Arquivos Beatriz Prates - Canal MyNews – Jornalismo Independente https://canalmynews.com.br/post_autor/beatriz-prates/ Nosso papel como veículo de jornalismo é ampliar o debate, dar contexto e informação de qualidade para você tomar sempre a melhor decisão. MyNews, jornalismo independente. Tue, 08 Mar 2022 15:21:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Esforço https://canalmynews.com.br/sem-categoria/esforco/ Sat, 28 Aug 2021 15:07:10 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/esforco/ Um caminho cheio de obstáculos

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Vou dormir esperançosa. Amanhã vou começar uma nova fase. 8:30 da manhã uma aula experimental numa academia. Nunca fiz academia. Na maioria do tempo sou uma pessoa sedentária. Fiz balé durante a adolescência e alguns esportes. Mas depois de adulta nunca consegui abraçar uma atividade.

Tentei aula de dança e cancelei porque, de tanto que faltava, não acompanhava a coreografia. Tentei yoga em vários lugares. No último desisti porque era um povo lindo demais, alongado demais, vegano demais… Não deu certo pra mim.

Aí veio a pandemia e a única atividade possível pra mim era caminhar. Caminhei menos do que precisava. E aí se consolidaram na minha barriga – que nunca foi chapada – uns indesejáveis quilos a mais.

De manhã, a positividade da noite anterior desapareceu. Primeiro porque não coloquei o alarme, então acordei sem saber onde estava. Fui olhar o relógio na sala e eram 7h50. Droga, ia dar tempo. Mas pensei: vou deitar um pouco mais. Encostei, mas levantei a tempo e fui, mesmo sem o endereço certo. Sabia só a rua. Me perdi um pouco e pensei em desistir, mas acabei achando o lugar.

Entrei direto pra aula porque estava, claro, atrasada. Já fui contando quantas pessoas tinha no ambiente e me irritando com a voz da professora que gritava. Mas o meu professor era outro, que alívio. Aí começaram os exercícios. E a cada série que ele passava mais o meu ódio aumentava.

Chegou então a temida hora dos abdominais. Sou péssima neles. Era aquele tipo completo, tinha que levantar o tronco inteiro, a perna… Depois da sexta repetição, já tava toda torta. Murmurei algo do tipo: esse eu não aguento. Ele me deixou fazer uma versão mais simplificada.

Vieram mais exercícios. Enquanto fazia cada sequência imaginava como iria dizer: obrigada, mas isso não é pra mim. Ou então pensava em como iria simplesmente sair andando, calçar o meu tênis e fugir pela porta sem falar com ninguém. Resisti. Foquei o olhar no ponto mais infinito e evitei qualquer interação com o professor.

Aos poucos me acalmei e consegui terminar a primeira aula. Paguei para experimentar o mês.


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Tanques à mostra https://canalmynews.com.br/sem-categoria/tanques-a-mostra/ Wed, 11 Aug 2021 23:55:15 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/tanques-a-mostra/ Por que o governo se sente à vontade para desafiar a democracia?

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A imagem dos tanques e blindados na Esplanada dos Ministérios em Brasília na terça-feira não me sai da cabeça. Ela virou meme nas redes sociais, é patética como disse o presidente da CPI da Covid e ao mesmo tempo assustadora.

O presidente Jair Bolsonaro tinha um objetivo claro com o desfile militar: queria mostrar força diante da votação perdida da PEC do voto impresso na Câmara dos Deputados. Até aí, não há novidade. Bolsonaro nunca escondeu seus arroubos golpistas.

O que chama atenção, pra mim, é a conivência das Forças Armadas com um ato desses. A ideia, ao que parece, veio do comandante da Marinha. Jornalistas com fontes entre os militares dizem que a ação provocou desconforto no alto comando do Exército, mas que o comandante não poderia se negar a participar daquele ato. A pergunta que fica é: como chegamos até aqui?

Na segunda-feira, no programa Segunda Chamada do MyNews, o pastor Ed René Kivitz fez uma reflexão importante sobre a questão dos militares e da ditadura no Brasil. “A gente saiu de uma ditadura militar e não fez um trabalho de casa pra compreender e entender o que é democracia. (…) A gente precisa suscitar urgentemente um debate, aprofundar, levar adiante um trabalho, que na minha opinião, é inconcluso da Comissão da Verdade, de rever a nossa história. A gente não fez isso nem com a escravidão, não fizemos com a ditadura.”

Rever a história é um passo importante. E nós realmente não fazemos isso. O Brasil, ao contrário dos nossos vizinhos Uruguai, Argentina e Chile, não puniu os líderes da ditadura. A Lei de Anistia de 1979 garantiu perdão aos exilados políticos e aos criminosos da ditadura. Na Argentina foi diferente. Mais de 1000 agentes de estado foram condenados pelos crimes que praticaram durante a ditadura militar. No Chile, agentes da polícia secreta do ditador Pinochet também foram condenados.

E por que isso faz diferença? Em 2018, o então ministro da Cultura do Chile, Mauricio Rojas, enalteceu a ditadura. Ele teve que deixar o cargo imediatamente, tamanha a pressão da sociedade. No Brasil de 2016, o então deputado federal, Jair Bolsonaro, fez uma homenagem ao maior torturador da ditadura brasileira no plenário da Câmara e dois anos depois foi eleito presidente do país. Nossa sociedade e nossas autoridades, infelizmente, são extremamente tolerantes aos ataques contra a democracia.

Mesmo depois de eleito, o presidente não parou. Fez parte de manifestações que pediam a volta do AI-5 e o fechamento do Congresso. E, toda vez que se sente acuado dobra a aposta. Há menos de uma semana xingou de “filho da puta” um ministro do Supremo, disse que não vai ter eleição se não tiver o voto impresso e que não vai seguir a constituição. E mesmo depois de tudo isso, conseguiu armar este desfile de tanques na tentativa de pressionar o Congresso.

Bolsonaro perdeu na votação que “enterrou” o voto impresso. Há avaliação de que ele saiu enfraquecido politicamente depois do desfile militar. Mas a minha dúvida é: o quanto mais a nossa democracia aguenta? E até quando seremos tolerantes?


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Atraso de vacinas, ao que parece, não foi só por ideologia https://canalmynews.com.br/sem-categoria/atraso-de-vacinas-ao-que-parece-nao-foi-so-por-ideologia/ Fri, 02 Jul 2021 21:40:50 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/atraso-de-vacinas-ao-que-parece-nao-foi-so-por-ideologia/ Investigações das denúncias de corrupção no governo Bolsonaro apontam novas possíveis razões para a demora na compra dos imunizantes

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Estamos vivendo aqueles dias de notícias com denúncias bombásticas, histórias ainda incompletas e depoimentos pra lá de confusos na CPI da Covid. Parece que o cérebro não dá conta de tanta informação. Vivemos aquela ansiedade de conseguir entender tudo o que aconteceu, desatar os nós e refazer o caminho dos fatos. 

A CPI já tinha provado que o governo Bolsonaro agiu deliberadamente para atrasar a compra de vacinas. No caso da Pfizer, vale lembrar, foram mais de 50 e-mails com ofertas não respondidas. O epidemiologista da Universidade  Federal de Pelotas, Pedro Hallal, fez as contas de quantas vidas dos mais de 520 mil brasileiros mortos poderiam ter sido salvas se a gente tivesse comprado a tempo: 95 mil. 

Para mim sempre foi muito difícil entender a ideologia criminosa do Governo Federal. Por que não comprar vacinas? Por que incentivar aglomerações? Insistir no uso de medicamentos que não funcionam? E ainda o absurdo da cruzada contra as máscaras. 

A CPI destrinchou como funcionava o chamado “gabinete paralelo” que aconselhava o presidente. Além do deputado federal Osmar Terra (MDB) – que errou em todas as previsões sobre a Covid  – participavam deste grupo médicos defensores de remédios sem efeito comprovado, empresários charlatões e integrantes do gabinete do ódio, ou seja, o combate a maior pandemia do século no Brasil tá na mão de gente que é, no mínimo, mal intencionada. 

Agora, com as denúncias de corrupção que surgiram com o depoimento dos irmãos Miranda na compra da vacina Covaxin, o cenário muda bastante e fica a pergunta: será que os atrasos na compra de vacinas não foram por ideologia, foram por corrupção? Ainda não temos todas as respostas. 

Muitas perguntas estão em aberto e, dos poucos fatos já esclarecidos tem um que chama atenção. Sabemos que Bolsonaro não agiu logo que recebeu a denúncia dos Miranda. A PF só começou a investigar agora, três meses depois que o presidente soube do caso, e depois, claro, que o escândalo chegou à CPI. 

Enquanto as investigações avançam, o presidente recorre aos extremos. Ora xinga senadores de bandidos, ora ofende jornalistas mulheres, ou tira máscaras de crianças e fala mal de vacinas… Não é uma novidade. Há dois anos e meio acompanhamos este comportamento sempre que o Bolsonaro se sente ameaçado. Mas não adianta mais o presidente gritar. Os culpados por este morticínio serão apontados e punidos. Se foi por ideologia ou corrupção, eles terão que pagar pelas mais de 520 mil pessoas que perdemos.

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Jornalismo sob ataque https://canalmynews.com.br/sem-categoria/jornalismo-sob-ataque/ Mon, 31 May 2021 21:05:58 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/jornalismo-sob-ataque/ De sequestro a xingamentos. Governos autoritários e a perseguição de jornalistas.

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Quem não se espantou com o sequestro do jornalista de Belarus nos últimos dias? Numa ação inacreditável, o governo autoritário de Alexander Lukashenko forçou o pouso de um avião comercial da irlandesa Ryanair, que ia para outro país, para prender o jornalista Roman Protasevich. Roman montou um canal de jornalismo independente no Telegram onde faz críticas ao regime Lukashenko, há 26 anos no poder. Não é a primeira vez que um avião é obrigado a fazer pousos forçados para a prisão de alguém, mas de um jornalista eu nunca tinha ouvido falar. 

A União Europeia se pronunciou horas após a prisão e, entre outras sanções, proibiu todas as companhias aéreas de Belarus de usarem o espaço aéreo e os aeroportos dos 27 países-membros do bloco. Apesar das sanções, o jornalista continua preso. 

Um ataque desses em plena Europa assusta, mas a verdade é que jornalistas são perseguidos no mundo todo. 

Pra mim, um dos casos internacionais mais marcantes foi o do saudita Jamal Khashoggi que escrevia para o The Washington Post. Ele era crítico da monarquia saudita. Jamal foi  torturado e esquartejado no consulado da Arábia Saudita em Istambul em outubro de 2018.  Ele tinha ido até lá para pegar um documento para se casar.  

Aqui no Brasil, um dos momentos mais tristes da história do nosso jornalismo foi a morte do Tim Lopes. Tim foi assassinado em 2002 enquanto fazia uma reportagem sobre abuso de menores e tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Foi sequestrado, torturado e executado por traficantes que queimaram covardemente o corpo do jornalista. 

O Brasil não é um país fácil para jornalistas. No ranking mundial de liberdade de imprensa feito pela ONG  Repórteres Sem Fronteiras estamos na posição 111. Ao todo são 180 países neste ranking onde os últimos lugares são ocupados por China, Turcomenistão, Coreia do Norte e Eritreia. 

Desde a chegada de Jair Bolsonaro ao poder os ataques à imprensa, segundo a Fenaj,  aumentaram em 105,77%. Você deve ter visto algumas dessas agressões. Bolsonaro  já mandou jornalistas calarem a boca, chamou profissionais de canalhas, disse que um jornalista tinha “cara de homossexual terrível”, insinuou – num ataque misógino e covarde  – que a jornalista da Folha Patrícia Campos Mello conseguiu informações em troca de favores sexuais e por aí vai. 

Xingar jornalistas, claro, não é exclusivo de Bolsonaro. Outros presidentes brasileiros já fizeram isso também. A diferença é que hoje descredibilizar a imprensa é política de estado, assim como fazia Trump. 

Os apoiadores mais cegos do presidente replicam o comportamento das redes sociais nas ruas. Na última manifestação pró-Bolsonaro, um repórter da CNN que estava trabalhando teve que sair acompanhado de seguranças enquanto uma multidão raivosa gritava “lixo”. 

Os que estavam gritando não admitem críticas aos seus ídolos. Já aconteceu também em outros governos. São pessoas que  querem uma imprensa conivente, que só dê notícias boas, que não incomode. Não entendem que o problema não são os jornalistas, mas as notícias, os fatos… O jornalismo é perfeito? Não. Empresas de comunicação têm as suas agendas. Mas hoje existem vários veículos independentes com jornalismo profissional, como o MyNews. Você pode se informar por uma variedade de canais sérios e chegar às suas próprias conclusões. Isso é ampliar e melhorar o debate. Quem quer calar a imprensa não tem a mínima noção das consequências disso. Sem imprensa, não há democracia. Sem jornalismo, só sobram trevas. 

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O mundo deu um triplo carpado e as escolas não mudam https://canalmynews.com.br/sem-categoria/o-mundo-deu-um-triplo-carpado-e-as-escolas-nao-mudam/ Wed, 19 May 2021 16:50:27 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/o-mundo-deu-um-triplo-carpado-e-as-escolas-nao-mudam/ Por que ainda estamos tentando replicar o modelo de antigamente?

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Semana passada saiu o boletim do trimestre do meu filho de 15 anos. Entre as várias recuperações estava a de Educação Física. Não, você não leu errado. Em plena pandemia, sem aula presencial, rolou uma recuperação de educação física. Ele estuda numa escola particular que abriu por 3 semanas em fevereiro e até hoje não conseguiu voltar com as aulas presenciais. 

Pedi uma conversa com o coordenador. Meu filho é novo nesta escola e vem praticando o isolamento social à risca. Não fala com professores, colegas e qualquer outra pessoa da escola. Ele, que era um menino estudioso, foi super mal em todas as matérias. Eu estava esperando. Ele já tinha dado o sinal de que não conseguia mais prestar atenção em nenhuma videoaula, incluindo Educação Física. 

Perguntei para o coordenador se era possível liberar da Educação Física quem está com muita dificuldade de se concentrar em videoaulas. A resposta foi que as atividades eram parte do currículo obrigatório. Mas e se a pessoa faz atividades físicas em outro lugar?, perguntei. Também não pode.

A triste realidade é que o mundo deu um triplo carpado e as escolas não saíram do lugar. Boa parte dos professores – que não tinha treinamento para dar aula online – continua sem saber como fazer. E não é só a questão do conteúdo: é a dinâmica da sala de aula. 

Nessa escola meu filho ficou algumas vezes sem ninguém para fazer trabalho em grupo por pura timidez. Os professores nem notaram. Será que mais de um ano depois da pandemia não era possível ter criado um processo para ter certeza se os grupos foram formados e se os alunos adolescentes no auge de todas as dúvidas e crises do mundo estão entendendo e interagindo?

São muitas as dificuldades dos professores e reconheço cada uma delas. A culpa não é só deles. Tem todo um sistema de dinâmica online que eles não conhecem. Os alunos estão prostrados e eles, professores, exaustos. Mas será que não é possível pensar diferente, usar outras estratégias?

Bom, este é um recorte da minha experiência, de uma pessoa privilegiada que tem condições hoje de pagar uma escola particular. E nas públicas, o que está acontecendo? 

A diferença é tão assustadora que não dá nem para comparar. O problema não é de dinâmica. Abriu-se um fosso de desigualdade. Mais de 4,3 milhões de estudantes, segundo o IBGE, não tinham acesso à internet em 2019, sendo 95,5% deles em escolas públicas. Ou seja, se o processo educacional fosse uma corrida, esses estudantes em 2020 não conseguiriam nem dar a largada. 

Só no Estado de São Paulo, 90 mil não conseguiram acompanhar as aulas em 2020. O governo do estado já fez uma estimativa que, dependendo da série em que o aluno está, seja necessário de 1 a 11 anos para recuperar a aprendizagem perdida. Na pesquisa com estudantes da rede estadual eles mediram principalmente o desempenho em português e matemática. 

Como é que a nossa sociedade vai lidar com este impasse? 

Acho que o abandono desses estudantes não será resolvido facilmente. Vai precisar de investimento, inteligência e uma grande mudança na abordagem do currículo escolar pré-pandêmico. Eu torço por um sistema educacional mais justo, mais flexível e com mais acolhimento.

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Fumacê de cloroquina https://canalmynews.com.br/sem-categoria/fumace-de-cloroquina/ Wed, 12 May 2021 20:55:41 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/fumace-de-cloroquina/ As dúvidas alimentadas pela fake news do tratamento precoce

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Quando você é arrimo de família toda decisão que você toma influencia diretamente a vida dos seus familiares. É um peso danado. 

Esses dias uma amiga que é responsável, como ela mesma diz, por decisões de “vida ou morte” na família dela mandou um kit covid – que não tem eficácia – para a irmã. Ela estava preocupada porque a irmã é do grupo de risco e a mãe dela – que já estava vacinada – teve Covid leve. Minha amiga não é bolsonarista. É empresária, jornalista e super bem informada. A justificativa pro kit que ela sabe que não funciona era “não aguentar a culpa se algo acontecesse de ruim e ela não tivesse dado nenhum remédio”. 

Eu fico pensando: se isso aconteceu com ela, quantas pessoas estão se esbaldando em ivermectina, azitromicina e cloroquina? Um levantamento da GloboNews dá uma ideia. Do ano passado pra esse aumentou em 857% a compra de ivermectina e 126% hidroxicloroquina. O fato do Conselho Federal de Medicina não ter se posicionado contra a cloroquina é horrorizante. Não custa lembrar que já morreu gente em nebulizações de hidroxicloroquina no Rio Grande do Sul e no Amazonas. 

Agora acompanhando os depoimentos na  CPI da Covid, a gente consegue ver como o governo agiu para colocar o medicamento na boca do povo. Além da propaganda do presidente que todos nós acompanhamos, o ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta contou do dia em que havia um decreto presidencial pronto para mudar a bula do remédio e dizer que ele era indicado para Covid. O diretor da Anvisa não deixou e um ministro disse que era só uma sugestão. O outro ex-ministro da saúde Nelson Teich reafirmou que saiu porque não topou bancar a recomendação do tratamento da Covid com o remédio. Só mesmo o general Eduardo Pazuello – também ex-ministro da saúde –  foi capaz de tamanha crueldade com o povo brasileiro. 

Mas e aí? E se você estiver com Covid e o médico disser pra você tomar um desses comprimidos? Se for sua mãe, seu pai, seu filho? É aí que vem o tal do fumacê. Nessa guerra ideológica que vivemos desde o dia 24 de março – quando o Bolsonaro disse que o coronavírus era uma gripezinha – as mentiras deixaram muitos de nós na dúvida. De tanto que são repetidas e propagadas as informações falsas geram receio, medo e até culpa. 

A mentira da cloroquina e do tratamento precoce prosperou impulsionada pela máquina do governo. Mas ela também criou vida própria. Planta dúvidas em cada um de nós porque no fundo tudo o que a gente queria é que fosse verdade. Que houvesse algo que desse um jeito, que nos protegesse desse vírus que a gente não vê e que paralisou a nossa vida.

Nesta grande confusão não nos resta muitas opções. Nem o Brasil e nem nenhum país do mundo tem remédio pra Covid.  A única esperança é a vacina e a ciência. Sigamos nos cuidando e tentando enxergar para além desse fumacê. 

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Qual o limite entre um objetivo pessoal e o bem comum? https://canalmynews.com.br/sem-categoria/qual-o-limite-entre-um-objetivo-pessoal-e-o-bem-comum/ Fri, 09 Apr 2021 22:52:18 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/qual-o-limite-entre-um-objetivo-pessoal-e-o-bem-comum/ O show de horror da disputa pra vaga do “terrivelmente evangélico”

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Duas figuras importantes da nossa república estão numa disputa ferrenha pela próxima vaga do Supremo Tribunal Federal: o Procurador-geral da República Augusto Aras e o atual ministro da Advocacia Geral da União André Mendonça.

Os dois protagonizaram um show de horror no plenário do STF para defender a indefensável bandeira da reabertura das igrejas e templos no pior momento da pandemia no Brasil. 

Augusto Aras falou como se não houvesse mais de 3 mil mortos no nosso país todos os dias. Ele disse que “o estado é laico, mas as pessoas não são. A ciência salva vidas, a fé também”. 

André Mendonça foi pior: citou versículos da Bíblia e chegou a dizer que cristãos “estão sempre dispostos a morrer para garantir a liberdade de religião”. Sério, ministro? 

Os dois preferiram ignorar a situação dramática que estamos vivendo para tentar agradar ao presidente doidivanas que continua prescrevendo remédio que não funciona e fazendo campanha contra máscara e o isolamento social. 

Pegou tão mal a postura de Aras e Mendonça que a Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais defendeu que fosse criado um período de desincompatibilização, uma quarentena, para que integrantes da AGU e PGR possam ser indicados para a vaga no STF. Talvez essa fosse uma solução para impedir que desejos presidenciais fossem realizados em troca de cargos. 

Me pergunto até onde eles irão para conseguir a vaga de ministro do STF “terrivelmente evangélico” anunciada por Bolsonaro ? Quais são os limites? 

Sobre Kassio Nunes Marques 

Aras e Mendonça estão na disputa pela vaga do STF desde o início do governo. Da primeira vez foram preteridos e quem levou foi o hoje ministro Kassio Nunes Marques. 

Aliás, acredito que Bolsonaro deve estar feliz com a escolha. Primeiro o ministro decidiu pela reabertura das igrejas e templos. Depois, no plenário do STF, a defesa do ministro sobre o tema foi totalmente alinhada ao grupo de apoio do presidente. Ao longo de sua fala, Nunes Marques repetiu frases que são largamente ditas em redes bolsonaristas como a de que estamos vivendo uma crise de direitos individuais e coletivos. Enquanto cravava que “igrejas fechadas não garantem que não haverá transmissão”, dizia que a liberdade de culto tem previsão constitucional. Quem está impedindo quem de rezar e praticar sua religião? Deus tá vendo. 

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Estamos todos esgotados https://canalmynews.com.br/sem-categoria/estamos-todos-esgotados/ Fri, 26 Mar 2021 15:25:25 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/estamos-todos-esgotados/ Na vida pessoal e profissional, estamos todos precisando de ajuda

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Um dia desses, no meio da tarde, rolou uma bateção de porta fora do normal na minha casa. Uma, duas, três, quatro vezes. Foi o jeito que meu filho de 14 anos encontrou de pedir ajuda. Tava difícil pra ele aguentar a pressão.

Todo mundo que mora com um adolescente já percebeu o quanto esse um ano de pandemia sem perspectiva de melhora afetou o humor deles. É ansiedade em carga máxima demonstrada em ataques de raiva, frustração e desespero ou, o outro extremo, o da apatia completa. 

E não são só os adolescentes que estão vivendo nessa gangorra de emoções. O desgoverno de Jair Bolsonaro, que provoca a cada dia mais mortes no nosso país, nos deixa sem esperança. Como manter a performance no trabalho, no estudo, na vida pessoal com tanta desgraça, incompetência e maldade ao redor? A carga pesou ainda mais quando atingimos mais de 300 mil mortos causados pelo Covid-19 e começamos a assistir a morte de mais de 2 mil pessoas por dia. 

No trabalho, já recebi muitas mensagens de colegas e parceiros no meio do dia, no fim de semana,  à noite, dizendo que não estão conseguindo trabalhar. Que chegaram no limite. Que estão emocionalmente esgotados. 

Tudo isso tem a ver com o aumento de mortes e o descontrole da pandemia. Tem gente demais experimentando o luto ao mesmo tempo. E grande parte de nós, brasileiros, está com medo do que pode acontecer. Uma pesquisa do DataFolha mostrou isso: 55% dos entrevistados disseram ter muito medo.

Então, fique atento aos sinais dos seus colegas, seus amigos, seus filhos e sua família. Tente entender se aquela batida de porta ou aquela resposta torta não é um pedido de ajuda. E peça ajuda você também. Esses dias, na hora de um aperto, digitei para uma amiga: “você tem 10 minutos?”. E foi um alívio poder conversar com alguém naquele momento. 

E o que mais a gente pode fazer? Estou tentando buscar micro alegrias e fazendo pequenas mudanças no meu dia a dia. Tentando falar com amigos sobre outros temas. Dividindo qualquer coisa que dê um alívio cômico. Os vídeos no TikTok dos estudantes falando mentiras sobre o dia a dia na pandemia ao lado dos pais é uma deles. “Acordo às 5 da manhã, faço café…”. Se ainda não riu com eles, procure. Mandei pra todo mundo que podia. 

Um alívio cômico. 

Um pedido de ajuda. 

Fiquem atentos aos sinais.

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“Pra gente nada é impossível” https://canalmynews.com.br/sem-categoria/pra-gente-nada-e-impossivel/ Fri, 12 Mar 2021 21:44:30 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/pra-gente-nada-e-impossivel/ #MyNews faz 3 anos

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Hoje faz exatamente 3 anos que coloquei no ar o primeiro programa de jornalismo do MyNews – o Segunda Chamada. No dia da estreia estava tensa, claro, mas estava segura.

Uma semana antes foi diferente: eu tive medo.

Tinha ido para o Rio de Janeiro e estava montando uma equipe do zero. Do quarto de um hotel, sozinha, com uma internet não tão boa, decidia – com o aval da Mara Luquet e do Antonio Tabet -, e muitas vezes sem eles, as contratações, os cenários e a operação do canal. Quando a tensão apertava ligava pro meu marido, que não sabe nada de jornalismo ou operação de vídeo, mas que me ajudava a clarear a mente. Ali não era só o conteúdo que estava em jogo.

O piloto técnico no YouTube Space foi desastroso, como todo bom piloto deve ser. Só que tinha um agravante: praticamente ninguém da equipe se conhecia e eu também não tinha experiência de trabalho com quase ninguém. Depois que tudo deu errado, estudei cada função, anotei num caderninho o que não tinha funcionado, perguntei pros excelentes profissionais que estavam à minha volta como resolver e conversei com cada um deles. Deu certo!

Da estreia até hoje nunca deixei de sentir medo. Como a Ana Konichi, nossa diretora de produção costuma dizer, no MyNews uma semana parece um mês. Começamos o canal com três programas semanais gravados e redes sociais. Hoje temos três lives diárias, cinco programas semanais, newsletters, site e programa de membros. A cada estreia e a cada projeto novo tem sempre um frio na barriga e o trabalho de entender os erros para evoluir e acertar. A diferença é que hoje somos uma equipe super unida e altamente profissional que entende a necessidade dessa constante renovação. A nossa mudança na pandemia, por exemplo, de gravações no estúdio para gravação remota, foi feita em tempo recorde: uma semana.

Nesses três anos, em paralelo ao conteúdo e à operação, me aventurei também em outras áreas do negócio. Fomos selecionados quatro vezes na captação de projetos para investimento em jornalismo do Google e do YouTube. Também me enveredei nos projetos de parceria comercial. E agora, no programa de membros. Para todas essas atividades novas, que exigem muita preparação e estudo, tive que me redescobrir e aprendi que praticamente tudo é possível desde que você esteja disposto a fazer. Disposto a correr o risco de errar, olhar para seu erro e tentar novamente.

Não me esqueço do dia que liguei para a Mara, praticamente chorando, porque uma operação em Brasília não tinha dado certo. Eu estava arrasada e ela me aliviou. “Bia, o que estamos fazendo ninguém nunca fez. Faz parte da inovação errar”. Desde esse dia trabalho melhor com a possibilidade do erro.

E isso, claro, não quer dizer de maneira nenhuma ser menos profissional. Nossa equipe prima pela qualidade da informação, que é, claro, a nossa alma.
Aliás a nossa alma, pra quem não sabe, tem um forte lado feminino. O MyNews é liderado por mulheres. E temos mulheres na direção de todos os programas. Pessoas incríveis, inteligentes e super capazes.

Num momento em que o jornalismo está sendo tão atacado e ao mesmo tempo é tão necessário é importante celebrar essa conquista do canal de chegar aos 3 anos firme, forte e com tantos reconhecimentos e prêmios. E também agradecer a todos que participaram de alguma forma do projeto, aos que acreditaram e investiram e aos que assistem ao canal e leem este site.

Ainda temos um longo caminho pela frente para realizar todos os nossos projetos e sonhos, que são muitos. Vou encerrar com uma frase roubada da Luciana Festi, nossa diretora de operações, dita a propósito num desses momentos frio na barriga do MyNews, “pra gente nada é impossível”.

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“Tira a calcinha e pisa em cima” https://canalmynews.com.br/sem-categoria/tira-a-calcinha-e-pisa-em-cima/ Thu, 11 Mar 2021 16:22:51 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/tira-a-calcinha-e-pisa-em-cima/ Todas as mulheres da minha geração já passaram por situações humilhantes de machismo

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“Tira a calcinha e pisa em cima”. Essa foi a resposta que levei, recém-chegada num novo emprego, quando pedi para um colega fazer uma modificação num vídeo. Claro, não foi direto assim porque muitas das humilhações que nós mulheres passamos vêm sempre debaixo do véu da brincadeira. O colega em questão estava do lado de outro homem que, diante do meu pedido, disse: “O que acontece quando um editor vem aqui apressadinho?”. E aí veio a resposta da calcinha. 

Os dois riram. Balbuciei o que queria e saí.  Nessa época  já era mãe de dois filhos e essa ofensa me deixou passada. Procurei então o chefe do departamento. Ele me escutou, disse que eu tinha razão, mas que para que ficasse um clima bom ele sugeria que eu mesma fosse falar com os colegas. “Eles são ótimas pessoas e não fizeram por mal”, ele disse. Eu, resignada, fui falar com eles. Por que aceitei sem reagir a esse tipo de humilhação? Por que não consegui dizer para o meu chefe que essa era a função dele? Acho que a minha geração de mulheres, que foi criada para ter sucesso profissional e ser independente, entubou que o único jeito era aguentar essas situações e seguir em frente. Sem contestação. 

Tenho colegas que foram literalmente convidadas para o teste do sofá e outras que tiveram que ouvir perguntas do tipo “você está de TPM? Por que está tão nervosa?”. Tem também o chefe que manda emagrecer ou engordar com pitacos do tipo “você não está mais tão atraente”. Tem chefe que quando questionado sobre aumento rebate: “mas e o seu marido, ele não ganha bem?”. O que tem em comum nessas situações? As mulheres não reagiram. Engoliram seco, responderam qualquer coisa, mas não confrontaram, não se posicionaram ou denunciaram o chefe ou colega de trabalho.

Acredito muito que essa nova geração está mais empoderada, com uma visão mais horizontal da sociedade.  Elas falam mais abertamente sobre machismo e feminismo e assim têm mais chance de mudar a realidade. Mesmo que a violência contra mulheres ainda seja brutal e a desigualdade de gênero ainda seja muito grande no Brasil, tenho esperança. O fato de estarmos falando sobre isso muda tudo. 

Eu mesma já sou capaz de me posicionar de uma maneira melhor. Essa coisa que muito homem tem de chamar as colegas no diminutivo – como garota, mocinha, menina e etc, eu já consigo alertar. O interlocutor geralmente estranha, acha que você está exagerando, mas é obrigado a te ouvir. Tem quem aceite bem e tem quem não aceite. E daí nesse caso é sempre o mesmo discurso: a fulana é louca, veio me chamar a atenção sem razão, era só uma brincadeira, tá exagerando. 

Nem sempre essas conversas têm um final feliz. Alguém pode sim pedir a sua cabeça por você estar se posicionando. Por isso ainda tem tanta mulher calada. Mas essa cultura vai mudar. Não nos calemos. Não tenhamos medo. Cada uma que fala abre o caminho para a próxima. 

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Quando a realidade fica pior que a ficção https://canalmynews.com.br/sem-categoria/quando-a-realidade-fica-pior-que-a-ficcao/ Thu, 04 Mar 2021 23:01:28 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/quando-a-realidade-fica-pior-que-a-ficcao/ O show de Bolsonaro não tem como desligar ou pausar

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Esses dias passei por uma situação horrível assistindo a um episódio da série dos espiões russos “The Americans”. A cena era a seguinte: um dos agentes da KGB, infiltrado num laboratório americano de armas biológicas, é pego pelo FBI. Quando os investigadores se aproximam, ele quebra o frasco que contém o vírus. O local é isolado, ele é levado para um hospital, todo mundo de máscara. Tive que parar o episódio, levantar do sofá e procurar um lugar tranquilo para conseguir respirar porque, naquele momento, tive certeza de que estava com coronavírus e precisaria de um hospital. Não estava. Em poucos minutos me recuperei.

Não foi a primeira vez que aconteceu algo desse tipo comigo durante este longo ano de pandemia. Outra série que tive que parar no meio foi a “I may destroy you“. As situações tão reais de abuso e estupro combinadas com a realidade mundial e, ainda pior, a do nosso país, foram demais pra mim. Também deixei alguns livros de lado como, por exemplo, o clássico “Por quem os sinos dobram“. O relato detalhado do desalento da guerra civil espanhola e os absurdos dos confrontos começaram a pesar demais e não consegui mais acompanhar a história de Hemingway. Abandonei alguns livros de não-ficção como “A república das milícias – dos esquadrões da morte à era Bolsonaro” de Bruno Paes Manso. A realidade bateu na minha porta de uma forma brutal. Andar em Rio das Pedras pelas pernas e olhos do Bruno e entender a história de Fabrício Queiroz e Adriano da Nóbrega – e as relações deles com os Bolsonaro – me deixou com um pouco de pânico.

Aliás, taquicardia é o que me dá toda vez que vejo e leio os absurdos que o nosso presidente, depois de um ano de pandemia e mais de 257 mil mortos, continua dizendo. Uma das últimas foi a fake news das máscaras. Mas hoje, olhando para trás, percebo que venho sentindo isso desde as primeiras aglomerações que ele promoveu em março de 2020, ao lado do diretor da Anvisa, cumprimentando um por um os manifestantes presentes. 

Depois vieram os protestos semanais, sem máscara, contra o STF, a democracia… E só foi piorando. Tivemos “E daí?” com cinco mil mortos, as caixas de cloroquina que não funcionam, ministros da saúde saindo, Pazuello entrando, vacina que transforma em jacaré, falta de oxigênio em Manaus, mais cloroquina, insanidade atrás de insanidade. 

O show de Bolsonaro não tem como desligar ou pausar. A pandemia segue descontrolada pelo Brasil. A última semana foi de mais de mil mortes por dia, ontem com o triste recorde de 1726 perdas . Uma hora pode ser eu, você, nossa família, nossos amigos. Tantas pessoas perdendo a vida. Definitivamente não precisamos de ficção: a realidade tá de matar.

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Saudades dos amigos, e até dos amigos dos amigos… https://canalmynews.com.br/sem-categoria/saudades-dos-amigos-e-ate-dos-amigos-dos-amigos/ Wed, 24 Feb 2021 14:43:06 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/saudades-dos-amigos-e-ate-dos-amigos-dos-amigos/ Como as pequenas interações sociais fazem falta nessa pandemia

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Era domingo e nós trocamos mensagens curtas pelo Whatsapp

Eu: “Precisamos nos ver, quero dar um presente para o bebê antes dele nascer!” 

Ela: “Só se você vier me ver hoje, ele nasce a qualquer momento”. 

Eu e minha amiga moramos a pouco mais de 100 km de distância. Nos conhecemos há 15 anos. Nos víamos com uma certa frequência, mas desde o início da pandemia só nos encontramos uma vez, na cobertura de um protesto, e ela ainda nem estava grávida. Como assim o bebê já está chegando?  

Com o isolamento, o nosso círculo social – principalmente os encontros presenciais – ficou extremamente fechado. Neste quase um ano, sinto que não vi ninguém. Praticamente convivi com a minha família e uns poucos amigos. E até mesmo com eles acabaram aqueles encontros espontâneos, do tipo: “o que você vai fazer hoje? Vamos tomar uma cerveja? Tô passando aí”. 

Como se comunicar melhor em videoconferências? Fonte: Chris Montgomery / Unsplash
Saudades dos amigos, e até dos amigos dos amigos… Fonte: Chris Montgomery / Unsplash

Os encontros presenciais durante a pandemia têm um ar de compromisso porque eles passaram, de uma certa forma, a ter que ter uma boa razão para existir, um motivo. Então, não é qualquer coisa. É o natal, aniversário e aquelas saídas de emergência quando você e seus amigos precisam desabafar. 

As chamadas por vídeo, que pareciam uma alternativa, logo saturaram. No início participei de várias “festinhas” online, conversei com amigos fora do Brasil, mas em julho, quando meu marido organizou uma videochamada surpresa no meu aniversário, eu surtei. Era tudo que eu não queria depois de um dia inteiro de videochamadas no trabalho. Hoje praticamente não falo com nenhum amigo por essas chamadas. Ou é ao vivo ou são mensagens curtas pelo WhatsApp. Então são vários relacionamentos que ficaram pausados. 

Com o tempo senti que não tenho saudades só dos amigos próximos. Tenho saudades dos conhecidos, dos amigos dos amigos (até os mais chatos), das pessoas que encontrava em restaurantes, bares, nas viagens e nos lugares onde gravava e fazia alguns trabalhos esporádicos. Esses conhecidos “periféricos”, descobri neste artigo do The Atlantic, também são super importantes para o nosso bem estar, o sociólogo Mark Granovetter da Universidade de Stanford pesquisou isso. 

Eu não sei se amigos próximos e casuais têm o mesmo peso pra mim, mas eles fazem uma super falta. Quando a pandemia chegou a gente perdeu essas relações mais leves, justamente as que nos distraem de quem somos e de nossos problemas. E não tem jeito, por enquanto, elas vão ficar suspensas. 

Nos resta aguardar a vacinação em massa para uma volta à normalidade. Não temos ainda muito ideia de quando isso vai acontecer. Mas sinto que, depois desta pandemia, não vamos dispensar nenhuma conversa. Vamos valorizar mais essas pequenas trocas. Afinal elas ajudam sim a deixar a vida mais leve, mais festiva e mais alegre.

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Nessa pandemia, só os negacionistas são felizes https://canalmynews.com.br/sem-categoria/nessa-pandemia-so-os-negacionistas-sao-felizes/ Thu, 04 Feb 2021 16:38:36 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/nessa-pandemia-so-os-negacionistas-sao-felizes/ Festa do Lira e outras celebrações “contagiantes”

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Ai que saudades de uma festa com amigos, música, dança, todo mundo bebendo e dividindo o copo, uma caipirinha, uma dose de qualquer coisa…. Não curto a audiência, mas o festão da vitória do deputado Arthur Lira (PP/AL) – que é agora o novo presidente da Câmara – me causou repulsa e, ao mesmo tempo, um pouco de inveja. 

Tanta gente sem máscara se abraçando, dancinhas para todos os lados. Vejo as cenas e imagino as gotículas de cada um se espalhando nos passinhos da deputada Joice Hasselmann (PSL/SP), provavelmente a mais filmada da festa. “Stand by me…” cantava a banda na hora que ela percebeu que alguém com um celular incômodo gravava tudo. E foi um tal de brinde à amizade, ao Lira e ao Brasil! “Muito bem!!”, aplaudiam. Tem mais de 226 mil mortos por Covid no país, não temos vacinas suficientes, 14 milhões sem emprego. Nada importa.

“Oh darling, darling, Stand by me!” 

Saindo da esfera política, aconteceu isso também no fim de semana com os torcedores do Palmeiras, do Santos e sei lá mais de onde que comemoraram as vitórias, extravasando a alegria trazida pelo esporte, todos ali bem juntinhos.

É um misto de perplexidade, indignação, raiva e uma sensação de paralisia. São os mesmos sentimentos que vêm à tona quando vejo festas exibidas nas redes sociais. Foto só das mulheres, foto só dos homens, agora todo mundo no aniversário de não sei quem. E claro, sempre tem ele: o brinde… e as gotículas. 

Arthur Lira durante festa em comemoração de sua eleição como presidente da Câmara.
Arthur Lira durante festa em comemoração a sua eleição como presidente da Câmara. Foto: Reprodução Twitter.

São Paulo estava vivendo, até hoje, um misto de fase vermelha com laranja. Nos finais de semana o comércio, bares e restaurantes tinham que ficar fechados. No primeiro fim de semana da medida, o prefeito da cidade Bruno Covas (PSDB), licenciado para o tratamento de câncer, estava com o filho na final da Libertadores no Rio de Janeiro. Ele reclamou que a internet pegou pesado e usou o momento da vida pessoal como justificativa. Tem gente que se solidarizou com o prefeito. Mas eu fico pensando no sacrifício dos milhares de comerciantes que ficaram em casa e que estão cheios de contas para pagar e empregos para manter. Não dá para fechar a cidade e ir viver um momento inesquecível. Quem está no comando, mesmo de licença, tem que dar o exemplo.  

Essa premissa está um pouco esquecida no Brasil por conta do governo negacionista, anti-máscara, antivacina que nós temos. Mas é o mínimo que a sociedade espera dos seus líderes. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que não nega a pandemia e acelerou o processo da vacina, também errou: no final do ano, quando colocou em prática medidas restritivas no estado, foi para Miami. Teve que voltar às pressas e pedir desculpa.

O resultado de cada um fazer o que quiser e viver seus momentos inesquecíveis a gente viu em Manaus. Fico imaginando o que aconteceu com os comerciantes que comemoraram o não lockdown da cidade. Também fico pensando se os políticos bolsonaristas que celebraram o não fechamento do comércio tiveram um momento de reflexão sobre o papel que estão cumprido. Será que na hora de dormir ali com os travesseiros não bate uma rebordosa? Aí volto para festa do Lira e seus 300 convidados. Nessa pandemia, só os negacionistas são felizes.

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Aulas com atividades presenciais: um alívio para poucos https://canalmynews.com.br/sem-categoria/aulas-com-atividades-presenciais-um-alivio-para-poucos/ Wed, 27 Jan 2021 21:51:58 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/aulas-com-atividades-presenciais-um-alivio-para-poucos/ “Se a educação fosse realmente prioridade para os governantes , todos os estudantes já teriam voltado pelo menos parcialmente para a escola, com os devidos procedimentos de segurança”

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Recebi nessa semana a notícia mais incrível dos últimos meses. Meu filho de 14 anos que passou o ano de 2020 inteiro com aulas remotas vai, finalmente, ter atividades presenciais. Juro que quando a secretária da escola me falou sobre aula presencial minha vida se iluminou. Pena que este alívio é pra poucos. Em São Paulo, pelo menos, ele só acontece neste momento para pais e mães, como eu, que conseguem pagar uma escola particular.

Numa conversa com duas mães com filhos em escolas públicas o cenário é de desespero. Elas têm medo que os filhos desaprendam, não queiram mais ir à escola. O impressionante no nosso país é que se passou quase um ano do início da pandemia e até agora as autoridades não têm uma solução para, na minha opinião, um dos principais problemas do Brasil: como voltar às aulas com atividades presenciais de uma forma segura?

Manifestantes na Avenida Paulista pedem abertura de escolas e volta às aulas durante a pandemia de Covid-19
Manifestantes na Avenida Paulista pedem abertura de escolas e volta às aulas durante a pandemia de Covid-19.
(Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas)

Vou dar o exemplo do Canadá. O país está num lockdown severo desde dezembro por causa do aumento dos casos de morte e infecção por Covid-19, mas as escolas de todos os estados, com exceção de Ontario, estão abertas. Os governos estaduais decidiram que as crianças estarem na escola é essencial para que o país consiga manter um mínimo de saúde mental. Então bares, restaurantes, academias e comércios estão fechados, recebendo ajuda financeira do governo, mas as escolas estão abertas, assim como farmácias e supermercados. 

Aqui é exatamente o contrário. Bares, comércio e restaurantes estão abertos há muito tempo e as escolas ainda têm restrições. No estado de São Paulo, por exemplo, com o crescimento de casos de Covid, a política pública do governo estadual foi atrasar o início das aulas e colocar como não obrigatória a presença de alunos nas fases laranja e vermelha, quando aumentam o número de casos de coronavírus. Já as escolas particulares poderão retomar atividades presenciais, se quiserem, com 35% da capacidade. É cada um por si. E a desigualdade só aumenta.

A verdade é que não existe um plano efetivo e coordenado para a volta às aulas. Sindicatos de professores são contra, prefeituras e estados não conseguem se articular e o governo federal… Bem, por onde anda o MEC?

Se a educação fosse realmente prioridade para os governantes de todas as esferas, todos os estudantes já teriam voltado pelo menos parcialmente para a escola, com procedimentos de segurança determinados pelo Ministério da Saúde e investimento pra dar segurança para professores, funcionários e alunos.

Não pode ser tão complicado assim que não tenha solução. Vamos deixar nossos estudantes durante quanto tempo sem aulas presenciais? Aula remota no Brasil só funciona pra quem tem internet em casa. Uma pesquisa do Ipea em setembro mostrou que 5,8 milhões de estudantes não têm acesso à rede banda larga ou móvel.

É preciso reunir as mentes brilhantes deste país nas áreas da saúde, educação e tecnologia pra pensar numa logística. É obrigação do estado garantir a educação para o seu povo. O meu alívio tem que ser democratizado.

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Seja bem-vindo! https://canalmynews.com.br/vip/seja-bem-vindo/ Wed, 27 Jan 2021 20:17:44 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/seja-bem-vindo/ Este espaço é só para quem é membro e apoia diretamente o MyNews. Saiba o que vamos oferecer especialmente para você, que dá suporte ao nosso trabalho

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Gracias, Argentina! https://canalmynews.com.br/sem-categoria/gracias-argentina/ Wed, 30 Dec 2020 20:51:38 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/gracias-argentina/ Quem é contra a legalização do aborto não entende que nenhuma mulher quer abortar

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Manifestação em Buenos Aires favorável à descriminalização do aborto. Argentina aprova direito de mulher decidir sobre aborto até a 14ª semana de gestação
Manifestação em Buenos Aires favorável à descriminalização do aborto. Argentina aprovou direito de mulher decidir sobre aborto até a 14ª semana de gestação.
(Foto: Divulgação/Campanha do Aborto Legal)

Foi emocionante ver as imagens das mulheres argentinas nesta madrugada comemorando o resultado da votação histórica que legalizou o aborto no país. “Arriba el feminismo, que va a vencer, que va a vencer!”, gritava a multidão na Praça do Congresso em Buenos Aires. É errado se aglomerar em plena pandemia, mas confesso que se estivesse na Argentina me juntaria, de máscara, a elas. É preciso celebrar o resultado dessa luta por um direito básico negado a nós, mulheres, em tantos países do mundo. Na América Latina, por exemplo, somente Cuba, Guiana, Guiana Francesa, Uruguai, Porto Rico, Oaxaca – um estado do México – e a capital do país descriminalizaram o aborto.

No Brasil, como todos sabemos, a situação é muito diferente. O aborto aqui só é permitido em três situações: em casos de estupro, o aborto necessário – que é feito para salvar a vida da mãe – e quando o feto possui anencefalia, uma má formação no cérebro. Nenhum governo, de direita ou esquerda, teve a coragem de avançar neste assunto e agora com Jair Bolsonaro parece não haver chance de diálogo sobre este tema. Na retrospectiva dos horrores de 2020, vimos a ação de extremistas comandados por apoiadores do presidente e da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, tentando impedir a realização do aborto numa menina de 10 anos. Ela tinha sido estuprada pelo tio durante anos, engravidou e teve que lutar, apoiada pela avó, para conseguir ter acesso ao seu direito, previsto na constituição. Mesmo amparada pela lei, teve que enfrentar a barbárie de protestos de extremistas na porta do hospital. Até hoje ninguém foi punido por ter vazado os dados da menor e o local onde seria realizada a interrupção da gravidez. Isso é crime. 

Mas no Brasil reina a hipocrisia. Todo mundo conhece alguém que já fez um aborto clandestino. Quem tem muito dinheiro consegue fazer o procedimento em clínicas chiques pelas nossas capitais ou viaja para fora do país. Quem tem pouco, toma remédio ou o faz em consultórios clandestinos espalhados por aí. No mercado ilegal do aborto tem de tudo. Profissionais sérios e verdadeiros picaretas se revezam neste submundo onde ninguém precisa dar nenhuma explicação ou amparo às pacientes. Agora quem não tem dinheiro tem opções limitadas: tomar remédios perigosos ou enfiar objetos cortantes, ambos com alto risco de complicações, que podem levar a uma morte sem nenhuma assistência. 

Mesmo o aborto acontecendo livremente no país, tem políticos e grupos religiosos que lutam com unhas e dentes contra a descriminalização. No Congresso Nacional hoje existem mais projetos para restringir o aborto do que para legalizá-lo. Segundo um levantamento da plataforma Elas no Congresso, desde 2011 foram feitas 69 propostas sobre o tema e em 80% dos projetos o objetivo é aumentar a criminalização. Hoje a pena prevista é de 3 a 10 anos de detenção. Só em 2019, foram 18 projetos de lei com enfoque desfavorável às mulheres. Pura hipocrisia. 

Crenças à parte – e respeito todas elas -, o nosso Estado é laico. As políticas públicas não devem ser feitas baseadas em Deus, Jesus ou qualquer outra entidade suprema. As políticas públicas têm que ser feitas baseadas nas necessidades da população, nos direitos básicos das pessoas e devem visar o bem estar da sociedade e de seus cidadãos.

Quem é contra a legalização do aborto não entende que nenhuma mulher quer abortar. O aborto, quando acontece, é um processo doloroso por si só – tanto físico quanto moral. Uma parte das mulheres que toma essa decisão geralmente está desamparada, desesperada e sofrendo muito. Legalizar o aborto não pode ser confudido com assassinato,  libertinagem ou descaso. Legalizar o aborto é dar chance de vida, dignidade e respeito às mulheres que tomam essa decisão. Quando o estado cuida dessas mulheres, ele cuida da sociedade. O Brasil de hoje não está aberto a esse diálogo. Mas um dia estaremos prontos para essa decisão necessária. Por enquanto, vamos celebrar. 

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16 facadas https://canalmynews.com.br/sem-categoria/16-facadas/ Tue, 29 Dec 2020 20:14:18 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/16-facadas/ Fico com aquela sensação de desalento: isso pode acontecer com todas as outras mulheres que sofrem violência e que não vão ter acesso rápido a proteção

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16 facadas. 

No rosto e na cabeça, no pescoço e nas costas.

Na frente das 3 filhas. 

No meio da rua.

A juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi de 45 anos foi brutalmente assassinada pelo ex-marido. Por ser mulher, por dizer não, por covardia dele, por desumanidade. 

O assassino, Paulo José Arronenzi,  já tinha um passado de violência. Agrediu uma ex-namorada em 2007. Tinha inclusive ameaçado a própria Viviane em setembro. Ela se protegeu e depois confiou. Dispensou a escolta armada em novembro. O assassino, pelo jeito, estava só esperando. 

Além da Viviane, outras 5 mulheres, até agora enquanto escrevo, foram assassinadas no Brasil neste fim de ano de pandemia. Tenho a impressão que os últimos fins de ano têm sido sempre assim. O que assusta no caso da Viviane é que ela era juíza, teve acesso rápido a uma escolta, e mesmo assim o crime aconteceu. Paulo José não se intimidou diante do aparato do Estado. Fico com aquela sensação de desalento: isso pode acontecer com todas as outras mulheres que sofrem violência e que não vão ter acesso rápido a proteção. 

Cultura do estupro e do assédio contra mulheres é uma situação cotidiana
Machismo e cultura de violência contra a mulher é uma situação cotidiana no Brasil.
(Foto: Pixabay)

O Brasil ocupa o quinto lugar em um ranking de 83 nações que mais matam mulheres, segundo a ONU. A cada um minuto, duas mulheres são espancadas, a cada oito, uma mulher é estuprada.  Mas no Brasil machista tem juiz, colega de profissão da Viviane, que desdenha da lei Maria da Penha, criada para ajudar mulheres em situação de violência doméstica. Numa audiência de pensão alimentícia em São Paulo, o juiz Rodrigo de Azevedo Costa disse: “Se tem lei Maria da Penha contra a mãe, eu não tô nem aí. Uma coisa eu aprendi na vida de juiz: ninguém agride ninguém de graça.” O vídeo foi divulgado pelo portal Papo de Mãe. Imaginem a situação de mulheres que sofrem violência doméstica, conseguem dar um grande passo que é se separar do agressor, enfrentam constrangimento em delegacia, justiça e depois têm que ouvir de um juiz que a culpa foi delas. 

Em 2020, com as audiências virtuais, outro vídeo que escancarou o machismo no sistema judicial brasileiro foi o do caso da influencer Mariana Ferrer. O vídeo foi publicado pelo site The Intercept Brasil. Mariana acusava o empresário, André de Camargo Aranha, de estupro. Na audiência, Mariana foi submetida a humilhações proferidas pelo advogado de defesa do empresário, Cláudio Gastão da Costa Filho. Depois das agressões, o juiz Rudson Marcos pergunta se ela quer tomar uma água para se acalmar e pede um “bom nível ao advogado”. Só isso.

O machismo está tão entranhado na nossa cultura que não nos choca mais. Tem sempre alguém que repete a frase do juiz de São Paulo “ninguém agride ninguém de graça”.  E aí, as cenas que não param de se repetir. Passa Natal, passa Ano Novo e a violência continua. 

16 facadas, no rosto e na cabeça, no pescoço e na barriga. 

As filhas pedindo para parar. A morte.

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Assediadores não podem passar https://canalmynews.com.br/sem-categoria/assediadores-nao-podem-passar/ Tue, 15 Dec 2020 19:00:21 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/assediadores-nao-podem-passar/ Enfrentar assédio moral numa empresa é mais do que criar uma área de compliance. A mudança tem que vir de cima

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Eu já sofri assédio moral. Foi duro, doloroso e levou um tempo para recuperar minha autoestima. Aconteceu há alguns anos. E posso dizer: o assédio moral te mina, aos poucos. É uma construção. O assediador, de repente, toma conta da narrativa do profissional que você é e constrói um caminho que te fragiliza, te desmoraliza. Por um tempo, você aceita aquela situação. Até você não aguentar mais.

Lendo na revista piauí o inexplicável percurso da comediante Dani Calabresa para denunciar o assédio sexual que sofreu na Globo, eu lembrei muito da minha jornada. Claro que não dá pra comparar os dois tipos de assédio e na minha época não tinha um departamento de compliance para reclamar. Mas tem alguns pontos parecidos. Os colegas que acobertam, os chefes que não fazem nada e a paralisia da empresa que não toma uma atitude. É a cultura do assédio impregnada em milhares de empresas pelo mundo. Se as empresas não conseguem resolver assédio moral, quem dirá assédio sexual.

Na minha experiência, o assediador era uma mulher. Lembro que entrei para a nova equipe e os colegas me avisaram: “Olha, ela é meio difícil. Grita e trata mal, mas depois de uns meses melhora”. Os assediadores sabem como manipular. Passam uma imagem de eficiência e superioridade. São articulados e, quando em perigo ou ameaçados, atacam. 

Era uma equipe super profissional e super oprimida. Na hora do trabalho ninguém conversava com ninguém. E a voz da assediadora reinava absoluta. Lembro de falar para meus colegas que aquilo não era normal, mas eles pareciam anestesiados.

Assédio moral é um problema mais comum do que se imagina em empresas
Assédio moral é um problema mais comum do que se imagina em empresas.
(Foto: Pixabay)

Depois de vários ataques, um dia a assediadora passou dos limites. Ela achou que eu tinha cometido um erro grave, tinha errado uma conta. Me chamou, me trancou numa sala com o supervisor e gritou barbaridades. Não me ouvia. Disse que sabia, desde o início, que eu ia errar, que era questão de tempo. Me questionou como profissional. Urrava a frase “quem você pensa que é?”. Questionou minha carreira inteira. Na época, tinha mais de 15 anos de jornalismo. E enquanto a gritaria rolava, o supervisor refazia a conta e confirmava que eu estava errada. Não me conformei. Saí da reunião e procurei alguns colegas que refizeram a conta e provaram que eu estava certa. Foram necessárias 4 pessoas diferentes na sala de reunião até que a assediadora aceitasse que quem estava errada era ela.

Fiquei muito mal. No dia seguinte o supervisor me procurou, constrangido. Começou a conversa pedindo desculpas. Confessou que tinha feito a conta errada para agradar a assediadora. Ou seja: ele fez a conta dar o número que ela queria. Ele traiu a lógica, a matemática, o correto, tudo para satisfazer a assediadora. Imagina o risco que uma empresa corre com situações como essa? Ele queria meu perdão.

Levei uns dias para me recuperar e depois tive a coragem de  procurar a chefe da assediadora. Contei o que tinha acontecido. A chefe disse que aquilo era inadmissível. Foi gentil. Me colocou em outra equipe e disse “ vou pensar se vou falar com a assediadora. Tenho medo que ela comece a te perseguir”. Nunca mais tive notícias. Pelo que sei, ambas – a chefe e a assediadora -, continuam na empresa, liderando. 

Enfrentar assédio numa empresa é mais do que só criar uma área de compliance. A mudança, na minha opinião, tem que vir de cima. Não adianta o chefe dizer que não aceita certos comportamentos e quando a denúncia vem, não fazer nada. Os líderes de hoje têm que pesar na avaliação não só o resultado, mas a postura. O estrago que os assediadores causam na equipe também tem que ser medido. E sempre perguntar: vale a pena continuar com alguém que entrega resultados na base da humilhação? Na minha experiência, não. Vi um supervisor trair a lógica e a matemática para agradar uma assediadora.

Enquanto o discurso for “ah, mas é um ótimo profissional” as empresas não avançam. Uma denúncia de assédio moral tem que ser investigada e o assediador precisa ser punido, receber treinamento, se ajustar. Já a denúncia de assédio sexual, na minha opinião,  deveria ser tratada como um caso de Covid, com isolamento do denunciado. Depois, uma investigação séria, rápida e eficiente. Se comprovado o assédio só há uma saída para a empresa: punição exemplar. Assediadores não podem passar. 

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“Eu tenho um amigo preto” https://canalmynews.com.br/mais/eu-tenho-um-amigo-preto/ Wed, 09 Dec 2020 23:58:39 +0000 http://localhost/wpcanal/sem-categoria/eu-tenho-um-amigo-preto/ Quantas vezes você já ouviu essa frase? Precisamos falar sobre racismo e entender por que as pessoas negam

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“Tenho um amigo preto e ele é médico”. “Eles é que são racistas”. “E os brancos que morrem?”. “Você tem que olhar esses números por outro ângulo”. Essas são frases de um almoço de sábado, quando surgiu o tema do assassinato de João Alberto Silveira Freitas em um supermercado no Rio Grande do Sul. Ele morreu por causa da cor da pele. Mas, para os meus interlocutores, não.

Eles são brancos. São bem instruídos, têm formação acadêmica, têm acesso à informação. Um deles leu o livro Escravidão, do Lauretino Gomes, uma aula sobre a origem do racismo. E têm certeza de que não existe racismo no país, que o problema é só a desigualdade social.

Tentei usar fatos concretos, como o número de negros assassinados em 10 anos no Brasil, que é quase o triplo do número de brancos — dados do Atlas da Violência. Mesmo assim, eu ouvi “ah, mas esses números são relativos”. Relativos? São 437.976 pessoas negras assassinadas contra 160.210 pessoas brancas. O que tem de relativo nisso?

Depois da conversa deprimente que terminou, claro, num clima bem pesado, me vieram muitas perguntas. Por que essas pessoas pensam assim? Tudo bem que a gente vive hoje num estado de negação. Negação da ciência, negação da pandemia e negação do racismo. Quando o João Alberto foi espancado até a morte, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que não existe racismo no Brasil. E o presidente Bolsonaro também negou, e disse que é daltônico: “Todos têm a mesma cor”. Não, presidente, não temos a mesma cor.

Black Lives Matter: precisamos falar sobre racismo
Black Lives Matter: precisamos falar sobre racismo (Foto: Gabe Pierce/ Unsplash)

O governo, claro, tem acesso a todos os dados sobre violência e desigualdade no Brasil. Uma rápida análise deixaria a realidade mais transparente, mas acredito que não há interesse em resolver o problema ou mesmo ter noção desta realidade.

Mas o que acontece entre nós, cidadãos comuns? Por que as pessoas negam o racismo? Será que conhecem poucas histórias de pessoas que passaram por preconceito por causa da cor? Será que não têm empatia? Será que só convivem com brancos? Será que mentem?

Passei dias e dias tentando achar respostas para essas perguntas e procurando espaços para essa conversa. Eu sou branca e sei que essas conversas não existem entre brancos.

Não cheguei a muitas conclusões. Mas estou convencida que, junto com a desigualdade, o racismo tem que ser debatido. Por todos. Tem que estar presente nos almoços de segunda a domingo. Tem que ser discutido por pessoas brancas e por pessoas negras, o tempo todo, e fazer parte de políticas públicas e políticas empresariais.

Essa discussão precisa estar em todos os lugares, ser normalizada e validada na nossa sociedade — que nega seus corpos no armário e não evolui no combate à desigualdade. Um país que se recusa a enxergar a realidade é um país que não tem futuro.

O post “Eu tenho um amigo preto” apareceu primeiro em Canal MyNews – Jornalismo Independente.

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