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Maria Aparecida de Aquino

COLUNA

Saiba quem foi Giordano Bruno

"Nossa indignação deve ser a mesma que a de Giordano Bruno frente à traição de que foi vítima"

por Maria Aparecida de Aquino em 14/11/22 19:43

Giordano Bruno | Foto: Mark Smith/Flickr

Giordano Bruno (1548-1600), frade dominicano italiano, foi um filósofo, teólogo, matemático, poeta e escritor. Nasceu em Nola (Nápoles) e morreu em Roma, na fogueira, condenado pela Inquisição do Santo Ofício, julgado por heresia. Acreditava que as estrelas eram sóis que possuiriam seus próprios planetas, nos quais também poderia haver vida. Para ele, o universo era infinito, portanto, não se justificava a ideia da existência de um centro.

Pensando em Giordano Bruno recordo um belíssimo filme que leva seu nome, datado de 1973, dirigido pelo laureado cineasta Giuliano Montaldo (1930 – …). Foi assistente de direção de Gillo
Pontecorvo em A Batalha de Argel (1961) e dirigiu, dentre outros, Os Intocáveis (1968) e Sacco e Vanzetti (1971), ambos de Montaldo. Giordano Bruno faz parte da fase brilhante do cinema italiano entre os anos de 1960 e 1970.

O filme foi estrelado pelo magnífico ator Gian Maria Volonté, que vive o frade Giordano Bruno. Volonté (1933-1994) participou de grandes filmes como: Investigação sobre um cidadão acima de
qualquer suspeita (Elio Petri – 1970), A classe operária vai ao paraíso (Elio Petri – 1971) e o já citado Sacco e Vanzetti. Além de ator foi um ativista político pró-comunismo e, durante muitos anos, foi casado com a conhecida atriz italiana Carla Gravina. Dentre muitos prêmios, em 1987, ganhou o Urso de Prata pela atuação no filme O caso Moro, também conhecido no Brasil. Morreu de ataque cardíaco, filmando na Grécia, sob a direção de Theo Angelopoulos (Alexandre, o Grande – 1980; Paisagem na Neblina -1988).

Na época assisti a muitos desses filmes, hoje clássicos, embora em 1973, tenha ocorrido a retirada de cartaz de muitos filmes pela censura férrea da Ditadura Militar brasileira, como A classe
operária vai ao paraíso e Sacco e Vanzetti.

Quando assisti Giordano Bruno me impactou, particularmente, uma frase do filósofo: Que ingenuidade, pedir a quem tem poder para mudar o poder. Como Bruno constava da lista de
procurados pela Inquisição havia se refugiado em Frankfurt. Entretanto, atende ao pedido de Giovanni Mocenigo de uma ilustre família veneziana para acompanhá-lo a pretexto de lhe ensinar a arte de desenvolver a memória. Veneza era conhecida por proteger foragidos e Bruno acede ao convite. Logo percebe que Mocenigo tinha péssimas intenções de utilizar as artes de Giordano para obter mais poder.

Assim, o filósofo se nega a ensiná-lo. Manifesta o desejo de retornar a Frankfurt e o nobre o denunciou à Inquisição. Foi preso e acusado de heresia. Teve a oportunidade de negar – abjurar – mas não o fez sendo condenado à morte, pronunciando a célebre frase aos seus algozes: Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu a ouvi-la.

Esta longa introdução leva às nossas preocupações atuais. Parafraseando Bruno, não podemos ser ingênuos em relação ao presente. Por alguns momentos acreditou-se que o presidente de plantão, escondido no seu silêncio, após a derrota nas urnas, fosse, finalmente, reconhecê-la. Não só não o fez como seus comandados espalharam a sublevação pelo país, buscando concretizar um golpe longamente acalentado.

Nossa indignação deve ser a mesma que a de Giordano Bruno frente à traição de que foi vítima: Que ingenuidade, pedir a quem tem poder para mudar o poder. Como imaginar grandeza em quem
não a tem? O presidente e seu entorno são seres humanos – se é que se pode denominá-los assim – diminutos, em termos de caráter. Portanto, deles só se pode acreditar na promoção da iniquidade de que são dotados.

Entretanto, sua derrota foi inequívoca. A nós compete garantir a consagração da democracia da vitória nas urnas e a posse do governo, legitimamente, eleito pela vontade popular.

*Maria Aparecida de Aquino é Profa. Dra. do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Tem mestrado e doutorado pela FFLCH/USP; Pós-doutorado pela UFSCar. É especialista em estudos sobre a Ditadura Militar brasileira (1964-1985).

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