a ocupantes ilegais de terras; e rastreabilidade transparente das cadeias de abastecimento que possam estar contaminadas pelo desmatamento ilegal.
Esperamos ouvir do governo brasileiro como eles colocarão em prática esses blocos de construção para uma estratégia bem-sucedida de combate ao desmatamento ilegal.
Em nome do IPDD Brasil, co-presidentes
Jan-Erik Saugestad, CEO, Storebrand Asset Management
Graham Stock, parceiro, BlueBay Asset Management”.
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