Em novo áudio do ‘gabinete paralelo’ do MEC, pastor pede um quilo de ouro PEDIDO DE PROPINA

Em novo áudio do ‘gabinete paralelo’ do MEC, pastor pede um quilo de ouro


Um novo áudio relacionado ao “gabinete paralelo” de pastores dentro do Ministério da Educação (MEC) foi revelado nesta terça-feira (22) pelo jornal Estadão. Nele, o prefeito Gilberto Braga (PSDB), do município de Luís Domingues (MA), mostra que o pastor Arilton Moura pediu R$ 15 mil antecipados para protocolar demandas junto ao MEC. Após a liberação de recursos, o prefeito teria que pagar um quilo de ouro.

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Na segunda-feira (21), a Folha de S.Paulo mostrou os primeiros áudios do caso no qual o ministro da Educação, Milton Ribeiro falava sobre o favorecimento de prefeitos amigos de pastores na liberação de dinheiro do MEC. Essa preferência seria um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os pastores – Arilton Moura e Gilmar Santos – não têm ligação oficial com o ministério e por isso fazem parte do que está sendo chamado de “gabinete paralelo”.

Segundo Gilberto Braga, a conversa em que teria acontecido o pedido de propina foi em Brasília, em abril do ano passado, após uma reunião no MEC. O pastor Arilton teria convidado os prefeitos para almoçar, e abertamente, diante da presença de todos, falou sobre os pagamentos indevidos.

Os R$ 15 mil, além do quilo de ouro, seriam para a liberação de R$ 10 milhões do Ministério da Educação para a prefeitura de Luís Domingues, cidade da qual Braga é prefeito. Quanto ao pagamento em ouro, o pedido foi feito porque a região onde o município está localizado possui uma área de mineração.

O prefeito ressalta ainda que o pastor Arilton não pediu segredo sobre o acordo, falava a respeito dos valores num papo muito aberto, com normalidade. E que o pastor teria revelado os valores enviados a outros municípios, e que os prefeitos presentes no almoço permaneceram calados, não confirmaram e nem negaram que tivessem recebido o dinheiro. Ao Estadão, Gilberto Braga disse que não aceitou a proposta do pastor.

Encontro de fevereiro de 2021 da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil. Da esquerda para a direita: Gilmar Santos, presidente da CONIMADB, o Presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) e o ministro da Educação, Milton Ribeiro. Foto: Reprodução (Instagram @conimadb_oficial)

Outro prefeito ouvido disse que Arilton passou os dados da sua conta para que os prefeitos fizessem a transferência da primeira parte do pagamento. E como ele não o fez, o seu pedido não foi protocolado junto ao MEC. 

A reunião no Ministério da Educação que antecedeu o almoço não estava na agenda do ministro Milton Ribeiro e foi solicitada pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Gilmar é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Arilton, assessor de assuntos políticos da entidade. Ambos não são funcionários públicos. 

Durante o encontro no MEC, Milton Ribeiro teria dito aos prefeitos que a pasta tinha recursos, e os estimulou a buscar verbas para seus municípios.

Na terça pela manhã, antes do áudio de Gilberto Braga, Milton Ribeiro se pronunciou sobre o favorecimento no repasse de recursos aos municípios. Ele negou qualquer alocação indevida de recursos e afirmou que Bolsonaro só pediu para ele recebesse todos que procurassem o governo – incluindo os citados na reportagem. 

Ribeiro ressaltou que independentemente de sua formação religiosa, ele tem compromisso com a laicidade do Estado, e que não há qualquer hipótese e nenhuma previsão orçamentária que possibilite a alocação de recursos para qualquer denominação religiosa.

Na terça-feira (22) à tarde, parlamentares da oposição apresentaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) notícias-crime contra o ministro da Educação, o presidente Bolsonaro e os pastores envolvidos. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pede que Milton Ribeiro e Bolsonaro sejam investigados pelos crimes de peculato, emprego irregular de verbas ou rendas públicas, corrupção passiva e prevaricação.

Já os pastores, por tráfico de influência e corrupção ativa e os servidores do MEC apontados como supostos integrantes do “gabinete paralelo”, investigados por usurpação de função pública.

O líder da minoria na Câmara, deputado Alencar Santana Braga (PT-SP), pede que, se confirmadas irregularidades, Milton Ribeiro seja afastado do cargo. O deputado Professor Israel (PV-DF) pediu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as acusações. 

Desde a sexta-feira (18) quando o caso do gabinete paralelo no MEC veio à tona, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura não se manifestaram. O presidente Jair Bolsonaro (PL) também não comentou o assunto. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) defendeu na terça (22) a permanência de Milton Ribeiro no comando da pasta. O filho do presidente disse que Ribeiro está fazendo um trabalho fenomenal na educação e que, na sua opinião, deve continuar ministro num segundo mandato de Bolsonaro.

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