Base do governo, Centrão depende de “toma lá, dá cá” para manter apoio. Fisiologismo enfraquece as instâncias democráticas do país
por Juliana Cavalcanti em 13/08/21 20:32
As últimas iniciativas da CPI da Pandemia de indiciar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por charlatanismo e curandeirismo – por promover os medicamentos ivermectina e hidroxicloroquina como parte de um kit preventivo para o covid-19 – podem abalar a imagem do presidente, mas não necessariamente resultarão punições ao mandatário. Existem atualmente na Câmara dos Deputados mais de cem pedidos de impeachment protocolados e nenhum deles avançou até agora por conta do apoio do bloco de partidos chamado de centrão – que tem dado suporte ao governo com base em medidas fisiológicas de troca de favores.
Essa é a avaliação da deputada federal Tábata Amaral (sem partido), que participou do programa Quarta Chamada desta semana. “O apoio fisiológico da Câmara – que é quem pode abrir o processo de impeachment, é sempre um apoio temporário. Desde o super pedido de impeachment, essa pauta entrou no destaque, mas o preço [do centrão] subiu. Os cargos, os recursos e as emendas tiveram que ser maiores. Existe uma pesquisa que mostra a percepção das pessoas de que Bolsonaro é o presidente que mais financiou o “toma lá, dá cá” e que menos aprovou projetos. O preço desse apoio é praticamente impraticável. Os recursos estão saindo da saúde, da educação. Vamos continuar vendo os desdobramentos da CPI da Pandemia, que já mostrou a corrupção e os crimes que aconteceram e guiaram a condução na pandemia e também que não era só ideologia, não era só maluquice”, analisou a deputada federal.
A escritora Catarina Rochamonte pontuou que, apesar de o trabalho da CPI da Pandemia estar mostrando como foi grave a condução da pandemia e os crimes que foram cometidos, inclusive alguns fatos que implicam diretamente o presidente da República e o Ministério da Saúde, um argumento utilizado pelos apoiadores de Bolsonaro é o de que a Comissão Parlamentar de Inquérito está focando as investigações apenas no plano do executivo federal e deixando de lado indícios de irregularidades nos estados.
Para a jornalista Juliana Braga, esses indícios estão sendo investigados pela Procuradoria Geral da República (PGR) e pela Polícia Federal. “O Supremo entendeu que não era apropriado convocar o depoimento dos governadores na CPI, pois esse não seria o foro adequado, que no caso seriam as assembleias legislativas. A maior parte dos indícios de irregularidades na compra de vacinas pelos estados está sendo investigada pela Polícia Federal e pela PGR. Esses fatos estão sendo apurados e é preciso lembrar que a CPI é também uma instância política. Não é possível depositar todas as fichas na CPI, porque o trabalho de investigação deveria ser da PGR e da Polícia Federal. E o que se tem visto é uma omissão dos órgãos de investigação em relação ao presidente e ao governo federal”, avaliou Braga.
A deputada Tábata Amaral concordou com a análise e ressaltou que o que está acontecendo no Brasil é a corrosão da democracia, através do aparelhamento das instituições. “Tudo isso é reflexo do aparelhamento das instituições, A gente fala muito que essa corrosão da democracia não é com tanque na rua, como a gente viu na terça-feira, inclusive com vários memes. Brincadeiras à parte, quando a gente estuda um pouco o que acontece em outros países, a gente vê que algumas regras são seguidas e um desses passos é ocupar essas instâncias de poder. A Polícia Federal, para que não investigue seus filhos; o Ibama – para que não investigue o garimpo, a invasão de terras indígenas. É isso que a fragilização da democracia”, acrescentou.
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