O que aconteceria se o corpo humano quisesse eleger um presidente para cuidar dos seus órgãos? E o que isso tem a ver com o governo brasileiro?
por Conrado Micke Moreno em 19/05/22 11:21
Ilustração: Conrado Micke Moreno (Membro MyNews)
Eu não sei quem é o autor dessa história, por isso não posso dar o devido crédito, mas sei que é uma história bastante ilustrativa e que, como muitas outras histórias, serve como metáfora para diversas situações da vida cotidiana, inclusive com a situação que nosso país vem passando no momento atual, com o presidente e o governo que temos.
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Vamos à história: certo dia, ao acordar, enquanto o corpo humano fazia suas necessidades matinais, alguns órgãos do corpo, reunidos na sala do cafezinho, conversavam.
– Já é de manhã e mal descansei! Disse o pâncreas.
– Pior eu, que tive que filtrar toda aquela cerveja de ontem! Exclamou o fígado.
– Vocês não fazem ideia da sujeira que tive que limpar depois daquela pizza de quatro queijos com aliche. Estou esgotado, reclamou por sua vez o estômago.
Até que o esôfago, órgão sempre elegante, daqueles que parecem sempre ter saído de um
banho de loja exclamou:
– Acho que deveríamos ter um presidente do corpo!
– Como assim? Perguntou admirado o pâncreas, diante do olhar espantado dos colegas.
– Um presidente para colocar ordem nessa bagunça. Alguém que represente o novo e que
saiba como lidar com essa velha forma de gerenciar o corpo. Alguém que represente os bons valores morais e que nos faça ter tranquilidade como órgãos importantes que somos.
A ideia se espalhou e logo todos os órgãos estavam reunidos em um ambiente para discutir o assunto lançado pelo esôfago. Em uma mesa diretora estavam o cérebro, o coração e o fígado, mediando a conversa. Depois de vários discursos inflamados, que fizeram o estômago arder de asia, o cérebro levantou a questão:
– Quem aqui presente é a favor da eleição de um presidente para o corpo, dando poderes ao eleito de monitorar e organizar de forma harmoniosa o funcionamento de todo o corpo, fazendo–se obedecer por todos principalmente nos momentos de crise sem nenhum tipo de objeção?
– Todos levantaram a mão, apoiando a ideia.
O coração então arrematou dizendo:
– Muito bem! Para que sejamos justos podemos fazer uma eleição entre nós. Acredito que
poderemos pensar em alguns candidatos, dois por exemplo… Talvez aqueles mais nobres e importantes, com funções extremamente relevantes para toda a sociedade corpórea… Quem sabe o Excelentíssimo colega cérebro e para concorrer eu, o coração, que como meu próprio nome diz, sou o coração de tudo, inclusive do sangue que vos alimenta e também ao cérebro.
Todos aplaudiram com entusiasmo a fala do coração e o cérebro com seu pensamento rápido e cheio de ideias retrucou:
– Eu, como aquele que envia os comandos e os sinais para todos os órgãos, músculos e
controlador do sistema nervoso, concordo com o digníssimo colega, o Sr. Coração e me coloco como candidato ao cargo de presidente do corpo humano, se assim os nobres senhores desejarem, disputando de forma leal e democrática com qualquer oponente.
A plateia foi ao delírio e o coração, emocionado concluiu:
– Se assim desejarem, serei eu o representante de todos aqueles que sofrem por amor a esse corpo maltratado e enfrentarei sem medo o meu oponente, o ilustríssimo Sr. Cérebro.
O som das palmas e gritos de apoio foi quase ensurdecedor, todos estavam em êxtase com os dois candidatos. Aqueles que todos consideravam os mais importantes em uma disputa inédita pela presidência do corpo humano. Até que, assim que o silêncio se fez, o fígado, empossado Presidente da mesa diretora, passou a anunciar as regras da disputa:
– Senhores órgãos do corpo humano, quero aqui…
Nesse momento ele foi interrompido por um pedido de palavra. Alguém de forma tímida e quase inaudível. Alguém sentado no fundo do auditório, isolado, sem nenhum colega ao seu lado pediu a palavra. Todos se viraram para olhar e para surpresa geral, viram. Era o cú pedindo a palavra
– Por que não? Perguntou indignado o cú.
– Por quê? Você ainda, depois dessa manifestação toda me pergunta por quê? Meu amigo,
olhe–se no espelho e tire suas conclusões. Você não tem os pré–requisitos para ser nem
síndico, quanto mais presidente. Olhe para o aspecto culto do cérebro e para a beleza interior do coração e me diga se está à altura de concorrer com eles.
Todos se manifestaram a favor do fígado, com palavras de desprezo e deboche às pretensões do cú, que, se sentindo humilhado disse:
– Pois bem. Compreendi. Com seu riso e suas palavras vejo que não me dão o devido valor. Mas eu digo que todos vocês irão aprender a dar valor ao cú. A partir de agora eu não estou aberto à negociação. Inclusive com o senhor, Sr. Intestino, que não me apoiou nessa cena humilhante pela qual eu passei.
E, fechado em sua ira, o cú se retirou e todos voltaram suas atenções ao planejamento da
eleição entre o cérebro e o coração. Mas o cú estava fechado em suas amarguras e por ele nada passava.
Os dias foram passando e a campanha eleitoral começara animada, com debates entre os
candidatos. Não deu para notar que o cú havia travado. Algum desconforto começou a ser notado por volta do quarto dia, mas nada sério havia sido detectado.
A situação foi piorando, até que o intestino avisou:
– Pessoal, precisamos conversar com o cú, eu estou com mais da metade do meu depósito
cheio e o cú não abre.
– Ah! Ele ficou magoadinho foi? Disse o fígado
– Deixe ele! Vou enviar um comando no sistema nervoso e ele vai ter que abrir, disse o
cérebro.
O cú por sua vez se fechara em copas e nenhuma mediada havia funcionado. O intestino voltou a reclamar dizendo que só tinha espaço para mais um dia e depois, se nada
fosse feito, iria dar merda.
Os órgãos do corpo, de modo geral estavam entrando em pane. O pulmão respirava fraco e o ar andava poluído, o rim não tinha força para bombear os líquidos indesejáveis para a bexiga, o fígado estava com seu sistema de filtragem comprometido, o coração não tinha forças para distribuir o sangue em quantidades necessárias para todo o corpo e até o cérebro, que sempre pensava em uma solução, se mostrava lento e sem memória.
Até que o duodeno, do alto de sua nobre simplicidade sugeriu:
– Acho que devemos falar com o cú e para o bem de todos eu não só o considero candidato como dou ao cú o meu voto para o cargo de Presidente do Corpo Humano.
Todos, sem exceção, concordaram e na mais rápida eleição e apuração já feita em qualquer outro corpo humano na história da humanidade, elegeram o cú como Presidente da República Federativa do do Corpo Humano.
O final foi feliz. O cú assumiu seu cargo, abriu as comportas e tudo voltou ao normal. Trabalhou muito para organizar o corpo e passado um tempo esse funcionava como um
relógio.
Aí então o amigo leitor, me pergunta – Mas o que tem esse texto com o atual governo e o seu mandatário? Ou mais especificamente, o que tem a ver o cú com as calças?
O Brasil não está funcionando como um relógio, pelo contrário. Estamos vivendo a pior crise institucional, a pior situação econômica e social já havida em nosso país após a
redemocratização. Estamos banalizando a corrupção e vendo a Amazônia e seus habitantes serem dizimados sem que o governo tome qualquer providência para que isso seja contido.
Estamos diante de 665.000 mortos pela Covid 19 sendo que a maioria dessas mortes teriam sido evitadas se o governo tivesse se balizado pela ciência, etc, etc, etc…
E eu direi: Realmente, não é possível comparar esse governo ao nosso personagem da história, o Exmo Sr. Cú. Afinal ele uniu todos e arrumou a casa. Aliás, ele, diferentemente de alguns que conhecemos, é um trabalhador. Seu trabalho é reconhecidamente importante e diário. Não tem folga nunca.
A semelhança fica apenas no fato de ser um outsider, como se autoproclamava erroneamente nosso Excelentíssimo chefe do Executivo e ainda, assim como o Excelentíssimo Sr. Cú, que foi desacreditado e humilhado, não sendo levado a sério por ninguém, o digníssimo Sr. Presidente da nossa República, foi igualmente desacreditado, todos, inclusive esse que vos fala, tinham a certeza de que ele não passaria jamais do primeiro turno. Fomos muito imprudentes.
Sendo assim, só é possível comparar o atual governo a aquilo que é excretado pelo digníssimo presidente do corpo humano.
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