Auschwitz, 77 anos depois HOLOCAUSTO

Auschwitz, 77 anos depois


A libertação pelos soviéticos do maior e mais terrível – se é que é possível mensurar nesse nível de atrocidades cometidas – dos campos de concentração nazistas, Auschwitz, ocorreu há 77 anos, em 27 de janeiro de 1945.

Quem já visitou algum campo de concentração nazista se assusta com alguns aspectos: a preservação magnífica e sua semelhança com tudo o que vemos nos filmes que se dedicam à temática da II Guerra Mundial (1939-1945).

Auschwitz funcionou entre 1940, quando foi construído e, 1945, quando os soviéticos libertaram os últimos prisioneiros (aproximadamente 7.000). Durante sua vigência, cerca de 1,3 milhão de pessoas foram deportadas para seus campos e, destas, foram exterminadas 1,1 milhão. Desses, por volta de 960.000 eram judeus.

Localiza-se ao sul da Polônia, na região da Cracóvia. É formado por três grandes unidades (Auschwitz I, II e III), além de outros subcampos, sendo que Auschwitz-Birkenau (Auschwitz II) era voltado principalmente para o extermínio.

A maioria dos prisioneiros de Auschwitz era composta de judeus, mas, havia, também, ciganos, alemães que haviam cometido infrações recorrentes e prisioneiros políticos poloneses, originários de outros campos.

O primeiro de seus comandantes (1940 a 1943) foi Rudolf Hess. Foi condenado à prisão perpétua nos famosos julgamentos de Nuremberg. Havia ajudado a redigir as execráveis “Leis de Nuremberg”, em 1935, que retiravam direitos dos judeus e são consideradas um dos marcos iniciais das atrocidades nazistas. Morreu, aos 93 anos, na prisão de Spandau, para onde foi transferido após o julgamento.

O escritor Primo Levi foi prisioneiro de Auschwitz. Escreveu: É isto um homem? (RJ, Rocco, 1988), narrando suas desventuras, mas, principalmente, refletindo sobre as dificuldades de adaptação à vida após a experiência limítrofe dos campos nazistas. Suas palavras nos forçam a pensar – além dos campos – sobre o que resta aos sobreviventes. Sua reflexão, extremamente dolorosa, ultrapassa o senso comum estabelecido historicamente acerca dos campos de concentração e demais experiências nefastas vivenciadas pelo homem, ao longo do tempo.

A mim, fica a indagação, muito debatida, mas ainda válida: como o ser humano é capaz de tais atrocidades?  Senão, vejamos: quando os soviéticos se aproximavam (e os nazistas sabiam antecipadamente de sua chegada) as guardas especiais alemãs, as SS, tentando uma evacuação do campo, fizeram dezenas de milhares de prisioneiros caminhar (o que ficou conhecido como “Marcha da Morte”) por muitos quilômetros. Atiravam nos que não conseguiam prosseguir. Aproximadamente 15.000 morreram na “Marcha”.

Outro questionamento que fica diz respeito à alegada ignorância dos referidos campos de concentração no transcorrer da II Guerra. Quando os campos, ao final da guerra, foram definitivamente desnudados para o mundo, boa parte dos povos protestaram ignorância sobre sua existência e, obviamente, sobre as condições vivenciadas pelos prisioneiros dentro deles.

Um exemplo chocante é o da França. Parcialmente ocupada por nazistas a partir de 1940, teve cerca de 75.000 judeus enviados para campos de concentração. Deles, somente cerca de 2.500 retornaram. E os franceses persistiram na constatação de ignorância acerca do que havia acontecido. Como você pode ignorar as pessoas ao seu redor desaparecendo? A escolha da conveniência assume muitas facetas. Essa, cruel, é uma delas.

Aos que presenciaram atrocidades cometidas pelo homem sempre resta a memória (às vezes é só o que resta). Os nazistas sabiam da sua importância, por isso, tentaram destruir o produto de sua ignomínia. Auschwitz, também, foi alvo de incêndio de documentação do ocorrido nos campos.

Aliás, é de se questionar: por que a maior parte dos regimes autoritários faz questão de preservar a documentação de seus horrores? Acreditam que durarão para a eternidade e que nunca serão derrubados? A mim parece que lhes falta o básico conhecimento da história da humanidade.

Sua ignorância histórica é nosso passaporte para o conhecimento e uma de nossas garantias da luta contra o esquecimento e, consequente aprendizado com o passado. Nunca mais! Para não esquecer e não repetir!


Quem é Maria Aparecida de Aquino?

Maria Aparecida de Aquino é professora de História Contemporânea, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Especialista nos estudos do regime militar brasileiro (1964-1985).

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