Pirandello político CÂNDIDO MENDES PRUNES

Pirandello político


Os defeitos do sistema eleitoral brasileiro são conhecidos há décadas, assim como os esforços que os políticos fazem para manter tudo como está. Nem o processo de redemocratização do país, nem a Constituinte de 1988, conseguiram mudar as regras eleitorais.

A peregrinação do atual presidente de República em busca de um partido político é apenas mais um ato teatral. Terminará, como na estreia da peça de Pirandello “Seis Personagens em Busca de um Autor”, ocorrida há exatos cem anos em Roma, com o distinto público gritando: Loucura! Incompreensível!

De fato o cenário político atual está mais para o teatro do absurdo do que para a seriedade exigida na ação política. Esse descasamento não é obra do acaso. Relaciona-se principalmente com a forma de escolha dos deputados e vereadores. Não há registro de presidencialismo que tenha funcionado com um congresso fragmentado entre dezenas de partidos, eleito por um sistema proporcional e ainda financiado com dinheiro público. Para piorar as coisas, o “modelo” é replicado nas assembleias legislativas estaduais e nas câmaras municipais garantindo o manicômio geral.

A primeira reforma que deveria preocupar os congressistas brasileiros seria a reforma política. Mas dessa eles fogem assustados, como vampiros diante de um crucifixo. Entram e saem eleições e o sistema eleitoral continua o mesmo. Ninguém quer saber da racionalidade do voto distrital; ninguém quer saber de efetivas cláusulas de barreira; e ninguém quer saber de abolir o financiamento público a partidos políticos.

Com as atuais regras do jogo político o Brasil está diante da bizarra situação de um presidente em busca de um partido. E, como na peça de Pirandello, assiste às confusões envolvendo uma família inteira. A única diferença é que no Brasil não há um diretor para ensaiar a tal peça…


Quem é Cândido Mendes Prunes?

Cândido Mendes Prunes é advogado, pós-graduado em Direito Econômico pela Universidade de São Paulo e no programa executivo de Darden – Universidade de Viriginia, é autor de “Hayek no Brasil”


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