Liderança indígena diz que a Usina Hidrelétrica de Belo Monte poluiu a água e acabou com os alimentos das tribos da região
por Luciana Tortorello em 08/06/21 19:14
“Os indígenas não têm mais saúde mental pra viver”. É assim que a indígena e ativista ambiental Lorena Curuaia enxerga a situação dos povos originários no Brasil. Falando de Altamira, na região do Xingu, ela relata a situação dos indígenas, ataques de garimpeiros, madeireiros, grandes empresas e falta de serviços básicos.
Nesta terça-feira (8), a Folha de S. Paulo publicou matéria que relata que garimpeiros estariam comprando, com ouro, vacinas destinadas aos povos indígenas. A liderança indígena diz que ela e o povo dela foram vacinados na semana passada, que já deveriam ter sido vacinados.
“A maioria tomou a cloroquina e praticamente não ia ser vacinado. A gente fez algo maior para que chegassem essas vacinas, entramos com o Ministério Público Federal, com Defensoria Pública da União. Pra gente, essa situação é muito silenciada”, argumenta Lorena Curuaia.
A ativista ambiental avalia que as fake news têm chegado até as comunidades indígenas, muitas vezes de forma descontrolada. Uma das notícias falsas de grande efeito entre os indígenas é sobre as vacinas, o que tem feito com que muitos se neguem a tomar o imunizante.
“Eu tive casos de parentes que não quiseram tomar de forma nenhuma a vacina e eu fico pensando nos outros parentes, de outros estados. Aqui eu quebrei muito a questão da vacina na comunidade, falei ‘olha, parente você precisa se vacinar, você não pode ir na cidade’. Assim conversando, dialogando, mas será que nas outras comunidades, na cidade, tem o mesmo diálogo, vão conseguir dialogar? São muitas aldeias, é muito complicado essa questão da fake news porque ela se espalha muito rápido e de fato acaba com a gente, já desconstruindo tudo pra gente, é uma retirada de direitos pra gente”, analisa Lorena.
Uma das lutas que a indígena enfrenta atualmente é para que as comunidades da Volta Grande do Rio Xingu tenham água limpa e alimento para sobreviverem. Ali fica a hidrelétrica de Belo Monte e desde quando ela começou a funcionar, a água que chega para eles é poluída e os peixes, que eram grande parte da alimentação, estão morrendo.
“É uma situação muito triste e a gente tem pedido socorro mesmo, porque o que acontece, a gente está diante da terceira maior hidrelétrica que é a de Belo Monte, a gente está no quintal dela. Acabaram com a nossa água, os peixes estão morrendo, algumas famílias não tem cacimbas, que é como se fosse um mini-poço natural que a gente faz. Essas pessoas que tem cacimbas ainda tem como pegar um pouco de água, mas as que não tem, bebem a água do rio que está pior. Tem dado muita coceira, muita diarreia. Eles mandam fiscais pra verificar a questão da água, mas eles dão o resultado que eles querem e a gente tem o nosso resultado que é a realidade e o resultado da realidade é esse, sem água e sem peixe. Isso está sendo escondido, silenciado”, declara a ativista ambiental.
Num desabafo, Lorena diz que os indígenas não têm mais saúde psicológica para continuar com esse tipo de situação. “Poxa, a gente já está tendo tanta coisa pra lidar, os indígenas não têm mais saúde mental pra viver, os indígenas estão jogados às traças, na bebida, na droga porque tem gente que perdeu a esperança de viver. As pessoas sempre me perguntam, qual a sua esperança, Lorena? E agora eu já fico pensando, porque é muito difícil ter esperança nessa grande guerra”.
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