Comandada por Edir Macedo, congregação administrativa é acusada de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e racismo
por Vitor Hugo Gonçalves em 20/07/21 15:48
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) convocou o vice do Executivo, general Hamilton Mourão, para realizar uma intervenção direta na gestão da crise que envolve a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) na Angola. A informação, veiculada pelo jornal ‘O Estado de São Paulo’, foi confirmada pelo próprio vice-presidente.
Mourão afirmou que, “por orientação do PR (presidente da República)”, conversou com o presidente angolano sobre os entraves e denúncias na Universal: “A diplomacia está buscando uma forma de fazer com que as partes se entendam”, declarou.
O encontro ocorreu durante a viagem da comissão brasileira ao país africano, na qual o propósito oficial seria participar da reunião planejada pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Mourão se reuniu na sexta-feira (16) com o presidente João Lourenço e solicitou a intermediação para resolver o conflito na igreja, uma vez que a comunidade, no Brasil, congrega forte parcela do eleitorado de Bolsonaro.
Ainda na sexta, o vice-presidente concedeu entrevista à Agência Lusa, de Portugal, e aproveitou a ocasião para cobrar uma solução para o conflito. “Essa questão da Igreja Universal aqui afeta o governo e a sociedade brasileira pela penetração que essa igreja tem e pela participação política que ela possui (no Brasil), com um partido que é o partido Republicanos, que representa o pessoal da igreja”, argumentou o general.
A briga a qual Mourão se refere teve início em 2019, quando integrantes da igreja evangélica no país africano se rebelaram contra a administração brasileira da Universal (dirigida pelo bispo Edir Macedo) e publicaram um manifesto acusando o comando geral de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, evasão de dívidas, associação criminosa, exportação ilícita de capitais e racismo – investigados pelo Ministério Público local. Após a denúncia, 34 missionários brasileiros foram removidos de cargos-chave em Angola e a filial da TV Record, emissora comandada por Edir Macedo, foi fechada no país.
Fundada e liderada pelo bispo Edir Macedo, a Universal é um dos grandes núcleos de apoio ao governo de Jair Bolsonaro. Representado no Congresso pelo partido Republicanos, atualmente o grupo possui, sob o comando do deputado João Roma (Republicanos-BA), a gerência do Ministério da Cidadania.
Pressionado cada vez mais pelos membros da igreja, Bolsonaro tem sido convocado a intervir diretamente nos embates, sendo ameaçado pelos seguidores evangélicos de não receber apoio na próxima eleição caso o chefe do Executivo não execute as exigências.
Os bispos da igreja no Brasil chegaram, inclusive, a se queixarem da falta de apoio do Ministério das Relações Exteriores na questão angola. A Record tem feito críticas ao Planalto sobre o episódio, acusando o presidente Bolsonaro de omissão – Luiz Fara, apresentador do Jornal da Record, principal programa jornalístico da emissora, afirmou em uma edição que “o Ministério das Relações Exteriores, que deveria proteger os brasileiros em Angola, falhou na missão. E o governo brasileiro também foi omisso, e não atuou de forma ativa para evitar a deportação dos missionários”.
Em outra tentativa de ajudar a Universal, Bolsonaro indicou o ex-prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella (Republicanos), bispo da Iurd e sobrinho de Edir Macedo, para a cadeira de embaixador brasileiro na África do Sul. Com o cargo, Crivella teria a chance de intermediar e resolver o conflito do grupo no continente africano. A articulação, no entanto, está travada devido à retenção do passaporte de Crivella, após o político ser alvo de denúncias de propina.
Em um comunicado oficial divulgado em 2019, a Universal afirma ser vítima de uma “rede de mentiras arquitetada por ex-pastores, desvinculados da instituição por desvio moral e de condutas até criminosas com o único objetivo de terem sua ganância saciada”.
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