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Médicos protocolam pedido de impeachment de Bolsonaro

Embasados em ações e falas do presidente, médicos e cientistas alegam que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade

por Vitor Hugo Gonçalves em 08/02/21 15:32

Um grupo de oito médicos e cientistas protocolou novo pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O requerimento afirma que o mandatário cometeu crimes de responsabilidade na condução frente à pandemia de Covid-19 no país.

O recurso é fundamentado em declarações públicas e ações efetivas de Bolsonaro desde março de 2020, período em que o coronavírus começou a se disseminar pelo Brasil, até o dia 20 de janeiro deste ano.

Presidente Jair Bolsonaro ao lado do atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Presidente Jair Bolsonaro ao lado do atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Foto: Palácio do Planalto (Flickr).

Entre os profissionais envolvidos na elaboração do documento está o fundador e ex-presidente da Anvisa, o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto. De acordo com o texto, o presidente aproveitou-se de suas funções administrativas, abusando dos poderes relativos ao cargo, além de prejudicar a saúde dos brasileiros por intermédio da divulgação de desinformações acerca de tratamentos precoces.

Citações como ‘Não sou coveiro’ e ‘É apenas uma gripezinha’, proferidas por Bolsonaro após questionamentos sobre o elevado número de óbitos pela doença no país, além de falas contra medidas de isolamento social, compõem parte da argumentação médica. De acordo com os profissionais da saúde que protocolaram o pedido, Bolsonaro “usou seus poderes legais e sua força política para desacreditar medidas sanitárias de eficácia comprovada e desorientar a população cuja saúde deveria proteger”.

“O Sr. Jair Messias Bolsonaro insistiu em arrastar a credibilidade da Presidência da República (e, consequentemente, do Brasil) a um precipício negacionista que implicou (e vem implicando) perda de vidas e prejuízos incomensuráveis, da saúde à economia”, diz outro trecho da manifestação referente aos valores contrários à ciência ressaltados pelo Governo Federal.

Insistência ineficaz

Em entrevista ao canal MyNews, Vecina Neto afirmou que, para além da postura negacionista, “o Ministério da Saúde, ou seja, o Governo Federal, não fez nenhum esforço para comprar vacinas, pelo contrário, tentou obstaculizar a compra dos imunizantes.”

“O governo Bolsonaro foi contra a compra de vacinas. Enquanto o Butantan e a Fiocruz corriam atrás das vacinas, o governo corria atrás de produzir remédios considerados inadequados para tratar a doença, uma vez que não existe comprovação científica de que essas drogas têm qualquer efeito sobre a doença. Ele colocou o laboratório do exército para produzir hidroxicloroquina, a importou dos Estados Unidos, e hoje temos milhões de comprimidos no Brasil que não servem para esse tipo de coisa”, completou.

A última atualização divulgada pelo consórcio de veículos de imprensa aponta que 3.572.639 brasileiros receberam a primeira dose do imunizante – apenas 25.688 já receberam as duas dosagens. “O governo Bolsonaro tomou a decisão de não vacinar a população e, pior ainda, submeteu a população a medicamentos que têm efeitos colaterais e não produzem nenhum benefício no tratamento da Covid-19. Ou seja, ele cometeu um crime grave, e a prova mais contundente do que está acontecendo no governo dele está nos cemitérios”, ponderou o sanitarista.

“A situação é gravíssima no Brasil. O orçamento [para a Saúde] deste ano é de R$ 120 bilhões, foram suprimidos R$ 35 bilhões em comparação com o ano passado. […] Dos 17 mil leitos de UTI que tínhamos no SUS, esse ano temos 7 mil, porque o Ministério da Saúde desativou o pagamento dos outros dez mil – a partir de fevereiro, a pasta se compromete a financiar apenas 3.500 leitos. Entretanto, a pandemia ainda não acabou; se a doença continuar nesse ciclo atual, teremos uma catástrofe no Brasil inteiro, semelhante àquilo que se vive em Manaus”, finalizou Vecina.

Até o momento, o Palácio do Planalto ainda não se manifestou sobre o pedido de impeachment protocolado pelo grupo de médicos. A Câmara dos Deputados acumula mais de 60 pedidos de impeachment contra o presidente. A decisão de prosseguir com o afastamento de Bolsonaro cabe ao presidente da Câmara, Arthur Lira.

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