Ao se defender das críticas à proposta de reajuste, a presidente do BB disse não dever explicações sobre o que recebe.
Em 09/05/24 21:52
por Conversas com Cid
Cid de Queiroz Benjamin é um jornalista e político brasileiro. Nos anos 1960 e 1970, militou na luta armada, tendo sido dirigente do movimento estudantil em 1968 e integrante da resistência à ditadura militar, responsável pelo setor armado do Movimento Revolucionário Oito de Outubro.
No domingo do último fim de semana (5/5/2024), o portal G1 traz declarações da presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, defendendo-se de críticas à proposta aprovada pelo Conselho de Administração do banco — com o apoio dela — para que houvesse um aumento de 57% de seu salário. O reajuste acabou impedido pelos representantes dos acionistas do banco, que o fixaram em 4,62%. A proposta derrubada elevaria o salário de Tarciana para R$ 117.470 por mês. Um tapa na cara dos servidores.
No entanto, não é só isso. Ao salário da presidente se soma a remuneração por sua participação em conselhos e empresas e nos lucros. “…a presidente do BB recebe mais R$ 125 mil por mês para participar de reuniões mensais dos conselhos da Votorantim (R$ 50 mil), Brasilprev (R$ 35 mil) e Elopar (R$ 40 mil).” Assim, se o novo valor tivesse sido aprovado, Tarciana receberia mensalmente R$ 242.470, na soma de salário e remuneração por sua presença nos conselhos. (Portal UOL – 21/4/2024)
É verdade que o BB não é da administração direta. Mas, e daí? O governo não tem nada a ver com isso? Tem.
Basta ver o Regimento Interno do Conselho de Administração do banco, disponível na internet. Ele tinha endossado a escandalosa proposta de aumento de salário para a presidente e os diretores. De seus oito membros, a maioria é indicada pela União.
Como justificar um aumento assim para grande parte do funcionalismo, que tem os salários arrochados? Não falo dos militares, ou dos servidores do Judiciário, claro. Estes, ao lado de uns poucos privilegiados, são outra história. Mas me refiro à ampla maioria do funcionalismo e a gente como professores e o pessoal da Saúde.
Aliás, isso de pessoal já com altos salários embolsar vultosos valores para participar de conselhos de empresas, depois de indicado pelo governo ou por entes públicos, merece uma discussão. Por que o valor não é restituído aos cofres da União ou da empresa pública que o indicou para o conselho, já que o pagamento advém da participação do beneficiário no cargo?
A sinecura se estende a muitos ministros que, além dos bons salários, abocanham gordas quantias para estarem presentes em reuniões mensais de conselhos de empresas em que o governo tem participação. Deve-se dizer que isso não ocorre só na gestão Lula e já acontecia nas que a antecederam. Mas, aparentemente, há um pacto de silêncio sobre o assunto.
Ao se defender das críticas à proposta de reajuste, a presidente do BB disse não dever explicações sobre o que recebe. Para ela isso diz respeito à sua vida pessoal. Não. Seria assim caso ela recebesse esse salário de uma empresa privada, não de um banco público. E, mais: viu machismo nas críticas.
No último sábado, dia 4 de maio, num evento em São Paulo, intitulado Women on Top 2024, voltado para mulheres que ocupam cargos de liderança na sociedade, afirmou que as críticas ao reajuste que queria receber são motivadas ao fato de ser mulher. Mas a presidente do BB mistura duas coisas.
Numa, tem razão: a defesa de um tratamento salarial equânime para homens e mulheres que desempenhem as mesmas funções — elemento essencial num regime democrático. Ela não deve receber nem mais, nem menos, do que um homem pelo fato de ser mulher.
Mas Tarciana não tem razão na defesa do reajuste que tornaria o seu salário astronômico.
Falando em português claro, o reajuste proposto era verdadeiro tapa na cara dos servidores.
Por fim, vale uma observação: há quem, erradamente, veja udenismo e moralismo nas críticas de parte de quem critica reajustes desse tipo. Mas episódios assim desmoralizam a política.
E a demonização da política só serve aos conservadores, porque fora da política não se muda o país e não se aperfeiçoa a democracia. Por isso, episódios assim devem, sim, ser debatidos.
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