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Brasil alcança 600 mil mortes por covid-19 e medidas sanitárias devem ser mantidas

Apenas em 2021 foram 405 mil mortos por covid-19. Número coloca o país na liderança de óbitos este ano. Percentual de vacinação com as duas doses da vacina chegou a 46%

por Julia Melo em 08/10/21 18:53

O boletim desta sexta-feira (8) do consórcio de veículos de imprensa mostra que o Brasil chegou aos 600 mil mortos por covid-19. Só neste ano foram 405 mil óbitos – o que coloca o país na liderança de óbitos por covid-19 em 2021. Em todo o mundo o Brasil é o país com mais vítimas da doença, atrás dos Estados Unidos, que chegou às 700 mil mortes.

Atualmente, a média de mortes diárias por covid-19 no Brasil está em 438 pessoas. O número tem apresentado queda devido ao avanço da vacinação. Até quinta-feira (7), o Brasil alcançou 149 milhões de pessoas vacinadas com a primeira dose – o que representa 70,39% da população. Com a segunda dose da vacina, ou a dose única, o país tem 97,8 milhões de pessoas vacinadas, ou 46,1% do total de habitantes.

Manaus AM 15.05.20 Sepultamentos no Cemitério Nossa Senhora Aparecida. causado pela Pandemia do Covid-19 Foto: Alex Pazuello/Semcom

O epidemiologista computacional Jones Albuquerque, do Laboratório de Imunopatologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Instituto de Redução de Riscos e Desastres, avalia que se a vacinação tivesse começado no país ao mesmo tempo que no restante do mundo, milhares de mortes teriam sido evitadas.

“Pelas curvas que a gente observa hoje e levando em consideração que as pessoas relaxaram demais nos cuidados, mesmo assim a vacinação proporcionou a redução nos óbitos. Essa redução é, seguramente, explicada pelo avanço da vacinação. Entretanto, a gente pode dizer que a queda nos óbitos estabilizou e isso preocupa porque o gráfico de óbitos do Brasil ainda é alto quando a gente compara com a média de óbitos no cenário mundial”, explica o pesquisador.

Albuquerque destaca que o Brasil aparece em 9º lugar em relação à média móvel de óbitos no mundo neste momento e essa colocação é preocupante devido ao tamanho da população brasileira, estimada em 214 milhões de pessoas. “Essa média é calculada levando em consideração o total de óbitos por milhão. Qual é o problema nessa nona colocação? Os países que estão à frente do Brasil têm populações pequenas, de até 10 milhões de pessoas. Aqui é necessário vacinar muito mais gente. Para reverter essa situação, não basta apenas a vacinação, é preciso seguir as regras sanitárias”, alerta.

Jones Albuquerque explica que a eficácia das vacinas é de até 90% para a prevenção de mortes e que num cenário de vacinação de 100% das pessoas, 10% desse total ainda estarão muito vulneráveis ao novo coronavírus. “Em Pernambuco, 10% da população é 1 milhão de pessoas. Isso significa que mesmo que toda a população do estado esteja vacinada, 1 milhão de pessoas ainda estarão vulneráveis e poderão morrer por causa do covid-19. É um número muito alto e mostra como é precipitado ainda falar sobre liberação do uso de máscara e retirada de outras medidas sanitárias”, explica o cientista.

Anvisa recebe pedido para uso emergencial da vacina indiana Covaxin.
Vacinação ainda não avançou o suficiente para permitir redução das medidas sanitárias de proteção/Foto: Reprodução (WikiCommons – com alterações).

Margem de vacinação contra a covid-19 é baixa e ainda não é possível pensar em relaxar medidas sanitárias

Para o epidemiologista, a margem de vacinados no país ainda é muito baixa e só será possível pensar em relaxar as medidas sanitárias quando pelo menos mais de 80% da população estiver completamente vacinada com as duas doses dos imunizantes disponíveis. “Hoje temos uma loteria. A gente não sabe como cada indivíduo vai reagir ao vírus. Estamos há um ano e meio vivendo nesse ‘novo mundo’ com a pandemia e até agora as pessoas não aprenderam o que é preciso fazer para se proteger. Quanto tempo vamos demorar para aprender?”, reflete o pesquisador, quando questionado sobre a possibilidade de retomada de uma vida com a “normalidade” do período pré-covid-19.

“Não existe o normal do passado. O vírus veio pra ficar com a gente e a gente vai ter que se readaptar. Parece que a natureza veio cobrar algumas coisas da gente. Será preciso repensar o uso de ar-condicionado em salas com mais de oito pessoas, a superlotação de ônibus e metrô. A aglomeração pode favorecer o surgimento de novas cepas. A gente vai tomar vacina a cada 6 meses?A natureza parece cobrar isso da gente. É preciso menos ar-condicionado e mais parques”, reflete Jones Albuquerque, lembrando que vários países que suspenderam o uso de máscaras, estão retomando a medida sanitária, como Israel e Estados Unidos.


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