Respeitando o tripé de processos, controles e pessoas, estratégia do fundo possibilita explorar momentos de maior tendência e de maior aversão ao risco
por Fabio Passos em 13/09/21 11:09
O pedido do MyNews para escrever sobre o tema “investimentos”, mais precisamente sobre o nosso fundo de debentures incentivadas, acabou sendo uma centelha para uma reflexão maior sobre o tema. Afinal não seria um desafio escrever sobre o nosso fundo, sobre o nosso processo de investimento… É o nosso cotidiano, temos um dos principais fundos da indústria e uma experiente equipe de gestão – mas de que forma isso agregaria ao leitor/investidor final?
Por que ele deveria se interessar por essa estratégia? Mais ainda: por que ele deveria se interessar especificamente pelo nosso fundo? Existem mais de 500 gestoras de investimento no Brasil, gestoras estas responsáveis por mais de 60.000 fundos de investimento. Por que o nosso?
Lembra que eu comentei sobre essa tal “centelha”? Pois bem, vou explicar: eu acredito que uma pessoa, para saber onde vai, precisa saber de onde veio. E me veio a lembrança uma das obras mais icônicas de Paul Gauguin: “D’où venons nous? Que sommes nous? Où allons-nous?” – ou em livre tradução: “De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?”.
Para tentar responder a primeira pergunta, do porque do nosso fundo, irei aproveitar a deixa de Gauguin e contar como chegamos até aqui.
A história do CA Indosuez com gestão de ativos no Brasil começou há mais de 20 anos atrás, mas, por mais longa que seja, por muito tempo estivemos focados exclusivamente na gestão de ativos de nossos clientes. Isso mudou em 2013 quando tomamos uma decisão estratégica de redesenhar a nossa plataforma de produtos e fundos, buscando uma maior identidade com o grupo, com o mercado local mas principalmente com os anseios de nossos clientes. Naquele momento deixamos de lado outras estratégias de investimento que fazíamos gestão e focamos no que poderíamos oferecer de melhor: gestão de renda fixa e crédito privado, lastreada em processos e controles robustos e, principalmente, lastreada em pessoas.
Não foi uma decisão fácil: se por um lado iríamos recomeçar a nossa história usando o nosso fundo DI Master criado em 1998 como a fundação, por outro precisaríamos abandonar fundos com um longo histórico, com investidores fiéis. Mas assim fizemos: as outras estratégias foram transformadas em fundos de fundos (também expertise da casa e das pessoas que aqui estão) e começamos a reconstruir a nossa base com o fundo DI Master e com o fundo Vitesse sendo as pedras fundamentais.
Aos poucos e com muito trabalho a decisão foi se mostrando correta: a estratégia se mostrou vencedora frente as condições do mercado naquele momento e começamos a ganhar maior tração a partir de 2015, quando novos fundos foram criados, com condições de liquidez e construção de portfolio distintas – mas sempre respeitando o tripé básico de processos, controles e pessoas. Em uma indústria (de fundos) que vinha se expandindo a uma taxa média de 11% ao ano, o CA Indosuez conseguiu quase 30% de crescimento ao ano multiplicando por quase 5x o patrimônio total que tínhamos sob gestão em 2012.
E no meio dessa mudança a nossa história se mistura com os investimentos em debentures incentivadas: embora a Lei nº 12.431 que cria incentivos tributários para investimentos específicos em infraestrutura tenha sido criada em 2011, o sucesso das debentures incentivadas não veio de imediato. A tese era muito clara, criar e ampliar as alternativas de financiamento de longo prazo para o setor, mas ainda existiam dúvidas em relação ao produto: com um prazo mais longo e problemas com algumas das primeiras emissões (como OGX e Rodovias do Tietê), as debêntures precisaram “conquistar” o seu espaço no mercado local frente às LCAs e LCIs, até então os ativos isentos de imposto de renda com mais sucesso no mercado local.
Mas assim foi feito. Podemos atribuir esse progresso, principalmente, ao crescimento do mercado de plataformas de investimentos que, além de ampliarem a base de captações para as companhias criando um canal de distribuição direto muito mais pulverizado com pessoas físicas, catapultou a indústria de fundos nichados. Consequentemente, os grandes bancos seguiram o mesmo caminho e, com isso, atingiu-se o volume total distribuído em debentures incentivadas de infraestrutura superior a R$ 144 bilhões, entre a aprovação da Lei até julho de 2021.
O CA Indosuez, em setembro de 2015, incluiu em sua grade de produtos o fundo de Debentures Incentivadas e em setembro de 2019, o fundo apresentava um patrimônio liquido superior a R$ 2 bilhões. Além do resultado consistente e uma gestão ativa para suavizar a volatilidade inerente ao ativo objeto (debêntures), o crescimento do patrimônio líquido do fundo exemplifica muito bem a evolução da classe de ativo como um todo no mercado local.
Obviamente que o movimento de queda de juros real ao longo dos últimos três anos ajudou muito a performance e, fatalmente, a demanda pelo produto. O retorno foi tão elevado que compensou largamente os movimentos de reprecificação em crédito privado observados no segundo semestre de 2019 e de liquidez do mercado secundário em meados de 2020.
Mas vale ir além desse período: analisando a performance acumulada do fundo desde o início já são quase 100% de retorno líquido de imposto de renda desde 2015 (96,7% para ser mais preciso). Como base de comparação, o CDI no mesmo período acumula ganhos de 54,65% e o IMA-B 5 acumula 88,3%. Para informação, o IMA-B 5, benchmark do fundo, é um índice composto por uma carteira de títulos públicos indexados ao IPCA (NTN-B) com prazos superiores a cinco anos.
Contudo é fundamental frisar que isso só foi possível dado a qualidade da carteira alocada, sempre tendo como pilar fundamental a análise de cada crédito. Independente do prêmio ou da “oportunidade tática”, 100% dos nossos ativos são aprovados com o cenário base de alocação até o vencimento. Com um monitoramento trimestral utilizando modelos proprietários de rating e stress, procuramos antecipar movimentos de preço e liquidez.
Adicionalmente, creio que seja válido analisar não somente se o fundo na média bate o seu benchmark – mas também como ele o faz. Para isso gostamos de analisar janelas de retornos em médias móveis… Por quê? Porque assim, ao invés de analisar apenas o resultado em meses fechados, analisamos em janelas fechadas. Se fôssemos analisar a performance em janelas móveis de 30 dias pegaríamos não somente o fechamento de cada mês, mas também a performance entre os dias 1, 2, 3 e assim sucessivamente. No nosso caso, dada a maior volatilidade do fundo, analisamos em médias móveis de seis meses para saber se, em períodos de seis meses, o fundo bate o benchmark. Para a análise, incluímos um período emblemático do mercado, do início de 2019 até o final de agosto de 2021. Mesmo em um período mais complexo entre o final de 2019 e 2020 o fundo conseguiu bater o benchmark de modo consistente, ressaltando que no gráfico abaixo estamos trabalhando com a cota pura, sem o beneficio fiscal.
Já sabemos da onde viemos e onde estamos… agora vem o mais importante: para onde vamos? O que esperar das debêntures incentivadas?
É natural uma reavaliação do risco x retorno esperado quando verificamos o cenário atual pela ótica da dinâmica da taxa de juros doméstica. Porém, é importante reforçar as outras atratividades da debênture incentivada. Desde o início de 2021, mais do que o benefício tributário, entendemos que o indexador em IPCA é o grande apelo na Renda Fixa para o quadro atual. Utilizando derivativos como proteção e neutralizando, dentro do possível, o risco de aumento de juros real, podemos ter uma carteira exposta principalmente em inflação implícita e com um carrego (taxa de retorno contratada) interessantíssimo por conta do prêmio de crédito.
Traduzindo: aumentaremos o retorno caso a expectativa de inflação continue subindo e evitamos perdas com a expectativa de um movimento mais agressivo do Banco Central na taxa de juros. Com isso, exploramos mais uma das versatilidades do produto. Já exploramos movimentos de queda de juros real, de queda de prêmios de crédito e, agora, exploramos o movimento de recrudescimento da inflação. Em breve, teremos a oportunidade de obter retornos, novamente, nas outras alternativas. E é justamente esta característica que faz um fundo de debentures incentivadas ser interessante, a possibilidade de explorar momentos de maior tendência de risco (queda de juros e prêmios de crédito) e momentos de maior aversão ao risco (compra de inflação e proteção em juros reais).
Este é um pequeno pedaço da nossa história e conta um pouco de como chegamos até aqui. De como o nosso fundo chegou até aqui. E eu digo “nosso” não apenas pela equipe de gestão, mas também pelos milhares de investidores que, ao longo de todos estes anos, sempre estiveram ao nosso lado confiando no comprometimento de todos os envolvidos no processo de gestão. No final, este é um fundo gerido por pessoas, para pessoas – em uma relação de confiança.
Por fim gostaria de deixar uma breve nota. No seu livro “The Intelligent Asset Allocator”, William Bernstein comenta que existem dois tipos de investidores no mundo: os que não sabem o que vai acontecer com o mercado e os que sabem que não sabem. Em algum lugar entre os dois, existe o profissional de investimentos. Infelizmente não dispomos de bola de cristal ou conhecemos qualquer tipo de futurologia capaz de prever retornos, mas acreditamos que um trabalho diligente, municiado com os instrumentos corretos, pode, mesmo em ambientes inóspitos, alcançar os resultados almejados no longo prazo.
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