Política

SEGUNDA CHAMADA

Reforma ministerial deve acomodar de vez o centrão no governo Bolsonaro

Grupo político ganha espaço e passa a coordenar áreas importantes do governo e ter influência sobre “orçamento secreto” da Câmara

por Juliana Cavalcanti em 28/07/21 12:05

Depois de afirmar, em entrevista a uma rádio na última semana, que é parte do “centrão”, o presidente Jair Bolsonaro deve anunciar nesta terça (28) a reforma ministerial que vai acomodar o senador Ciro Nogueira, do Piauí, presidente do PP, na Casa Civil e selar este casamento – que segundo Bolsonaro nunca foi desfeito. O anúncio pegou de surpresa os militares que fazem parte do governo, incluindo o ex-ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, que disse ter sido “atropelado por um trem” ao saber da demissão por terceiros.

Senador Ciro Nogueira, novo comandante da Casa Civil, ao lado do presidente Jair Bolsonaro
Senador Ciro Nogueira, novo comandante da Casa Civil, ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Foto: Isac Nóbrega (PR)

A troca de comando no ministério de Jair Bolsonaro foi um dos temas do programa ‘Segunda Chamada‘ desta segunda-feira (26), que contou com a apresentação de Rafael Infante e as participações dos jornalistas Juliana Braga, Pedro Dória e Glenn Greenwald e do advogado e coordenador da Oxfam Brasil, Jefferson Nascimento.

Juliana Braga destacou que apesar de perder espaço no governo com a entrada definitiva do centrão, a ala militar que apoia Bolsonaro ainda vê no presidente uma figura de confiança. “A gente trata como um grupo único, mas tem várias alas. De um modo geral, há a leitura de que o centrão veio pra ficar. [Os militares] Enxergaram o movimento quando Bolsonaro se aproximou de Arthur Lira na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados e o centrão foi chegando e atropelando tudo. A forma como o ex-ministro Luiz Eduardo Ramos foi demitido, pegou muito mal com os militares, mas eles continuam vendo em Jair Bolsonaro a figura mais próxima do que acreditam e continuam com medo da eleição do ex-presidente Lula no ano que vem”, analisou a jornalista, lembrando que esta não é a primeira “gafe” cometida pelo presidente em relação aos militares.

Pedro Dória destacou que não é possível dizer que o centrão de agora é o mesmo grupo político-partidário que deu sustentação aos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT). O grupo formado na época da Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, era chamado de “democratas”, sendo basicamente uma ala do antigo MDB que se uniu para criar o PSDB.

“Acho que chegamos num ponto que pra começar a falar sobre política brasileira a gente tem que começar a deixar um pouco esse termo centrão de lado, porque ele começa a atrapalhar mais do que ajudar. (…) O centrão passou por muitas histórias. No grosso do nosso período democrático, que são os governos do PSDB e do PT, quem mandava no centrão era o PMDB e neste momento quem está mandando no centrão é o PP”, pontuou o jornalista, ressaltando que o PP tem uma ideologia própria ligada à direita e à antiga Arena – do período da ditadura militar.

“A gente está muito acostumado a dizer que são partidos fisiológicos, mas esses partidos têm ideologia. Esses partidos são, claro, fisiológicos também; são corruptos também; mas eles representam conjuntos de ideias, e o PP era o pedaço fundamental da Arena – que era um partido de defesa da ditadura militar; enquanto que o PMDB era o partido de oposição. O que a gente tem aqui é a reconstituição do bloco que comandou a política brasileira durante a ditadura militar – que são os generais de um lado e a Arena do outro. Não é a mesma coisa que a gente passou os últimos anos chamando de centrão”, completou Dória.

Centrão terá controle do “orçamento secreto” da Câmara

A nomeação do senador Ciro Nogueira possibilitará que o centrão, do qual também faz parte o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), tenha o controle do chamado “orçamento secreto” da Câmara, que este ano soma nada menos que R$ 17 bilhões em emendas parlamentares sob a rubrica RP9 – destinadas sem que sejam reveladas a autoria da verba nem a destinação. Essa possibilidade de utilização das emendas parlamentares foi aprovada em 2019 e, apesar dos protestos da oposição, que alega inconstitucionalidade na execução do orçamento público desta forma, foi mantida também na previsão orçamentária de 2021.

Íntegra do programa ‘Segunda Chamada’ desta segunda-feira.

“No jogo de forças políticas é sempre importante mencionar o quanto todo o debate orçamentário tem sido discutido nos últimos anos, principalmente do ano passado para esse. Neste ano, a expectativa era de que pelo menos o rito processual do orçamento fosse feito de uma maneira diferente, mas o que aconteceu foi um grande atropelo. O relatório apresentado, em menos de uma semana foi colocado para votação, e um dos ‘jabutis’ é o fundo eleitoral (de R$ 5,7 bilhões). Tudo isso sem participação social e supervisão da sociedade”, alertou o advogado e coordenador da Oxfam Brasil, Jefferson Nascimento.

O Segunda Chamada tratou ainda sobre a PEC do Voto Impresso e sobre o impacto do desemprego e da inflação na economia brasileira. A íntegra do programa está disponível no Canal MyNews no YouTube. O Segunda Chamada vai ao ar sempre às segundas-feiras, a partir das 20h30.

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