Apesar de a média móvel de mortes por Covid-19 ter reduzido, o Brasil ainda registra mais de mil óbitos diários em decorrência do novo coronavírus
por Juliana Cavalcanti em 31/07/21 17:11
Apesar de ver a média móvel de mortes por covid-19 reduzir levemente nas últimas semanas – provavelmente pelo avanço da vacinação, o Brasil ainda registra mais de mil óbitos diários em decorrência do novo coronavírus. Com menos de 20% das pessoas com as duas doses da vacina, alguns estados já falam em afrouxar as medidas restritivas de circulação e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), chegou a anunciar esta semana uma grande festa de quatro dias no próximo mês de setembro, para comemorar a retomada das atividades – com shows e atrações culturais em várias regiões da cidade. Com a variante Delta avançando em várias partes do mundo e vários países registrando um novo aumento de casos e mortes, mesmo com um percentual de imunizados bem maior que o Brasil, falar em retomada neste momento não seria precipitado?
Este foi um dos assuntos debatidos no Quinta Chamada desta semana, que contou com a participação do epidemiologista Pedro Hallal, pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). “A melhor analogia é a do cabo de guerra. É exatamente o que estamos vivenciando hoje. Temos a vacina, mas menos de 20% das pessoas estão com as duas doses. Do outro lado, temos a variante Delta – que já mostrou que consegue aumentar os casos de covid-19 rapidamente, e no Brasil ainda temos a variante Gama forte, aliada à falta de cuidados, seja dos gestores, com políticas de reabertura precipitadas, seja por parte da própria população. Esse cabo de guerra era favorável à vacina e agora está parelho. Se não fizermos nada, o lado da Delta vai vencer”, ponderou Hallal.
O epidemiologista ressaltou que a vacinação não é mágica e não conseguirá, sozinha, conter a pandemia, se a população não aderir às medidas sanitárias necessárias – como uso de máscara e distanciamento social. A apresentadora do Quinta Chamada, Cecília Olliveira, lembrou que uma pesquisa do Instituto Ipsos apontou que 83% dos brasileiros pretendem continuar usando máscara mesmo depois de se vacinarem; 84% têm intenção de manter as medidas de distanciamento; dois em cada três brasileiros dizem que voltarão a frequentar restaurantes depois de se vacinarem; 59% se sentirão mais seguros no transporte público; e 44% continuarão evitando shows e eventos esportivos.
Entretanto, apesar das respostas que mostram uma consciência coletiva em relação à emergência sanitária mundial, a realidade das ruas mostra práticas bem diversas das mostradas no resultado da pesquisa. Situações de pessoas aglomeradas e sem máscara têm se repetido em várias regiões do país.
A pesquisadora Mariana Varella avaliou que essa distorção entre a intenção e a prática das pessoas tem relação com uma falta de comunicação de qualidade por parte das autoridades sobre a gravidade da situação sanitária vivida pelo mundo neste momento. “A gente não só não teve uma resposta por parte dos órgãos oficiais, como em muitos casos houve um incentivo à desinformação, a não usar máscara. Então as pessoas têm uma percepção de que estão se cuidando, mas a noção de cuidado vem meio torta pela desinformação. Faltou uma comunicação de risco no Brasil”, destacou Varella.
Pedro Hallal falou também da importância de combater as notícias falsas e o pensamento anticiência disseminado em alguns segmentos da sociedade. “O que nos atrapalha é quando a notícia é tão estapafúrdia que a gente menospreza a notícia e não consegue dar uma resposta boa. Por exemplo, alguém dizer que, ao se vacinar, é implantado um chip nas pessoas é tão ridículo que a gente não consegue dar uma resposta para as pessoas”, pontuou o epidemiologista, ressaltando a necessidade de argumentar contra as fake news para que elas não se propaguem..
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