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Creomar de Souza

O que o futuro nos reserva?

É importante lembrar que vivemos um momento político derivado de uma enorme desilusão com a realidade. O produto desta desilusão se materializou em uma lógica antissistema.

por Creomar de Souza em 19/08/21 16:35

Tenho reservado algum tempo da minha agenda para dialogar com jovens estudantes ao redor do país. Mais do que um exercício de responsabilidade corporativa, é a oportunidade de aprender mais sobre os medos, anseios e desejos de uma juventude intelectualmente efervescente. Cada uma dessas conversas tem sido ricas em aprendizados, visões e perspectivas, porém, a parte mais importante e a pergunta mais recorrente que me fazem é: o que o futuro nos reserva?

E diante do fato de que a incerteza é um elemento importantíssimo em qualquer exercício de análise, este texto busca oferecer um panorama de futuro passado. Esta expressão, cunhada pelo pensador alemão Reinhardt Kosseleck, permite construir um panorama de futuro a partir daquilo que o passado nos traz até o presente. Em termos didáticos, o objetivo é projetar um cenário para o nosso amanhã a partir daquilo que o ontem nos apresentou até agora.

É importante lembrar que vivemos um momento político derivado de uma enorme desilusão com a realidade. O produto desta desilusão, que é o divórcio entre a cidadania e o sistema político, se materializou em uma lógica antissistema. Representantes foram eleitos e alçados ao poder com a missão de desconstruir o prédio erigido pela Constituição de 1988, e mesmo que uma parte considerável das pessoas não tivesse ideia concreta daquilo que seria colocado em seu lugar, fez a aposta de que o amanhã seria melhor.

E o amanhã trouxe desafios maiores do que aqueles previstos em quaisquer cenários. Para além dos embates políticos tradicionais, que se tentou aplacar com discursos e narrativas, a Covid-19 serviu para lembrar a todos o quão vulnerável é a existência. A implacabilidade da pandemia para além do estigma de morticínio global, serviu na Terra Brasilis para realçar as fragilidades de nossas escolhas governamentais e dos desenhos institucionais até aqui constituídos.

Negacionismo, narrativas e frases de efeito foram incapazes de disfarçar a ineficácia das estruturas de governo e de estado em lidarem de maneira eficaz com a tragédia humanitária que se abateu sobre todos nós. A resultante, realçada pelos discursos desfocados da realidade junto a uma incapacidade de demonstração de humanidade gera espécie em alguns ao mesmo passo que alimentam nos que passam fome a certeza de que os políticos, as instituições e a lei não se importam com seus destinos.

Essa descrença, por sua vez, é o veneno que tende a lentamente consumir o tecido social que nos une. Enquanto as atenções do mundo se voltam para a tragédia afegã, não deixa de ser crítico pensar no baixo nível de compadecimento com a nossa própria tragédia. Esta, por sua vez, não vinculada apenas a um mandatário ou representante político de ocasião, mas, fruto de uma tragédia coletiva, bem amarrada e arquitetada ao longo de nossa trajetória histórica, social e política.

A construção de um futuro que escape da tragédia é, portanto, um exercício de ruptura com algumas características que têm marcado fortemente o debate público atual. E aqui se propõe que o abandono do radicalismo, do rancor e do confronto são fundamentais para abraçar o novo. Se isto, por sua vez, não for possível no atual momento, caberá à cidadania se organizar e construir uma lógica de demandas o mais cedo possível para que os representantes compreendam que são servidores públicos. E como tal, por mais que tenham interesses particulares, possam atender às demandas do público. Afinal, se o passado é uma lembrança e o futuro é uma miragem, cabe aqueles que vivem o presente construir um amanhã mais auspicioso se aproveitando das lições recebidas e projetando uma lógica nova de interação com a realidade.


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