Professor da USP questiona afirmação de Bolsonaro na Cúpula do Clima sobre o papel do Brasil
por Thales Schmidt em 22/04/21 18:22
Ao contrário do que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou na Cúpula do Clima nesta quinta-feira (22), o Brasil não está na vanguarda do enfrentamento às mudanças climáticas. A avaliação é do professor da Universidade de São Paulo (USP) Felipe Loureiro em entrevista ao Almoço do MyNews.
No evento com 40 países, Bolsonaro ignorou os recordes de desmatamento e os incêndios no Pantanal e na Amazônia. Também não abordou o recente afastamento do superintendente da Polícia Federal no Amazonas, que acusa o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no Supremo Tribunal Federal (STF).
“O fato de o Brasil ter de fato uma biodiversidade gigantesca e não ser um grande emissor de carbono em comparação com as grandes potências globais, como China e Estados Unidos e mesmo pensando na União Europeia, isso não significa que o Brasil está na vanguarda no que se refere ao meio ambiente, a ter posições responsáveis com relação ao tema. Um exemplo é o caso da Amazônia, com redução de verbas para órgãos de fiscalização como Ibama e ICMBio, entre outros aspectos, e uma a taxa de desmatamento da Amazônia que mostra claramente o quanto o Brasil está bem longe dessa posição que o presidente Bolsonaro colocou de vanguarda mundial”, analisa o professor.
Segundo Loureiro, o primeiro elemento importante da reunião é a demonstração de que os Estados Unidos, agora sob a liderança do presidente Joe Biden, querem liderar o sistema internacional no tópico das mudanças climáticas. Tanto que o governo Biden já anunciou metas audaciosas de redução de emissão de carbono até 2030 e a promessa de a economia norte-americana zerar suas emissões de carbono até 2050.
O antecessor de Biden, Donald Trump, retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, iniciativa diplomática para enfrentar a emergência climática. Para Trump, o aquecimento global é um “boato”.
“O efeito prático disso [Biden convocar a Cúpula do Clima] é a ideia de estimular outros países do mundo a também anunciar metas mais audaciosas, antes da Conferência Climática da ONU, que vai acontecer em novembro em Glasgow, a ideia é fazer com que outros países, Grã-Bretanha, países da União Europeia, a própria China, Índia e evidentemente o Brasil, pudessem estar estimulados a anunciar metas ainda mais audaciosas, para que a gente pudesse o quanto antes melhorar a situação tão dramática que envolve o aquecimento global nos dias de hoje”, explica o especialista em relações internacionais.
Em 2019, surgiu um embate entre Brasil, Noruega e Alemanha, que financiam o Fundo Amazônia. O governo mudou a composição dos conselhos que regulamentam o Fundo Amazônia e os países que financiam a iniciativa congelaram a transferência de recursos para o programa de conservação da floresta.
“O Fundo Amazônia de fato tem recursos de quase US$ 3 bilhões parados. A partir do momento em que o governo Bolsonaro mudou a composição do Fundo e começou a flexibilizar e enfraquecer os órgãos de fiscalização no que se refere ao desmatamento da Amazônia, a Noruega e Alemanha protestaram e começaram a criar maiores dificuldades para liberação desses recursos. Mas é muito evidente que se você tiver uma situação de retorno ao que existia antes de 2019 e garantia de independência para que esses conselhos possam de fato trabalhar, não há dúvida de que a gente vai ter dinheiro e há recursos disponíveis”, argumenta Loureiro.
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