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Política

Sem chuva

Crise hídrica tem ligação direta com desmatamento, diz especialista

Menos árvores na Amazônia significam menos chuva no Brasil, alerta pesquisador do SOS Mata Atlântica

por Thales Schmidt em 06/06/21 10:04

Existe um lugar onde o vento faz a curva: é do lado oriental da Cordilheira dos Andes. É nesta região que as correntes úmidas de vento do Oceano Atlântico e da Amazônia se chocam com a cadeia montanhosa e seguem para as regiões Centro-Sul e Sudeste do Brasil e, assim, garantem chuvas na região. Com o aumento do desmatamento, contudo, este ciclo está ameaçado, alerta o pesquisador da SOS Mata Atlântica Gustavo Veronesi.

No final de maio, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu um alerta de emergência hídrica. O SNM afirma que há uma previsão de chuvas abaixo do previsto na Bacia do Paraná, que abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná para o período de junho a setembro de 2021. A região abriga importantes hidrelétricas como Itaipu e Furnas.

A crise hídrica já deixou a conta de luz mais cara após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) elevar a bandeira tarifária para a faixa vermelha. Além disso, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu que a falta de chuva pode afetar a inflação e o preço dos alimentos.

“Estamos falando sobre crise de energia no Brasil novamente, porque não está chovendo o suficiente. Isso tem efeito na inflação, no preço dos alimentos, afeta tudo que fazemos. Está muito ligado ao nosso mandato”, avaliou Neto em evento do Bank for International Settlements (BIS).

Em entrevista ao MyNews, o coordenador do projeto Observando os Rios, Gustavo Veronesi, destaca que a atual crise hídrica já é um sintoma das emergência climática. Para ele, as políticas públicas não estão acompanhando os alertas da ciência, que ressaltam que o aquecimento do planeta é um problema imediato e não reservado apenas para o futuro.

“A gente tem que pensar que quanto menos floresta, menos evaporação essas florestas vão fazer para liberar umidade para o ambiente. Por consequência, vamos ter menos chuvas e isso se agrava, também, porque sem florestas tem menos armazenamento de água nos aquíferos, no subsolo e, então, são menos possibilidades dessa água que está no solo ser absorvida pelas plantas e ser jogada para a atmosfera”, diz o membro da ONG SOS Mata Atlântica.

Imagem aérea de queimada próxima à Flora do Jacundá, em Rondônia. Amazônia sofre com fogo e desmatamento.
Imagem aérea de queimada próxima à Flora do Jacundá, em Rondônia. Amazônia sofre com fogo e desmatamento.
(Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real/Fotos Públicas)

O desmatamento na Amazônia Legal cresceu 13% em 2020 na comparação com 2019, segundo dados do PRODES do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Além disso, o Fundo Amazônia está paralisado após Alemanha e Noruega congelarem o repasse de recursos. A decisão de não financiar mais o projeto bilionário de conservação da Amazônia foi tomada após o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tentar mudar as regras do projeto para usar recursos para indenizar produtores rurais.

“Quando você influi no ciclo da água, e esse ciclo é constante, em algum lugar vai dar uma falha. E ao se jogar menos umidade para a atmosfera, por consequência, essa umidade vai chegar com menos força na região Sudeste. Então uma área que já tem um período de seca comum, nos meses de outono e inverno, acaba se agravando”, diz Veronesi.

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