Psiquiatra avalia que governo Bolsonaro comemora sobreviventes como se a pandemia não deixasse sequelas
Para o médico psiquiatra Táki Cordás, a ideia de comemorar os curados pela Covid-19 ao invés de lamentar as mais de 500 mil vidas perdidas é “é jogar a realidade debaixo da terra”. Ele é coordenador da Assistência Clínica do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP. Em entrevista ao MyNews, ele comenta os números da pandemia divulgados pelo governo, as sequelas que estão surgindo pós covid-19 e também que tipo de pessoa é atraída pelo discurso negacionista.
“O que quer dizer curado? É o seguinte: é uma pessoa que testou para vírus e não morreu com doença aguda, não significa absolutamente nada em termos de saúde pública, em termos de benefícios que tenham sido oferecidos pela saúde pública. Enfatizar o número de curados é de um negacionismo, é jogar a realidade debaixo da terra. É como se o seu familiar não merecesse uma citação, um respeito, é como se a sua dor, uma dor que te paralisa, uma dor que pode levar a quadros psiquiátricos posteriores, depressão não merecesse respeito”, argumenta Cordás.
No Twitter, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, afirmou que os que lamentam os 500 mil mortos pela pandemia “torcem pelo vírus”.
O médico psiquiatra avalia que o termo “curado” é relativo, já que estão surgindo cada vez mais pessoas que tiveram covid e passam a apresentar síndrome pós-covid, como depressão, pânico, quadros psicóticos, pessoas com quadros neurológicos de esquecimento, de memória, de atenção e uma síndrome de fadiga, que é a sensação de cansaço, de dificuldade de fazer as coisas.
Cordás observa que muitas pessoas dizem que o bolsonarismo surgiu em contraposição ao PT. Mas para ele, o bolsonarismo é um fenômeno dentro da direita, que buscava alguém messiânico.
“O que aconteceu foi que um monte de gente ressentida, com saudades da ditadura, que adora a questão da família tradicional branca, uns reacionários que estavam no armário saíram e militares saudosos de uma antiga ordem entraram nessa história. Então eu acho que você tem um grupo de pessoas que, de maneira inocente, votou contra aquilo que a grande imprensa, também culpada, que foi acabar com todo o sistema político e oferecer a chance de alguém messiânico vir, e boa parte da população votou protestando contra a corrupção e a isso permitiu que um grande grupo de reacionários saísse do armário e que são ainda as pessoas que apoiam o Bolsonaro”, argumenta o psiquiatra.
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