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Anitta recupera o verde e amarelo

Cantora carioca foi uma das atrações do festival norte-americano Coachella. Na apresentação, ela levou as cores da bandeira brasileira.

por Aniello Olinto Guimarães Greco Junior em 25/04/22 10:18

Anitta com figurino para apresentação no festival Coachella, nos Estados Unidos. Foto: Divulgação/Paulo Pimenta

Anitta não apenas chegou ao topo do mundo no Spotify, como muito mais importante que isto, conseguiu entrar na minha bolha. Eu sou um chato musical que congelou no tempo e só escuto as música jovens da minha época, também conhecidas como música medieval. E sim, sou daqueles que não consegue entender ou suportar o batidão do funk.

Até algumas semanas atrás, Anitta para mim era uma funkeira amiga da Gabriela Prioli, e que tinha participado de uma série de vídeos com a comentarista política, cumprindo de forma exemplar o papel de ignorante (não no sentido pejorativo, mas no sentido de quem não conhece) política, fazendo perguntas tão básicas que muitos não teriam coragem de fazer em público, mesmo não conhecendo os conceitos perguntados.

Claro, alguma noção eu tinha. Sabia da origem de moradora de comunidade, da hipersexualização de suas músicas e clips, e de como os “liberais na economia, conservadores nos costumes” a odiavam. E também sabia que ela tinha tatuado certas partes e divulgado o vídeo. Mas era isto. Talvez, não tenho certeza, sequer conhecesse a voz da cantora.

Aí veio a sequência avassaladora. Primeiro Anitta atinge o topo do Spotify, se tornando a cantora mais tocada no mundo. Logo após participa da tradicional campanha do TSE para incentivar os jovens de 16 e 17 anos a se cadastrarem e votarem. O que explica parte da revolta da milícia digital pró-governo contra uma campanha institucional que ocorre desde 1989. Em seguida, tivemos a lamentável decisão de um ministro do TSE de tentar proibir manifestações de apoio ou repúdio político no Lollapalooza. A resposta da nossa Rainha do Pop foi se oferecer a pagar a multa para os artistas que resolvessem desobedecer a decisão, afinal o valor era para ela menos que uma bolsa.

E tudo isto em poucos dias. Assim Anitta apareceu no meu radar como figura de interesse. E ao pesquisar os segredos que todos vocês já sabem a anos, passei a realmente admirar a figura. A tal ponto de me envolver em debates com desconhecidos em uma rede social por defender que Anitta incomoda muitos por ter glúteos e cérebro avantajados, combinação que seria proibida em nossos preconceitos.

Mas tudo isto fica eclipsado diante do que aconteceu na participação de Anitta no Coachella. A musa sobe no palco de verde e amarelo, e quase todos os dançarinos e figurantes usavam ou nossas cores nacionais, ou outros símbolos que pareciam ter sido sequestrados por seguidores de Sauron, como a amarelinha, o manto sagrado da seleção.

Anitta. Foto: Reprodução (Instagram)

Já havia um certo clamor de alguns para resgatarmos os símbolos nacionais. Nos últimos anos o verde e amarelo, a camisa da seleção, a bandeira, o hino nacional e mais alguns outros símbolos estavam ficando meio que parecidos com uma suástica. Tentaram transformar o patriotismo em reacionarismo, populismo e negação da política e da democracia.

Após o show Anitta tuíta um grito até então sussurrado, afirmando que os símbolos nacionais são de todo o povo brasileiro. E nada mais nada menos que Voldemort em pessoa entra na festa sem ser convidado, fingindo não entender o contexto. Visando criar uma treta com Anitta e seus milhões de seguidores, o elemento responde fingindo concordar, ver a revolta de todos e ainda sair como tiozão descolado.

E é neste ponto que a funkeira da periferia deu uma aula de marketing digital e política para este pobre fingidor de colunista. Ela bloqueia o elemento, explica a estratégia por detrás da intromissão e ainda pede que paremos de citar nominalmente quem não merece ser citado.

O clássico falem mal, mas falem de mim. A habilidade de usar as polêmicas criadas artificialmente, usando os absurdos impensáveis presentes nas declarações para boi mugir. Assim figuras odiadas e mentirosas conseguem pautar a mídia e as redes, e se manterem nos threads, ao mesmo tempo que relegam as notícias de verdade para a quarta página.

De que adiantaria tretar no seu próprio perfil e dar destaque para uma pessoa que jamais teria repercussão naquele espaço sem isto? Claro, em certas situações temos que dar nomes aos bois, ou ao rei do gado. Há momentos em que temos que apontar e esclarecer. Mas que tal parar de nos deixar guiar pela pauta dos outros?

A funkeira da periferia conseguiu resgatar o verde e amarelo, tão vilipendiado e maculado. E ainda mostra a este que vos fala, por detrás de todo seu estudo e cultura, que as vezes o ignorante é o cara com estudo acadêmico. Anitta, além de cantora, revelou-se professora de marketing digital. E eu aceito humildemente o papel de ignorante da vez.

Parece que nos tornamos o país do kit covid, do negacionismo, da devastação ecológica proposital, do elogio a tortura. Nesta bad trip que vivemos, o Brasil precisa de símbolos positivos. Símbolos modernos, brasileiros e conscientes. O símbolo atual é vulgar, baixo, depravado, balança a bunda maravilhosa e nos dá lições de como viver de forma livre e consciente, uma atrás da outra. O que para Voldemort é mais difícil de engolir que camarão mal mastigado. Mas para o Brasil é um mais que necessário momento de resgate. Somos mais e melhores que estes insanos tentaram fazer do nosso país.

Ainda não consigo gostar da música, mas cada vez mais admiro a cantora. Obrigado, professora Anitta.

*As opiniões das colunas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews

Quem é Aniello Olinto Guimarães Greco Junior?

Servidor público concursado do Tribunal Superior do Trabalho, Aniello Greco passou tempo demais na universidade, sem obter diploma. Já fingiu ser jogador de xadrez, de poker, crítico de cinema, sommelier de cerveja. Sabe de quase tudo um pouco, e quase tudo mal.


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