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‘Nunca mais tivemos paz’, diz ao MyNews viúva de vítima da chacina de Vigário Geral

Adalberto de Souza, marido de Iracilda Toledo, e outras 20 pessoas, foram assassinadas pela polícia em 29 de agosto de 1993

por Sofia Pilagallo em 25/06/24 14:18

Iracilda Toledo fala ao programa MyNews Especial | Foto: Reprodução/MyNews

Nunca mais tivemos paz. Foi o que afirmou ao programa MyNews Especial de segunda-feira (24) Iracilda Toledo, de 67 anos, viúva do ferroviário Adalberto de Souza, uma das 21 vítimas fatais da chacina de Vigário Geral. O massacre, ocorrido na zona norte do Rio de Janeiro, em agosto de 1993, virou tema de um livro-reportagem, lançado nas últimas semanas. Massacre em Vigário Geral, escrito pelos jornalistas Chico Otávio, Elba Boechat e Elenice Bottari, reconstitui os fatos do crime e analisa a apresentação da denúncia, que foi feita às pressas e considerada frágil.

“Nunca mais tivemos paz. Todo dia é uma morte”, diz Iracilda. “Até dia 29 de agosto de 1993, [a morte] não tinha batido na minha porta. Quando bateu, eu pensei ‘preciso tomar rumo’. E foi quando eu comecei nessa luta”, acrescentou ela, que é militante pelo fim da violência policial nas favelas e presidente da Associação dos Familiares das Vítimas da Chacina.

Segundo Iracilda, muitos tendem a achar que as vítimas da chacina são pessoas envolvidas com o crime, mas isso não é verdade. Ela conta que todas as 21 vítimas eram, à época, vizinhos e conhecidos. Depois do massacre, ela se mudou de Vigário Geral levando os dois filhos. Não queria que eles crescessem onde o pai foi brutalmente assassinado.

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A tragédia na família de Iracilda não é um caso isolado, e reflete uma realidade cruel que é imposta cotidianamente aos moradores das favelas do Rio de Janeiro. De acordo com dados da Rede de Observatórios, em 2022, uma pessoa negra foi morta pela polícia na cidade a cada 8 horas e 24 minutos. Para o historiador Derê Gomes, diretor da Federação de Favelas do Rio de Janeiro (FAFERJ), a disparidade entre a conduta policial nas favelas do Rio e nas áreas nobres da cidade reflete o que ele chamou de “apartheid carioca”.

“As pessoas acham que é um termo muito radical, mas quem circula no Rio de Janeiro, quem vive esse cotidiano de violência, de chacina, de massacre, sabe que não é. Ele retrata a nossa realidade. Embora não haja um sistema oficial de segregação, como houve na África do Sul, sabe-se que a nossa cidade é desigual”, afirma Gomes.

“Essa desigualdade se deve a uma herança escravocrata muito presente e enraizada. O Rio de Janeiro foi uma das cidades que mais receberam pessoas pretas escravizadas no mundo. Existem muitas favelas na Zona Sul, mas não se vê esse número de chacinas acontecer no dia a dia, porque é uma região da cidade majoritariamente branca”, acrescenta.

Assista abaixo ao MyNews Especial de segunda-feira (24):

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