Em depoimento à CPI da Pandemia nesta terça-feira (25), a secretária de Gestão e Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, defendeu o uso da cloroquina no tratamento contra o novo coronavírus e admitiu que o Ministério estabeleceu orientação nacional para o uso do medicamento.
Pinheiro justificou que a criação do TrateCov, aplicativo do Ministério da Saúde que indicava cloroquina, aconteceu a partir de um estudo realizado por médicos brasileiros, o “The AndroCov Clinical Scoring for Covi-19 Diagnosis”, que tem o endocrinologista Flavio Cadegiani como autor principal.
A publicação ocorreu no periódico Cureus, jornal médico de impacto baixo. Para Gustavo Cabral, imunologista e pesquisador da Universidade de São Paulo(USP), o estudo citado por Pinheiro é insuficiente para ser usado como base científica para elaboração de política pública.
“Um artigo científico desse nível de impacto, na nossa área, é bacana para estudantes. Jamais chega próximo dos quinze estudos que mostram que a hidroxicloroquina não tem funcionalidade para a covid-19”, explica o pesquisador, que é pós-doutor pela Universidade de Oxford. “É um artigo chinfrim de uma revista mediana”, afirma o pesquisador, em entrevista ao Dinheiro Na Conta.
“Já existe uma gama de trabalhos muito grande, diversos estudos científicos, que mostram a não funcionalidade da hidroxicloroquina, que ainda traz efeitos colaterais”, questiona.
O imunologista Gustavo Cabral lembra que não há nenhum estudo científico de alto impacto que demonstre eficácia do uso de cloroquina contra covid-19.
“Quando desenvolvemos vacinas ou medicamentos, fazemos testes com animais, com seres humanos, em um número menor, até chegar a um número maior de humanos. Para chegar a essa magnitude, de um estudo amplo, a cloroquina teria que apresentar resultados prévios que dessem suporte”, explica.