Novas ações e estratégias do presidente já são velhas conhecidas da população. Só incautos e incrédulos se surpreendem com Jair Bolsonaro.
por Paulo Totti em 13/05/22 10:50
Presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom (Agência Brasil)
Em 2003, da tribuna da Câmara, Jair Bolsonaro disse à deputada Maria do Rosário (PT-RS): “Jamais eu iria estuprar você, porque você não merece (…) Você é feia”.
Em abril de 2016, ao microfone da mesma Câmara dos Deputados, votou a favor do impeachment e, veemente, homenageou o torturador de uma menina de 19 anos no Doi-Codi de São Paulo: “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim”.
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Só incautos e incrédulos se surpreendem com Jair Bolsonaro. O mau-caráter, a sociopatia, são conhecidos desde antes da posse no Palácio do Planalto. Dir-se-ia que o único surpreso entre os bem informados é o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Este tem sobressaltos até com a inflação.
O que se pode acrescentar agora é que não se imaginava que a ruindade deste governo chegaria a tanto. À má intenção se adicionou a incompetência.
Nada no governo de Bolsonaro dá certo. Da educação à saúde, da indústria ao comércio e aos serviços, da infraestrutura à política externa, não há um só setor com indicador positivo, tudo foi sucateado, “desmantelado”, como observou a revista Time. A inflação, que acabou no governo de Itamar Franco sob a égide do plano real da equipe de Fernando Henrique Cardoso e foi controlada no governo Lula/Dilma, voltou na vigência de plano nenhum da dupla Bolsonaro/Paulo Guedes. Para encontrar índices similares de carestia aos de março e abril deste ano tem-se que voltar ao século passado.
O país acabou com a dívida externa, que parecia eterna, no governo Lula e na mesma época se tornou autossuficiente de petróleo com a descoberta do pré-sal. Continua a importar derivados, como o diesel, porque a Petrobras abandonou os projetos de ampliação de refinarias. Também sepultou as ideias de explorar os não fósseis. Não usa o exagero do grande lucro para a formação de um fundo que amortize o impacto da alta do preço internacional do óleo. Estes são os problemas da estatal. Privatizar às vezes é solução de governo preguiçoso.
Não bastam igualmente as iniciativas improvisadas, amadoras, transferir a responsabilidade para ministros, para empresas estatais, para governadores. Se subirem a gasolina, o diesel, o gás veicular e o de cozinha, muda-se o presidente da Petrobras; a luz, muda-se o ministro; a inflação, sobe-se o juro. Se a vida continuar complicada, se o Auxílio Brasil é corroído mês a mês pela queda do poder aquisitivo – que tal apagar do cartão do benefício o letreiro do Bolsa Família para ninguém lembrar que “isso aí é invenção de um petralha?”
Se se elimina o IPI de produtos da cesta básica para baixar os preços internos, a oposição e os empresários dizem que a providência não funciona, pois o Brasil só importa 0,05% do frango que consome, que o trigo já vem da Argentina com tarifa alfandegária reduzida (Mercosul), que o Brasil não importa carne e milho, todos sabemos que é exatamente o contrário.
Se as pesquisas eleitorais não melhoram, manda-se o novo ministro anunciar que se estuda a privatização da Petrobras. Assim se tira a ameaça de fracasso eleitoral do noticiário, e se esquece que o governo não conseguiu ainda privatizar a Eletrobrás como estava prometido desde o conselheiro ad hoc Michel Temer. (Como apontou Marcelo Lins, na Globonews, no setor hidrelétrico e outros, este governo é pródigo em cascatas).
Enfim, se está provado e mostrado que os votos não são apurados numa sala escura do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e seu presidente, Edson Fachin, adverte que quem trata de eleições “são as Forças Desarmadas”, revela-se que a cúpula do judiciário tem força moral para resistir ao jipe, ao cabo e a alguns soldados de prontidão para atacá-la. Recolhem-se os halves temporariamente e novas estratégias serão estudadas. Parar de conspirar, jamais. Talvez se volte a atacar o estado democrático de direito em data mais próxima da eleição. Ou durante. Ou depois dela.
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